efdeportes.com
A Fisiologia do Exercício versus jogador de futebol amador

   
*Licenciado em Motricidade Humana.
**Professora Auxiliar. Licenciada em Desporto e
Educação Física, Doutorada em Ciências da Nutrição.
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa.
(Portugal)
 
 
Tiago André da Silva Mendonça Alves*  
Maria Raquel Gonçalves e Silva**
raquel@ufp.pt
 

 

 

 

 
Resumo
     O futebol amador detém um elevado número de praticantes. A inexistência, na maioria dos casos, de programas de reabilitação provoca um alargamento do período de inactividade e a prevalência de lesões. Sendo inexistente uma identidade médica, todos os programas de reabilitação e prevenção são competências exclusivas dos "conhecimentos" que cada atleta possui. Nesse sentido, os objectivos desta pesquisa foram identificar quais os conhecimentos que cada atleta possui, bem como, a sua perspectiva face à Fisiologia do Exercício, a fim de se ponderar e alertar para a importância de conhecimento cientifico como promotor de prevenção e reabilitação íntegra. De natureza descritivo-exploratório em vertente quantitativa, o estudo recolheu dados por intermédio de um questionário intitulado " Fisiologia do exercício: conceitos e perspectivas do jogador de futebol amador". Analisados os resultados encontrados procedentes da nossa colheita de dados, podemos conjecturar que os atletas não possuíam os conhecimentos suficientes na área de prevenção, técnicas de fisioterapia, bem como, na nutrição e auto-medicação da sua própria modalidade. A existência de departamentos médicos confirmou-se, sem que seja unânime e apesar da notória da falta de conhecimento, no global reconhecem à medicina do desporto o seu contributo necessário ao futebol amador.
    Unitermos: Fisiologia do Exercício. Jogador. Futebol amador.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

1 / 1

Introdução

    Nos últimos anos temos evidenciado a mudança do futebol para o terreno comercial, onde não podem existir falhas e onde os clubes exigem do atleta uma performance cada vez mais elevada. O jogo de futebol converteu-se num espectáculo, onde os protagonistas são poucos e os espectadores muitos e, em verdade, o futebol é hoje um dos espectáculos mais lucrativos do mundo (Galeano, 1999).

    Actualmente muitos dos clubes não podem ver-se privados dos seus atletas. Deste modo, os profissionais das Ciências da Saúde ajudam a que o tempo de paragem destes atletas seja o mais reduzido possível. Além do espectáculo, o futebol encerra outros aspectos, ou seja, o futebol é uma fonte de grande competitividade e como descreveu Caldas (2000: 131) embora seja visto como necessário, este tipo de competitividade quase sempre estimula a agressividade e a violência. Estes comportamentos são muitas vezes facilitadores da ocorrência de lesão.

    Comparando, atletas com não-atletas, verifica-se que a natureza das lesões é diferente. Contudo, as considerações de retorno ao simples funcionamento são divergentes às considerações de retorno à prática desportiva (McKeag, D. e Monroe, J., 2002) Estar activo para a competição provoca no atleta uma especial necessidade de se encontrar no máximo da sua forma física. Contudo, o próprio atleta hipoteca as suas possibilidades de competir, devido à sua falta de conhecimento que lhe provoca a inactividade. Deste modo suscitou-nos interesse identificar os conceitos e as perspectivas que os futebolistas possuem relativamente aos métodos de reabilitação e de prevenção, entre outros.

    Este trabalho de investigação foi colocado na prática em jogadores de futebol amador de cinco equipas pertencentes ao concelho de Ponte de Lima. Quanto à metodologia utilizada neste projecto, o método foi exploratório descritivo, sendo realizado uma abordagem quantitativa. O instrumento de colheita de dados foi um questionário de perguntas fechadas. Usufruindo dos resultados encontrados provenientes da colheita de dados, podemos conjecturar que em termos gerais, os atletas não possuem os conhecimentos suficientes na área da prevenção, bem como , na nutrição e auto-medicação da sua própria modalidade.


Metodologia

    O método utilizado foi exploratório-descritivo, tendo sido realizada uma abordagem quantitativa. Neste estudo a amostra, de natureza acidental, foi composta por 70 atletas séniores pertencentes às cinco equipas de futebol amador do concelho de Ponte de Lima.

    Para a recolha de dados procedeu-se à aplicação directa de um questionário constituído por 26 questões fechadas. O questionário era constituído por duas partes: a primeira parte visava o preenchimento, por parte do atleta, dos seus dados pessoais. A segunda parte foi constituída por 18 perguntas relacionadas com a Fisiologia do Futebol.

    Os dados foram tratados no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) para Windows, versão 13.0. A informação recolhida será apresentada em quadros, seguida de uma análise aos dados recolhidos e interpretação dos mesmos, afim de descodificar toda a informação que possibilite dar respostas às questões de estudo.


Resultados

    Os 70 atletas apresentavam idades compreendidas entre os 17 anos e os 34 anos. A média de idades situou-se nos 24,9 (4,2) anos. A média de anos de prática da modalidade situou-se nos 11,7 (5,5) anos, tendo variado entre os 2 e os 25 anos (Quadro 1).

    Dos 70 atletas participantes neste estudo, 6 eram guarda-redes, 26 eram defesas e médios e 12 eram avançados (Quadro 2).

    Vinte e nove atletas já sofreram uma lesão grave, contrariamente a 41 atletas da amostra, que nunca sofreram uma lesão grave (Quadro 3).

    Dos 70 atletas participantes neste estudo, 65,7 % afirmaram que quando tinham dúvidas sobre uma lesão recorreram ao massagista, 20 % recorreram ao médico, 8,6 % trataram a lesão sozinhos, porque consideraram que tinham conhecimento adequado e 5,7% dos atletas esperaram uma semana para avaliar a evolução (Quadro 4).

    Das cinco equipas inquiridas, a A.D. Limianos foi a única que apresentou no seu Departamento Médico um médico e um massagista. A A.C.D. Fachense apresentou um massagista formado. O G.D. Vitorino de Piães, o G.D. Bertiandos não apresentou qualquer responsável pelo Departamento Médico e o A.D.C Correlhã possuía um fisioterapeuta seu departamento.

    As 2 questões que os jogadores responderam com maior percentagem de erro foram: "Não se deve tomar banhos de água fria depois dos jogos/treinos porque pode ocorrer um choque térmico" com um valor de erro de 90 %" e "Correr na praia fortalece os músculos das pernas e evita lesões" com 88,6% de respostas erradas.

    As 2 questões que os atletas responderam com menor percentagem de erro foram: "Fazer alongamentos pode ajudar a evitar roturas" (100 %) e "Quando tenho cãibras, o calor húmido e a realização de alongamentos ajuda-me a relaxar o músculo e a passar a dor" (85,7 %).


Discussão dos resultados

    De referir que, das 5 equipas amadoras estudadas, apenas uma apresentava um médico no seu departamento médico. Duas possuíam indivíduos responsáveis como Fisioterapeutas ou Motricistas. As duas restantes equipas não apresentaram departamento médico. No futebol amador os recursos financeiros e humanos são baixos, sendo que esta situação além de comum é compreensível.

    Relativamente à afirmação: "Não se deve tomar banhos de água fria depois dos jogos / treinos porque pode ocorrer um choque térmico": 10 % da amostra respondeu correctamente e 90 % responderam erradamente à afirmação. Como foi atrás referido, a crioterapia é praticamente desconhecida no mundo amador. O facto de tomar banho de água fria não levará a um choque térmico, mas sim a uma recuperação muito mais rápida pelas fibras musculares. Na perspectiva de Taylor (1999), o resfriamento após o exercício permite aos músculos reverter gradualmente à sua função normal e, por sua vez, ajuda o músculo a eliminar as toxinas (ureia e ácido lático). Como descreve Calvo e Garcés (2003), as indicações destes banhos visam o treino vascular, a acção refrescante, activar a irrigação por efeito reactivo ao frio. Os banhos frios levam ao arrefecimento pretendido, que segundo Pinheiro (1998) equilibram os processos metabólicos, bem como, a produção de energia que auxilia a recuperação muscular.

    Relativamente à afirmação: "Correr na praia fortalece os músculos das pernas e evita lesões": apenas 11,4 % corresponderam correctamente e 88,6 % responderam incorrectamente. O facto de movimentar-se num terreno "suave" como a areia não é sinónimo de prevenção de lesão. A areia pode provocar anomalias e irregularidades no movimento, bem como, tracção no tendão de Aquiles como preconizou Horta (2000). Por ser num plano inclinado, a areia junto ao mar, leva a apoios assimétricos originando as lesões de sobrecarga nas estruturas solicitadas. A areia pode desencadear principalmente lesões a nível do hallux (Massada, 2000) caracterizado por uma entorse articular provocada por hiperflexão.

    Relativamente à pergunta: "Fazer alongamentos pode ajudar a evitar roturas": curiosamente encontramos 100 % de respostas certas. A pergunta é de natureza básica, o que pode ter facilitado uma resposta afirmativa, mas de salientar que todos os atletas responderam correctamente. Efectivamente o alongamento prepara a musculatura para possíveis solicitações mais violentas prevenindo uma possível lesão. Na prevenção de lesões uma das chaves é prevenir ou mesmo eliminar desequilíbrios da flexibilidade, sendo notável a diminuição de hipótese de lesão com exercícios de alongamento (Placzek e Boyce, 2004). Os alongamentos têm uso especial na prevenção de lesões, uma vez que não existindo flexibilidade normal pode haver maior probabilidade de ocorrência de uma lesão (Salesi, 2002). A falta de resistência e de coordenação pode também desencadear uma posição biomecânica inadequada e consequentemente, provocar uma lesão. Apesar da flexibilidade ser importante para o sucesso no desempenho físico (Prentice, 2002), a flexibilidade é sem dúvida importante nas prevenções de lesões.

    Relativamente à afirmação: "Quando tenho cãibras, o calor húmido e a realização de estiramentos ajuda-me a relaxar o músculo e a passar a dor": apenas 14,3 % responderam incorrectamente, sendo a maioria das respostas correctas atingiram os 85, 7 %. Como comentou Taylor (1999) o tratamento de uma cãibra abrange o alongamento do músculo e uma massagem firme. Por outro lado (Massada, 1989) colocar em contracção os extensores ou flexores dorsais do tornozelo ou um estiramento passivo dos gémeos segundo é uma das fases do tratamento. No balneário pode utilizar-se uma forma de calor no músculo espasmodizado. Para Placzek e Boyce (2004) o calor reduz o espasmo ou a cãibra, uma vez que reduz o limiar da activação das fibras aferentes, levando a que o fuso fique mais excitável, quando existe movimento. Contudo Placzek e Boyce (2004) explicaram que o gelo pode ser utilizado com sucesso durante um estiramento passivo ou activo num músculo espasmodizado. Igualmente Massada (1989) referiu que em cãibras incoercíveis pode utilizar-se a massagem com gelo, que por via reflexa actuará na cãibra.


Conclusões

    A partir dos resultados encontrados parece-nos possível concluir que: a maioria dos atletas nunca sofreu uma lesão grave (58,5%); em caso de dúvida acerca de determinada lesão, a maioria dos atletas recorreu à ajuda do massagista; existiram défices ao nível do departamento médico, existindo equipas que não possuem esta estrutura e; o número de respostas erradas foi claramente superior aos das respostas correctas, traduzindo-se numa falta de conhecimento dos atletas na Fisiologia do Exercício no Futebol.


Bibliografia

  • Caldas, W. (2000). Temas de cultura de massas: música, futebol, consumo. Editora Arte & Ciência, Brasil.

  • Calvo, J. & Garcés, H. (2003). Fisioterapia deportiva: técnicas físicas. Espanha, Editora gymnos.

  • Galeano, E. (1999). El fútbol a sol y sombra. Editora Del Chanchito, Uruguai.

  • Hillman, S. (2002). Avaliação, prevenção e tratamento imediato das lesões esportivas. Brasil, Editora Manole.

  • Horta, L. (2000). Prevenção de leões no desporto. Lisboa, Editorial Caminho.

  • Massada, L. (1989). Lesões Musculares no Desporto. Lisboa, Editora Caminho.

  • Massada, L. (2000). Lesões Típicas do desportista. Lisboa, Editorial Caminho

  • McKeag, D e Monroe, J. (2002). Médico da equipe, treinador de atletas e sala de treinamento. In: Safran, M., Mckeag,D. e Camp, S. Manual de medicina esportiva. Brasil, Editora Manole.

  • Pinheiro, J. (1998). Medicina de Reabilitação em Traumatologia do Desporto. Lisboa, Editora Caminho.

  • Placzek, J. e Boyce, D. (2004). Segredos em fisioterapia ortopédica. Brasil, Editora Artmed.

  • Prentice, W. (2002). Técnicas de Reabilitação em medicina esportiva. Brasil, Editora Manole.

  • Salesi, K. (2002). Flexibilidade. In: Safran, M., Mckeag,D. e Camp, S. Manual de medicina esportiva. Brasil, Editora Manole.

  • Santos, J. (2003). Desporto e Medicina do Exercício. Lisboa, Editora Lidel.

  • Taylor, W. (1999). Princípios e prática de fisioterapia. Brasil, Editora Artmed.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 117 | Buenos Aires, Febrero 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados