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Incidência de fraturas das vítimas de acidente de trânsito em 2004 na cidade de Rio Verde - Goiás

 

*Fisioterapeuta, Acupunturista, Especialista em Fisioterapia Traumato Ortopédica e Desportiva.

**Fisioterapeuta, formação em RPG, Especialista em Fisioterapia Traumato Ortopédica e Desportiva.

***Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Traumato Ortopédica e Desportiva.

****Fisioterapeuta, Educador Físico, Especialista, Mestre em Fisioterapia UNITRI, Docente do Curso de Fisioterapia da UCG, coordenador do curso de Fisioterapia FMB.

Greice Kelly Piovesan Giraldi*

Iara Rodrigues Leão Martins**

Kauara Vilarinho Santana***

Renato Alves Sandoval****

rasterapia@ig.com.br

 

 

 

Resumo

          Estudo descritivo de levantamento epidemiológico, onde foram estudadas todas as vítimas de acidente de trânsito, que apresentaram fraturas, atendidas pelo 4º GI de Rio Verde GO (4º Grupamento de Incêndio de Rio Verde – GO), no período de janeiro a dezembro de 2004, seguindo a Classificação Internacional de Doenças, décima revisão (CID-10). Os resultados obtidos, nesta pesquisa, confirmaram as informações contidas em outros estudos, afirmando que os acidentes de trânsito tem sido um sério problema de saúde pública, cuja magnitude vem sendo ampliada a cada década. Além ter nos proporcionado o levantamento das características epidemiológicas das vítimas de acidentes de trânsito, a caracterização dos veículos que mais se envolvem em acidentes e o conhecimento dos grupos mais expostos possibilitando assim a implantação de medidas de reeducação no trânsito afim de, prevenir e reduzir um estado de morbimortalidade nas pessoas expostas a esse agravo. 

          Unitermos: Fraturas. Acidente de trânsito. Epidemiologia.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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Introdução

    Bastos et al. (2005), relataram que o desenvolvimento industrial do século XX propiciou aumento considerável da frota de veículos automotores em circulação em todo o mundo. Especialmente após a Segunda guerra Mundial, o carro tornou-se um objeto de consumo, e possuir um automóvel particular, um símbolo de status social. Em conseqüência do aumento expressivo do número de veículos circulantes e a alta freqüência de comportamentos inadequados, aliados a uma vigilância insuficiente, os acidentes de trânsito envolvendo veículos a motor passaram a se constituir em causa importante de traumatismos na população mundial, e especialmente, na brasileira.

    Leitão (1997) complementa dizendo que o desenvolvimento tecnológico fez com que os veículos automotores tivessem cada vez melhor desempenho, no sentido de velocidades maiores, e os preços mais acessíveis provocaram sua disseminação, fatos que foram em parte, responsáveis pela maior ocorrência de acidentes em áreas metropolitanas e nas rodovias.

    De acordo com Andrade & Jorge (2001), os coeficientes de mortalidade por acidentes de trânsito, tiveram redução nas principais capitais brasileiras nos últimos anos, porém, estes se mantêm ainda como importantes causa de morbimortalidade em diversas cidades do país.

    No entanto, segundo Oliveira & Sousa (2003), o Brasil nas últimas décadas foi aos poucos se colocando entre os campeões mundiais de acidentes de trânsito, com reflexo do número de veículos em circulação, da desorganização do trânsito, da deficiência geral de fiscalização, das condições dos veículos, do comportamento dos usuários e da impunidade dos infratores.

    Os acidentes de trânsito constituem entre as causas externas, um grave problema da saúde pública, cuja relevância reside em fatores como: a alta morbimortalidade conseqüente aos acidentes, sua predominância em populações jovens e/ou economicamente ativas, elevado custo ao sistema de saúde e previdência, além de gerar grande sofrimento para as vítimas e seus familiares (OTT et al., 1993; Projeto Promoção da Saúde/ Secretaria de Políticas de Saúde – MS, 2002).

    Segundo o IBGE (2000), atualizado para 2004, observa-se que em Rio Verde houve um aumento significativo de 7,03% na população total entre os anos de 2000 a 2004. Pode-se observar que em 4 anos a população passou de 116.559 para 124.753 habitantes, um aumento médio anual de 1,71%. Isso fez com que Rio Verde se tornasse a terceira maior cidade do estado de Goiás aumentando assim os índices de acidentes de transporte terrestre e conseqüentemente, a morbimortalidade do município.

    Barros et al. (2003), relataram em seus estudos que os acidentes de trânsito são, pelo menos teoricamente, 100% previsíveis. Uma vez que estão diretamente relacionados com deficiências das vias, dos veículos e principalmente, das falhas humanas. Relatam ainda que a importante redução dos acidentes e mortes após a aprovação do novo Código Nacional de Trânsito (1998), mostra que é possível mudar o comportamento no trânsito.

    De acordo com estes dados, Andrade & Jorge (2001), relatam que conhecer com maior detalhamento possível como esses eventos ocorrem é indispensável para que ações de prevenção específicas possam ser planejadas e postas em prática.

    Diante disso este trabalho teve por objetivo traçar o perfil epidemiológico das vítimas de acidente de trânsito da cidade de Rio Verde-GO, além de poder servir como referência para futuras pesquisas, bem como para a implantação de algum programa de reeducação no trânsito, a fim de evitar altas taxas de morbimortalidade.

Métodos

    Estudo descritivo de levantamento epidemiológico, onde foram estudadas todas as vítimas de acidente de trânsito, que apresentaram fraturas, atendidas pelo 4º GI de Rio Verde GO (4º Grupamento de Incêndio de Rio Verde – GO), no período de janeiro a dezembro de 2004, seguindo a Classificação Internacional de Doenças, décima revisão (CID-10).

    A pesquisa baseou-se nas fichas de ocorrência do 4º GI de Rio Verde-GO. Embora não haja estudos que analisem a cobertura do 4ºGI de Rio Verde-GO em relação às vítimas de trânsito na cidade, sabe-se que o número de vítimas é superior ao número de registros.

    Para o presente estudo, foram selecionadas as vítimas de acidentes de transporte terrestre, que se constituíram predominantemente, em acidentes de trânsito (ocorridos na via pública). Esses dados foram coletados e anotados em uma ficha de coleta específica para a realização do mesmo.

    As variáveis estudadas em relação às vítimas foram: sexo, presença de fraturas e segmento corporal acometido. Já a variável relacionada ao acidente foi: quais os veículos envolvidos no acidente.

    Todos os dados e indicadores foram calculados para o ano de 2004, sendo apresentados em forma de tabelas por meio de números absolutos e percentuais.

Resultados

    Após o levantamento dos dados junto ao Corpo de Bombeiros de Rio Verde GO, verificou-se que o número total de acidentes de trânsito em 2004, na zona urbana da cidade de Rio Verde, foi de 127 acidentes; envolvendo 139 pessoas, totalizando 147 fraturas, sendo 101 do sexo masculino (72,66%) e 38 do sexo feminino (27,34%); com faixa etária entre 20 e 40 anos.

    Em relação às 139 vítimas envolvidas nos acidentes, 11 vítimas estavam envolvidas em colisões com carro/carro (7,91%); 97 vítimas em carro/moto (69,78%) e 31 vítimas em moto/moto (22,30%).

    Do total de 147 segmentos corporais acometidos por fraturas, 8 corresponderam aos antebraços (5,44%); 4 aos braços (2,72%); 12 à cabeça (8,16%); 6 às clavícula (4,08%); 1 à coluna cervical (0,68%); 2 à coluna torácica (1,36%); 5 às costelas (3,40%); 11 às coxas (7,48%); 6 às mãos (4,08%); 6 aos ombros (4,08%); 8 aos pés (5,44%); 64 às pernas (43,53%); 8 aos punhos (5,44%) e 6 aos tornozelos (4,08%).

 

Veículos Envolvidos

Carro / Carro

11

7,91%

Carro / Moto

97

69,78%

Moto / Moto

31

22,30%

Total

139

100%

 

Segmentos Corporais Acometidos

Antebraço

8

5,44%

Braço

4

2,72%

Cabeça

12

8,16%

Clavícula

6

4,08%

Coluna Cervical

1

0,68%

Coluna Torácica

2

1,36%

Costelas

5

3,40%

Coxa

11

7,48%

Mão

6

4,08%

Ombro

6

4,08%

8

5,44%

Perna

64

43,53%

Punho

8

5,44%

Tornozelo

6

4,08%

Total

147

100%

Discussão

    Determinar a incidência de fraturas, segmento corporal acometido, veículos envolvidos, são itens fundamentais para traçar o perfil epidemiológico dessas vítimas, visando à elaboração de medidas preventivas.

    Dalossi (1993) relata a predominância de adultos jovens e do sexo masculino entre as vítimas de acidentes de trânsito, características também encontradas no presente estudo, despertando para a influência do padrão sócio-cultural sobre o gênero, pois, em princípio parece não haver fatores biológicos e fisiológicos que expliquem tal incidência.

    A faixa etária mais acometida foi entre 20-40 anos. Segundo Mattox et al. (2000), teorias sobre o comportamento têm algumas hipóteses explicativas para esse fato: inexperiência, busca de emoções, prazer em experimentar sensações de risco, impulsividade e abuso de álcool ou drogas são alguns dos termos que se associam ao comportamento e podem contribuir para a maior incidência de acidentes de trânsito nessas faixas etárias.

    Em se tratando do tipo de colisão verificou-se que a maior incidência envolveu carro/moto, sendo a moto o veículo que mais freqüentemente se acidenta. Este fator também foi observado no estudo realizado por Oliveira & Sousa (2003), onde observaram que a proporção de feridos em acidentes de motocicleta é bem maior que naqueles envolvidos em acidentes de trânsito com outros veículos a motor. Além disso, verificou-se que nos últimos anos o número de motocicletas aumentou significativamente, sendo um meio de transporte terrestre que não possui muita segurança e predispõe o seu condutor a um maior risco de lesão quando este se envolve em acidentes. Andrade & Jorge (2001) salientam ainda que esse fato se agrava uma vez que, existe uma maior exposição corpórea destes condutores, maior dificuldade de visualização da motocicleta e maior prevalência de comportamentos inadequados de motociclistas no trânsito urbano, em comparação aos outros usuários de vias públicas.

    Em relação ao segmento corporal acometido constatou-se que os membros inferiores foram os mais lesionados, uma vez que a maior parte dos acidentes de trânsito envolveu motocicletas e nesse tipo de veículo eles se encontram desprotegidos. No estudo realizado por Ott et al. (1993), onde os dados foram coletados através de prontuário hospitalar, as vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas apresentaram principalmente contusões de membros inferiores seguidas de membros superiores.

    Portugal & Santos (1991) destacam a necessidade de discutir o problema de trânsito no Brasil de forma ampliada, articulando atores e responsabilidades: das montadoras de carros, das empreiteiras de obras, dos empresários de ônibus, do poder público, das autoridades de trânsito, das comunidades, dos motoristas e dos pedestres. Os problemas do motorista alcoolizado, do avanço do sinal, do excesso de velocidade no perímetro urbano e das condições precárias de sinalização e pavimentação das ruas e estradas são corriqueiros, apesar dos muitos avanços decorrentes da implementação do Novo Código de Trânsito. Além disso, e o que é pior, as lesões decorrentes do trânsito continuam sendo tratadas como “acidentais” eventos imprevisíveis, sendo determinados pelo destino. A concepção de fatalidade de um acidente de trânsito deve dar lugar à idéia de que tais eventos são previsíveis em sua maioria.

Conclusão

    Os resultados obtidos, nesta pesquisa, confirmaram as informações contidas em outros estudos, afirmando que os acidentes de trânsito tem sido um sério problema de saúde pública, cuja magnitude vem sendo ampliada a cada década. Além ter nos proporcionado o levantamento das características epidemiológicas das vítimas de acidentes de trânsito, a caracterização dos veículos que mais se envolvem em acidentes e o conhecimento dos grupos mais expostos possibilitando assim a implantação de medidas de reeducação no trânsito afim de, prevenir e reduzir um estado de morbimortalidade nas pessoas expostas a esse agravo.

Referências

  • ANDRADE, S. M.; JORGE, M. H. P. M. Acidentes de transporte terrestre em município da Região sul do Brasil. Rev. Saúde Pública, 35 (3), p: 318-20, 2001.

  • ANDRADE, S. M.; JORGE, M. H. P. M. Acidentes de transporte terrestre em cidade da Região Sul do Brasil: avaliação da cobertura e qualidade dos dados. Rev. Saúde Pública, Rio de Janeiro 17 (6), p: 1449-56, nov/dez, 2001.

  • ANDRADE, S. M.; JORGE, M. H. P. M. Características das vítimas por acidentes de transporte terrestre em município da Região Sul do Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 34 (2), p: 149-56, 2000.

  • BARROS, A. J. D. et al. Acidentes de trânsito com vítimas: sub-registro, caracterização e letalidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19 (4), p: 979-986, jul/ago 2003.

  • BASTOS, Y. G. L. et al. Características dos acidentes de trânsito e das vítimas atendidas em serviço pré-hospitalar em cidade do sul do Brasil, 1997/2000. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21 (3), p: 815-22, mai/jun 2005.

  • DALOSSI, L. Determinação precoce de do nível de gravidade do trauma [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo: 1993.

  • KOIZUMI, M. S. Padrão das lesões nas vítimas de acidente de motocicleta. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 26 (5), out 1992.

  • LEITÃO, F.B.P. Relato de experiência quanto à prevenção de acidentes de trânsito: um modelo usado pela Organização Panamericana de Saúde. Rev. Saúde Pública, 31 (4 suplemento), p: 47-50, 1997.

  • MATTOX, K. L; FELICIANO D. V; MOORE E. F. Trauma. New York: McGraw-Hill; 2000.

  • OLIVEIRA, N. L. B.; SOUSA, R. M. C. Diagnóstico de Lesões e Qualidade de Vida de Motocicletas, Vítimas de Acidentes de Trânsito. Rev. Latino-am enfermagem, 11 (6), p: 749-56, nov/dez 2003

  • OTT, E. A. et al. Acidentes de trânsito em área metropolitana da região sul do Brasil. Caracterização da vítima e das lesões. Rev. Saúde Pública, 27 (5), p: 350-6, 1993.

  • SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE/MS. Programa de Redução da Morbimortalidade por Acidentes de Trânsito: Mobilizando a Sociedade e Promovendo a Saúde. Rev. Saúde Pública, 36 (1), p: 114-7, 2002.

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