efdeportes.com
Imprensa esportiva e propaganda política no peronismo:
uma comparação entre 'El Gráfico' e 'Mundo Deportivo'

   
Mestre em História - PPGHC/UFRJ. Pesquisador do Sport:
Laboratório de História do Esporte e do Lazer.
(Brasil)
 
 
Maurício Drumond
msdrumond@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Não é novidade que o esporte foi utilizado largamente pelo regime justicialista na Argentina durante os dois primeiros mandatos de Juan Perón (1946-1955). Desta forma, o controle estatal dos meios de comunicação também se estendeu à imprensa esportiva especializada. È neste sentido que este artigo busca comparar a relação dos dois principais jornais esportivos do período, El Gráfico e Mundo Deportivo, com a propaganda do regime peronista.
    Unitermos: Propaganda política. Imprensa esportiva. Peronismo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

1 / 1

Procedimientos modernos de difusión, información y propaganda. Esa es la idea moderna de la conducción. Para hacerla y formarla,
hoy el mundo y los conductores disponen de medios extraordinarios que antes no tenían. La difusión, la información, la propaganda,
son extraordinarias. Los medios son numerosos y permiten realizar el trabajo fácilmente. Pero es necesario ir dosificándolos para
evitar la saturación; es necesario utilizarlos lentamente, de acuerdo con la necesidad. Es lo que nosotros estamos haciendo en
estos momentos en el peronismo. ¡Y no es cuestión de días, sino de años!

Juan Domingo Perón (2006-a: 56).

Introdução

    A propaganda política foi um elemento fundamental do governo de Juan Domingo Perón. O general argentino soube, como poucos, utilizar os meios de comunicação em vista a divulgar um pensamento oficial e transmitir um sentimento à população, como não havia sido feito até então na Argentina.

    Admirador confesso de Mussolini e Hitler, Perón herdou dos regimes europeus a consciência de que a propaganda política poderia se tornar uma arma de grande eficiência na árdua tarefa de unificação nacional. Apesar de não ser definido como um regime fascistas, a influência de certos fatores destes regimes sobre o peronismo foi aparente, mesmo que sob uma nova interpretação, sob um olhar local.

    A propaganda política peronista tinha, desta forma, diversas similaridades às propagandas fascista e nazista. Apelos emocionais, promessas de benefícios ao povo - como emprego, aumento de salários - e a utilização de insinuações indiretas, são exemplos destas semelhanças. Além disso, pode-se ver a propaganda Perón à luz da concepção de Hitler, segundo o qual "a arte da propaganda consiste em ser capaz de despertar a imaginação pública fazendo apelo aos sentimentos, encontrando fórmulas psicologicamente apropriadas que chamam a atenção das massas e tocam os corações" (Apud Capelato, 1998: 64).

    Este caráter da propaganda política como um meio de aflorar sentimentos junto ao povo, provocando a imaginação pública quanto ao papel do líder foi muito bem explorado por Perón ainda em janeiro de 1944, após um terremoto que devastou a cidade de San Juan, capital da província argentina que leva o mesmo nome. Tal foi a magnitude do desastre que vinte e cinco segundos de tremores foram suficientes para deixar a capital sob escombros e tirar mais de 10 mil vidas, em uma cidade de aproximadamente 200 mil habitantes (Aringoli, 2006: 33).

    Como primeiro oficial do governo a se pronunciar, o então secretário de Trabalho e Provisão invade as ondas de rádio em nome do presidente Ramírez. Perón afirma que o exército já está tomando todas as providências para o auxílio dos desabrigados e demais vítimas do acidente. Mas a jornada do coronel não para por aí. Ele levanta um fundo de auxílio às vitimas do terremoto e começa com a contribuição de 200 mil pesos descontados diretamente dos soldos dos funcionários militares que trabalham no governo.

    Apesar de se pronunciar em nome do presidente Ramírez, é Perón e sua Secretaria de Trabalho e Provisão que aparecem na campanha. Como se pode ver em sua afirmação: "En la Secretaría de Trabajo y Previsión a mi cargo están abiertas las puertas para recibir a quienes de una u otra forma quieren hacerse presentes en esta cruzada del dolor argentino" (Aringoli, 2006: 33). O nome de Perón e sua secretaria simbolizam a luta contra a dor argentina.

    Mas o coronel não parou por aí. De volta ao rádio no dia seguinte, convoca a criação de uma comissão de coleta para as vitimas do desastre e, ainda no mesmo dia de domingo, volta ao ar como secretário do Ministro da Guerra - o futuro presidente Farrell - para divulgar os atos do exército quanto ao desastre. Perón se utiliza de todas as suas funções no governo para ligar sua imagem à recuperação nacional frente ao desastre.

    Durante a semana, como secretário de Trabalho, se reúne com atores de teatro, cinema e rádio e organiza uma coleta "Pro Víctimas de San Juan" (Aringoli, 2006: 35). Nestes dias, os atores convocados por Perón percorrem as ruas do centro de Buenos Aires, acompanhados cada um de representantes do exército e da marinha fardados recolhendo doações em uma urna lacrada coberta com uma faixa com a legenda "Secretaria de Trabalho e Provisão". A Imagem de Perón se funda cada vez mais com o delicado momento emocional argentino. Perón ainda afirma que as doações em dinheiro devem ser feitas em nome de "Secretaria de Trabalho e Provisão, coronel Juan Perón". O recado fica evidente. Mais claro do que isso somente quando Perón anuncia no rádio que iria às onze da manhã de sábado percorrer pessoalmente a rua Florida - centro nevrálgico da capital nacional - para recolher doações à nobre causa. E assim ele faz, acompanhado de vários nomes do mundo do espetáculo portenho. Ainda na mesma manhã, o coronel vai à estação ferroviária receber órfãos da catástrofe.

    Um grande termômetro da campanha de arrecadação é exibido junto ao obelisco, mostrando a quantidade arrecadada pelo governo, ou pela Secretaria de Trabalho de Perón. O sucesso da campanha é inegável e o próprio presidente Ramírez o credita ao coronel. O fechamento da campanha se dá na arena Luna Park. O estádio, palco tradicional de lutas de boxe, recebe uma multidão entretida por números artísticos, transmitidos em cadeia nacional pelo rádio. Ao final da noite o público recebe com grande entusiasmo o general Ramírez e o coronel Perón. O esforço do novo governo se fez reconhecido e foi ressaltado pelo breve discurso do general. No entanto, apesar de estar no palco junto ao presidente da nação, é Perón quem se pronunciará no encerramento do evento.

    Fica aparente, nesta ocasião tão bem aproveitada pelo coronel, como a propaganda pode ser utilizada de modo a despertar as emoções e provocar paixões. E é exatamente isso que Perón procura produzir com sua quase onipresença nas rádios e nas campanhas beneficentes. Desta forma, Perón consolidava sua imagem de benfeitor, caráter essencial para um grande número de pessoas mais necessitadas na Argentina, que mais tarde viriam a ser denominadas "descamisados".

    O grande instrumento de coordenação da propaganda política no governo de Perón era a Secretaria de Imprensa e Difusão. Era esta secretaria, sob a direção de Raúl Apold, que se encarregava da direção da propaganda oficial peronista. Apesar de não haver uma censura propriamente dita na Argentina, a secretaria contava com 13 editoriais, 17 periódicos, 10 revistas e 4 agências de informação (Aringoli, 2006: 160). No entanto, o controle da imprensa argentina passava também pelo ministro do interior, Ángel Borlhegi. Tanto na Argentina como no Brasil, a pressão dos governos sobre a imprensa não era apenas política, mas também econômica. Isenções de impostos de importação sobre papel - concedidas apenas aos jornais que seguissem as orientações governamentais - e de créditos bancários governamentais, entre outros meios, se mostraram meios muito eficientes de se cooptar jornais ao ideário governista.

    A propaganda peronista na imprensa ganha um novo impulso através da aquisição da maioria das ações do grupo Haynes, império periodístico que contava com o jornal El Mundo e com as revistas El Hogar, Selecta, Mundo Argentino e Caras y Caretas, todos de grande circulação. Após assumir o controle da empresa, o governo argentino lança uma série de revistas, tendo em vista levar suas idéias a todos os públicos. Desta forma, aos títulos pré-existentes, somam-se revistas como Mundo Agrário, Mundo Infantil, Mundo Radial, Mundo Deportivo, Mundo Atómico e Mundo Peronista. Financiados em parte por uma série de anúncios do governo, os novos periódicos são comandados pelo major Carlos Aloé, antigo colaborador de Perón e governador da província de Buenos Aires em 1952.

    Em 1949, Aloé funda e dirige o semanário Mundo Deportivo, revista esportiva do grupo Haynes que visa concorrer com o também semanal El Gráfico. Publicado um dia antes de seu rival, com mais cores e páginas, Mundo Deportivo assume abertamente seu caráter peronista. Recheada de artigos sobre as obras do governo, sobre a influência de Perón sobre o esporte ou mesmo na cobertura de atletas patrocinados pelo governo que conquistavam vitórias no exterior, seus editoriais, assinados por Carlos Aloé, geralmente terminavam relacionando o tema abordado à "Nova Argentina". Como no editorial de 27 de abril de 1950, sobre "A Mulher e o Esporte", em que o editorial é fechado dizendo:

Es la Nueva Argentina en marcha, con toda la juventud, solidaria y unida, que ha encontrado su destino y va hacia la historia con la seguridad que le dan su juventud de hombres y mujeres sanos y fuertes, y que tendrá hijos también sanos y fuertes - hijos de deportistas -, que serán enérgicos, tenaces, con esa férrea voluntad para vencer. Y vencerán (Mundo Deportivo, 27/04/1950: 26).

    Ou no editorial na ocasião das olimpíadas de Helsinque, em 1952, na qual o editorial fala em nome da Nova Argentina de Perón.

Diecisiete millones de argentinos les han dado su fe y su confianza. Diecisiete millones de habitantes de esta Nueva Argentina de Perón y Eva Perón están con sus miradas fijas en ellos, prontos a brindarles el estímulo y la mano a quien desfallezca, como a alentar y dar el impulso necesario al que se achique…

A ustedes, queridos muchachos en Helsinki, la juventud de Perón les envía el más fraterno y caluroso abrazo en este "BUENA SUERTE"
(Mundo Deportivo, 17/09/1952: 26).

    Através de seu periódico esportivo, Aloé buscava, sempre que possível, associar o governo ao sucesso esportivo da nação, como no campeonato de xadrez disputado na Iugoslávia, onde um enxadrista argentino terminou na segunda colocação. A manchete do Mundo Deportivo destacava "La notable actuación en Dubrovnik es el triunfo de la Nueva Argentina" (Mundo Deportivo, 14/11/50: 66). Tal esforço pode ser encontrado de forma consistente nas páginas deste periódico.

    Além disso, as páginas de Mundo Deportivo por muitas vezes ligavam diretamente o nome de Perón ao esporte, contribuindo para a formação da imagem do general com "Primer Deportista". Durante sua juventude, Perón dizia ter praticado tiro, pólo, natação, futebol, esqui, basquetebol, esgrima e boxe. Campeão argentino de esgrima de 1918 a 1928 (Massarino, 2001, foto 5), Perón fora selecionado para participar dos Jogos Olímpicos de 1924 pela Argentina, mas teve sua autorização negada pelo então Ministro da Guerra, Augustín P. Justo (Lupo, 2004: 190). Além de grande esgrimista, dizia-se também que Perón havia sido um grande boxeador amador em sua juventude. No número 53, do dia 20 de abril de 1950, que contou com um fascículo sobre a história do boxe na Argentina, o então Presidente da República é mencionado entre tantos outros pugilistas, profissionais e amadores, que haviam marcado a história da modalidade. Sob seu nome, o artigo destaca:

Hemos separado de intento un nombre, de entre los varios que contribuyeron a la mayor difusión y mejor comprensión del boxeo entre el pueblo. Ese nombre es el del hoy presidente de la Nación, general Juan Perón, quien en aquellos tiempos estimuló con su entusiasmo y dedicación los balbuceos del deporte, y terminó por dejar una obra de carácter permanente con la fundación de Boxing Club de Paraná.
[…]
La Historia del boxeo en la Argentina no puede, por lo tanto, olvidar al general Juan Perón. A su hora habremos de rendirle el mismo agradecido homenaje que como él ganaron quienes hicieron grande el deporte merced a su amplio punto de vista, a su entusiasmo y dedicación permanentes
. (Mundo Deportivo, 20/04/1950)

    Vê-se assim que a imagem do presidente era profundamente ligada aos esportes. De fato, o Primeiro Esportista argentino era identificado com praticamente todas as modalidades esportivas, fato que era amplamente divulgado pelo semanário de Carlos Aloé. Em outra ocasião, já em 1954, Mundo Deportivo dedica um número praticamente inteiro a Perón. Em um de seus artigos, destaca toda a versatilidade e excelência do primeiro mandatário no esporte.

Perón conoció a la juventud en los campos de deportes, a los que frecuentó como atleta integral. El boxeador de las clases académicas se transformó en el esgrimista de estilo clásico, y en esa prodigiosa multiplicación de personalidades que forja el estadio, pasó a ser basquetbolista pionero, y futbolista sagaz, tanto como automovilista fervoroso, capaz motociclista. (Mundo Deportivo, 22/04/1954: 27)



Capa de Mundo Deportivo em memória de Eva Perón. (Mundo Deportivo, 31/07/1952).

    Já na revista El Gráfico, as menções ao governo peronista ou a algum de seus membros eram escassas e, quando presentes, sucintas. Apesar da forte presença do governo na área cultural, alguém que apenas lesse o El Gráfico poderia não perceber que a Argentina vivia sob a égide de Perón. Apesar de não se posicionar diretamente contra o governo peronista - algo compreensível visto o momento político vivido no país -, a mera ausência de nomes como Perón e Evita nas manchetes já era sinal de dissidência.

    Essa disparidade entre os dois periódicos pode ser vista quando do falecimento de Eva Perón, em julho de 1952. O primeiro número do Mundo Deportivo após sua morte (número 172) é inteiramente dedicado a Evita, tendo na capa sua foto sobre a inscrição "Eva Perón, chefa espiritual da nação" (Mundo Deportivo, 31/07/1952:1). Neste número, 45 das 75 páginas são dedicadas à esposa de Perón, destacando sua participação em diversos esportes. Já El Gráfico destaca apenas 3 páginas de sua edição do dia 1 de agosto, com um curto texto na página 3 e apenas fotografias ocupando a maior parte desta página e as páginas 4 e 5 (El Gráfico, 01/08/1952). O texto se resumia a dizer:

El sábado 26 de Julio, a las 20.25 horas, a muerto Eva Perón, esposa Del primer magistrado, general Juan Perón, y Jefa Espiritual de la Nación. El deporte siente su prematura desaparición, como la siente el pueblo entero de la Argentina, porque su actividad infatigable llegó también hasta nuestro ambiente. Creación de Eva Perón fueron los Campeonatos Infantiles, y las dos fotos que aquí reproducimos la muestran jerarquizando con su presencia esos torneos. (p. 3)

    O mesmo se daria nas edições da semana seguinte, com fotos de Evita junto ao povo e apenas um pequeno texto (El Gráfico, 08/08/1952: 3-5). Já o Mundo Deportivo dedicaria mais 12 páginas à Eva Perón, onde esta era vista como o princípio norteador do esporte e o espírito da nação. Ainda mais uma edição seria dedicada à falecida esposa do presidente. Novamente, Mundo Deportivo dedicaria grande espaço ao funeral da primeira dama, com as reportagens "El homenaje de La ciudadania" e "Eva Perón, alma del pueblo y amiga del deporte, descansa em La gloria" (Mundo Deportivo, 14/08/1952). Como das outras vezes, seu rival disporia apenas fotografias do funeral e de cerimônia realizada pela delegação argentina nas olimpíadas de Helsinque, novamente nas páginas 3, 4 e 5 (El Gráfico, 15/08/1952).

    Esta disparidade entre os dois periódicos não ficou restrita, no entanto, às homenagens à Eva Perón. Em praticamente todas as competições nas quais Perón, Evita, ou algum outro membro do governo se fazia presente, o Mundo Deportivo anunciava em destaque esta presença oficial, enquanto o El Gráfico buscava ocultar o máximo possível. Os Campeonatos Infantis de Futebol Evita, que desfrutavam de grande popularidade na época, eram constantemente alardeados pelos órgãos do grupo Haynes. Fotos de Perón e Evita com os participantes da final, dando o pontapé inicial ou apenas observando a disputa eram constantes nas páginas dos periódicos governistas. Já o El Gráfico costumava dedicar apenas pequenas notas, e se referia a estes campeonatos apenas como "Campeonatos Infantis" em suas manchetes. Mesmo em ocasiões como os Jogos Pan-Americanos de 1951, realizados na própria capital argentina, o jornal buscava minimizar ao máximo a presença de Perón nas disputas, ainda que o presidente tenha comparecido à praticamente todas as disputas de medalhas.


El Gráfico. 13/03/1953: 24. || Mundo Deportivo. 12/03/1953: 1.

    Na fotos acima (Figuras 2 e 3), pode-se perceber um exemplo da diferença de abordagem dos dois periódicos em relação à promoção do regime através do esporte. Em El Gráfico, a reportagem sobre o Campeonato Infantil Evita, tem apenas uma página, contendo apenas fotos com legendas, sem um artigo. Pode-se ver também uma única foto de Perón cumprimentando os atletas do time da cidade de Buenos Aires, vice-campeões do torneio. Ainda em El Gráfico, nota-se que o nome de Evita só é associado ao torneio em uma das legendas, onde fala no "Campeonato Argentino de Fútbol 'Evita'" (El Gráfico, 13/03/1953: 24).

    Já em Mundo Deportivo, o campeonato ganha destaque de capa, com a foto da equipe vencedora na capa, com a legenda "Córdoba, Campeón argentino del Torneo Infantil de Fútbol 'Evita'" (Mundo Deportivo, 12/03/1953:1). O mesmo número ainda conta com o artigo "Prestigio el general Perón lãs finales infantiles" (Mundo Deportivo, 12/03/1953: 4-6), que fala não apenas sobre a final do torneio infantil de futebol, realizada no estádio do River Plate, como também da final do campeonato infantil de basquete, realizada no Luna Park. Este artigo fala mais sobre a presença de Perón no evento do que sobre as finais em si. O tom do artigo pode ser visto pelo seguinte trecho:

El general Perón, que llegó a las 21.30, fue advertido de inmediato por el público. Una cerrada ovación partió de todas las tribunas colmadas del Luna Park. Brazos en alto, sonriente, el Presidente agradeció la adhesión de su pueblo. En seguida los jugadores presentaron sus saludos al primer mandatario y le fueron obsequiados, por dos niños, sendos ramos de flores. Gesto que, entre el caluroso aplauso del pueblo, el general Perón retribuyó con un beso. Lo acompañaban su secretario privado, señor Duarte, y el Gobernador de la provincia de Buenos Aires, señor Aloé [Carlos Aloé, editor de Mundo Deportivo] y autoridades de la Nación y de la entidad patrocinante, la fundación Eva Perón. (Mundo Deportivo, 12/03/1953: 5).

    Como de costume nos artigos de Mundo Deportivo sobre as finais dos Jogos Evita, a reportagem é recheada de fotos do Primeiro Mandatário, seja asistindo aos jogos, seja entregando o troféu.

    O caráter anti-peronista de El Gráfico emergiria de forma ainda mais evidente após a auto-denominada "Revolução Libertadora", de 1955. No clima de vingança política instalada após o fim do regime justicialista, a revista esportiva não se diferenciava dos outros grupos alijados do poder pelos últimos dez anos. Em 6 de janeiro de 1956 a revista publica a matéria "A los pecadores: ¿Perdonarlos o Castigarlos?", onde expressava: "Pero el deporte argentino sólo se reconstruirá cabalmente desechando en su futura edificación hasta el último escombro del bochornoso decenio pasado" (Lupo, 2004: 341).

    Muitos outros casos poderiam ser retirados das páginas de El Gráfico e de Mundo Deportivo. Como muitos outros setores da sociedade argentina da época, a imprensa esportiva também se via atuante na divulgação da doutrina peronista ou em sua resistência. Mesmo tendo por muitas vezes publicado fotos de Perón e Evita em eventos esportivos - como nos Jogos Panamericanos de 1951 - ou em outros momentos específicos, a diferença de cobertura entre os dois periódicos é evidente. Como no desfile dos esportistas em apoio a Perón, organizado pela CADCOA em abril de 1954. Na ocasião, El Gráfico publicou apenas um pequeno artigo de duas páginas, contendo quatro fotos com legenda na primeira e uma foto de página inteira na segunda (El Gráfico, 30/04/1954: 6-7), como mostra a figura abaixo.


El Gráfico. (30/04/1954: 6-7).

    Já o Mundo Deportivo dá uma importância muito maior ao evento, publicando um artigo de dezessete páginas ao evento (Mundo Deportivo, 29/04/1954: 4-20). Além da diferença no espaço reservado em cada edição, a ausência de texto em El Gráfico - um recurso muito utilizado ao divulgar eventos ligados ao regime dos quais não poderiam se ausentar - e o tom dos artigos de Mundo Deportivo marcavam suas posições perante a propaganda oficial do governo. Ao começar pelas manchetes. Enquanto El Gráfico falava apenas em "Homenaje del deporte argentino al General Perón" (El Gráfico, 30/04/1954: 6), a manchete de Mundo Deportivo expressava a dívida que o esporte teria com seu "Primeiro Desportista", com a manchete "Sinceridad y gratitud del deporte al General Perón". Mas a apologia ao peronismo não se resumia à manchete, no Mundo Deportivo. O artigos também dizia que

Nunca, en la rica historia del deporte argentino, que es como decir una de las manifestaciones más puras del pueblo mismo, fué dable presenciar un espectáculo como el que resultó del homenaje al general Juan Perón. Existía en verdad una obligación, no impuesta, sino tácita, para que el torrente que simboliza la actividad deportiva se volcase en las arterias porteñas a fin de brindar ese vibrante grito de ¡Presente!" [sic] a quien todo lo da, nada retacea, con el único objetivo de propender a la salud física y espiritual de su pueblo, anhelante de crear una generación jubilosa, sana y virtuosa, que sea capaz de afrontar en las edades venideras la tarea de consolidar la bienaventuranza de la Patria. (Mundo Deportivo, 29/04/1954: 4)

    O caráter anti-peronista de El Gráfico emergiria de forma ainda mais evidente após a auto-denominada "Revolução Libertadora", de 1955. No clima de vingança política instalada após o fim do regime justicialista, a revista esportiva não se diferenciava dos outros grupos alijados do poder pelos últimos dez anos. Em 6 de janeiro de 1956 a revista publica a matéria "A los pecadores: ¿Perdonarlos o Castigarlos?", onde expressava: "Pero el deporte argentino sólo se reconstruirá cabalmente desechando en su futura edificación hasta el último escombro del bochornoso decenio pasado" (Lupo, 2004: 341).


Referências

  • ALABARCES, Pablo. Fútbol y patria: el fútbol y las narrativas de la nación en la Argentina. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2002.

  • ALABARCES, Pablo (org.). Futbologías: fútbol, identidad y violencia en América Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2003.

  • ARCHETTI, Eduardo P. El potrero, la pista y el ring: las patrias del deporte argentino. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2001.

  • __________. Masculinidades: fútbol, tango y polo en la Argentina. Buenos Aires: Antropofagia, 2003.

  • ARENDT, Ana. O movimento totalitário. In: ______. As origens do totalitarismo III: totalitarismo, o paroxismo do poder. Rio de Janeiro: Documentário, 1979, pp. 73-133.

  • ARINGOLI, Guilhermo D'Arino. La propaganda peronista: 1943-1955. Ituzaingó: Maipue, 2006.

  • BERETTA, Alcides et ali. Los años de La ilusión de masas: la Argentina, de Yrigoyen a Perón (1930-1955). Montevidéu: Universidad de La República, 1997.

  • CAPELATO, Maria Helena R. Multidões em cena: propaganda política no Varguismo e no peronismo. Campinas: Papirus, 1998.

  • GAMBINI, Hugo. Historia del peronismo: El poder total (1943-1951). Buenos Aires: Vergara, 2007.

  • HOBSBAWM, Eric J.; RANGER, Terence. A invenção das tradições. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

  • HOROWICZ, Alejandro. Los cuatro peronismos. Buenos Aires: Edhasa, 2005.

  • LUNA, Félix. Perón y su tiempo: II. La comunidad organizada 1950-1952. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2000.

  • LUPO, Victor. Historia política del deporte argentino (1610-2002). Buenos Aires: Corregidor, 2004.

  • MASSARINO, Marcelo. 'Por Perón y por la patria'. Un análisis Del discurso peronista y deporte (1946-1955). Lecturas: educación física y deportes, n. 46, 2001.

  • NEIBURG, Federico. Os intelectuais e a invenção do peronismo: estudos de antropologia social e cultural. São Paulo: Edusp, 1997.

  • PERÓN, Juan Domingo. Conducción política: capítulos I, II y III. Buenos Aires: Instituto Nacional Juan Domingo Perón de Estudios e Investigaciones, Históricas, Sociales, y Políticas, 2006-a.

  • __________. Conducción política: capítulos IV, V y VI. Buenos Aires: Instituto Nacional Juan Domingo Perón de Estudios e Investigaciones, Históricas, Sociales, y Políticas, 2006-b.

  • __________. Conducción política: capítulos VII, VIII, IX y X. Buenos Aires: Instituto Nacional Juan Domingo Perón de Estudios e Investigaciones, Históricas, Sociales, y Políticas, 2006-c.

  • __________. La comunidad organizada. Buenos Aires: Instituto Nacional Juan Domingo Perón de Estudios e Investigaciones, Históricas, Sociales, y Políticas, 2006-d.

  • REIN, Raanan. 'El Primer Deportista': the political use and abuse of sport in peronist Argentina. The International Journal of the History of Sport, v. 15, n. 2, 1998, pp. 54-76.

  • REIN, Raanan; SITMAN, Rosálie (Org.). El primer peronismo: de regreso a los comienzos. Buenos Aires: Lumiere, 2005.

  • RODRIGUEZ, Maria Graciela. El deporte como política de Estado (periodo 1945-1955). Lecturas: educación física y deportes, n. 4, 1997.

  • ROMERO, Luis Alberto. História contemporânea da Argentina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 117 | Buenos Aires, Febrero 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados