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Deficiente visual jogador de goalball: um estudo de caso
Blind player of goalball: a case study

   
Prof. Mestrandas da Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina.
(Brasil)
 
 
Danielle Biazzi Leal  
Teresa Maria Bianchini de Quadros
danibiazzi@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O objetivo deste estudo é conhecer a vida de um deficiente visual e fazer uma avaliação de suas atividades físicas habituais, oferecendo uma estratégia que possa melhor relacioná-lo na sociedade. O sujeito do estudo é G.S.A., 36 anos, sexo masculino. Conclui-se que a rede de apoio é essencial para a reabilitação e inclusão na sociedade, nota-se que as atividades físicas de G.S.A. ficam limitadas por causa da deficiência. Recomenda-se que G.S.A. possa ter acesso a programas com prática de atividades de lazer por pessoas com a mesma deficiência, com outras limitações e consideradas "normais", relacionando-se e convivendo com as diferenças.
    Unitermos: Deficiência visual. Goaball. Atividade física.
 
Abstract
     The purpose of the current study is to understand how a blind person lives and to make an evaluation about their habitual physical activities, providing a strategy that can help them relate better with the greater society. The citizen of the study is G.S.A., a 36 years old male. This study concludes that the support network is essential to rehabilitation and social inclusion, and notes that the physical activities of G.S.A. are limited because of his deficiency. G.S.A. can have access to programs with leisure activities around people with the same deficiency, other limitations or with "normal" people, for developing relationships and coexistence the differences are recommended.
    Keywords: Blindness. Goalball. Physical activity.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

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Introdução

    Estar cego envolve fatores que vão além dos limites imagináveis por parte de um vidente. É necessária muita calma e clareza para que seja possível refletir sobre todos os aspectos possíveis desta limitação. Ignorar uma pessoa que se encontra passivamente em casa todos os dias devido à cegueira implica em condená-la a um estado de deteriorização mental e física (Lenci, Muller e Mosquera, 2006).

    Existem várias práticas esportivas para quase todo tipo de deficiência, por exemplo: basquete para deficientes físicos, natação para deficientes visuais, atletismo para deficientes mentais, entre outros. Atividades que se preocupam com o trabalho localizado, separado do contexto do desenvolvimento global, isto é, possibilitam o melhor desempenho desses indivíduos dentro desse contexto que lhe é familiar, faz amigos, se diverte, participa das atividades. Mas, será que fornece possibilidades para que quando esse indivíduo sair desse contexto social e se deparar com outro contexto consiga adquirir créditos e conquistas? (Souza, Filho, Ferreira e Almeida, 2005).

    Em uma sociedade que supervaloriza a capacidade intelectual e a beleza física, a independência e a capacidade de aprendizagem em seus múltiplos aspectos costumam ser subestimadas quando um indivíduo apresenta algum tipo de deficiência.

    Esta sociedade passa por um período de desenvolvimento de políticas de inclusão social para as pessoas com deficiência. Para entendermos esse novo paradigma faz se necessário analisar/pesquisar a história desses sujeitos no contexto da prática de atividades motoras, esportivas e de lazer (Oliveira e Santos, 2003).

    Sendo assim, este estudo tem como objetivo conhecer melhor a vida de um sujeito, portador de deficiência visual, buscando conhecer suas limitações e barreiras em decorrências da sua deficiência, bem como fazer uma avaliação de suas atividades físicas habituais e oferecer uma estratégia que possa melhor relacioná-lo dentro da sociedade.


Procedimentos metodológicos

    Com base no objetivo proposto, esta pesquisa é caracterizada, segundo Thomas e Nelson (2002), como estudo de caso, e se constitui da participação de um indivíduo do sexo masculino, com 36 anos de idade, cego total, selecionado de forma intencional por apresentar características/problemas interessantes para o aprofundamento de investigação.

    Anteriormente a coleta de dados o sujeito foi procurado para perguntar se havia interesse deste colaborar com o estudo, e no momento da entrevista foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que informa de forma clara e detalhada os objetivos, justificativa e procedimentos metodológicos da pesquisa.

    Os dados foram coletados em abril de 2007 e utilizou-se uma entrevista semi-estruturada e o Questionário de Atividades Físicas Habituais (Pate, 1995, traduzido e adaptado por Nahas, 2006), como instrumento de investigação.


Resultados

    G.S.A é o sujeito do caso, este perdeu a visão aos seus 22 anos, no ano de 1992, em decorrência de um acidente de carro. O sujeito é natural de São Luiz Gonzaga-RS e após a perda da visão veio para Florianópolis-SC pelo interesse em tornar-se independente e voltar a "se mover" na sociedade. Para ajudá-lo em sua reabilitação, ele procurou a ACIC (Associação Catarinense para Integração do Cego), pois em sua cidade natal não existia instituição que o auxiliasse, onde ficou alojado, e no começo mais difícil, sempre obteve auxílio dos demais deficientes visuais que já estavam lá há mais tempo.

    Na ACIC ele teve aulas de locomoção, de atividades da vida diária e de Braile durante um ano, onde aprendeu a deslocar-se nas ruas da cidade e lidar com situações do cotidiano, sendo relatados por ele as suas maiores dificuldades a locomoção e o braile, em especial, pois este quando se aprende desde cedo se torna mais fácil, mas para ele que começou o aprendizado aos 22 anos se tornou complicado.

    Em relação à locomoção, G.S.A. sai sozinho com o auxilio da bengala, sua orientação espacial, é através do tato, olfato e audição. Por esse motivo foi relatado que passar por lugares onde tem barulho excessivo ou quando esta chovendo, dificulta a sua orientação através destes sentidos.

    No seu dia-a-dia, o sujeito faz tudo que um indivíduo sem a sua deficiência faz em casa, pois teve todo o ensinamento nas aulas de atividades da vida diária na ACIC.

    G.S.A., atualmente é formado em Pedagogia-UDESC e está na última fase de História-UDESC, estas duas faculdades são uma parceria com a ACIC, de ensino a distância, onde a mesma fornece todo o material preciso para a realização do curso, no entanto as aulas são em sua maioria de forma oratória, e quando têm textos, os alunos se agrupam e um brailista, sujeito que lê bem o braile, lê o texto para os demais.

    O sujeito trabalha há um ano como Assistente Técnico Pedagógico no Bairro Monte Verde, Florianópolis-SC, na Escola Laura Lima, na área de Coordenação de Projetos. O mesmo passou em um concurso para exercer este cargo, porém passa por dificuldades no seu exercer da profissão pela falta de material que a escola disponibiliza para funcionários deficientes visuais, tendo que usar uma máquina em braile emprestada pela ACIC.

    Atualmente G.S.A. é participante do projeto do Centro de Desportos (CDS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de Goalball, tendo Classificação Visual Esportiva B1 (Ausência total da percepção da luz em ambos os olhos, ou alguma percepção da luz, mas com incapacidade para reconhecer a forma de uma mão em qualquer distância ou sentido). A pratica deste esporte é realizada sob a orientação de um professor e acadêmicos do Curso de Educação Física, todos os sábados, seu treinamento dura em torno de 2 horas, e além do jogo de Goalball, tem um treinamento com resistência (elásticos) para força muscular.

    O goalball é uma modalidade esportiva que teve sua criação visando execução do jogo por pessoas cegas. Com base nessa premissa, a vivência do jogo se dá através da mobilização das diversas percepções dos atletas, excluindo a visual. Então, a dimensão tátil e auditiva prevalece, sendo implementada pelos componentes psicológicos e individuais dos atletas (Rodrigues, Maltoni e Paulini, 2003).

    Antes da perda visual, G.S.A. se considerava uma pessoa ativa, pois praticava esportes como futebol de salão, vôlei e outros. Logo após a cegueira, o sujeito se envolveu em atividades como Natação e Atletismo oferecidos pela UFSC, porém nunca deu seqüência as suas atividades físicas, por causa do trabalho e faculdade, ele ficou dois anos parado porque sua faculdade de Pedagogia era aos sábados, no horário das atividades esportivas. Atualmente este só pratica goalball no sábado, porque nos demais dias da semana, além de trabalhar tem que terminar a monografia da faculdade de História.

    Foi aplicado com o sujeito o Questionário de Atividades Físicas Habituais (Pate, 1995, traduzido e adaptado por Nahas, 2006), onde este se divide em perguntas sobre atividades ocupacionais diárias e atividades de lazer, e através de uma pontuação classifica os indivíduos em Inativos, Pouco Ativos, Moderadamente Ativos ou Muito Ativos. G.S.A. se classificou como Pouco Ativo, pois na maioria das vezes as atividades são de difícil acesso por causa da sua limitação. No caso da pergunta relacionada a ir caminhando ao trabalho, foi relatado que apesar da distância ser curta, ir de ônibus tornava o percurso mais fácil, e em relação às atividades de lazer há um difícil acesso a estas, porém ele tem uma esteira em casa e pratica caminhada.

    G.S.A. relata que o Esporte foi muito importante para sua reabilitação, pois auxiliou dentre outros aspectos, como a integração social, principalmente o seu equilíbrio. Dentro do esporte atualmente praticado, ele sai em viagens pelo Brasil, para jogar em competições, e já ganhou um título de Vice Campeão Brasileiro de Goalball.

    Sua forma de diversão resume-se em encontros com os amigos e idas a praia, pois os lugares para diversão na cidade têm som muito alto, o que dificulta a utilização desse sentido para sua locomoção.

    Há dois anos G.S.A. mora com uma companheira, que conheceu dentro do programa de Goalball da UFSC, e com seu irmão. Ele destaca que ele só conseguiu "dar a volta por cima", porque teve o auxilio e o amor da sua família, e também por ter vindo a Florianópolis, onde no começo, o mesmo pensava em ficar apenas seis meses, porém o auxilio que é dado aos deficientes visuais nesta cidade fez com que ele optasse por ser a sua moradia, explicando assim a grande quantidade de deficientes visuais que se encontram na cidade.


Discussão

    Fica claro que a rede de apoio é essencial para que o indivíduo deficiente visual tenha a sua reabilitação e inclusão na sociedade. Apesar de todas as dificuldades encontradas por alguém que possui a deficiência e mais ainda por alguém que a adquiriu, tendo que conviver com algo que antes não precisava e nem sabia como lidar, e ter que reaprender depois de estabelecido todos os seus aprendizados como fazer as coisas mais comuns do dia a dia, nota-se com esse caso que quando se auxilia, se incentiva, a limitação acaba sendo superada.

    Apesar do indivíduo se classificar segundo o Questionário aplicado como pouco ativo, nota-se que suas atividades físicas ficam limitadas por causa de sua deficiência e também pelo pouco tempo disponível para estas atividades. Porém o sujeito mostrou-se insatisfeito com a quantidade de tempo que disponibiliza para suas atividades de lazer, e relatou que quando terminar a sua monografia voltará a freqüentar as outras atividades que realizava anteriormente.

    O portador de deficiência visual é uma pessoa como as demais, com preferências, habilidades, aptidões, dificuldades, interesses e capacidades produtivas necessitando apenas de oportunidade para desenvolver suas potencialidades (Lenci et al., 2006).

    E estas oportunidades no caso do sujeito deste estudo algumas foram supridas quando este veio para ACIC, como seu aprendizado em relação à locomoção, como lidar com as atividades da vida diária e até mesmo a ler e escrever novamente, sem o auxílio da visão, através do Braile, então o que propor ao G.S.A. como recomendação para a melhoria de algum aspecto de sua vida?

    Considerando o goalball, atividade que G.S.A. pratica, esta pode ser praticada por pessoas cegas ou não, existindo a possibilidade de ser uma atividade inclusiva. Onde a verdadeira inclusão não pressupõe apenas o estar junto com pessoas com diferentes características e habilidades, mas também, o desfrutar das mesmas condições dentro da diversidade (Rodrigues et al., 2003).

    Sendo que para o deficiente visual, por ter uma perda sensorial muito importante, acaba sendo muito difícil a sua socialização em atividades físicas e de lazer onde predomina a presença dos normovisuais.

    Porém apesar desta dificuldade propõe-se neste estudo, que pessoas com deficiência visual, como o caso de G.S.A., possam ter acesso a programas que tenham prática de atividades de lazer não somente por pessoas com a mesma deficiência, mas com outras limitações e até mesmo com pessoas considerados "normais", para que estes indivíduos possam se relacionar e conviver com suas diferenças e aprender com as limitações dos outros.

    Tal prática, segundo Castagno (2001) apud Pedrinelli (2006) oferece excelente oportunidade para: (a) o desenvolvimento de uma atitude positiva em relação a colegas, (b) a aceitação dos colegas, e (c) a cooperação dentro do grupo.

    A realização de esportes unificados constituídos por equipes compostas tanto por pessoas com deficiência como por pessoas sem deficiência, retratam a preocupação com o potencial para o convívio e o relacionamento social.

    "O esporte é um contexto extraordinário para aprender a ser e a conviver". Participar dos programas constitui uma forma saudável de vida ativa (Pedrinelli, 2006), que promove o envolvimento de atletas, técnicos, famílias e voluntários com o intuito de aperfeiçoar as habilidades esportivas e enriquecer as habilidades de relacionamento.


Referências bibliográficas

  • Lenci, F.G.M, Muller, J.M e Mosquera, C.F. (2006). Orientação e Mobilidade Fundamentada na Psicomotricidade Relacional: Estudo de Caso. Revista da Sobama, 11(1), 41-44.

  • Nahas, M.V. (2006). Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: Conceitos e Sugestões para um estilo de Vida Ativo. 4ª Edição, Ed. Midiograf.

  • Oliveira, J.D.B, Santos, A. (2003). (Re)Construindo a História das Pessoas com Deficiência na Educação Física: Um Estudo a Partir dos Alunos (as) do Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado (NEFEA). Revista da Sobama, 8(1, Suplemento) p. 6.

  • Pedrinelli, V.J. (2006). Special Olympics: Especial em Muitos Sentidos. Revista da Sobama, 11(1, Ponto de Vista), 45-54.

  • Rodrigues, G.M, Maltoni, C, Paulini, P. (2003). Goalball: Possibilidades de Percepções da Diversidade numa Esfera Inclusiva. Revista da Sobama, 8(1, Suplemento),p. 16.

  • Souza, C.M, Filho, C.W.O, Ferreira, A.C.G.O e Almeida, J.J.G. (2005). A Educação Física e suas contribuições em um programa de orientação e mobilidade para crianças deficientes visuais. Lecturas: Educación Física y Deportes, 10 (90).

  • Thomas, JR e Nelson, JK. (2002). Métodos de pesquisa em atividade física. 3ª Edição, Porto Alegre, Ed. Artmed.

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