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Avaliação da composição corporal em atletas de
basquetebol em cadeira de rodas da cidade de Florianópolis

   
*Aluno de Mestrado em Ciência do Movimento Humano UDESC.
**Docente do Mestrado Ciência do Movimento Humano UDESC.
(Brasil)
 
 
Prof. Esp. Gustavo Levandoski*
gustavocref10123@hotmail.com  
Prof. PhD. Fernando Luiz Cardoso**
d2flc@udesc.br
 

 

 

 

 

     Este estudo teve o objetivo de descrever quais as deficiências físicas mais comumente encontradas em atletas da modalidade de basquetebol em cadeira de rodas e algumas variáveis da composição corporal. A amostra foi composta por 12 atletas do sexo masculino participantes da equipe de basquetebol de cadeira de rodas da Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (AFLODEF) da cidade de Florianópolis, SC, com a análise estatística por intermédio do software SPSS versão 15.0, utilizando estratégias descritivas representando valores médios e desvio padrão. Os atletas analisados possuem em média 35,3 anos, altura tronco-cefálica de 0,84 m.; envergadura de 1,72 m.; circunferência do tórax inspirado, braço direito e esquerdo contraído de (1,02; 32,7; 33,5 m.) respectivamente, e o somatório das dobras cutâneas do tríceps, subescapular e supra-ilíaca de 45,16 mm. Os atletas se caracterizam em 58,3% com lesão decorrente de poliomielite; 24,9% de lesionados medulares e 16,6 % incluem atletas com decorrência de amputação e lesão osteo-muscular. Consideramos brevemente que os atletas em sua maioria são portadores de poliomielite, e apresentam maior dificuldade na inclusão de atividades esportivas quando comparados aos lesionados medulares e amputados que teriam maior facilidade no acesso a informação devido a maior nível escolar.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

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Introdução

    Atualmente, a prática de atividade física para pessoas com necessidades especiais tem chamado a atenção da comunidade científica internacional. A prova para esta afirmação está no estudo de Marques, Castro e Silva (2001), quando estes citam a Carta Européia do Desporto para Todos: as Pessoas Deficientes, datada de 1988, na qual o Conselho da Europa reconhece a atividade física como um meio privilegiado de educação, valorização do lazer e integração social para a população portadora de necessidades especiais.

    O esporte paraolímpico tem seu início no Brasil em 1958 com a fundação do Clube Otimismo no estado do Rio de Janeiro, e que meses depois foi criada o Clube dos Paraplégicos de São Paulo com o objetivo de trazer o esporte para pessoas com deficiência física ao país. A primeira participação do Brasil em competições internacionais foi no Para-panamericano de 1969 em Buenos Aires, capital da Argentina, com o objetivo de buscar o conhecimento dos esportes praticados naquela competição e a integração dos atletas no nível continental.

    O basquetebol em cadeira de rodas é praticado em ambos os sexos. As regras são as mesmas da Federação Internacional de Basquete Amador (FIBA), com algumas adaptações pela Federação Internacional de Basquete em Cadeira de Rodas (IWBF) onde atualmente possui 57 nações filiadas.

    Sir Ludwig Guttmann, neurologista e neurocirurgião alemão acreditava que o esporte possuía a formula para motivar e diminuir o tédio da vida desocupada de um deficiente físico, mas acabou descobrindo muito mais, fez como que o mundo se organizasse, mostrando que todas as pessoas com algum tipo de deficiência podem praticar atividade física e esportiva (Rosadas, 1989).

    Neste contexto, (Senatore, 2006) relata "a importância do esporte como ferramenta de inclusão social", oportunizando que estas pessoas tenham um desenvolvimento físico, metal e afetivo integral através do esporte, respeitando as suas limitações. Este trabalho deve ser diferenciado, a amplitude do foco deve estar aberta para atender todas as pessoas, a partir dos mais jovens até os mais velhos, permitindo que os indivíduos menos habilidosos consigam exprimir o máximo de seu potencial como forma de um desafio consigo mesmo.

    Para Steinberg (1994) apud Itani et.al. (2004) "a prática de atividades físicas proporciona o bem-estar físico e psicológico em todas as pessoas, portadores ou não de deficiência". Na visão de Itani et. al. o autor citado comprovou que a prática de exercícios físicos para portadores de lesão medular, poliomielite e doença neuromuscular progressiva são benéficas para o físico. No caso do lesionado medular há menor incidência de complicações urinárias, úlceras de pressão e doenças cardíacas. Para um portador de poliomielite o ganho de força é relevante, mas necessita de cuidados porque os exercícios muito fortes podem lesar o músculo que está parcialmente sem inervação.

    Atualmente na área da educação física, existem vários e modernos métodos que estudam a avaliação corporal onde são utilizados para predizer níveis de estado maturacional, funcional e outros aspectos corporal. (Guedes, 1994) utiliza a técnica antropométrica, através de medidas da circunferência, diâmetros, e espessura de dobras cutâneas como recurso no estudo da composição corporal, mas é baseada com indivíduos sem nenhum tipo de deficiência (física ou mental).

    Analisando os trabalhos do 2º Congresso Internacional de Treinamento Esportivo da Rede Cenesp publicados na Revista Perfil numero 8 no ano de 2005, contatamos mais 50 estudos relacionados a medidas e avaliação e apenas 5 sobre o desporto paraolímpico. A partir da revisão de literatura destes trabalhos, observamos que os correspondentes autores relatam a dificuldade de encontrar estudos relacionados com testes motores, protocolos, parâmetros com referencia específica para pessoas com algum tipo de deficiência física, destacando e alertando em suas conclusões a importância dos estudos que se preocupam com esta linha de pesquisa. Com base nesta análise, nosso estudo tem como objetivo descrever e analisar algumas variáveis da composição corporal características individuais dos paratletas da Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (AFLODEF) praticantes da modalidade de basquetebol em cadeira de rodas da cidade de Florianópolis no estado de Santa Catarina, no ano de 2007, iniciando a construção de fundamentos apontados como problema citados anteriormente pelos pesquisadores desta linha de pesquisa, com a intenção de propiciar novos estudos discussões sobre os resultados deste estudo.


Metodologia

    A pesquisa é caracterizada como descritiva não-probabilística. A amostra intencional foi composta por 12 atletas do sexo masculino com idades entre 17 a 56 participantes da equipe de basquetebol de cadeira de rodas da Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (AFLODEF) da cidade de Florianópolis no estado de Santa Catarina.

    Os sujeitos foram submetidos a uma entrevista onde verificamos quais lesões físicas são mais comuns em praticantes desta modalidade, qual o tempo da lesão, a partir de quanto tempo após-trauma eles procuraram uma atividade física orientada por um profissional da educação física, a escolaridade. Em seguida a amostra foi submetida a avaliação antropométrica através das medidas longitudinais segundo (Carnaval, 1997). Estatura Tronco-cefálica: estando o avaliado sentado num bando fixo a parede, obtendo um ângulo de 90º nas articulações de coxo-femural, joelho e tornozelo, mede-se a distancia entre o ponto vértex e o assento do banco. Tórax inspirado: no nível do ponto meso-esternal a partir de uma inspiração máxima. Envergadura: distancia entre os pontos dactiloidais direito e esquerdo com os membros superiores abduzidos formando um ângulo de 90º com o tronco. Braço contraído: braço flexionado em um ângulo de 90º com o tronco e o antebraço em supinação com a mão oposta oferecendo uma resistência a uma tentativa de flexão máxima co cotovelo flexionado, mede-se o ponto de maior circunferência. Segundo o protocolo do referente autor estas três últimas medidas são executadas com o avaliado em pé, mas foram adaptadas com os mesmos sentado na cadeira de rodas. Para avaliação das espessuras das dobras cutâneas foi adotado o procedimento de (Guedes, 1994) adaptado para posição sentado utilizando as medidas do tríceps: é determinada paralelamente ao eixo longitudinal na face posterior na distancia média entre a borda supero lateral do acrômio e o olecrano; bíceps: é determinada no sentido longitudinal do braço na face anterior na parte de maior circunferência do ventre muscular do bíceps; subescapular: é obtida obliquamente ao eixo longitudinal seguindo a orientação dos arcos costais, sendo realizada a dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escapula; axilar média: é medida obliquamente, no sentido dos arcos costais, localização no ponto de inserção entre a linha axilar média com uma linha imaginaria que passaria pelo apêndice xifóide.

    As medidas necessárias ao presente estudo foram obtidas utilizando-se os seguintes instrumentos: Compasso de dobras cutâneas da marca Cescorf Científico, fabricado no Brasil e que possui precisão de 0,1mm para medir a espessura das dobras cutâneas. Fita métrica de metal flexível, com 2 m de comprimento e precisão de 0,1cm para aferir as circunferências dos segmentos corporais, envergadura e estatura tronco-encefálica. Dinamometro Jamar A análise estatística foi realizada por intermédio do software estatístico SPSS versão 13.0, utilizando estratégias descritivas para representar valores médios, desvio padrão, máximo e mínimo.


Resultados

    Os resultados serão apresentados individualmente seguido dos valores de média, mediana, desvio padrão, mínimos e máximos do grupo em quatro momentos de acordo com as tabelas 1 e 2. Na tabela 1 observamos as variáveis idades (ID) em anos, tipo da deficiência, tempo da lesão em anos, tempo de pratica esta atividade na associação e a escolaridade, que caracterizam os sujeitos da amostra.

    Na tabela 2 observaremos variáveis da composição corporal, circunferência tórax inspirado (TI), envergadura (EV), altura tronco-cefálica (ATC), braço contraído direito (BCd), braço contraído esquerdo (BCe). Espessura das dobras cutâneas tríceps (TR), subescapular (SB), bíceps (BI) e o somatório das dobras (∑).


Discussão

    Com base nos dados obtidos na tabela 1, percebemos que o grupo é caracterizado com 58,3% dos atletas com lesão decorrente de poliomielite (DP); 24,9% de lesionados medulares (LM) e 16,6 % incluem atletas com decorrência da amputação do membro inferior direito e outro de lesão osteo-muscular em conseqüência de um acidente no local de trabalho (A).

    A média etária da equipe foi de 35,25 ± 10,15 anos caracterizando o grupo como adulto e o alto valor do desvio padrão é causado pelas idades mínima e máxima que se afastam dos valores da tendência central. Se os valores destes ambos atletas fossem excluídos da pesquisa a média continuaria sendo de 35 anos, porém com um desvio padrão menor e equivalente a 6,41 anos.

    Em relação ao tipo da lesão, dividiremos os indivíduos em dois grupos, para uma melhor descrição. O primeiro grupo composto por atletas (DP) procuram o auxilio de uma atividade física orientada após atingirem seus 20 anos de idade, enquanto que a procura na busca do convívio esportivo dos grupos (LM) e (A) foi constatada pela metade do tempo do acometimento da lesão, variando o período de sua inclusão após a recuperação pós-trauma.

    Em relação a escolaridade, 41,7% da amostra possuem ensino fundamental incompleto e deste percentual 57% tem sua deficiência acometida devido a poliomielite; 25% da amostra possuem o ensino médio completo e somente um individuo com poliomielite; 33% do total da amostra possuem ensino superior completo. Nesta última variável este percentual é representado por 4 atletas sendo que 50% são formados por indivíduos com lesão medular e os outros 50% devido a poliomielite. A diferença dos dois atletas com ensino superior com poliomielite em relação aos outros também com poliomielite são de que ambos não necessitam do uso da cadeira de rodas para locomoção diária.

    Na tabela 2 a altura tronco-cefálica observamos médias de 0,84 ± 0,05 metros, a envergadura 1,72 ± 0,10 metros, a circunferência do tórax com inspiração máxima 1,02 ± 0,11 metros, a circunferência do bíceps direito contraído 32,7 ± 4,1 centímetros, e a circunferência do bíceps esquerdo contraído 33,5 ± 4,9 centímetros, e o somatório das dobras cutâneas de 45,16 ± 18,30. A dificuldade da obtenção de dados para uma discussão com qualidade é um fator limitante para continuidade das pesquisas.

    Uma das grandes limitações encontrada neste estudo foi a falta de artigos relacionados ao tema para que uma discussão mais aprofundada fosse realizada. Assim, concordamos com Marques, Castro e Silva (2001), quando estes indicam a escassez de trabalhos que abordem aspectos psicológicos, como a motivação, para a população portadora de necessidades especiais, neste caso paratletas.


Conclusões

    A ausência de informações teóricas e prática sobre estudos da composição corporal que predizem o percentual de gordura e seus procedimentos para execução desta avaliação são inexistentes no Brasil. Acreditamos que estudos desta natureza proporcionariam um avanço no desenvolvimento do treinamento esportivo das equipes do desporto adaptado, que buscam prestigio e aceitação através dos seus resultados em competições nacionais e internacionais, onde contribuiria ainda na busca pela cientificidade e padronização de técnicas especificas para avaliação física de atletas com deficiência.

    Os resultados deste estudo respondem ao problema apresentado e percebe-se como sugestão para a continuidade das pesquisas, apresentar um perfil da composição corporal e variáveis motoras deste mesmo grupo a fim de caracterizar e aumentar a revisão de literatura, alimentando futuras discussões como incentivo ao crescimento desta linha de pesquisa.

    Concluiu-se que os atletas da modalidade de basquetebol em cadeira de rodas, da equipe de Florianópolis, SC, em sua maioria são portadores de poliomielite, e que estes atletas, quando comparados aos lesionados medulares e amputados, apresentam mais dificuldade na busca de atividades esportivas, para inclusão social, amenização de problemas de saúde ou manutenção física. Acreditamos que a resposta seja pelo fato de que os lesionados medulares e amputados já praticavam atividades física antes do acometimento deste trauma, e ainda teriam maior facilidade no acesso de informação e ao retorno de prática dos exercícios físicos devido ao devido a maior nível escolar.

    Sugere-se com este trabalho que mais estudos objetivando características psicológicas, especificamente a motivação, testes avaliando a composição corporal e medindo as aptidões físicas destes atletas sejam realizadas, para que assim uma base de conhecimento mais ampla seja constituída, resultando num melhor entendimento e atuação por parte dos profissionais para com estes indivíduos.


Referências

  • CARNAVAL, Paulo Eduardo. Medidas e Avaliação em Ciências do Esporte. 2. Ed. Sprint, Rio de Janeiro, 1997.

  • CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS. História do Basquetebol em Cadeira de Rodas no Brasil. Disponível em: www.cbbc.org.br. Acesso em 10 de jul. de 2007.

  • CONDE, A.J.M.; SOBRINHO, P.A.S.; SENATONE, V. Manual de orientação para professores de educação física: Introdução ao Movimento Olímpico. In SENATONE, V. Paraolímpicos do Futuro. Comitê Paraolímpico Brasileiro. Brasília 2006.

  • COSTA, Manoel da Cunha. Avaliação cineantropométrica de individuos em cadeiras de rodas. Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. v. 2, n. 2, p.29-42. nov. 1997.

  • GUEDES, Dartagnan Pinto. Composição Corporal: Princípios, técnicas e aplicações. 2.ed. APEF. Londrina, 1994.

  • ITANI, Daniela Eiko; ARAÚJO, Paulo Ferreira de; ALMEIDA, José Júlio Gavião de. Esporte adaptado construindo a partir das possibilidades: handebol adaptado. Revista Digital EFDeportes, Lecturas: Educación Física y Deportes. Ano 10, n 72, Buenos Aires, 2004.

  • LEVANDOSKI, Gustavo ; CARDOSO, Adilson S. Atletas de basquetebol em cadeiras de rodas da cidade de Florianópolis: uma análise descritiva das lesões dos praticantes. In: 6 Fórum Internacional de Esportes, p. 5. Florianópolis 2007.

  • MAGILL, R.A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher. 1984.

  • MARQUES, U.M.; CASTRO, J.A.M.; SILVA, M.A. Actividade Física Adaptada: uma visão crítica. Rev Port Cien. Desp. 1(1): 73-79, 2001.

  • ROSADAS, Sidney Carvalho. Atividade Física Adaptada e Jogos esportivos para deficientes: Eu posso. Você duvida? Atheneu. Rio de Janeiro - São Paulo, 1989.

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