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Suplementação de carboidratos não interfere no desempenho de
precisão de chute em jogadores de futebol de salão infanto-juvenis

   
  1. Curso de especialização em Fisiologia do Exercício da Universidade Gama Filho - RJ.

  2. Laboratório de Fisiologia do exercício da Faculdade de Educação Física do UniFMU - SP.

  3. IBPEFEX - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício - SP.

  4. Curso de bacharelado em Ciências da Atividade Física - Escola de Artes,
    Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - SP.
        (Brasil)


 
 
Emerson Luiz Appel1 | Maria Cristina Brehmer1  
Mariana de Brito Venera1 | Melissa Cristina Rosa Santos1  
Patrícia Sakagami1 | Francisco Navarro1,2,3  
Marcelo Saldanha Aoki4
saldanha.caf@usp.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Apesar da popularidade do futebol de salão (FUTSAL), ainda são escassas as informações sobre estratégias de suplementação nutricional e desempenho nesta modalidade. Sendo assim, o presente estudo teve como finalidade verificar o efeito da suplementação de carboidratos (CHO) sobre o desempenho de precisão de chute em jogadores de FUTSAL. Participaram deste estudo 10 jogadores de uma equipe de FUTSAL infanto-juvenil, com idade média de 16,6 ± 0,5 anos e peso corporal médio de 60,95 ± 6,39 kg. O estudo consistiu em duas sessões de treinamento de 90 minutos, nas quais o peso e a glicemia foram avaliados antes, durante e após cada uma dessas sessões. De maneira aleatória, na primeira sessão, metade dos jogadores receberam placebo (PLA) e a outra metade solução de CHO. Na segunda sessão de treinamento, realizado na semana seguinte, os jogadores que haviam ingerido PLA, desta vez, receberam solução de CHO, e os suplementados da semana anterior com solução desta vez receberam PLA. Imediatamente após o término de cada sessão de treino, foi realizado um teste de precisão de chute. Após as 3 coletas, não foi detectada alteração na glicemia e no peso entre as condições experimentais (CHO vs. PLA). Também não foi verificada diferença no escore de acertos no teste de precisão de chute entre as condições experimentais (PLA: 4,2 ± 1,8 vs. CHO: 3,9 ± 1,8 acertos). O consumo de CHO não afetou o desempenho de precisão de chute em jogadores de FUTSAL. Provavelmente, a duração da sessão de treinamento, com ou sem a ingestão de CHO, não foi capaz de promover alterações significativas na glicemia e no nível de hidratação que pudessem comprometer o desempenho no teste de precisão.
    Unitermos: Futsal. Carboidrato. Suplementação. Desempenho.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

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Introdução

    Existem algumas versões sobre a origem do Futebol de Salão (FUTSAL), a mais aceita é a de que este esporte começou a ser praticado por volta de 1940, por jovens freqüentadores da Associação Cristã de Moços, em São Paulo (Confederação Brasileira de Futebol de Salão). Em pesquisa realizada pelo IBGE em 1985, em seu anuário Estatístico, quanto aos esportes mais praticados no Brasil, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, nas classes A, B e C e nas faixas de idade de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos, evidenciou-se que o FUTSAL está em primeiro lugar na preferência nacional (Confederação Brasileira de Futebol de Salão). Atualmente, o FUTSAL é bastante difundido como um meio de recreação e lazer, tendo conquistado a preferência de mais de 12 milhões de brasileiros (Confederação Brasileira de Futebol de Salão).

    Apesar da sua grande popularidade, ainda é pequeno o número de pesquisas sobre o FUTSAL na literatura. As informações se tornam mais escassas ainda sob a perspectiva da nutrição e suplementação nutricional.

    O FUTSAL é uma modalidade esportiva caracterizada por esforços intermitentes, de extensão variada e de periodicidade aleatória. O FUTSAL atual exige esforços de grande intensidade e curta duração (LIMA et al.,2005). A agilidade das ações durante a partida exige que o atleta esteja preparado para reagir aos mais diferentes estímulos, da maneira mais rápida e eficiente possível (LIMA et al.,2005).

    No futebol de campo, diversos estudos reforçam a importância da ingestão de uma solução de CHO antes, durante e após a partida (ZEEDERBERG et al., 1996; WELSH et al., 2002; CLARKE et al., 2005; BURKE et al., 2006; ERITH et al., 2006). Já está bem estabelecido na literatura que o decréscimo da glicemia e a desidratação são fatores que podem interferir no desempenho físico e cognitivo (COYLE et al., 1983; COGGAN & COYLE, 1987, DE FEO et al., 1988; BURGESS et al., 1991; MERBIS et al., 1996; FRITZCHE et al., 2000).

    O efeito do consumo de CHO sobre o desempenho de jogadores de futebol de campo tem sido extensamente explorado sob diversos aspectos, destacando-se a capacidade de realizar sprints repetidos (BALSOM et al., 1999; NICHOLAS et al., 1999), a funcionalidade do sistema imunológico (BISHOP et al., 1999; BISHOP et al., 2002), a percepção subjetiva de esforço (WELSH et al., 2002) e o desempenho de habilidades motoras (ZEEDERBERG et al., 1996). Especificamente, em relação às habildades motoras específicas do futebol de campo, é importante mencionar que ZEEDERBERG e colaboradores (1996) não verificaram aumento de desempenho após o consumo de CHO. Entretanto, apesar do grande número de estudos realizados no futebol de campo, existe uma lacuna na literatura a respeito da influência desta manipulação nutricional sobre o desempenho de habilidades motoras específicas em jogadores de FUTSAL.

    Tendo em vista, o crescente interesse pela modalidade no Brasil e a escassez de dados sobre a mesma, o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito da suplementação de CHO durante uma sessão de treinamento de FUTSAL sobre o posterior desempenho em um teste de precisão de chute.


Materiais e métodos

    Participaram deste estudo 10 jogadores de uma equipe de FUTSAL infanto-juvenil, com idade média de 16,6 ± 0,5 anos e peso corporal médio de 60,95 ± 6,39 kg. Seguindo a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (no 196/96), todos os participantes e responsáveis foram informados sobre os procedimentos utilizados e concordaram em participar de maneira voluntária do estudo, assinando um termo de consentimento e proteção da privacidade. O protocolo experiemental foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa do FMU.

    Foram realizados dois experimentos: no primeiro, metade dos jogadores receberam PLA e a outra metade solução de CHO (60g.L-1). No segundo experimento, realizado na semana seguinte, foi aplicado o mesmo protocolo de treinamento do primeiro. Nesta ocasião, os jogadores que haviam ingerido PLA, desta vez receberam solução de CHO (60g.L-1), e vice-versa. A sessão de treinamento teve duração de 90 minutos, sendo 10 minutos iniciais de aquecimento, seguidos de 55 minutos de resistência de velocidade, com 10 tiros de 300 metros, com descanso ativo de um 1'30" entre eles. O treinamento foi finalizado com 30 minutos de trabalho técnico com bola, objetivando precisão de passe, domínio e condução de bola.

    A suplementação de CHO foi constituída de 60 gramas de maltodextrina, fracionada em duas doses de 30 gramas com 500 ml de água cada, na qual a primeira dose foi ofertada durante os primeiros 55 minutos de treinamento e a segunda dose após este período.

    Para a determinação do peso corporal, a qual foi aferida antes, após 55 minutos de treinamento e após o término do treinamento de FUTSAL com duração de 90 min, foi realizada através de balança eletrônica da marca Plenna®, com capacidade máxima de 150 quilogramas. Os indivíduos foram pesados descalços, utilizando apenas calção camiseta, posicionando-se de pé no centro da plataforma, braços ao longo do corpo.

    Amostras de sangue foram coletadas, antes, após 55 minutos de treinamento e após o término do treinamento de FUTSAL. Foi utilizado protocolo de precisão de membros inferiores proposto por GOMES (2001), no qual o jogador chuta a bola em 10 tentativas. O jogador, em pé e parado, golpeia a bola, tentando acertar o gol (60 cm de altura por 80 cm de largura) localizado a 15 metros do ponto de chute.

    Para verificar as diferenças entre as variáveis antes, após 55 minutos de treinamento e após término, realizou-se o teste t para medidas repetidas. Em todos os casos, considerou-se como nível de significância estatística p<0,05.


Resultados

    As variávies peso corporal e glicemia foram avaliadas em 3 momentos distintos (antes - 1, após 55 minutos - 2 e ao final da sessão de treinamento - 3). Não foi detectada nenhuma alteração no peso corporal entre as duas situações experimentais (PLA x CHO). Também não foi verificada alteração na glicemia entre os dois experimentos. Apenas na condição experimental CHO, foi observado aumento na glicemia ao final da sessão de treinamento em relação ao início. O resultado no teste de precisão de chute também não apresentou diferença em funcão do consumo de CHO em relação ao PLA.

    Resultados expressos em média ± desvio padrão.

    Resultados expressos em média ± desvio padrão. a - diferença significativa em relação a primeira coleta (1).

    Resultados expressos em média ± desvio padrão.


Discussão

    A proposta do presente estudo foi avaliar o efeito da suplementação de CHO sobre desempenho de uma tarefa motora envolvendo precisão, executada por jogadores de FUTSAL infanto-juvenis. Assim como no estudo de ZEEDERBERG e colaboradores (1996) que a avaliou a proeficiência em habilidade motoras de jogadores de futebol de campo, após o consumo de CHO, o presente estudo também não verificou alteração no desempenho de precisão de chute em jogadores de FUTSAL em função da utilização desta manipulação nutricional.

    A hipoglicemia e a desidratação são fatores diretamente relacionados à redução do desempenho esportivo. A manutenção do peso corporal durante a sessão de treinamento descarta a possibilidade de ter ocorrido desidratação no presente estudo. Comprovadamente, o decréscimo da glicemia é outro fator que pode interferir no desempenho físico e cognitivo (COYLE et al., 1983; COGGAN & COYLE, 1987, DE FEO et al., 1988; BURGESS et al., 1991; MERBIS et al., 1996; FRITZCHE et al., 2000).

    HOLMES e colaboradores (1983) verificaram que o nível de atenção e desempenho de habilidades motoras finas foram reduzidos durante a hipoglicemia (60 mg.dL-1). Em um outro estudo HOLMES e colaboradores (1986) verificaram que as habilidades motoras simples e a percepção não foram alteradas pela hipoglicemia (55 mg.dL-1). Entretanto, o desempenho de tarefas cognitivas mais complexas foi deteriorado pela redução da concentração plasmática de glicose.

    No presente estudo, ao final da da sessão de treinamento, com duração de 90 minutos, não foi observada diferença estatística entre os valores de glicemia das diferentes condições experimentais (PLA: 92,9 ± 8,9 mg.dL-1 e CHO: 128,8 ± 25,2 mg.dL-1).

    Já no estudo de BISHOP e colaboradores (1999) foi verificada redução na glicemia após uma sessão de treinamento para futebol de campo com duração de 90 minutos, comparando a ingestão de PLA (82,3 ± 2,2 mg.dL-1) e CHO (98,9 ± 1,9 mg.dL-1). Entretanto, é importante notar que no presente estudo e no estudo de BISHOP e colaboradores (1999), os 90 minutos de treinamento não foram suficientes para promover uma redução da taxa de glicose, que pudesse caracterizar hipoglicemia, mesmo na condição experimental, na qual foi ingerido o PLA. A hipoglicemia é frequentemente observada em atividades de longa duração (COYLE et al., 1983; COGGAN & COYLE, 1987).

    Os resultados do presente estudo aliados aos dados obtidos por ZEEDERBERG e colaboradores (1996) sugerem que o desempenho de tarefas motoras relacionadas tanto ao futebol de campo, como ao FUTSAL, não é potencializado pela ingestão de CHO. Uma possível explicação para resultados obtidos no presente estudo pode estar associada ao fato da duração da sessão de treino não ter sido suficiente para provocar hipoglicemia ou desidratação. Logo, o consumo de uma solução de CHO não ofereceria vantagem adicional em comparação ao PLA.


Conclusão

    A suplementação com solução de CHO não afetou a melhora da precisão de chute em jogadores de FUTSAL. Após o consumo de PLA foi observada média 4,2 ± 1,8 de acertos, enquanto que após a ingestão de CHO, o escore foi de 3,9 ± 1,8 acertos. A sessão de treinamento de FUTSAL com duração de 90 minutos, com ou sem a ingestão de CHO, não foi capaz de promover alterações significativas na glicemia e no nível de hidratação que pudessem comprometer o desempenho no teste de precisão.

    Entretanto, ainda são necessários estudos adicionais para determinar o papel da suplementação de CHO durante um treino de FUTSAL, com um tempo de treinamento superior a 90 minutos, em condições climáticas diferentes e com dietas com quantidades de CHO distintas.


Referências

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