efdeportes.com
Adequação das estratégias dietéticas para redução de peso e prevenção de distúrbios alimentares, em judocas

 

*Graduandos do curso de Nutrição do
Centro Universitário São Camilo, São Paulo.

**Professora do Curso de Graduação da disciplina
Nutrição Esportiva; Pós Graduação em Nutrição Clínica e
Supervisora do Estágio em Nutrição Esportiva do
Centro Universitário São Camilo, São Paulo.

(Brasil)

 Luiz Henrique Barroso*

Patrícia Hidemi Gibo* | Bruna Mello Lopes*

Dirce Ayako Tsunouchi Pagy* | Ivete Caggiano Perez*

Luciana Rossi** | Joyce Sue Helen Bertarelli Santos*

Adriana Natália da Cruz Vicente*

luizhb2@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O Judô é caracterizado por lutas de curta duração, alta intensidade e combinados a esforços intermitentes, cujos adeptos são classificados por gênero, peso e faixas de categoria. Visando equilibrar as disputas, normas rígidas de manutenção peso para a categoria passam a ser uma preocupação constante entre atletas e treinadores. Com a intenção de “ajustar” o peso, são utilizados diferentes métodos que podem ser prejudiciais à saúde dos atletas. 

          Objetivo: Abordar procedimentos envolvidos na perda rápida de peso, bem como suas implicações no desenvolvimento de distúrbios alimentares em judocas. 

          Metodologia: Foi realizada uma revisão bibliográfica de artigos científicos indexados, em língua portuguesa e inglesa a partir do ano 2000.   

          Desenvolvimento: A preparação física é um fator fundamental para o desempenho do atleta, no entanto, são comuns os casos em que os atletas desejam alterar seu peso corporal para atender às demandas do esporte. Alguns dos métodos utilizados para perda de peso são: restrição alimentar severa, exercícios intensos, restrição da ingestão de líquidos, saunas, treinamento em ambientes quentes e uso de roupas de plástico e de borracha. Há evidências de que esses atletas podem apresentar traços de distúrbios alimentares, o que tende a piorar conforme aumenta o seu nível competitivo. As reduções não devem ser superiores a dois por cento do peso corporal e devem ocorrer de forma gradual, sem restrição da ingestão de líquidos. Os carboidratos da dieta devem ser priorizados durante o período de redução de peso. Conclusão: A educação nutricional é uma ferramenta efetiva para trabalho multidisciplinar com atletas de judô, pois o conhecimento de uma alimentação adequada e equilibrada é que vai permitir o alcance e manutenção de uma meta de peso saudável, sem colocar em risco a saúde física e psicológica do atleta.

          Unitermos: Judô. Perda de peso. Consumo alimentar. Nutrição.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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Introdução

    O judô teve sua origem no Japão por volta de 1882, quando o professor Jigoro Kano procurou sistematizar as técnicas de uma antiga arte marcial japonesa, conhecida como jiu-jitsu. Ele fundamentou a sua prática em princípios físicos e filosóficos bem definidos, tornando-a um meio eficaz para o aprimoramento físico, técnico, tático e do caráter do praticante, num processo de aperfeiçoamento do ser global. Em 1972, passou a ser definitivamente um esporte olímpico, sendo hoje uma modalidade esportiva de notoriedade em âmbito nacional e mundial, conquistando inúmeros adeptos. Sua relevância tem sido privilegiada em estudos de natureza acadêmica. 1

    O Judô é um esporte caracterizado por lutas de curta duração (aproximadamente sete minutos), alta intensidade e esforço intermitente. Pode ser descrito como um esporte de combate, no qual o atleta tenta controlar o oponente e derrubá-lo de costas no tatame. Filaire et al (2001) recentemente definiram o judô como um esporte anaeróbico e predominantemente láctico. O seu desempenho depende de uma série de fatores, que vão desde a composição corporal, biotipo, dedicação e preparação técnica até o estado psicológico. 2,3

    Torneios de luta desse esporte são geralmente divididos por categorias, que são definidas por faixas rígidas de peso, que visam equilibrar as disputas, minimizando as diferenças de peso, força e velocidade entre os competidores. O peso corporal passa, então, a ser uma preocupação constante entre atletas e treinadores desse esporte, uma vez que, é um dos fatores que influem no rendimento físico ou na classificação para uma determinada categoria. A maioria dos atletas compete em uma classe de peso cinco a dez por cento menor que o seu peso habitual. Com a intenção de modificar ou “ajustar” o seu peso, são empregados diferentes métodos que podem chegar a ser prejudiciais para a saúde dos atletas. Muitos usam de restrição alimentar, que geralmente é feita de quatro a cinco dias antes dos torneios para atingir esse objetivo. Tais reduções de peso podem afetar o volume sanguíneo e de plasma, o armazenamento de glicogênio muscular e as funções endócrinas; podem, também, causar estresse fisiológico e psicológico, além de ter efeitos imediatos na capacidade de resistência aeróbica e no desempenho esportivo. Após os torneios eles recuperam totalmente o peso perdido, resultando em necessidade de reduzi-lo novamente nas próximas competições. 4,5

    Esse ciclo “ganhar-perder” peso, que se repete inúmeras vezes durante a vida competitiva dos judocas e outros atletas de artes marciais, está relacionado a alguns problemas de saúde, como disfunções do sistema cardiovascular ou, até mesmo, interrupção temporária do crescimento. Isso se torna ainda mais importante à medida que boa parte dos competidores inicia esse ciclo ainda na puberdade (em média aos 14 anos de idade). Tal situação pode resultar na manutenção de hábitos agressivos à saúde com o objetivo de perder peso rapidamente para atender às exigências da categoria de peso pretendida e aumentar suas chances de vitória. 4

    O objetivo da presente revisão compreende em revisar a literatura científica sobre os procedimentos envolvidos na perda rápida de peso, bem como suas possíveis implicações no desenvolvimento de distúrbios alimentares em judocas.

Método

    Foi realizada uma revisão bibliográfica de artigos científicos indexados, em língua portuguesa e inglesa, obtidos através de pesquisa de bancos de dados eletrônicos nas bases Scielo, Pubmed e Bireme publicados a partir do ano 2000.

Desenvolvimento

    A literatura mostra que o Judô é um esporte milenar, atuando na contemporaneidade em defesa da educação e bem-estar dos indivíduos. Várias faces do comportamento humano são estimuladas na prática desse esporte, destacando-se aquelas como, tendências em competir, vencer e estabelecer metas pessoais. 6

    Como em qualquer esporte competitivo, a preparação física é um fator fundamental para o desempenho do atleta. No judô, o perfil fisiológico e a elevada aptidão física são importantes, como suporte, para a execução dos aspectos técnico-táticos exigidos. Há uma elevada demanda metabólica tanto no treinamento quanto em competições. Para que um atleta tenha um rendimento adequado, vários fatores deverão estar bem ajustados, dentre os quais a nutrição desempenha um importante papel. 7,8,9

    Nos últimos 20 anos, pesquisas têm documentado claramente os efeitos benéficos da nutrição na performance esportiva. Não há dúvidas os hábitos alimentares afetam decisivamente a saúde, alcance/manutenção de peso e composição corporal, quantidade e qualidade de substratos disponíveis durante o exercício, tempo de recuperação após o exercício, e finalmente o seu rendimento. 10

    O atleta que quer melhorar seu desempenho necessita seguir práticas de boa nutrição e hidratação; utilizar suplementos e ergogênicos somente se necessário e sob orientação de um nutricionista; minimizar práticas severas de perda de peso, e consumir uma variedade de alimentos em quantidades adequadas. No entanto, são comuns os casos em que os atletas desejam alterar seu peso corporal para atender às demandas do esporte. As mudanças de peso devem ser graduais, em períodos anteriores aos torneios e grandes competições. O ganho de peso pode ser realizado pela incorporação de energia adicional na dieta (500 a 1000 kcal/dia) em conjunto com o aumento na duração do treinamento, para promover o desenvolvimento tecidual. O quão rápido será o ganho, irá depender dos fatores genéticos, do grau do balanço energético positivo, da quantidade de dias de descanso e recuperação por semana, e do tipo de treinamento físico. 10,11

    A perda de peso é mais problemática, pois a diminuição de aporte energético pode comprometer a ingestão de nutrientes e a performance do atleta, com a diminuição de massa gorda e massa magra. Outra questão importante é a freqüência com que esses atletas perdem e recuperam o peso rapidamente. Esse ciclo “ganhar-perder” peso é comumente chamado de weight-cycling (WC). O rápido ganho de peso após rápida redução deve-se a adaptações fisiológicas pelas quais o corpo se torna mais eficiente na utilização e armazenamento de energia (aumento na eficiência alimentar), aliado a diminuição da taxa metabólica basal (TMB), o que torna as próximas reduções cada vez mais difíceis e exigem restrições energéticas cada vez maiores. Tem sido especulado que, após algum tempo de prática de WC, a composição corporal pode alterar-se, e após o peso voltar ao normal, pode-se encontrar maior quantidade de gordura corporal e esta pode distribuir de modo mais centralizado. 4

    Se o objetivo da perda de peso não for adequadamente alcançado, pode resultar em severas conseqüências, tais como exclusão da equipe, participação restrita, ou eliminação da competição. Tal fato pode estimular os atletas a manterem dietas crônicas e peso abaixo do saudável, conduzindo-os ao risco de distúrbios alimentares, com sintomas clínicos em casos mais severos. Quanto mais pressionados, os atletas estão mais predispostos a utilizar métodos agressivos para atingir a perda de peso, independente das conseqüências para a saúde. Os principais efeitos potencialmente prejudiciais à saúde estão na alteração da concentração de alguns hormônios, como aumento do GH (hormônio do crescimento) e diminuição da testosterona; diminuição do fluxo sangüíneo renal e do volume de filtração glomerular; aumento da perda de eletrólitos; diminuição da atividade do sistema imunológico, resultando no comprometimento imunológico e diminuição da resistência à infecção e interrupção temporária do crescimento. 1, 4, 7, 10, 11, 12, 14, 15

    Os atletas jovens são particularmente vulneráveis a informações nutricionais equivocadas e práticas não seguras que prometem melhorar o desempenho. A desidratação é especialmente danosa para crianças e adolescentes, devido às suas características. Estes grupos possuem maior risco para a desidratação e hipertermia, se comparados aos adultos jovens. 1

    Em judocas femininas, a perda de peso pode ser ainda mais problemática, pois são de pequeno porte, e ainda possuem menores necessidades de ingestão energética em relação aos atletas masculinos. Nas atletas femininas têm-se associado às alterações na secreção de hormônios gonadotróficos com a baixa ingestão de energia em conjunto com o gasto energético elevado. Isto, por sua vez, resulta em alteração da secreção do hormônio ovariano, levando à amenorréia e perda (ou prejuízo no ganho) de massa óssea, quando ainda são jovens. A incorporação de energia adicional nas dietas tem resultado no retorno da função menstrual e o incremento das condições nutricionais. No tocante a atletas do sexo masculino, as conseqüências negativas na função reprodutiva não têm sido extensivamente investigadas. 10

    Há muitas armadilhas potenciais para alcance de bons resultados no esporte. Na perseguição da excelência os atletas se submetem aos mais diversos riscos. Desde os anos 80 tornou-se evidente a possibilidade de desenvolvimento de distúrbios alimentares entre atletas de judô, que devem ser incluídos dentro dos riscos a serem monitorados. 12

    Existem três razões principais para atletas reduzirem seu peso corporal nos diversos esportes: a) em eventos competitivos, os atletas costumam se inscrever em categorias de peso abaixo do seu peso habitual para terem vantagens técnicas. No dia da pesagem, estar fora do peso previsto para a categoria resulta em desclassificação. Isto obriga o atleta a reduzir o seu peso corporal às vezes em questão de horas (ex: luta Greco Romana, Boxe, Judô, algumas modalidade de Karatê, Taekwondo, etc); b) razões estéticas ligadas ao esporte, onde se procura redução de gordura e maior massa magra (ex: ginastas, patinadores, fisiculturistas, etc). c) redução da gordura para melhorar o rendimento físico, pela otimização da relação peso/potência muscular do atleta (ex: salto em altura e distância, ciclismo, etc). Judocas adultos optam pela mudança de categoria quando se encontram, basicamente, em duas situações: a) atletas com massa corporal quase no limite inferior da categoria e b) atletas com massa corporal quase no limite superior da categoria, com tendências a ganho da mesma e dificuldades com a manutenção e/ou perda. 16, 17 Segundo Ide (2004), diante dessas situações os atletas possuem as seguintes opções para efetuarem a mudança de categorias, de maneira a assegurarem e aumentarem suas performances competitivas:

1.     Incremento da força relativa e absoluta através de aumento da massa muscular, associada com a diminuição ou manutenção do percentual de gordura, e

2.     Redução da massa corporal (perda de peso).

    Muitos judocas, por sua vez, competem em categorias cujo limite de peso é muito abaixo do seu peso real, o que os leva a não conseguirem manter-se dentro do limite da categoria. 1, 2, 4, 9, 10, 12, 13, 19

Técnicas utilizada para redução ponderal em atletas de Artes Marciais

    Redução Rápida de Peso

    Embora por definição seja aquela na qual a redução é alcançada em menos de uma semana, sabe-se que é praticada até algumas horas antes da pesagem. As técnicas mais utilizadas pelos atletas de luta são: restrição alimentar e de fluídos, exercício com roupas de borracha ou plásticas e ainda pode-se aliar sauna seca ou úmida a estas manobras. Lutadores do sexo masculino podem reduzir seu peso corporal de 4,5 a 4,9% em 12 a 24 h, com estas técnicas, que consistem primariamente na desidratação corporal. 17, 20

    Redução Gradual de Peso

    Aqui a técnica mais empregada é a restrição energética. Dos macronutrientes energéticos a redução percentual do consumo de gordura é a mais utilizada. Segundo Fogeholm (1994), dietas com restrição severa, com menos de 23,8 kcal/kg resultam em perda de menos de 1 kg/semana. Uma restrição moderada de 25,0 até 32,1 kcal/kg de peso corporal leva a uma menor redução, em torno de 0,5 kg/semana. Neste caso, os atletas podem continuar seus treinamentos diários para competição. 16,20

    Métodos Patogênicos

    Nas artes marciais competitivas (Judô, Karatê, Taekwondo, etc), o emprego de diuréticos tem sido apontado em alguns estudos. Tal estratégia, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), se enquadra na prática de doping, o que inibe seu uso abusivo entre atletas. Porém outros métodos utilizados para redução de peso, que incluem jejum, pílulas de dieta, vômito auto-induzido e laxativos, são empregados com bastante freqüência. Tanto o nutricionista como o treinador devem estar atentos a estas práticas, pois são classificados como métodos de controle de peso patogênicos e são totalmente condenáveis. Estes colocam o atleta em risco físico e mental. Ainda, tais métodos podem induzir a desordens alimentares como a anorexia e a bulimia, principalmente no grupo mais predisposto, o das atletas femininas. Segundo Rossi & Tirapegui (2005) alguns estudos sugerem que mulheres submetidas à dieta hipocalórica, apresentam perda de peso similares aos homens, porém por serem mais sensíveis a alterações serotoninérgicas, são incluídas em um grupo de risco para desordens alimentares. 7, 16, 21, 22

    Os efeitos negativos no rendimento são observados quando atletas empregam a redução rápida de peso aliados a métodos de controle patogênicos. O método mais apropriado, exigindo profissional qualificado na área de nutrição esportiva, é a redução gradual, cuja prática faz com que o atleta atinja concomitantemente seus objetivos de pesagem, rendimento físico e nutricional. Aliada a restrição energética, um ponto importante é o fornecimento de carboidratos, sendo que dietas hipocalóricas (24 kcal * kg-1 peso) com consumo de até 70% do valor calórico total (VCT) em carboidratos são aconselháveis para que os atletas permaneçam dentro da categoria nos eventos de pesagem, e mantenham os estoques de glicogênio assim como o rendimento. Em um estudo de 19 dias com oferta de dietas hipocalóricas (28,0 kcal * kg-1 dia) para atletas de luta greco-romana, o fornecimento de 4,1 a 4,5 kcal * kg-1 peso * dia-1 de carboidratos foi responsável pela manutenção da potência muscular durante a redução ponderal. Em um trabalho realizado com atletas de alto nível de Karatê foi possível uma redução ponderal, predominantemente de gordura com concomitante preservação da massa magra, de 1,4 kg em duas semanas. Para tanto os pesquisadores empregaram uma dieta com restrição moderada de energia (33,4 ± 2,1 kcal/kg peso) e hiperprotéica (1,9 ± 0,1 g/kg peso) e concluíram que a intervenção nutricional utilizada foi uma alternativa viável e segura para redução ponderal e mais aconselhável do que os métodos rápidos e patogênicos. 16, 23, 24

Técnicas utilizada para redução ponderal no Judô

    No esporte é comum a combinação de exercícios de alta intensidade e restrições alimentares e/ou hídrica, quatro a cinco dias antes de competições, para que o atleta possa ser classificado na categoria escolhida. 13

    Os atletas utilizam diversas técnicas para a perda de peso e dentre os procedimentos mais utilizados estão à restrição alimentar severa, a realização de exercícios intensos, desidratação alcançada pela restrição da ingestão de líquidos, pelo uso de saunas e pelo treinamento em ambientes quentes, muitas vezes com uso de roupas de plástico e borracha. A perda hídrica é considerável, especificamente durante os períodos de treinamento, sendo ainda é agravado pelo tipo de vestimenta utilizado, dificultando a termorregulação. Os sinais de desidratação incluem turgor da pele, pele esticada na testa, urina concentrada, redução do débito urinário, olhos inchados, membranas mucosas do nariz e da boca secas, mudanças na pressão sanguínea ortostática e taquicardia 1, 4, 7, 9.

    Alguns relatos apontam que até indução de vômitos, ingestão de laxativos e diuréticos são adotados na tentativa de adequar-se ao peso da categoria. Há ainda evidências de que esses atletas passam por episódios de compulsão alimentar e apresentam traços de distúrbios alimentares, o que tende a piorar conforme aumenta o nível competitivo do atleta.4, 7, 14

Distúrbios Alimentares associados à manutenção de peso em atletas

    O judô é um esporte considerado de alto risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares subclínicos e clínicos, pelos seus praticantes, por ser uma modalidade que utiliza a classificação por categoria de peso. Os judocas que desenvolvem essas patologias tendem a ter carreiras curtas, caracterizadas pela inconsistência e recorrentes doenças. Os sintomas físicos das desordens alimentares incluem pele e cabelo secos, constipação, mãos e pés frios, problemas digestivos, cansaço ou fraqueza, parotidite, e insônia. 12, 13, 14

    Currie & Mourse (2005) citam os aspectos característicos do padrão alimentar e síndromes clínicas:

  • Relação do atleta com a dieta

    • Atenção meticulosa pela dieta e peso;

    • Objetivos

      • Voltado para o alcance do rendimento;

      • Ênfase na ingestão adequada mais do que na restrição alimentar;

      • Tende ao retorno da dieta “normal” quando cessa a prática esportiva.

  • Alimentação desorganizada

    • Uso de medidas patogênicas para controle de peso

      • O uso de laxativos, diuréticos, enemas, pílulas de dieta e estimulantes;

      • Vômito auto-induzido;

      • Exercícios excessivos (em geral, treinos extras e/ou secretos);

      • Dietas extremas, restritivas e “excêntricas”.

  • Sintomas principais de anorexia nervosa

    • Peso 85% ou menos do esperado;

    • Medo intenso de engordar/ganhar peso (mesmo no baixo peso);

    • Distorção da imagem corporal;

    • Amenorréia.

  • Anorexia atlética

    • Medo de ganhar peso apesar de magro;

      • Peso 5% ou mais abaixo do esperado;

      • Desenvolvimento muscular mantém peso acima do limite anoréxico;

      • Imagem corporal distorcida;

    • Ingestão calórica restringida;

      • Quebra freqüente por “farras” planejadas;

    • Exercício excessivo ou compulsivo;

      • Freqüente uso de uma ou outra medida de controle de peso patogênica

    • Disfunção menstrual

      • Pode incluir atraso na puberdade;

    • Queixas gastrointestinais;

  • Sintomas importantes de bulimia nervosa

    • Recorrente exagero na ingestão (quantidades excessivas com perda de controle);

    • Compensação com desintoxicação, jejum ou exercício excessivo;

      • Em média duas vezes por semana durante três meses;

    • Auto-avaliação super influenciada pelo peso/forma.

  • Tríade da atleta feminina

    • Desordem alimentar;

    • Amenorréia

    • Osteoporose ou osteopenia.

Recomendações

    Em vista dos potenciais efeitos maléficos que os procedimentos de perda rápida de peso exercem sobre a saúde e sobre o desempenho, é extremamente desaconselhável que atletas se inscrevam em categorias de peso cujos limites não correspondam ao de suas características físicas. Da mesma maneira, técnicos e preparadores físicos não devem encorajá-los a reduzir o peso, uma vez que a postura da equipe parece influenciar o comportamento dos atletas. Recomenda-se que, caso necessário, as reduções não sejam superiores a dois por cento do peso corporal e que ocorram de forma gradual (i.e. máximo de um kg/semana), sem restrição da ingestão de líquidos e/ ou métodos que provoquem desidratação. A porcentagem de carboidratos da dieta deve ser elevada durante o período de redução de peso. Após a pesagem e antes do início das lutas, o consumo desse macronutriente deve ser elevado. O planejamento do treinamento deve contemplar o ajuste do peso e da composição corporal em longo prazo. 1, 4

    Entretanto, é necessário que medidas que dificultem a perda rápida de peso sejam colocadas em prática para inibir os competidores a utilizar métodos perigosos de perda de peso. Exemplos de medidas simples que as confederações, federações e demais entidades reguladoras do esporte poderiam adotar são: 1) realizar a pesagem imediatamente antes do início das lutas; 2) realizar programas de educação e conscientização para os problemas relacionados à perda rápida de peso; 3) realizar exames simples que indiquem o estado de hidratação dos atletas, como bioimpedância ou osmolaridade da urina, o que pode ser conduzido na forma de sorteio, com punições aos atletas que estejam excessivamente desidratados, seguindo os moldes de como ocorrem os exames anti-doping. 1, 4

    Ainda, a remodelação das competições de judô para crianças e adolescentes é necessária, de forma a minimizar as possibilidades dos desequilíbrios nutricionais. A educação alimentar deve ser incluída, visando o processo educativo em longo prazo, fornecendo aos seus praticantes instrumentos para que tenham um desenvolvimento global, com a prática de atividades físicas aliadas à alimentação saudável. 1

    Pelas características da modalidade, é importante estimar quanto o atleta possui de gordura corporal, massa muscular, massa óssea e massa residual. A predição da composição corporal, principalmente do percentual de gordura, permite avaliar se é possível um atleta reduzir de peso, com finalidade de lutar em categorias de peso abaixo do seu habitual, sem que ocorra diminuição da massa muscular e/ou desidratação. 1, 4, 19

    O quadro 1 apresenta estratégias para ajudar os profissionais de saúde a trabalharem com atletas e identificar e manter pesos corporais saudáveis.

Quadro 1. Estratégias para perda de peso, de forma saudável, em atletas

Estabelecendo e monitorando objetivos

  • Para determinar as metas de peso e composição corporal realistas, pergunte ao atleta:

    - Qual o peso máximo que você acha aceitável?

    - Qual foi o último peso que você manteve sem seguir constantemente uma dieta?

    - Como você alcançou sua última meta de peso?

    - Qual o peso e composição corporal para sua melhor performance?

  • Encoraje menos o foco em números e mais em hábitos saudáveis tais como controle do estresse, e realização de boas escolhas alimentares.

  • Monitorar progressos através da avaliação nas mudanças do desempenho atlético, no nível de energia, na prevenção de doenças, na normalidade da função menstrual e o bem-estar geral do ser total.

  • Ajudar os atletas a desenvolverem mudanças no estilo de vida para que mantenham um peso saudável para si e não para atender seu esporte, seu treinador, seus amigos, seus pais, nem para provar algo.

Sugestões para consumo alimentar

  • Dietas hipocalóricas não sustentarão o treinamento atlético. Substitua essas dietas hipocalóricas por diminuir o consumo energético de 10% a 20% do habitual, que levará a uma perda de peso ponderada, sem que o atleta sinta-se privado ou com fome. As estratégias tal como substituir alimentos com baixo teor de gordura por alimentos integrais, reduzindo o consumo de lanches hipercalóricos, e fazer outras atividades quando não estiver com fome, poderá ser útil.

  • Se apropriado, os atletas podem reduzir o consumo de gordura, mas é necessário saber que a dieta hipolipídica não garantirá perda de peso se um balanço energético negativo (consumo reduzido de energia com gasto de energético aumentado) não for alcançado. Consumo de lipídeos não deve ser menor que 15% do valor energético total, porque alguns lipídeos são essenciais para a boa saúde.

  • Enfatize o aumento do consumo de grãos e cereais integrais, feijões e leguminosas.

  • Cinco porções diárias ou mais de frutas e verduras fornecem nutrientes e fibras.

  • As dietas para atletas não devem ser hipoprotéicas, e é necessário manter o consumo de cálcio adequado. Assim, é indicado o uso de produtos lácteos e carnes magras, como peixes e aves.

  • Uma variedade de líquidos, especialmente água, deve ser consumida durante todo o dia, incluindo antes, durante e depois do exercício. A desidratação, como um meio de alcançar o peso ideal, é contra-indicada.

Outras estratégias de controle de peso

  • Orientar os atletas a não pular refeições, especialmente desjejum, e a não ficar sentindo muita fome. Devem ter sempre a mão lanches nutritivos para os momentos de fome.

  • Os atletas não devem privar-se de seus alimentos favoritos, nem utilizar regras e diretrizes dietéticas não realistas. As dietas devem ser flexíveis e alcançáveis. Os atletas devem lembrar-se que todos os alimentos podem levá-los para um estilo de vida saudável; no entanto, alguns alimentos são escolhidos com menos freqüência. Desenvolver listas de alimentos "bons” e “ruins” deve ser desencorajado.

  • Ajude os atletas a identificar suas próprias fraquezas dietéticas e a planejar estratégias para lidar com elas.

  • Lembrar os atletas que essas mudanças dietéticas não devem ser momentâneas para que possam sustentar um peso saudável e estado nutricional ideal, evitando recorrer a dietas de curto prazo que não serão sustentadas.

Fontes: American College of Sports Medicine; American Dietetic Association e Dietitians of Canada, 2000.

    Um peso saudável é por definição, aquele que pode ser mantido, permite um avanço positivo na performance dos exercícios, minimiza os riscos de injúria ou doenças, e reduz os fatores para doenças crônicas. O acompanhamento de um nutricionista, especializado em nutrição esportiva, pode ajudar os atletas a manterem uma dieta saudável durante o período de ingestão calórica reduzida, para que a perda de peso seja gradual. 1, 4, 7, 10

Conclusões

    O caminho ideal para tratamento das desordens alimentares em atletas deve envolver equipe multiprofissional que inclui coordenação e apoio dos médicos esportistas, treinadores de atletas, nutricionistas, psicólogos, família e companheiros de time. A contribuição do meio esportivo para o desencadeamento desses problemas precisa ser bem entendida, para que as organizações e os indivíduos envolvidos assumam os seus papéis e responsabilidades. Estes incluem adoção de práticas que reduzam os riscos, identificação precoce do problema e aplicação de terapia apropriada. Neste caminho, embora os riscos não possam ser totalmente eliminados, cria-se a possibilidade de pelo menos serem minimizados, contidos e gerenciados.

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revista digital · Año 12 · N° 118 | Buenos Aires, Marzo 2008  
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