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A aprendizagem e o brincar de crianças com transtorno
de déficit de atenção/hiperatividade

 

 *Professor do PPGAD/UNIVATES

**Bolsista de Iniciação Científica/UNIVATES

(Brasil)

Atos Prinz Falkenbach*

Eduardo Pires**

eduardopires8@gmail.com

 

 

 


Resumo

          O presente estudo se origina das atividades práticas de psicomotricidade desenvolvidas no Centro Universitário UNIVATES. O projeto de psicomotricidade reúne crianças com diferentes níveis de desenvolvimento, preocupa-se com os processos de aprendizagem por intermédio do brincar. Com a presença de crianças com transtornos de déficit de atenção/hiperatividade no referido projeto, surge a necessidade de explorar o tema do TDAH relacionando-o com as capacidades de aprendizagem e desenvolvimento humano apresentada nos pressupostos de Vygotsky. O estudo preocupa-se em discutir os processos de aprendizagem e de desenvolvimento para além das tradicionais descrições e caracterizações do TDAH. Apresenta ainda o brincar como um recurso de ajuda às representações mentais e ao desenvolvimento do vocabulário de movimentos em crianças com TDAH. 

          Unitermos: Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Aprendizagem e desenvolvimento. Brincar.


Projeto de Pesquisa com apoio FAPERGS

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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1. Introdução

    O presente estudo integra as pesquisas relacionadas aos processos de aprendizagem e desenvolvimento infantil a partir das práticas de psicomotricidade com grupos de crianças com diferentes níveis de desenvolvimento. O artigo apresenta reflexões sobre o tema da capacidade de aprendizagem de crianças com TDAH (Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade) tomando como base os fundamentos dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento do piscólogo soviético Lev Vygotsky.

    O estudo contribui com as áreas da saúde, da educação e da educação física, uma vez que vai apresentar subsídios do brincar como meio educativo para a aprendizagem de representações mentais e no desenvolvimento do vocabulário de movimentos, seja em atividades de jogo como também de exercício. Explicamos que o brincar pode envolver atividades que são de jogo ou de exercício. Explicamos que o jogo pressupõe a presença do componente simbólico que são as fantasias e o faz-de-conta (Vygotsky, 2004). O exercício são as atividades sensório-motoras, isto é, envolvem brincadeiras que não contam com a presença do simbólico.

    Busca-se, enfim, entender um pouco mais sobre o TDAH que, talvez por falta de informações, tem sido negligenciado por profissionais da área da educação, que costumam confundi-lo com a má-educação, a “má-criação” ou a “falta de limites”, gerando conseqüências graves que podem ir desde a deficiência na aprendizagem propriamente dita, até a pré-disposição para o uso de drogas, álcool ou para o crime.

    Antes de iniciar com as reflexões acerca dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento e a influência do brincar para a criança com TDAH, é necessário descrever o que a literatura apresenta sobre o transtorno em questão.

    O TDAH é identificado, na maioria das vezes, primeiramente durante a idade escolar, pelas alterações de comportamento da criança por conseqüência do transtorno, como a perda de atenção e sua difícil ou complicada relação com os colegas em sala de aula. O TDAH costuma gerar enorme angústia para os pais e para as crianças que a possuem. Crianças e adolescentes diagnosticados com TDAH são rotineiramente taxados de “problemáticos”, “indisciplinados” ou, até mesmo, “pouco inteligentes” (ABDA).

    Segundo Russell (2002), nos Estados Unidos de 3% a 5% das crianças em idade escolar são portadoras do TDAH, mostrando que a divulgação do Déficit é de suma importância. No Brasil com uma população alvo em torno de 17 milhões, 30 mil estão em tratamento, enquanto que em países desenvolvidos como Canadá, com uma população alvo em torno de 13 milhões, 8 milhões estão em tratamento, segundo GAETAH (Grupo de Apoio e Estudos do Transtorno da Atenção e Hiperatividade).

    Segundo a ABDA*, o TDAH é um transtorno de desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com os períodos de atenção, os controles de impulsos e o nível de atividade. Não há certeza científica, mas é provável que seja transmitido de forma genética, caracterizando-se por um desequilíbrio das substâncias químicas do cérebro, ou neurotransmissores reguladores da conduta. É esse desequilíbrio bioquímico que impediria crianças de focar a atenção numa determinada tarefa, fazendo com que prestem igual atenção a todos os estímulos do ambiente, inclusive àqueles que não são úteis, como por exemplo, um lápis que cai ao chão, uma cadeira ou carteira que se arrasta, uma buzina ou conversas na rua, as cores das roupas dos colegas etc., fatos que as impedem de manter a concentração e resolver a tarefa que lhes está sendo solicitada.

    Ainda em Russell (2002) está a explicação de que não há sinais exteriores de que algo esteja fisicamente errado com o sistema nervoso central ou com o cérebro da criança. Apesar disso, acredita-se que seja uma imperfeição no cérebro a responsável pela movimentação constante e outros comportamentos que as pessoas julgam tão intoleráveis numa criança com TDAH. O autor acrescenta ainda que a demora no diagnóstico e no tratamento do transtorno, fatos que em geral se devem ao desconhecimento do quadro, acabam prolongando por vários anos o sofrimento desses pacientes desnecessariamente e, o que é ainda pior, deixando-os com déficits de aprendizagem que, por sua vez, podem ser irreparáveis. Daí a importância e a urgência de um perfeito diagnóstico e tratamento.

    É importante nunca se olvidar que todas as crianças apresentam momentos de desatenção e de impulsividade, e que podem exibir altos níveis de energia de vez em quando. No caso de TDAH, porém, esta conduta se manifesta quase todo o tempo. Mesmo quando a criança exibe a conduta descrita como hiperativa, típica do TDAH, ainda que o faça de forma consistente, não se deve chegar à conclusão imediata e taxativa de que a criança possui esta desordem. É necessária uma completa avaliação, por profissionais capacitados, e que se modificam de acordo com a idade da criança (Russell 2002). Importante reafirmar em não confundir o transtorno com a propalada “má-educação” que os pais estão oferecendo àquele filho, o que, sabidamente, tanta frustração pode trazer.

    Também é preciso ter em conta que, em que pese o TDAH ser o responsável por 80% de todas as causas de dificuldade no aprendizado, outras patologias podem ser investigadas, tais como: debilidade mental, síndrome do X frágil, epilepsias, síndrome de Tourette e outras, neurológicas e sistêmicas (ABDA Associação Brasileira de Deficit de Atenção).

    O TDAH pode ser classificado em quatro modalidades, com ou sem comorbidades, cada um dos quais requerendo tratamento adequado, como segue:

  • TDAH do tipo predominante desatento - se resume em falta de atenção sustentada, distração. Geralmente, são crianças dóceis, fáceis de lidar, porém com dificuldades de aprendizagem desde o início de sua vida escolar, pois sua falta de atenção sustentada não permite que elas mostrem seu potencial;

  • TDAH do tipo Hiperativo/Impulsivo - não apresentam dificuldade de aprendizagem nos primeiros anos de vida escolar, podendo, no entanto, aparecerem por volta da 5ª série ou mesmo posteriormente, com evolução do grau. Essas crianças podem desenvolver um padrão de comportamento disfuncional, tumultuando as aulas. Podem apresentar comportamentos de resistência à frustração, podem ser imediatistas e demonstrar dificuldades em seguir regras, o que acaba fazendo com que apresentem altas taxas de impopularidade e de rejeição pelos colegas;

  • TDAH do tipo combinado - caracteriza-se pela falta de atenção sustentada, hiperatividade e impulsividade. Acarreta um maior prejuízo no funcionamento global e, quando comparado aos outros dois tipos, é o que apresenta maior número de comorbidades;

  • Tipo inespecífico - verificado quando não há um número de sintomas suficiente para uma classificação em qualquer dos tipos antes descritos, sendo que um ou vários dos sintomas de cada um deles estão presentes, e prejudicam o desempenho escolar, familiar e profissional do paciente. O critério, aqui, é mais dimensional do que quantitativo.

    De fato, 51% das crianças e 77% dos adultos com TDAH desenvolverão algum dentre os seguintes problemas: ansiedade generalizada, depressão, síndrome de pânico, transtorno do comer compulsivamente, jogar compulsivamente, hiper-sexualidade (40% das meninas americanas vão para a gravidez precoce e 15% para as doenças sexualmente transmissíveis), transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno opositor desafiador (TOD), transtorno de conduta (TC), com pequenos furtos e mentiras, podendo evoluir para personalidade anti-social e dependência química, tendo ainda como conseqüência a evasão escolar precoce, delinqüência infanto-juvenil, relacionamentos amorosos conturbados, acidentes de trânsito em que são culpados, acidentes em esportes radicais etc (Informação coletada dia 03/10/07, no site (GAETAH).

Os processos de aprendizagem e de desenvolvimento de acordo com Vygotsky a serviço do TDAH

    De acordo com Vygotsky (2004), a aprendizagem é um processo social. É possibilitada através das áreas de desenvolvimento proximal, isto é, da distância entre a zona de desenvolvimento real, que se costuma determinar através das soluções independentes de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, ou seja, aquilo que a criança ainda não sabe, mas que pode aprender. A zona de desenvolvimento proximal pode ser ilustrada através daquilo que a criança faz hoje com auxílio de adultos ou mesmo de crianças mais hábeis, mas que amanhã poderá fazer por si mesma.

    Pode-se exemplificar através da criança que esboça o desejo de caminhar, a partir da visualização que faz de um adulto caminhando. O auxílio para caminhar que o adulto fornece exerce o papel da zona de desenvolvimento proximal, pois ela, sozinha, sem o apoio do adulto, não é ainda capaz de caminhar. A criança não caminha sozinha, mas é capaz de fazer com ajuda. Logo, porém, estará caminhando por si só. A zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky, enfim, possibilita verificar as futuras aprendizagens da criança.

    Partindo dessa premissa, podemos afirmar que o desenvolvimento da criança na escola tem suma importância, pois o papel do professor é semelhante ao do adulto que caminha, instigando a criança a alcançar a plenitude de seu desenvolvimento potencial.

    Tendo-se por norte a afirmação de Vygotsky (2004) no sentido de que, no processo de aprendizagem e desenvolvimento, para cada passo que a criança dá adiante no aprendizado, são dois passos que ela avança no desenvolvimento, é inegável que cresce em importância a atuação do professor nesse processo. De fato, cabe a ele estimular constantemente a atenção da criança com TDAH, para que a mesma não se perca a qualquer novo estímulo do ambiente. Para possibilitar que a criança fixe atenção em um único brinquedo ou brincadeira por um tempo suficiente para o máximo aproveitamento daquela experimentação, com uma melhor interação com aquele objeto e mesmo com os colegas. Assim pode conseguir também aproximação aos demais. Relacionar-se com os colegas é estar em ambiente proximal, aproveitar os modelos, orientações e mesmo a afetividade com os pares.

    É esperado, ainda, e também dos professores e orientadores, que evitem ao máximo a repreensão de uma criança com TDAH, por ser a mesma bastante frágil às frustrações e repreensões, o que pode levar a reagir muitas vezes de forma violenta frente a atos como tais. Nesse sentido a compreensão, conhecimento e estudo dos professores para a relação com alunos com TDAH é fundamental.

O brincar em Vygotsky e sua relação com os processos de aprendizagem da criança com TDAH

    Vygotsky (1991) destacou a importância do brincar para os processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança, pois é através desse ato que a criança reproduz experimentações e vivências que percebe do mundo exterior, e, ainda, que pode relacionar-se com outras crianças. Ele Também destacou que o brincar nem sempre é considerado uma atividade que dá prazer à criança, já que outras atividades dão experiências de prazer muito mais intensas do que o brincar como, por exemplo, o chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie com a mesma. No entanto, o ato de brincar é de suma importância no desenvolvimento e aprendizado da criança.

    Nas observações realizadas no projeto de psicomotricidade relacional no Curso de Educação Física da UNIVATES, obtivemos a oportunidade de estudar o brincar de crianças com TDAH na interação com colegas e professores. A metodologia do projeto é favorecer um espaço lúdico durante a aula de educação física para que os professores interatuem com as crianças, servindo de apoio e disponibilizando modelos de ajudas diversos para as crianças. Pode-se considerar que a maioria das crianças admira nos adultos a sua força e altura, o que pode despertar para colocar em prática as suas imaginações e desejos sem nem uma restrição. Com isso o professor pode interagir e influenciar no comportamento típico de uma criança hiperativa, incapaz de focar sua atenção em uma só brincadeira por mais de alguns instantes, mudando de brinquedo a toda hora ou andando de um lado a outro sem nenhum objetivo aparente, é inegável o comprometimento de sua aprendizagem. Assim agindo, o professor pode levar a atenção da criança a seus projetos de brincar, fazendo com que sua experimentação na atividade proposta pela mesma seja mais intensa.

    Nas observações realizadas pudemos obter a oportunidade de verificar com evidência a importância da relação professor/criança e que, em tais ocasiões, que o professor se pusesse à disposição das crianças, a fim de servir-lhes de apoio, de orientação e de referência para o desenvolvimento de novas atividades e o reforço daquelas que as crianças já apresentavam. As crianças podem utilizarem-se disso para colocar em prática suas atividades que envolvem necessidades, imaginações e desejos. A disponibilidade dos professores foi fundamental para auxiliar em captar e favorecer momentos de atenção dessas crianças, intensificando suas experimentações nas atividades propostas.

    O jogo e o exercício nas sessões de psicomotricidade faz com que o vocabulário psicomotor da criança se desenvolva com maior significado, tendo maior aquisição de vivências. Como Negrine (2002) explica:

    Através das modalidades perceptivas que fazem parte do equipamento biológico humano, a criança vai captando informações e, de certa forma, busca reproduzi-las. Nesse sentido, vai aprendendo. Como somos capazes de aprender, amadurecer. Essa compreensão de desenvolvimento fortalece as concepções que sustentam que o desenvolvimento humano é um processo dialético complexo, tendo como produto a inter-relação de fatores internos e  externos, no sentido de  que o indivíduo amadurece do ponto de vista biológico, porque aprende, e não ao contrario. Dentro dessa compreensão, a criança e também o adulto constroem seus vocabulários a partir das influências do contexto onde estão inseridos (pg. 38).

    Ana Beatriz (2003) reforça: “a aprendizagem é mais do que a aquisição de capacidades para pensar, é a aquisição de muitas capacidades especializadas para pensar sobre várias coisas” (pg.93).

    A criança com Déficit de Atenção Hiperatividade tem plena capacidade de desenvolver seu potencial criativo. Porém, sempre que perde a atenção, deixa seus projetos pela metade, faltando a conclusão. Insiste-se no fundamento do papel do educador, cujo estímulo e atenção constante é a única ferramenta capaz de proporcionar a plenitude das vivências e experimentações pela criança, ao menos no âmbito escolar, garantindo seu maior aproveitamento e aprendizagem. 

Considerações finais

    O referencial teórico estudado a partir das reflexões da realidade do TDAH, bem como dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano pelo brincar permite realizar algumas considerações do presente estudo. Podemos dizer que o TDAH é algo que está presente e marcante nas escolas e na vida cotidiana, porém recebe pouca atenção e cuidados.

    O estudo das modalidades do TDAH demonstra que pode ser confundida facilmente com outros transtornos ou até a má-educação, ao invés de se tentar agregar seu portador ao meio escolar, a tendência é relegar ao esquecimento, o que, sabidamente, tantas e funestas conseqüências pode trazer.

    O papel do professor cresce ainda mais em importância diante de crianças portadoras do transtorno. Há possibilidades de conhecer, compreender e desenvolver habilidades para o exercício da atenção da criança, oportunizando-lhe o mesmo grau de aproveitamento e de aprendizagem usufruído pelos demais alunos. Não se olvida, de outro lado, que inúmeros são os alunos dentro de uma sala de aula, fato que complica ao professor em conseguir desdobrar-se frente às necessidades e reivindicações particulares de cada um.

    O brincar é um componente essencial, visto que permite ao aluno desenvolver aprendizagens de forma lúdica e dinâmica. O jogo que envolve representações mentais auxilia na aprendizagem do desenvolvimento de conceitos, elaboração de projetos mentais e de estórias. O brincar sensório motor vai ampliar as capacidades motrizes, dar segurança e canalizar sua organização para novas aquisições motoras que o habilitam a brincar e conhecer o seu corpo com maior segurança.

    O professor pode utilizar o brincar, as observações, as relações que favorecem o aprendizado. Se ele conseguir, contudo, pelo menos observar e diagnosticar o transtorno, chamando os pais à responsabilidade, encaminhando a criança ao auxílio profissional especializado, terá realizado um bom caminho de orientação e de compreensão das necessidades diferenciadas das crianças com TDAH.

Bibliografia

  • VIGOTSKY, Lev. Semenovich, 1896-1934. Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores/L.S. Vigotsky. Trad. Jose Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

  • VIGOTSKY, Lev. Semenovich, 1896-1934. Formação Social da Mente: 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

  • BARCKLEY, Russell A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): guia completo e autorizado para os pais, professores e profissionais da saúde/Russell A Barckley. Trad. Luís Sérgio Roizman. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • NEGRINE, Airton. O Corpo na educação Infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.

  • SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas destraídas, impulsivas e hiperativas – São Paulo : Editora Gente, 2003.

  • GAETAH -Grupo de Apoio e Estudos do Transtorno da Atenção e Hiperatividade Boletin 10 dia 03/10/2007.

  • ABDA - Associação Brasileira de Déficit de Atenção (http://www.tdah.org.br/) 05/10/2007

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revista digital · Año 12 · N° 118 | Buenos Aires, Marzo 2008  
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