Proposta de ação interdisciplinar: lazer e a educação ambiental na hotelaria |
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*Licenciado em Educação Física. Mestrando em Ciências da Motricidade - Pedagogia da Motricidade Humana - UNESP - Rio Claro. Docente do Departamento de EF - Faculdade Fênix - Anhanguera Educacional. **Licenciado em Educação Física. Doutor em Educação (USP). Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências da UNESP - Rio Claro. (Brasil) |
Prof. Evandro Antonio Corrêa* evandrocorrealazer@yahoo.com.br Prof. Dr. Samuel de Souza Neto** samuauro@claretianas.com.br |
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Esta pesquisa é uma revisão de parte do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Especialização em Educação Ambiental - |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 116 - Enero de 2008 |
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Introdução
Ao se falar em turista, inevitavelmente fala-se em turismo e especificamente os que desenvolvem suas atividades no meio natural, considerado nesse primeiro momento como ecoturismo, envolve um sério compromisso de responsabilidade social com a natureza. Esta responsabilidade deve ser assumida pelos planejadores, administradores, profissionais e pelo próprio viajante. Porém, alguns cuidados devem ser tomados em relação a temática lazer-educação ambiental, pois existe um "interesse crescente pelo ecoturismo entre os governos dos países em desenvolvimento, os operadores comerciais, as organizações assistenciais, e os conservacionistas dá a dimensão de seu enorme potencial econômico e conservacional" (WESTERN, 2001: 17).
Privilegiando-se o interesse econômico e conservacionista no ecoturismo este apresenta um grande potencial com a possibilidade de utilizar os recursos e a mão de obra local. De modo geral fomenta-se a entrada de divisas nas comunidades e/ou locais onde são desenvolvidas as atividades, as quais devem ser orientadas por profissionais competentes para que haja um engajamento dos moradores e o desenvolvimento de projetos adequados ao meio ambiente.
O ecoturismo acaba por estabelecer inter-relações cada vez mais estreitas com conservação e a educação ambiental (BARROS & DINES, 2000). A natureza torna-se uma parceira de atividades corporais, esportivas, educativas, etc, "implicando na necessidade de uma conservação ambiental para essa prática, bem como de um processo educativo, em que se exercite o conhecimento como instrumento de compreensão das relações presentes nos contextos envolvidos" (BRUHNS, 2000: 25).
O caminho mais apropriado para encontrar soluções que não sejam paliativas ou efêmeras é a interdisciplinaridade. No estudo interdisciplinar cada área do conhecimento contribui com seu saber para equacionar uma única questão. Assim, diferentes profissionais estarão envolvidos no tratamento dessa questão durante o desenvolvimento do trabalho e juntos, com seu saber, poderão criar um método ou encontrar um caminho, a fim solucionar um determinado problema ou, então, contribuir para sua compreensão. Portanto, não se pode deixar de mencionar no trabalho interdisciplinar a participação e utilização das pessoas (atores sociais - os moradores do local), pois o envolvimento de todos permite que se produza um produto, que poderia aglutinar outros componentes num trabalho mais amplo uma vez que se conhece a realidade. Todavia, muitas vezes se esquece dos atores sociais e de sua realidade, resumindo-se os trabalhos a locais restritos nas mesas do escritório ou mesmo em laboratórios e gabinetes do governo.
Neste contexto de interdisciplinaridade de "educação ambiental, o recurso às viagens para o estudo do meio como meio de ruptura da compartimentação do saber e para estimulo a construção singular do conhecimento, facilitada pela experiência direta, coloca-se de modo privilegiado por tudo o que pode oferecer, analogamente aos momentos de lazer, de favorável a sensibilização e a percepção" (SERRANO, 2000: 12). Entretanto nas últimas décadas tem aumentado o debate sobre lazer e turismo e suas relações com a problemática ambiental, "merecendo atenção dos diversos setores da vida social e da produção acadêmica", uma abordagem não modista, mas atual e relevante, exigindo "analises multirreferenciadas e cada vez mais rigorosas em busca de sua compreensão" (VILLAVERDE, 2003: 54).
Ao abordar tais atividades sejam elas conservacionista ou comerciais é uma tarefa complexa explorar os motivos que expliquem o interesse da sociedade por atividade de lazer e turismo junto à natureza (BARROS, 2000). Outro aspecto a se levar em consideração é o profissional, ou melhor, o educador, o qual têm como papel facilitar, sugerir, propiciar esta vivência junto à natureza, com um padrão ético, ou seja, orientar os indivíduos dentro de um conjunto de normas morais e sociais.
Nesta perspectiva surgiu o interesse em realizar este trabalho na forma de um estudo de caso sobre determinado hotel de lazer. Buscou-se averiguar como se deu o processo de elaboração do projeto, formação e construção de um espaço considerado ecologicamente "correto" e, mais especificamente, a área de atuação profissional no lazer e recreação, tendo como pano de fundo a educação ambiental.
No que se refere o objetivo geral do estudo foi identificar o campo de atuação profissional do lazer e recreação. Já nos objetivos específicos procurou-se: averiguar o planejamento de um hotel ecologicamente "correto"; analisou-se a estrutura da área de lazer e a recreação a ser desenvolvida com os hóspedes (clientes), e por último, identificou-se o envolvimento dos atores sociais regionais com o hotel.
O Estudo se deu em um primeiro momento tendo como base à revisão da literatura. O método de trabalho utilizado se fundamentou na utilização de pesquisa bibliográfica, tendo como procedimento o levantamento do referencial bibliográfico, a fim de colocar o pesquisador em contado direto com o que se produziu e registrou a respeito do tema. Num segundo momento realizou-se pesquisa documental, ou seja, análise de fonte documental. As fontes documentais são técnicas de coleta consideradas como "qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informação" (ALVES-MAZZOTTI, 1998: 169). O terceiro momento foi destinado para coleta de dados em pesquisa de campo. Esta coleta sistemática de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisador no contexto a ser estudado.
A escolha do campo onde foram colhidos os dados, bem como dos participantes foi proposital, em função das questões de interesse do estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade dos sujeitos. Ao seguir estes passos tem-se a finalidade de relatar ao leitor o Hotel estudado e alcançar os objetivos propostos neste trabalho. O nome dos envolvidos foram preservados para manter a sua integridade. Escolheu-se fazer uma pesquisa de cunho estudo de caso, considerando que o Hotel pesquisado localiza-se na região de Avaré-SP é o único com características e considerado ecologicamente "correto".
ResultadoHistórico - Fonte documental - Ibiquá Eco Resort
O empresário S. W. iniciou a elaboração do hotel, em Avaré, às margens da Represa Jurumirim, o hotel considerado como único na região em sua concepção o qual deve satisfazer um leque de exigências entre elas:
hotel-fazenda autêntico;
hotel de lazer com ênfase em esportes náuticos;
lazer altamente diferenciado;
construção atraente, de baixo custo e de instalação rápida;
custo operacional baixo;
observação rigorosa de todas as leis e normas ambientais;
instalação de mini-usina de reciclagem de lixo;
tratamento de esgoto adequado ao local;
adequação a normas de ISO ambiental.
O nome IBIQUÁ ECO RESORT foi escolhido por tratar o conteúdo de todo o projeto: IBI - significa, em guarani, terra, natureza, e QUAÁ - estudar, aprender com e a união desses dois nomes surge o IBIQUÁ com o sentido de "estudo do meio". A proposta é, um hotel que respeite o meio ambiente e talvez um modelo a ser seguido na região de Avaré, possibilitando que seus hóspedes aprendam conceitos ambientais, e muito, além disso, é vivenciá-los. De acordo com suas propostas o hotel também procura alcançar os alvos acordados entre as nações signatárias do protocolo de Kyoto.
O hotel está situado no município de Avaré1, localizada a 275 Km da capital do estado de São Paulo, é banhado pela Represa Jurumirim2 que, nos seus 1280 quilômetros de margem, 100 quilômetros de comprimento e um volume de água maior que a Baía de Guanabara, permite a prática de esportes náuticos.
O empreendimento é considerado um hotel-fazenda por se localizar em uma propriedade rural, na Rodovia SP 255 (João Melão) 12 Km da cidade de Avaré e nesta propriedade encontrou-se entre suas atividades: a pecuária, ou seja, o gado de leite com ordenha mecânica e um laticínio completo, onde são fabricados: queijo fresco, mussarela, parmesão, prato, palito, purunguá natural e defumada; existe a criação de suínos, carneiros e caprinos, cavalos para montaria, pôneis, aves diversas, etc. A área a ser usada pelo hotel é de cerca de 160.000 m2 dos 76 ha da propriedade rural.
Com uma área extensa o Hotel em sua proposta de lazer procurou diferenciar de outros hotéis similares, o mesmo indica que além das opções "normais" de lazer oferece uma variedade grande de atividades adicionais. De acordo com o levantamento realizado as instalações de lazer foram divididas em seis áreas3, sem contar com as atividades recreativas programadas e desenvolvidas pela equipe de lazer em toda área disponível e as atividades ditas diferenciadas. Após este breve relato do hotel e do campo de estudo, segue-se para entrevista desenvolvida de forma semi-estruturada contendo oito questões e realizada com a responsável na época por alguns dos projetos do hotel.
EntrevistaNa pesquisa a entrevistada era a responsável por alguns dos projetos desenvolvidos no hotel, respeitou-se à linguagem utilizada pela mesma na transcrição da entrevista, foram abordas oito questões abertas que perpassou pela história do proprietário, a idéia de planejamento e a construção do hotel a fim de se tornar um "modelo de hotel economicamente e ecologicamente correto" na região, contando com um sistema de gestão ambiental próprio, a preocupação com o meio ambiente além do intuito de propiciar aos hospedes um lazer diferenciado e a possibilidade de troca, onde o hospede devolva algo a natureza.
Na primeira questão o objetivo foi saber como surgiu o projeto.
"Bom o hotel, é um projeto que surgiu a uns seis - sete meses 4 atrás (...). O dono do Ibiquá (...) resolveu construir um hotel que não tivesse nenhum erro e nenhum desperdício, não que tivesse dado errado nos outros hotéis que ele já trabalhou, então foram 5 meses de planejamento, (...) num tempo muito rápido que correu junto o planejamento e a construção, (...) e tem poucas coisas hoje que falta completar. Mas o Ibiquá é um modelo de hotel economicamente e ecologicamente correto (...)".
Nesta questão procurou-se saber como é desenvolvido o tema educação ambiental no hotel e qual é sua proposta? (segunda questão)
"Nós temos, a proposta do Ibiquá, é ... significa: Ibi é natureza na língua guarani e quáa é aprender com, então, a proposta ... é aprender com a natureza. Então nós queremos que os hospedes venham não simplesmente para passar uns dias e descansar num hotel comum, (...) e eles voltem a serem nossos turistas verdes, (...). Então a proposta é essa, que os hospedes aprendam com a natureza, desfrutando também das áreas de lazer comum, piscina, play ground, mas tem outros atrativos diferenciados, (...), que é a trilha ali na mata ciliar, nós temos o laticínio, (...), e tem o criadouro conservacionista São Marcos, são animais, com um projeto junto com o IBAMA, o IBAMA manda os animais e os hospedes vêem, e tem também o projeto com os índios, que é o redescobrindo o Brasil, nesse projeto os índios tem uma aldeiazinha, e os índios fazem o artesanato deles e apresentam sua cultura para os hospedes, ai os hospedes podem comprar o artesanato, então, é, a parte cultural é complexa, mais a recreação tem o programa para trabalhar ai de formas de que não fique pesado (para os hospedes), então cada dia os hospedes fazem uma coisa, hoje é o dia do sítio, então, eles vão lá e visitam a ordenha, os animais, hoje é o dia dos índios, ai de manhã as crianças fazem atividades indígenas e a tarde fazem algum artesanato junto com os índios, então, todas as atividades de recreação são voltadas pra essa parte cultural, é claro que tem também atividades comuns, a gente tem quadra de tênis, vôlei de areia, mas tudo feito ("cercado") com bambu, madeira. (...) o hotel obedece quase todas as leis ambientais. (...) inclusive é o único hotel na região (...) que não tem na construção, impacto na área de proteção permanente (...)".
Considerando a área do lazer citada anteriormente a questão é sobre os monitores, se os mesmos têm algum treinamento do hotel para trabalhar na área e no caso do desenvolvimento de atividades realizado junto aos índios, quem seria o responsável por tais atividades? (terceira questão)
"É, no caso dos índios é o seguinte, os índios tem um contrato conosco, eles só fazem a apresentação deles (cultural), eles vendem o artesanato, e eles também cuidam dos animais, também cultivam as ervas medicinais e vendem lá no sítio.... Para explicar as atividades (recreação) os índios já não fazem, devido a cultura deles, então, os monitores, eles recebem uma alua de toda origem dos índios, de como lidar com os índios, porque tem todo um trato a cultura deles, é diferente, e eles (monitores) que aplicam as atividades, os índios só acompanham (...). Na realidade, é, os índios moram numa casa de alvenaria, mas aqui tem uma aldeia, é só uma representação, na realidade eles não moram na aldeia, mas quem faz todo o planejamento é a recreação, os índios só teriam que apresentar a cultura deles".
O interesse por outras questões que envolvam a Educação Ambiental procurou-se saber sobre o tratamento de água, esgoto e lixo e também da citação de um hotel "economicamente correto", uma vez que as informações obtidas sobre esses tópicos poderão ser apresentados aos hospedes em uma determinada atividade recreativa como orientação educativa. (quarta questão)
"É tem vários tópicos. Vamos começar pelo esgoto, o esgoto é tratado em valas de infiltração que não agride em nada a represa (...), e aqui os resíduos líquidos da cozinha é também tratado em valas de infiltração. Com relação à energia elétrica, todas as lâmpadas do hotel são econômicas, e, tem as áreas de iluminação (natural), (...). É..., e nós temos também o aquecimento solar e também o a gás, pra qualquer eventualidade (...). Com relação aos resíduos sólidos, todo o lixo do hotel é recolhido de manhã e é levado para um barracão (...) de reciclagem com um funcionário lá, ele faz a separação dessa forma, existe três tipos: o lixo reciclável, o lixo orgânico 1 e o orgânico 2, nós que adotamos essa separação de acordo com nosso sistema de gestão ambiental, (...) o reciclável ele separa e vende, ou ele é separado e alguns materiais são trazidos para recreação, para realizar as atividades com material reciclado. O lixo orgânico 1 é levado para os porcos (...). O orgânico 2 que não serve nem para os porcos, que não serve para reciclagem, (...) esse lixo é depositado numa vala de decomposição, (...) e quando essa vala enche a gente tampa, coloca uma placa dizendo o que contém ali e quando ela foi fechada e quando poderá ser aberta. (...) e utiliza (o resíduo) como adubo e então três valas são suficientes para sustentabilidade do hotel (...). É esse o sistema de manejo de resíduo sólido".
Frente ao sistema de gestão ambiental relacionada ao hotel e ao lazer perguntou-se sobre o entrelaçamento desses três tópicos, uma vez que a entrevistada desenvolveu a temática no seu trabalho de conclusão de curso5 na graduação em Turismo. (quinta questão)
"O grande problema hoje em dia da gestão ambiental na hotelaria é o marketing verde, muitos hotéis utiliza o 'verde' e não aplicam uma gestão ambiental, 'eu protejo a Natureza' essa é a linguagem, mas ai eles não protegem porque eles jogam resíduos na água, mandam todo o lixo para o lixo (não reciclam) e não aproveitam como produto, atrativo turístico, os hotéis de praia posso citar, eles utilizam lá no folder deles (...) um recurso da natureza, para se beneficiar mas não é dele, ele esta pegando da natureza a praia para se beneficiar, e eles tem que ter uma reciprocidade, tem que devolver alguma coisa para a natureza, e simplesmente, ter um sistema de gestão ambiental, (...). Todos os hotéis, inclusive empresas, industrias tem que ter, (...) isso pode ser algum projeto com a comunidade, integração da comunidade na educação ambiental ou no hotel, sabe qualquer coisa!, simplesmente aplicar o sistema de gestão ambiental, eu acredito que seja pouco, hoje em dia".
"Sim, (...). Na mata ciliar, têm um projeto já alguns anos, de reflorestamento, recuperação da mata ciliar, pra evitar assoreamento, a poluição, a erosão da água, tem algumas coisas que nós estamos implantando nas atividades de recreação para inteirar o hospede com essa reciprocidade com a natureza, por exemplo, hoje, (...) o nosso funcionário foi lá e fez buracos e colocou mudas ao lado desses buracos, nós fizemos uma plaquinha de madeira com o nome da família e a data, então, os pais junto com os filhos vão até lá, eles plantam essa muda, é, de Ipê, e pregam a placa lá (...), procuramos fazer com todas as famílias que chegam aqui, isso também eu posso considerar um pouco de marketing porque assim eles vão querer voltar para ver a árvore crescida, mas isso vai colocar na cabeça dos hóspedes a importância do reflorestamento, e os pais com as crianças tem uma essência muito grande, os pais vão achar importante que as crianças estejam vendo essa questão do reflorestamento, e... isso desperta neles um interesse maior, (...) vão estar recebendo uma educação ambiental, seja aqui na recepção, seja no restaurante, todos os funcionários estão treinados pra isso(...) é dessa forma que a gente quer que os hóspedes se conscientizem, fazendo as atividade, porque não adianta eu falar, falar, falar e não adianta porque o hóspede ta aqui pra se divertir, (...) mas ao mesmo tempo tenha consciência ambiental.
O tema educação ambiental pode ser abordado diferentemente e com um público variados, e o hotel apresenta programas só com os hóspedes ou abre-se para as comunidades locais, escolas entre outros. (sétima questão)
"(...) nós vamos ter programas de educação ambiental, não só com os hóspedes, com alunos da cidade de Avaré, crianças carentes vão poder estar visitando o hotel e tendo aula de educação ambiental, com os professores, com os monitores, é, esse é um programa, entre vários que a gente pode estar desenvolvendo (...).
Para finalizar buscou-se saber mais sobre a gestão própria que o hotel está baseado e sustentado ou se a gestão ainda é segredo do hotel.
"Não, não, não, (...), eu tenho alguma coisa escrita aqui que a gente fez, (...) que são os pilares da revolução sob os quais o Ibiquá está sustentado: "no capital que não há dúvidas, que o capital aparece como primeiro pilar da sustentabilidade", claro que a gente precisa de dinheiro em qualquer empreendimento, e um dos pilares e o capital, outro é o respeito ao meio ambiente (...), outro pilar é o respeito social, é, não há avanços sem equidade social, então aqui todos os funcionários são tratados de forma igual, não temos subordinados nem chefes, todo mundo é responsável por uma área, isso é uma parte do sistema de gestão ambiental, vai cuidar do social e como nós vamos administrar isso, a visão cultural como eu até disse, a gente tenta trabalhar com os índios, como o sítio, com o laticínio (ordenha) e a visão espacial que vai permitir fácil ampliação, a náutica fica a uns 200 metros daqui, (...) o nosso caminho se torna um atrativo, é cheio de atividade (...). Então é uma das partes da nossa gestão ambiental, transformar o hotel todo em picos de atratividades, (...) enquanto ele está passando pela quadra de tênis, está vendo a mata ciliar, tem o córrego onde ele pode estar pescando, então até ele chegar lá em baixo (na náutica), ele nem vai perceber, isso também faz parte da gestão ambiental".
Proposta de açãoDiante do contexto apresentado na entrevista procurou-se realizar uma proposta de ação para o hotel que retrate a sua realidade, especificamente na área de lazer. Torna-se necessário um conhecimento e aprofundamento no campo de atuação dos profissionais de lazer sob a ótica interdisciplinar, e a pesquisa ainda que superficial forneceu indícios para sugerir uma proposta de ação que pode ser desenvolvida no hotel.
O planejamento é o primeiro passo para iniciar-se um projeto de Educação Ambiental com a preocupação voltada para a resolução de problemas ambientais locais bem como de seus participantes. Para o desenvolvimento do planejamento alguns pontos devem ser analisados como os aspectos históricos, sociais, econômicos e ambientais da região, os quais fornecerão o suporte necessário ao desenvolvimento de um trabalho participativo e interdisciplinar.
Alguns passos metodológicos tornam-se necessários para a estruturação de uma proposta de ação. Os passos trabalhados que seguem têm por finalidade nortear o desenvolvimento de ações necessárias ao planejamento e a sua implementação de projetos com uma visão interdisciplinar sobre Educação Ambiental, tendo como ponto de partida a própria realidade local, com o levantamento de questões sócio-ambientais e ações participativas e a realização de parcerias com a comunidade local.
Diagnóstico sócio-ambiental;
Escolha do tema gerador;
Definição do público-alvo;
Elaboração da proposta de projeto ou plano de ação
Introdução;
Justificativa;
Objetivos
Objetivo geral
Objetivo específico
Resultados esperados;
Metodologia;
Cronograma financeiro;
Acompanhamento e avaliação
Os profissionais e educadores precisam refletir sobre os motivos e interesses que os levam a desenvolver tais atividades, uma vez que, são muitos os obstáculos encontrados e que precisam ser superados pelo caminho, bem como estar consciente do que se deseja e do que realmente pode ser realizado. Os evolvidos no planejamento devem se questionar, ou melhor, refletir porque trabalhar com a Educação Ambiental em um hotel de lazer? O que se pretende com um hotel considerado ecologicamente "correto"? Onde se pretende chegar com esse projeto? E, ainda ter o reconhecimento da pluralidade e da diversidade cultural, respeitar as vivências, necessidades e motivações dos atores sociais, com uma efetiva participação, voltada para o exercício da cidadania, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
Deve-se saber primeiramente o por quê desta proposta, se está coerente com os objetivos da Educação Ambiental e/ou Gestão Ambiental do hotel, como fazer e para quem fazer, se pode ser realizada. Para que as propostas de ação provoquem mudanças, não basta somente às boas idéias para desenvolvermos a Educação Ambiental, torna-se necessário um acompanhamento constante, treinamento e capacitação dos profissionais envolvidos, para que não fiquem nas boas intenções e idéias ingênuas.
No caso do hotel estudado é preciso ter um cuidado especial com a questão dos índios, para que não se transforme em mercadorias, um produto, apenas um atrativo. Apesar de uma visão fosca, sem o aprofundamento necessário, não se pretende fazer um julgamento prévio, mas precisa-se de um envolvimento maior dos índios como atores sociais importantes, respeitá-los como seres humanos e a sua cultura, apesar de todo relacionamento que os mesmos já realizam no seu "trabalho" e a vivencia na sua realidade local.
Nas propostas deve-se tomar o cuidado para não estarem "desconectadas" das questões sociais, éticas e políticas e não deixar de lado tais princípios, caso contrário não serão verificadas transformações mais profundas e definitivas, seja para a comunidade indígena quanto para os hospedes e os demais atores sociais envolvidos. Tal princípio também deve ser observado nos demais projetos do hotel, como o de proteção aos animais silvestres, recuperação da mata ciliar, do tratamento do lixo e esgoto. Como observado o Ibiquá é um hotel ecologicamente "correto", deve estar atento aos princípios da Educação Ambiental para seguir a condição de conservacionista, do contrário estará enquadrado apenas na questão econômica e mercantilista, sendo mais um hotel que utiliza o "marketing verde" para vender seus pacotes, deixando de lado e/ou em segundo plano as questões ambientais.
Considerações finaisNo estudo realizado observaram-se alguns pontos relevantes que foram relacionados ao Lazer e a Educação Ambiental. No que se refere à proposta do hotel é de um empreendimento que respeite o meio ambiente possibilitando aos hóspedes o aprendizado de conceitos ambientais, bem como assimilassem uma nova práxis. Analisou-se especificamente a área de lazer e educação ambiental, onde os profissionais evolvidos no empreendimento são importantes e co-responsáveis por parte da formação e da educação ambiental que os hospedes irão receber durante o período de estada no hotel.
O trabalho dos profissionais da área de lazer torna-se importante e indispensável como mediador entre a educação ambiental e os hospedes. Devem ser antes de tudo, pessoas críticas, refletindo sobre o que vêem, o que ouvem, o que lêem e, sobretudo, o que ensinam. Os educadores ambientais têm como papel facilitar, sugerir, orientar a construção de conhecimento e propiciar a vivência dos atores sociais junto à natureza, e não apenas meros reprodutores de conteúdos e informações. Estes profissionais devem estar atentos às armadilhas ideológicas, construindo com sua própria consciência crítica e porque não criativa, desenvolvendo uma Educação Ambiental comprometida com a construção de uma sociedade sustentável e consciente em todas as dimensões: social, política, ética, econômica e ecológica, a fim de garantir o futuro do presente e das novas gerações.
A Educação Ambiental deve estar sobre o enfoque interdisciplinar principalmente em relação à equipe de lazer, a fim de buscar um horizonte, formulando alternativas capazes de superar o "limiar epistemológico". O lazer, como veículo e objeto da educação aliado a Educação Ambiental, transforma-se em um importante meio para a conscientização dos seres humanos. Desta forma o lazer acaba por estabelecer inter-relações cada vez mais estreitas com a conservação e a educação ambiental. A relação entre o ecoturismo e a educação ambiental, seja por interesse econômico e/ou conservacionista, ambos com um grande potencial, podem fomentar a entrada de divisas nas comunidades e/ou nos locais onde são desenvolvidas as atividades, as quais devem ser orientadas por profissionais "habilitados".
Os profissionais que atuam no campo do ecoturismo devem recorrer a uma formação permanente para que possam planejar e intervir de forma consciente e responsável, ancorados em um trabalho ético, ou seja, um conjunto de normas morais e sociais, pelos quais o indivíduo deve orientar o seu comportamento, valores, princípios e normas com o intuito de atender aos anseios da sociedade por meio da intersubjetividade e, partir do plano das realizações individuais para o plano da realização social e coletiva. Neste contexto observa-se ainda, o envolvimento dos atores sociais regionais, as lutas sociais, a conquista da cidadania, como o caminho de uma sociedade mais "justa", ambientalmente sustentável e democrática.
Neste estudo apresentou uma proposta de ação como um possível caminho, ante uma nova maneira de se relacionar face à natureza, por meio de vivências de lazer e com isso possibilitar um novo pensar, agir e sentir. Por fim entende-se que não há verdades preestabelecidas, é preciso respeitar as diferenças, saber e aprender lidar com os conflitos e as contradições e, a caminharem juntos para a conscientização sobre o meio ambiente e a melhora da qualidade de vida do planeta.
Notas
Dados sobre a cidade www.prefeituraavare.sp.gov.br
Dados sobre a represa em www.duke-energy.com.br
1 - Um conjunto do hotel compõe: recanto infantil (3 a 6 anos); copinha; salão de jogos (pingue-pongue, sinuca, pebolim, etc); sala de estar com tv e vídeo; banheiros; depósito de material de recreação. 2 - A área de fitnes conta com: sauna seca; sauna a vapor; duchas área de descanso; sala de massagem; hidromassagem (ofurô); banheiros; sala de ginástica e aparelhos; as piscinas cobertas estão sendo projetadas em área anexa ao fitnes. 3 - O bar social com sinuca, carteado e sala de tv fica reservado para os adultos. 4 - As piscinas: social; de descanso; infantil com escorregador; espelho d´água; de biribol; piscina com toboágua e escorregador com bóia; coberta para adultos e crianças; 5 - Na área de esportes: tênis (3 quadras); quadra poliesportiva; futebol suíço gramado; vôlei de areia; quadra gramada; arco e flecha; bocha; gatebol; minigolf. 6 - A náutica: canoas; caiaques; botes a remo; pedalinhos; windsurf; veleiros. Cabe lembrar que alguns dos itens citados acima serão implementados em uma segunda fase, considerando estas instalações como espaços e equipamentos específicos e não específicos de lazer.
A data não é exata, provavelmente no mês de abril - maio de 2005.
AQUINO, Jullie Suelem de. A Importância da questão Ambiental para a hotelaria: estudo de caso do Ibiquá Eco Resort. Eduvale, Avaré, 2005. TCC
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www.prefeituraavare.sp.gov.br
revista
digital · Año 12
· N° 116 | Buenos Aires,
Enero 2008 |