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Uso da biblioteca universitária:
um guia para alunos de educação física
Uso de la biblioteca universitaria: una guía para alumnos de educación física
Using a university library: a guide for physical education students

   
*Bacharel em Biblioteconomia - UNIRIO. Chefe da Biblioteca de EF,
Letras e Artes CEH-B da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
**Licenciado em EF e Mestre em Educação - UERJ. Aperfeiçoamento em Metodologia
da Pesquisa e Especialista em Ética Aplicada e Bioética - Fundação Oswaldo Cruz.
***Doutor em EF - Université Libre de Bruxelles. Doutor Honoris
Causa em Ciência do Desporto - Universidade do Porto.
Professor Titular do Mestrado em Ciências da Atividade Física da Universidade Salgado de Oliveira
(Brasil)
 
 
Cristina da Cruz de Oliveira*
cristinaoliveira04@ig.com.br  
Rafael Guimarães Botelho**
rafaelgbotelho@ig.com.br  
Alfredo Faria Junior***
fariajor@ig.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O objetivo geral deste artigo é explicar ao aluno de Educação Física como se usa uma biblioteca universitária e os objetivos específicos são descrever e discutir as principais características de organização e de pesquisa e os principais serviços oferecidos neste tipo de biblioteca. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Foram consideradas questões sobre evolução tecnológica da biblioteca universitária, seções da biblioteca, organização e tipos de literatura do acervo, formas de aquisição do material bibliográfico, noções de preservação do acervo, tratamento da informação: catalogação, indexação e classificação, tipos de catálogos, acesso e arrumação dos livros nas estantes e serviços básicos oferecidos aos usuários de uma biblioteca universitária.
    Unitermos: Biblioteca universitária. Educação Física. Guia. Pesquisa.
 
Resumen
     El objetivo general de este artículo es explicar al alumno de Educación Física como usar la biblioteca universitaria y los objetivos específicos son describir y discutir las características principales de la organización de una biblioteca y de la investigación en ésta, además de los principales servicios ofrecidos a este tipo de biblioteca. Por lo tanto, se realizó una investigación bibliográfica. Se consideraron cuestiones acerca de la evolución tecnológica de la biblioteca universitaria, secciones de ésta, organización y tipos de literatura del acervo, tratamiento de la información: catalogación, indización y clasificación, tipos de catálogo, acceso y arreglo de los libros en las estanterías y servicios básicos ofrecidos a los usuarios de una biblioteca universitaria.
    Palabras clave: Biblioteca universitaria. Educación Física. Guía. Investigación.
 
Abstract
     The main aim of this article is to explain to the student of Physical Education how to use a university library. The specific objectives are to describe and discuss the main characteristics of organization and research and the main services offered in these libraries. A bibliographic research was carried out. Some questions were considered, such as, technological evolution, sections, organization and kinds of collections, acquisition of bibliographic material, preservation of books, treatment of information: cataloging, indexing and classifying, kinds of catalogues, access and organization of books in the shelves and basic services offered to users in a university library.
    Keywords: University library. Physical Education. Guide. Research.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 116 - Enero de 2008

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Introdução

    Délcio Salomon (1999, p. 252, grifo do autor), comentando sobre o processo de elaboração de monografias, ressalta que, "infelizmente, ainda se ensina pouco, em nossos cursos superiores brasileiros, 'como se usa uma biblioteca', e, no entanto, a documentação é a mola real de qualquer trabalho científico e da própria formação superior".

    Portanto, quais os principais responsáveis por esta situação? O corpo de bibliotecários, o corpo docente, ou os próprios alunos? Não podemos atribuir este problema somente a um grupo. Trata-se de uma dificuldade que se inicia em nossa educação básica.

    Os alunos deveriam dominar partes deste conhecimento desde o ensino fundamental, fato omitido na escola, quase sempre devido à não-existência de uma biblioteca ou por seu funcionamento ser precário. Além disso, é comum a ausência de um bibliotecário, tendo o agente de leitura (sendo este, muitas vezes, professor deslocado da sala de aula) assumido a sua função, mesmo sem os conhecimentos necessários.

    Conseqüentemente, esse problema acompanha toda uma vida estudantil e agrava-se na universidade (graduação e pós-graduação), pois as exigências de pesquisa são maiores e mais complexas.

[...] No terceiro grau agrava-se o que foi implantado no primeiro e reforçado no segundo: a prioridade dada ao discurso do professor como fonte básica do conhecimento imprescindível à aprovação. O aluno egresso de escolas de segundo grau desprovidas de bons acervos provavelmente teve um ensino fundamentado em aulas expositivas e nas cópias feitas à guisa de pesquisa. Ele, salvo casos excepcionais, terá muitas dificuldades para entrar em boas universidades. Assim, completa-se uma trajetória nada surpreendente: a má formação básica abre as portas para ensino superior equivalente. De primeiro e segundo graus em que os discentes não adquirem autonomia para pensar por si próprios, raramente sairão aqueles que, ao invés de receberem passivamente as informações, procuram autonomamente a informação que lhes interessa (MILANESI, 2002, p. 65).

    Para se ter uma idéia da importância da biblioteca na universidade, um curso de graduação, e conseqüentemente um de pós-graduação, só é autorizado mediante a existência e condições adequadas da biblioteca. No caso da Educação Física, havia um documento específico para a avaliação (BRASIL, 200-). Recentemente, devido às modificações nos métodos de avaliação do ensino superior brasileiro, oriundas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), foi criada uma nova referência - Avaliação de Cursos de Graduação: instrumento (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2006). Esta serve como parâmetro para a avaliação de todos os cursos e inclui a biblioteca universitária na categoria 3 - instalações físicas.

    Cabe lembrar ainda que o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) - área de Educação Física, realizado por amostragem e que integra o SINAES, apresentou um Questionário Socioeconômico que incluiu perguntas relacionadas à estrutura e à utilização da biblioteca universitária (HADDAD, 2006). Por exemplo, foi verificado que "69,4% de ingressantes e 65,3% dos concluintes de universidades públicas e 70,4% de ingressantes e 76,3% de concluintes de universidades privadas utilizam com razoável freqüência/muito freqüentemente bibliotecas universitárias." (Ibid., p. 96). Os dados provenientes do Questionário Socioeconômico do ENADE - Educação Física, citados neste artigo, devem ser analisados com cuidado e não devem ser generalizados, por dois motivos: foi realizado por amostragem e aplicado apenas no ano de 2004.

    Alfredo Faria Junior explica que (1999, p. 466), "sob esta ótica, é indispensável que os alunos de graduação adquiram o domínio das habilidades necessárias à recuperação e utilização racionais das informações organizadas e postas à disposição nas bibliotecas e centros de documentação. Neste particular, o papel de todos os professores formadores se evidencia", uma vez que "a habilidade para usar bibliotecas envolve complexo conhecimento de instrumentos e atitudes que não pode ser assimilado em uma só disciplina isolada, mas sim integrado ao conteúdo de muitas disciplinas de um curso" (KNAPP, 1958, p. 19 apud FARIA JUNIOR, 1999, p. 466). Assim, "se o professor acredita que a biblioteca ocupa importante função de apoio ao programa que está desenvolvendo, então, o estudante também acreditará e usará a biblioteca" (FORD, 1973, p. 95, apud FARIA JUNIOR, 1999, p. 466).

    Há, no entanto, um despreparo de alguns docentes que, muitas vezes, desconhecem os sistemas clássicos de organização bibliográfica, não mantêm uma assiduidade à biblioteca e pouco incentivam seus alunos a freqüentarem-na.

    Outro fator que agrava a queda da freqüência à biblioteca e, conseqüentemente, a pesquisa e a aquisição de conhecimentos é a prática acrítica de fotocópias. Na maioria dos casos, textos contidos nas pastas de professores não apresentam nem a referência completa do livro. Além disso, a xerox impede o conhecimento das principais idéias expostas pelos autores, uma vez que a leitura do livro é incompleta e o capítulo selecionado pelo professor pode não ser o mais relevante na visão do autor. Não há dúvida de que as bibliotecas seriam uma solução para reduzir o excesso de fotocópias. (OLIVEIRA; BOTELHO, 2007).

    Para piorar a questão do conhecimento da biblioteca, disciplinas e livros (MARINHO, 1972; LUDORF, 2004; PICCOLI, 2006) sobre metodologia da pesquisa e científica em Educação Física não congregam, em nenhum momento, um tópico sobre sistemas de organização e de pesquisa em bibliotecas universitárias.

    Encontramos apenas o livro Métodos de Pesquisa em Atividade Física (THOMAS; NELSON, 2002), que aborda questões sobre sistema de informação em bibliotecas e o capítulo de Metodologia Científica (FARIA JUNIOR, 1999), que dá mais atenção aos aspectos de pesquisa e de organização numa biblioteca universitária.

    Portanto, indagamos: em que momento da formação universitária é ensinado ao aluno questões sobre o uso da biblioteca? Quem poderia transmitir este conhecimento? Há algum material disponível para isto?

    Por isso, o objetivo geral deste artigo é explicar ao aluno de Educação Física como se usa uma biblioteca universitária e os objetivos específicos são descrever e discutir as principais características de organização e de pesquisa e os principais serviços oferecidos neste tipo de biblioteca.


Características, organização e serviços da biblioteca universitária

    "Durante muitos séculos, a arrumação dos livros de uma biblioteca foi feita apenas com o objetivo de preservá-los para a posteridade. O conceito moderno de biblioteca como organismo vivo surgiu no século XIX, com a multiplicação das universidades, e, conseqüentemente, com o surgimento das bibliotecas universitárias, públicas. Desde então o livro passou a existir para ser usado." (FARIA JUNIOR, op. cit., p. 468).

As bibliotecas universitárias funcionam como órgãos de apoio informacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão, com acervo geral ou especializado, podendo apresentar estrutura administrativa centralizada ou descentralizada [...]. Sua função é prover informações referenciais e bibliográficas específicas, necessárias ao ensino e à pesquisa (DIAS; PIRES, 2003, p. 14, grifo nosso).

    Na transição do século XX para o XXI, a biblioteca universitária sofreu grandes modificações, fruto do avanço científico e tecnológico, especialmente na área da informática.

    Com o processo de incontrolabilidade da produção do conhecimento e circulação da informação, a biblioteca universitária está passando pela transição da organização de estoques de documentos para a acessibilidade e disponibilidade da informação; para isso, ela deve fazer uso das tecnologias da informação e comunicação, elementos-chave na socialização do conhecimento. (CARVALHO, 2004).

Em 2010, quase a totalidade, se não a totalidade das bibliotecas universitárias brasileiras, estará automatizada, e muitas delas serão bibliotecas totalmente digitais. Em decorrência disso, necessitarão de mais recursos financeiros para a provisão de equipamentos mais potentes e modernos (CUNHA, 2000, p. 75).


    A partir do ano 2000 começamos a visualizar as Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações (BDTD) de universidades brasileiras. Atualmente, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) dá as diretrizes para a construção destas bibliotecas (BRASIL, 2007).


Seções

    Uma biblioteca, para seu bom funcionamento, dispõe de diversas seções, dentre elas destacamos as principais:

  • Seção de administração: onde é feito o gerenciamento da parte administrativa da biblioteca, ou seja, controle dos recursos humanos, controle estatístico dos serviços oferecidos, controle de recursos financeiros, planejamento de atividades, elaboração de relatórios anuais, elaboração do regimento interno.

  • Seção de referência: setor onde é dada orientação ao usuário (pessoa que utiliza os serviços de uma biblioteca) quanto às suas dúvidas de pesquisa.

  • Seção de processamento técnico: onde os materiais bibliográficos são catalogados, indexados e classificados. Trabalho executado por bibliotecários.

  • Seção de circulação: onde há o balcão de atendimento em que são realizados os empréstimos de livros, devoluções e reservas, além de outros serviços.

  • Acervo: onde ficam as estantes com livros, periódicos, teses/dissertações etc. A parte da biblioteca que guarda periódicos de divulgação e/ou científicos é chamada de hemeroteca.

  • Salão de estudo: onde se localizam as mesas para estudo individual e/ou em grupo.

    Algumas universidades brasileiras, preocupadas com a memória da Educação Física e do Esporte e com autores de grande relevância na área, estão constituindo seus centros de memória. Dos exemplos brasileiros, apontamos o Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - CEME (MAZO, 2001; JOB; FONSECA, 2006) e o Centro da Educação Física da Escola de Educação e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GOELLNER, 2005).

Acervo

    Trata-se do conjunto de publicações, documentos e materiais que fazem parte de uma biblioteca. Na universitária, o acervo é formado geralmente por livros, periódicos, trabalhos de conclusão de curso, anais de congressos, dissertações e teses.

    A organização das coleções de uma biblioteca universitária pode ser centralizada - quando possui apenas uma biblioteca central que atende a todos os cursos; e descentralizada - quando cada curso tem a sua biblioteca. Às vezes, alguns cursos de áreas afins apresentam uma mesma biblioteca.

    O material bibliográfico de uma biblioteca universitária é dividido em dois tipos:

  • Literatura branca: corresponde a publicações comerciais, como livros, periódicos e capítulos de livros. Normalmente amplamente difundidas, recebem numeração internacional, são objeto de depósito legal e estão disponíveis no mercado livreiro, podendo ser adquiridas pelos mecanismos usuais de compra.

  • Literatura cinzenta: corresponde a publicações não-comerciais e semipublicadas, difíceis de encontrar em canais tradicionais de distribuição. Reproduzidas em número limitado de cópias, não recebem numeração internacional, não são objeto de depósito legal, apresentam informação e conhecimento altamente atualizados e mais detalhados em relação à literatura branca, e que não são determinados apenas por interesses comerciais. São exemplos deste tipo de literatura, folhetos, relatórios e anais de eventos, monografias, memórias, dissertações, teses e publicações oficiais em uma biblioteca (ANDRADE; VERGUEIRO, 1996; ALMEIDA, 2000; GOMES; MENDONÇA; SOUZA, 2003).

    Cabe aqui uma observação: muitas vezes os periódicos científicos não apresentam interesse comercial, muito pelo contrário, seu escopo é apenas acadêmico-científico.

    Os estudos realizados por Márcia Silveira Kroeff Rangel (1995) e Dijeanne Ribeiro Honório (2006) registraram que as fontes formais de maior freqüência de uso, por professores do Curso de Educação Física das Universidades do Estado de Santa Catarina (UDESC) e Federal de Santa Catarina (UFSC), são livros e, em segundo lugar, artigos de periódicos, sendo as informais anotações pessoais.

    Com relação aos materiais utilizados por alunos (mediante indicação de seus professores), confira a tabela 1, proveniente do Questionário Socioeconômico do ENADE - Educação Física:

    Algumas bibliotecas universitárias contam ainda, em seu acervo, com clippings de artigos de jornais e de revistas de grande circulação. Estes veículos de informação caracterizam-se como importante fonte de pesquisa nas áreas da Educação Física e Esportes. Por exemplo, citamos o livro Copas do Mundo de Futebol (DUARTE; SILVA FILHO, 2002) e as Memórias sobre o Esporte Nacional na Revista Manchete entre os anos de 1952 e 1962 (ANDRADE; MELO, 2006), todos elaborados por meio de clippings.


Formas de aquisição do acervo

    Basicamente, adquire-se material bibliográfico mediante três formas:

  • Compra: cada instituição tem seus próprios processos de compra. Entre outros procedimentos, deve-se verificar nas listagens enviadas por professores, ou nas solicitações feitas por alunos, se a biblioteca já possui o título, se é necessário comprar mais exemplares ou uma edição mais recente; preparar uma listagem de títulos que se enquadrem na soma total disponível; verificar se a biblioteca possui o título em outra língua; verificar nas livrarias a disponibilidade dos títulos desejados, fazer cotações em pelo menos três livrarias para comparar preços, em suma, é um trabalho minucioso e que, se feito sem atenção, pode resultar em gastos desnecessários.

  • Permuta: "troca de publicações entre entidades, na forma de intercâmbio, principalmente quando o material não está disponível para compra ou a opção de permuta apresenta-se como economicamente mais vantajosa para a biblioteca." (ANDRADE; VERGUEIRO, 1996, p. 68).

  • Doação: é a forma de aquisição mais comum no caso de bibliotecas universitárias, que, em geral, não possuem verbas periódicas para aquisição. Podem ser recebidas ou solicitadas diretamente a alguma instituição.


Preservação do acervo

    Infelizmente, no Brasil, os estudantes geralmente têm acesso a bibliotecas somente quando chegam à universidade. Assim, para alguns usuários, não existe uma preocupação com o bem público e nem com a preservação dos materiais.

    Por isso, apresentamos alguns procedimentos para o bom uso dos materiais disponíveis na biblioteca:

  • O manuseio dos livros é fundamental: não se deve dobrar as pontas das páginas, rasgá-las ou colocar clipes. Estes marcam as páginas e, quando são de ferro, tendem a oxidá-las;

  • Não se deve sublinhar, riscar ou fazer anotações: se todos os alunos resolvessem fichar os livros das bibliotecas, não seria possível mais lê-los. Não se deve esquecer que o livro pertence à biblioteca, ou seja, é um bem público, que serve para atender a várias pessoas. Há casos de alunos que anotam sua opinião sobre o tema por todas as páginas do livro, praticamente inutilizando-o;

  • Não se deve arrancar partes dos livros: há pessoas que, muito interessadas em um capítulo, o arrancam para uso próprio;

  • Alimentos na biblioteca: não se deve levar alimentos nem líquidos para a biblioteca.

  • Cuidado ao retirar livros das estantes: nunca se deve retirar livros das estantes puxando-os pela borda superior da lombada.

  • Quanto à restauração, há um problema muito comum: capas e algumas folhas costumam se desprender dos livros, muitas vezes pelo incorreto manuseio. O que o aluno deverá fazer é entregá-los aos bibliotecários para que eles possam colar ou realizar outra encadernação;

  • Roubo ou tentativas de roubo de livros: algo inadmissível. Para um estudante universitário, pior ainda. Devemos lembrar que os livros são comprados com bastante dificuldade e com verbas muito reduzidas.


Tratamento da informação: catalogação, indexação e classificação

    Quando um livro ou outro material bibliográfico chega à biblioteca, são várias as etapas do processamento técnico para que ele seja integrado ao acervo e esteja à disposição dos usuários. A preparação técnica do acervo é um serviço interno, de competência exclusiva do profissional bibliotecário e que demanda tempo para sua execução.


Catalogação

    A catalogação descreve fisicamente a publicação, ou seja, indica o autor, título, edição, local de publicação, editora e ano, além de outros dados. Para a catalogação da obra são adotadas as regras do 'Código de Catalogação Anglo-Americano' (AACR2), segunda edição revisada (2002). Como produto da catalogação, surge a ficha catalográfica.


Indexação

    O objetivo principal da indexação é atribuir assuntos às publicações. Para isso, são utilizados três tipos principais de vocabulários controlados: esquemas de classificação bibliográfica (como a Classificação Decimal de Dewey), listas de cabeçalhos de assuntos e tesauros (LANCASTER, 2004).

    Os tesauros mais conhecidos na área da Educação Física são internacionais: Thesaurus Hèraclès, do banco de informações francês (INSEP), e Thesaurus do Sport Information Research Center, do banco de informações SportDiscus.

    Exemplo de lista de cabeçalhos de assuntos, a Rede Bibliodata é um catálogo coletivo de bibliotecas brasileiras que compartilham seus recursos, dinamizando assim o tratamento de seus acervos. (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1982; PEREIRA, 2006).


Classificação

    Aplicada aos livros, a classificação tem como principal objetivo arrumá-los da melhor maneira para o uso. Isto deve permitir: (a) localizá-los dentro da coleção; (b) sua retirada, com rapidez, para consulta; (c) seu retorno à coleção, sem dificuldade; (d) o acréscimo de novos livros aos já existentes sem a quebra da ordem lógica e das seqüências. "Classificar é o processo de reunir coisas, idéias ou seres, em grupos, de acordo com seu grau de semelhança" (SILVA; ARAUJO, op. cit., p. 78).

    Os sistemas de classificação mais usados em bibliotecas universitárias são: Classificação Decimal de Dewey (CDD) e Classificação Decimal Universal (CDU). São sistemas internacionais que dividem o conhecimento humano em 10 grandes classes, de zero a nove, que, por sua vez, são subdivididas em várias subclasses.

    A CDD foi criada pelo bibliotecário americano Melvil Dewey. Ela usa números, em ordem decimal, para a arrumação dos livros de uma coleção. Cada uma das 10 classes da CDD se subdivide em outras 10. Descrevemos e traduzimos aqui as classes principais, as subclasses e algumas subdivisões em que são classificados os livros de Educação Física e de Esportes (optamos por utilizar a palavra esportes em vez de desportos, por ela ser a tradução preferida no Brasil).

    Na CDD a classe de Ciências Sociais (300) abriga, dentro de Educação (370), o assunto 'Educação Física e Dança' (372.86). Por sua vez, a classe de Tecnologia (600) abriga, dentro de Medicina e Saúde (610), o assunto 'Aptidão Física' (613.7) e suas subdivisões. Já a classe de Artes e Recreação (700) contém a subclasse 'Artes Recreativas e Performáticas' (790). Logo em seguida, da 793 a 799, vários assuntos relacionados à Recreação e aos Esportes são referenciados (Confira quadro 2).

    Por seu turno, a CDU teve sua origem no sistema da CDD, detalhando as subdivisões dos assuntos, alterando sua notação, que passou a ser mista, composta de números decimais, sinais gráficos e letras ou palavras. Possui também várias tabelas auxiliares para a montagem do número de classificação. Descrevemos abaixo as classes principais da CDU e as subclasses, em negrito, são relativas à Educação Física e Esportes.

    Na CDU a classe de Ciências Sociais (3) abriga, dentro de Educação/Ensino/Instrução/Lazer (37), o assunto 'Aptidão Física' (37.042.1). Por sua vez, a classe de Ciências Aplicadas/Medicina/Tecnologia (6) abriga, dentro de Saúde e Higiene do Lazer/Recreação/Sono (613.7), os assuntos 'Ginástica/Educação Física' (613.71), Exercícios Físicos e Jogos (613.72) e Diversões/Recreações (613.74). Já a classe de Artes/Recreação/Entretenimento/Esportes (7) abrange a subclasse 'Recreação/Diversões/Jogos/Esportes' (79). Logo em seguida, da 793 a 799, vários assuntos relacionados à Recreação e aos Esportes são referenciados (Confira quadro 3).

    É importante que o aluno saiba que quando estiver numa biblioteca de Educação, Ciências Sociais ou numa de Medicina, poderá localizar livros de Educação Física e Esportes em uma das classes ligadas à área da biblioteca.


Catálogos

    Devido à quantidade de informações produzidas, os catálogos das bibliotecas proporcionam uma fonte de referência do acervo de livros, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses nelas existentes, visando à recuperação da informação. Apesar de, atualmente, muitas bibliotecas já possuírem seus catálogos informatizados, ainda encontramos catálogos manuais, ou ambos. "Qualquer usuário de biblioteca procura um documento, basicamente, pelo autor, pelo título e pelo assunto. Portanto, qualquer sistema adotado pela biblioteca [...] terá que fornecer, ao usuário, resposta para essas três perguntas básicas [...]" (SILVA; ARAUJO, op. cit., p. 74). Por isto, três tipos de catálogos podem ajudar o trabalho de pesquisa: o de autor, o de título e o de assunto.

    Cada um desses catálogos contém várias gavetas (figura 7). Estas, por sua vez, organizam (por ordem alfabética) suas respectivas fichas (catalográficas). Por exemplo, um catálogo de autor armazenará várias fichas catalográficas com entradas por autor (que são as principais). As outras, fichas de título e assunto, são desdobramentos da ficha de autor.


    Como observado, as fichas possuem o mesmo corpo central, com variações apenas nos cabeçalhos, ou seja, a primeira ficha apresenta o cabeçalho pelo autor, a segunda inicia com o título e a terceira começa com o assunto.

    Outro catálogo que poderá ajudar no trabalho de pesquisa é o que contém fichas de periódicos; ele se chama Kárdex.

    No sistema informatizado, o usuário deverá selecionar o tipo de busca em um menu, com as seguintes opções: autor, título, assunto, palavras-chave (às vezes, descritores - ver diferenças mais adiante) e número de chamada. Após clicar em uma das opções (neste caso, autor), o usuário deverá inserir no espaço à esquerda o nome do autor do trabalho. Veja o exemplo:

    Em seguida, o usuário deverá clicar na opção ok e aparecerá uma lista com os autores que possuem o sobrenome escolhido. Neste caso, o usuário deverá clicar no nome do autor que está procurando para poder acessar a ficha de autor (veja figura 13). Citamos como exemplo o programa adotado pela Rede de Bibliotecas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, chamamos a atenção dos usuários para eventuais diferenças entre os programas de automação utilizados nas bibliotecas universitárias brasileiras.

    Uma vez anotado o número de chamada da ficha, o aluno recorre à estante ou ao bibliotecário para a localização do livro. Esta etapa dependerá do acesso e da arrumação dos livros nas estantes, que podem ser:

  • Livre: A maioria das bibliotecas universitárias públicas organiza-se desta forma. Consideramos que este tipo de acesso é mais democrático. Os usuários que procuram por um determinado livro podem, de forma inesperada, encontrar outros livros que também lhes interessam, pois têm à sua disposição todos os materiais, além de uma visão ampla das estantes.

  • Fechado: um funcionário da biblioteca irá à estante pegar o material desejado, que foi consultado pelo usuário num terminal de computador ou nos catálogos. Em algumas bibliotecas há a opção de imprimir a ficha (ao invés de anotá-la de forma manuscrita). Normalmente, as bibliotecas privadas utilizam este tipo, alegando maior controle e maior segurança em relação ao acervo. Desvantagens: o usuário não tem uma visão ampla das estantes e, conseqüentemente, do acervo; e o tempo despendido da pesquisa até a escolha dos materiais que atendem à sua necessidade é mais demorado.

    É de suma importância que após a consulta de qualquer material do acervo, o usuário não o recoloque nas estantes, pois isto atrapalha as estatísticas de circulação, a sua ordenação nas prateleiras e, conseqüentemente, a sua localização dentro da biblioteca. "Os livros são localizados mais rapidamente quando colocados nas estantes numa ordem criteriosa, segundo seus números de chamada." (SILVA; ARAUJO, op. cit., p. 89).

    Deve-se observar que, nas prateleiras, a seqüência de arrumação é feita da esquerda para a direita e de cima para baixo. (Ibid., p. 89, grifo nosso).


Serviços básicos oferecidos aos usuários

    Em geral, as bibliotecas universitárias prestam os seguintes serviços aos usuários:

  • Empréstimos: os tipos mais comuns são: o domiciliar e o empréstimo entre bibliotecas. No primeiro o usuário cadastrado na biblioteca (geralmente alunos, professores e servidores da universidade) pode levar livros para ler em casa. O segundo é o empréstimo de livros realizado entre instituições.

  • Reserva de livros: livros que estejam emprestados podem ser reservados para um usuário interessado.

  • COMUT: é um serviço de comutação bibliográfica que permite a obtenção, mediante pagamento antecipado, de cópias de documentos técnico-científicos disponíveis nos acervos de bibliotecas universitárias brasileiras e em serviços de informação internacionais. Apesar de ser um serviço eficiente, ele é bastante oneroso.

  • Normalização bibliográfica: é um serviço realizado pelos bibliotecários, que visa padronizar alguns elementos pré-textuais e as referências de trabalhos de conclusão de curso (TCC), dissertações e teses.

    Nessa questão, ressaltamos três aspectos: o primeiro, está relacionado ao uso das palavras-chave e descritores. Muitos alunos e professores, quando entregam suas dissertações e teses para a biblioteca, com intuito de terem seus trabalhos incluídos nos bancos digitais e bibliográficos (com linguagens próprias) específicos da universidade, vêem os bibliotecários alterarem suas palavras-chaves e transformá-las em descritores e/ou em cabeçalhos de assunto. Sem estes, não é possível preparar os trabalhos para a inclusão nos bancos bibliográficos. Alertamos a alunos e professores para a diferença entre estes termos.

    Outra questão é a necessidade da elaboração de uma ficha catalográfica (exemplo já descrito na figura 5). Este trabalho é executado somente por bibliotecários, que têm todo o conhecimento técnico para isto. Não é raro vermos muitos alunos e professores elaborarem uma referência bibliográfica e inseri-la dentro de um retângulo, achando que a ficha catalográfica está pronta. A elaboração desta requer mais que uma simples referência.

    A terceira questão diz respeito às referências bibliográficas. Carlos da Fonseca Brandão (1994), em seu livro Batendo bola, Batendo Cabeça: problemas da pesquisa em educação física no Brasil, aponta problemas nos procedimentos de elaboração de referências, sendo a omissão de dados um dos lapsos mais encontrados.

    Lembramos, ainda, que a análise das citações, que são produtos das referências bibliográficas, pode revelar importantes aspectos na Educação Física, como autores mais citados, assuntos predominantes e fontes de informação mais utilizadas (JOB, 2006ab).

  • Treinamento do usuário: o bibliotecário apresenta e explica aspectos sobre a biblioteca e sobre alguns procedimentos de pesquisa.

  • Acesso a bancos de informações bibliográficas: bibliotecários costumam realizar serviços de busca em bancos digitais de informações bibliográficas. Optamos por utilizar a expressão 'banco de informações' ao invés de 'base ou banco de dados'. Yves-François Le Coadic (2004, p. 8) "chama a atenção para a impropriedade da expressão 'base' ou 'banco' de dados. Em informática, dado é a representação convencional, codificada, de uma informação em uma forma que permita submetê-la ao processamento eletrônico". O levantamento realizado por meio do Questionário Socioeconômico do ENADE - Educação Física revelou, com relação ao serviço de pesquisa bibliográfica oferecido, os seguintes dados (confira tabela 2):


Palavras finais

    Espera-se que a primeira versão deste artigo, dentro das suas limitações, venha a estimular e a facilitar o processo de pesquisa dentro de uma biblioteca. Uma boa estratégia para isto seria o conteúdo deste artigo ser discutido com os alunos desde o primeiro período de graduação em Educação Física, sendo feito em conjunto por bibliotecários e docentes.

    O conhecimento de como se usa uma biblioteca é essencial, não somente para aproveitar ao máximo a experiência universitária, mas também para economizar tempo e encontrar informação de forma mais rápida, eficiente e completa (ALDRICH, 1967).

    "Muitas bibliotecas oferecem visitas orientadas, cursos curtos de orientação na biblioteca e visitas auto-orientadas. Familiarize-se com a sua biblioteca. Este será o investimento de tempo mais sábio que você despendeu como estudante de [graduação] e pós-graduação." (THOMAS; NELSON, op. cit., p. 48).


Referêrencias

  • ALDRICH, Ella V. Using books and libraries. 5.ed. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1967.

  • ALMEIDA, Maria do Rosário Guimarães. Literatura cinzenta: teoria e prática. São Luís: Edições UFMA/Sousândrade, 2000.

  • ANDRADE, Diva; VERGUEIRO, Waldomiro. Aquisição de materiais de informação. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 1996.

  • ANDRADE, Márcia Cristina de; MELO, Telma de Oliveira. Explorando memórias: informação e documentação do esporte nacional na primeira década da Revista Manchete. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 14., 2006, Salvador. Anais eletrônicos... Salvador: UFBA, 2006. 1 CD-ROM.

  • AQUELOSO, Jose et al. Manual do centro de informação desportiva. Trad. João Paulo Rocha. Lisboa: Instituto Nacional de Formação e Estudos do Desporto, 2001.

  • ARRUDA, Susana Margaret de; CHAGAS, Joseane. Glossário de biblioteconomia e ciências afins. Florianópolis: Cidade Futura, 2002.

  • BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Manual dos usuários do ISBN. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2002.

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revista digital · Año 12 · N° 116 | Buenos Aires, Enero 2008  
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