Análise de uma experiência prático-reflexiva no repensar educação física como linguagem educadora da corporeidade humana Analyze a practical reflexive experience on rethink physic education like educational language human |
|||
*Professor de Educação Física licenciado CEFD/ UFSM, especialista em Ciência do Movimento Humano/UFSM. **Acadêmico do 6° nível da Fundação Universidade de Passo Fundo. (Brasil) |
Nilton Cézar Rodrigues Menezes* luzhinn@hotmail.com.br Assis Denílson do Amarante** dene@upf.br |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 116 - Enero de 2008 |
1 / 1
Introdução
Introduzindo a ação
Esta pesquisa tem como objetivo analisar uma experiência do pensamento prático-reflexivo no repensar Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana, mediante uma linguagem "viva" (resignificada), dinâmica, a partir de capacidades de desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo do professor no trabalho com os alunos. A vida "não tem sentido fora de si mesma e que esse mesmo sentido da vida de um ser humano é o viver humanamente ao ser humano no humanizar" (Maturana, 2002: 12).
Contudo, no intuito de abordar-se este domínio de realidade para repensar Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana a intenção primeira é revisitar o sentido de Educação Física, além do convencional de suas propostas mantenedoras, assim representada por atividades corporais de linguagens não resignificadas e outras que visam a padrões estéticos personalizados. Pois, "entramos numa época de fluidez e flexibilidade que traz implícita a necessidade de uma reflexão a respeito da maneira de como os homens fazem os mundos onde vivem, já que não os encontram prontos com uma referência permanente" (Maturana, 2002: 60).
Desta forma, para se repensar Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana torna-se necessário apreendê-la enquanto linguagem viva e representativa do modo de ser do homem em busca do aprender a viver. Pois, entendê-se que o referencial primeiro da Educação Física é a vida. Seu "desafio pedagógico é descobrir como a vida pode ser vivida com dignidade, equilíbrio e prazer" (Santin, 1999: 11). Então, o desafio pedagógico é provocar uma reflexão sobre repensar Educação Física mediada por atividades do seu cotidiano por elaborações e re-elaborações que representem a própria linguagem da vida na expressão da corporeidade pelo seu entendimento e prática.
Diante disso, propõe-se analisar a experiência do atuar do professor de Educação Física que mediante o agir reflexivo e no sentido pessoal de viver represente uma linguagem viva, pensada, a partir da relação significado e movimento, como um hábito de vida na proposta de prática pelos seus alunos. O que sem dúvida, não acontece com a Educação Física em geral.
a Educação Física é originariamente educação e deverá continuar assim, porque ela busca convencer que o importante é saber viver. E o saber viver coloca em primeiro lugar o respeito à vida. Que cada um tem, não isoladamente, mas como integrante da teia da vida, na expressão de Fritjoe Capra. Trabalhar é uma maneira de exercitar o viver (Santin 1999: 11).
A Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana que deveria ser, há algum tempo esta voltada para padrões estéticos impostos entre outras conotações. Menos voltada para si mesma, deixando com isso, de lado os valores norteadores do bem viver inerente à corporeidade humana. Neste contexto, a Educação Física deveria ser a mediadora que levaria a um fim em si mesma, como educadora da corporeidade humana, do ser e estar no mundo, com toda a força que a vida propõe.
eu diria que se chega à verdadeira valorização do corpo quando ele se constitui na razão de viver. Não pode ser reduzido a simples instrumento ou ferramenta. Eu sou o corpo. O corpo é mais do que meu, ele é eu. O eu se construiu no corpo e como corpo. Foi o corpo que construiu o eu. A glorificação do corpo é a razão da existência, não seu aniquilamento, esse deveria ser o grande objetivo da educação física. A "ciência" que ensina a viver o corpo (Santin, 1999: 39).
Contudo, a partir do exposto até agora, cabe explicitar o entendimento do objetivo proposto para a realização deste trabalho. Assim, depois de muitas leituras de apoio e uma análise das atuações de alguns profissionais de Educação Física chegou-se a um ponto de discussão, de que práxis reflexiva deveria constituir um estudo específico, que devido ao termo "reflexivo", somente caracteriza-se em um dos domínios de Educação Física de algumas realidades diferentes as quais foram visitadas para este trabalho.
por isso, ao aceitar esta condição como uma condição explicativa há múltiplos domínios de realidade, cada uma constituído como um domínio explicativo definido como um domínio particular de coerências experienciais. Devido à sua maneira de constituição como domínios de coerências neste caminho explicativo são igualmente válidos, ainda que distintos e nem todos igualmente desejáveis para ser viver. Ao mesmo tempo, uma afirmação ou explicação é absurda, falsa ou ilusória quando é escutada a partir de outro domínio de realidade (Maturana, 2002: 54).
Considerando estas questões, organizou-se este estudo com o intuito de colaborar com os profissionais da Educação Física, quanto às formas de reflexão e possível atuação junto ao contexto da Educação Física quando o tema refere-se ao pensamento crítico-reflexivo e a corporeidade. Desta maneira, pela leitura da realidade investigativa, se delineou alguns apontamentos que dão especificidade ao repensar Educação Física no âmbito escolar como linguagem viva na educação da corporeidade humana: 1) a Educação Física como hábito de vida; 2) educação como linguagem da vida; 3) Educação Física como educação da corporeidade humana; 4) Educação Física como condição de aperfeiçoamento da vida.
Com efeito, a partir destes apontamentos, os primeiros passos na direção da identificação e materialização do problema, também foram tomando forma. Principalmente no que se refere à reflexão, à compreensão de homem, mundo, sociedade e educação. "Mais que cientistas, técnicos ou profissionais, ela reclama por educadores que falem e escutem a linguagem da corporeidade humana viva" (Santin, 1990: 73). Dentro deste contexto que é se percebe a delicada tarefa educativa da Educação Física.
Referencial teórico1. A formação de professores de Educação Física e o processo de mudança
Indubitavelmente as maiores responsabilidades no processo de mudanças recai sobre os professores sejam de quais disciplinas forem e com a Educação Física não é diferente. Embora, necessitando do envolvimento e da colaboração de outros matizes, a participação e o comprometimento efetivo dos demais professores em relação à Educação Física são de extrema importância. Desta forma, tanto a literatura quanto algumas pesquisas recentes têm mostrado que, para acontecerem reais mudanças na educação, bem como na Educação Física é necessário que sejam garantidos processos de formação adequados ao professor. Principalmente para que o professor de Educação Física possa se desenvolver profissionalmente e, assumir com autonomia e competência o comando de seu trabalho.
No cotidiano de seu trabalho, o professor de Educação Física vivencia um universo de contradições. Sua prática é permeada por conflitos e inquietações que, na maioria das vezes, não são compartilhados. Diante desta questão, os estudos na área da formação docente vêm sugerindo a inclusão de processos de reflexão contínua a partir de situações reais. Por este viés, os professores são formados para enfrentarem as situações sempre novas com as quais se deparam na vida real e para tomarem decisões apropriadas num terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflitos. Nessa perspectiva, o processo de formação docente envolve a reelaboração e resignificação constante dos saberes que os professores empregam em sua prática pedagógica a partir da reflexão das suas experiências, ou seja, nos contextos escolares onde atuam.
Porquanto, repensar a formação de professores a partir da análise das suas práticas pedagógicas tem se revelado como uma das perspectivas importantes. Nesse sentido, "é no contexto da escola que o docente constrói a sua profissão" (Nóvoa, 1995: 25). Desta forma, ela tem a possibilidade de se constitui de um núcleo de formação permanente de professores, um espaço de discussão e ação, com parcerias, por meio de um processo de reflexão sobre o que fazer como fazer, e porque, capaz de dar respostas às necessidades surgidas da análise da prática docente. A "formação não se constrói pro acumulação (de cursos, conhecimentos, ou técnicas), mas sim, mediante um trabalho de reflexividade crítica sobre ás práticas e de reconstrução permanente de uma identidade pessoal" (Nóvoa, 1995: 25).
Desse modo, o encadeamento interativo de sucessivos momentos de formação e de trabalho conduz os sujeitos a uma permanente mobilização dos saberes adquiridos em situações de trabalho, para situações de formação e destas para novas situações de trabalho. Assim sendo, o processo formativo dos professores adquire o contorno de um processo de desenvolvimento individual, de construção da pessoa do professor, a partir de uma reapropriação crítica da prática experienciada.
Conquanto, a investigação e a reflexão pelos próprios professores acerca das suas problemáticas do cotidiano, podem facilitar intensamente o desvelar das condições reais de trabalho, a conscientização dos processos e a aquisição das teorias, criando condições para gerenciar e ultrapassar as dificuldades. Portanto, mediante o entendimento dos mecanismos que estão em jogo nas situações concretas podem-se estimular as mudanças das relações e das práticas. Com isso, incentivando e propondo ao professor de Educação Física investir no sentido da transformação da sua própria realidade.
Contudo, entende-se que, à medida que se investigar e refletir sobre a sua ação, o professor de Educação Física, como sujeito da sua investigação, estará habilitando-se a atuar nos processos de mudança, através de ações crítico-reflexivas, que tentem, em meio a tantas limitações, construir um projeto alternativo, a partir de processos dialéticos, de novas formas de planejar, e efetivar a sua prática pedagógica. A interação entre a experiência, a tomada de consciência, a discussão e o envolvimento em novas situações práticas no cenário escolar, constituem estímulos potenciais para provocar essa mudança. "A natureza de tal tarefa pode parecer utópica, mas o que esta em jogo é valiosa demais para ignorar-se tal desafio" (Dickel, 1998: 68).
2. Educação Física como educadora da corporeidade humanaNão obstante, a atuação da Educação Física com seus conceitos e tendências a partir de uma determinada ordem social, há alternativas para repensar seus aspectos no âmbito pessoal como linguagem educadora da corporeidade humana. E aqui esta o foco deste trabalho, Educação Física como existência humana, como hábito de vida. Pode-se repensá-la no âmbito pessoal, através do pensamento crítico-reflexivo como condição de vida, de ser e estar mundo, de ser corpo e viver corporeidade em uníssono com tudo que o cerca.
em nós, seres humanos, a cultura em que vivemos constitui o meio no qual somos realizados como seres humanos, e nos transformamos em nossas corporalidades no curso da história de nossa cultura, de acordo com a identidade humana que surge e que é conservada nessa cultura. Mas, ao mesmo tempo, como seres humanos que vivem em conversações, somos seres reflexivos que podem se tornar conscientes da forma que vive e do tipo de seres humanos que se tornam. E ao nos tornarmos conscientes, podem escolher o curso que nosso viver segue de acordo com nossas preferências estéticas, e vivemos de uma forma ou de outra conforme a identidade humana que conservamos (Maturana, 2001: 181).
Neste sentido, saindo-se do pensamento do corpo como instrumentalidade, para viver corporeidade intensamente como existência humana. Nesta reflexão, importante é o entendimento de que a Educação Física atual não está identificada como educadora da vida, mas somente como espaço para prática de exercícios. Esquecendo-se do educar. Mas, embora não vista e até mesmo não praticada como tal, a Educação Física converge para uma opção pessoal pelo educar-se.
trata-se da educação mais importante, prioritária e única indispensável à vida humana, é uma sabedoria de viver, ou a ciência da vida humana. Aprender, a saber, viver é o que se deveria fazer ao longo da vida. Posso não saber matemática, química ou física, história, economia ou psicologia e continuo vivendo, se não aprender a viver não saberei viver a vida que sou. Poderei usá-la, explorá-la, mas jamais cultivá-la, isto é, vivê-la (Santin, 1999: 20).
A Educação Física depende do que dela se faz. Do conceito que dela se tem. Da vida que se leva. Há um velho ditado que diz: diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Ou se poderia colocá-lo da seguinte maneira: diga-me quem és e dir-te-ei com quem andas. Também se pode reelaborá-lo desta maneira: diga-me quem és dir-te-ei se vou junto. Ou, "diga-me o que fazes em nome da Educação Física, e dir-te-ei o que ela é" (Santin, 1999: 15).
a valorização da Educação Física depende diretamente do modelo de vida que levamos como indivíduos ou como coletividade. Cada um de nós tem um conjunto de valores, individualmente escolhidos, classificados e hierarquizados, que constituem a face de nossa existência. Então, fica fácil saber onde cada um coloca a educação física (Santin, 1999: 31).
Parafraseando Santin, pode-se colocar o ditado ainda da seguinte maneira: diga-me o que fazes como Educação Física e dir-te-ei como a sente, pensa, age e vives. Esse é um dos modos de "olhar" Educação Física. Como hábito de vida para alguns poucos, talvez, para aqueloutros por indicação médica (são obrigados a fazer o que não gostam muitos deles por medo de morrer) e por padrões estéticos impostos entre outros. Sendo que num ou noutro caso torná-se relevante à compreensão que se tem do corpo.
Desta forma, pode-se chegar a algumas reflexões como: que representatividade tem o corpo, que tratamento lhe é dado? Ou simplesmente, consultar a si mesmo (conhece-te a ti mesmo). O que quase ninguém faz. A Educação Física "está vinculada à relação que cada indivíduo estabelece com seu corpo. Quem se pensa como corpo, verá nele o espaço próprio para desenvolver e aperfeiçoar a corporeidade" (Santin, 1999:31, 32).
Portanto, antes de tudo, deve-se olhar para a Educação Física e a sua atuação na vida pessoal. Analisar a representatividade dela para si mesmo. Na sua vida pessoal como hábito. Para identificar, então, se sua ação é de cultivadora e educadora da corporeidade humana. Mais ainda, se a Educação Física está fazendo parte integralmente de um contínuo processo de equilíbrio da vida enquanto seres humanos.
mas o que necessitamos para permanecermos seres humanos não é muito diferente nos diferentes mundos que vivemos. A diferença é no tipo de ser humano que nos tornamos em cada um deles, porque nos tornamos um tipo ou outro de ser de acordo como a maneira que vivemos (Maturana, 2001:180).
Neste contexto, tudo pode voltar ao seu eixo de equilíbrio no momento em que se é trabalhado, pois se está primando pela própria vida. Para tal, a Educação Física orientada a partir de uma linguagem viva (resignificada) dá a sua contribuição fazendo parte da concepção de vida integral. O que dificilmente acontece com a Educação Física de linguagem mecânica que é logo esquecida até a próxima prática esporádica. Mas, a mesma sensação de bem estar, proporcionada pelas atividades resignificadas, podem ocorrer com a Educação Física, desde que repensada, como hábito de vida. O que notoriamente ela deveria ser desde sempre.
O repensar Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana mediada pela resignificação das atividades desenvolvidas, parte do princípio de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o movimento. Estabelecendo um vínculo indissociável entre o seu mundo objetivo e subjetivo num processo auto-referido (relação consigo mesmo) circular dinâmico, vivo e permanente. Da organização do vivo, da sua arquitetura corporal e sua expressão, de linguagem viva na expressão da corporeidade humana de seu praticante. Nesta observa-se que a linguagem corporal resulta na primeira forma de manifestação do mundo.
Metodologia: descrição e reflexões analíticas dos diálogos da pesquisaEste estudo foi desenvolvido em uma escola da rede municipal da cidade de Passo Fundo-RS, com dois professores de Educação Física atuantes no ensino fundamental, mais especificamente de 5ª a 8ª série. A metodologia de desenvolvimento do processo de intervenção participativa obedeceu a seguinte programática organizacional com base no roteiro proposto por Ludke &André (1986: 30): uma parte descritiva e outra reflexiva dos diálogos ocorridos.
Num primeiro momento: foram filmadas algumas aulas do professores como sujeitos de suas ações, com o propósito de agir em situações que lhe possibilitassem o eclodir do pensamento crítico-reflexivo.
Num segundo momento: neste contexto, diversas aulas foram observadas pelo professor-pesquisador, onde depois de cada uma delas, os professores-sujeitos da pesquisa foram levados a fazer comentários, de forma descritiva e/ou interpretativa de suas ações.
E por fim num terceiro momento: ao mesmo tempo das observações, foram filmadas novas aulas do professores-sujeitos e assim, novamente ocorreu um "olhar" pelo professores-sujeitos das novas aulas filmadas, com a finalidade de lhes proporcionarem novas situações para refletir sobre as suas ações.
No seguimento do processo metodológico da intervenção participativa, várias aulas foram observadas pelo professor-pesquisador, onde após estas, os professores-sujeitos realizavam comentários. Assim, este procedimento teve como objetivo incentivar a reflexão dos professores-sujeitos sobre as suas ações, pois desta maneira revelavam-se possíveis mudanças sobre o agir adotando outras estratégias. Logo, seguindo-se o plano de trabalho, algumas das falas dos professores-sujeitos estão elencadas em seqüências, para melhor explicar-se o desenvolvimento do processo.
"A aula teve um retorno da proposta ofertada, pois os alunos estavam bem entusiasmados no desenvolvimento das atividades. Alguns denotando certa digamos "familiaridade corporal" com a modalidade de handebol, ou seja, o corpo respondia com uma boa desenvoltura aos exercícios propostos. Para este contexto, adotei um handebol recreativo com todos os alunos na quadra sem ninguém ficar de fora e com isso todo o tempo da aula foi aproveitado" (professor I aula 11/03/2007).
Nesta aula, com uma turma de número reduzido de alunos, o professor ministrou apenas a modalidade de handebol. Fazendo com que a aula tivesse mais participação e motivação por parte dos alunos, porque todos foram aproveitados simultaneamente sem nenhum ficar de fora do jogo. Também, o professor preocupou-se em aproveitar mais o tempo de aula. Esta é uma característica inerente aos professores mais eficazes, ou seja, que conseguem distinguirem-se pela capacidade de gerenciar o tempo de aula em relação às participações em situações específicas relacionando-as a aprendizagem em si.
"Foi interessante, porque ao que parece os alunos estavam fazendo a aula com certo tipo de propriedade, ou seja, com mais gosto. Creio que é pelo sentido do aprendizado proporcionado. Digo isto, porque alguns me vieram dizer que estão fazendo a modalidade de basquete fora das aulas de Educação Física da escola. Isto é visível pelas roupas de basquete que começaram a vestir e do material (bola) de que começaram a trazer nas aulas, assim como alguns gestos técnicos ainda não vivenciados em minha aula. Até o andar dos alunos expressa a corporeidade de jogadores de basquete" (professor II 26/04/2007).
O professor conseguiu captar o que esta acontecendo em suas aulas devido às mudanças na proposta de ensino-aprendizagem. À vontade, o gosto, a busca pela vivência é notória na realização das aulas, diferentemente do que havia acontecendo. Ao que se denotou a Educação Física começou a vigorar como educadora, por ser agora realizada com significados mesmo sendo através de modalidades rotineiras como basquete, handebol e vôlei.
"Percebo que a cada troca de atividades, temos que fazer uma troca de atitude, como se estivéssemos trocando de roupa. Adaptando-nos a elas. E depois que terminamos e começamos outra atividade, ficamos com os resquícios da anterior. E quando tudo termina acontece à mesma coisa". (professor I 18/04/2007)
Nesta aula em especial, o professor-sujeito percebeu que junto com a mudança de atividades, ou seja, uma nova proposta, também a atitude deveria ser outra. O que também transpareceu foi que ele notou a sua educação corpórea ao propor e ensinar os novos exercícios de outra modalidade esportiva totalmente diferente da anterior.
"Esta aula de hoje demonstrou a avidez de determinados alunos que possuem maior destaque na turma pelas suas habilidades, mesmo tendo apreendido em pouco tempo uma nova modalidade como o voleibol. Como, por exemplo, jogar como "levantador" que precisa de um bom toque, pensamento rápido. O que se denotou em dois alunos da turma com uma grande desenvoltura estando bem á vontade na quadra como se fizessem aquilo á vida toda" (professor II 25/05/2007).
Notou-se nesta aula, que a corporeidade surgiu de forma natural, ou seja, sem um esforço maior para executarem-se os gestos. O que deixava os alunos bem á vontade para jogar de forma descontraída num universo desconhecido da modalidade até então apresentada naquele momento. E que também surgiram em outros momentos com outros alunos na mesma modalidade, mas só que em outras posições de jogo.
Por fim, na análise destes recortes, vê-se que a Educação Física caracterizou-se como um componente a dar um cunho educativo e pessoal ao conteúdo abordado, como saber produzido e sistematizado na prática do cotidiano das aulas. Buscando com isso, a compreensão das impressões que impregnam os corpos dos seres humanos pelos aspectos de diferentes momentos vividos no cotidiano da Educação Física escolar.
Para tal intento leva-se em conta, o desenvolvimento do aluno pelo conhecimento adquirido aos poucos e com significados acerca das modalidades orientadas pela proposta da pesquisa, e dos diversos elementos da cultura corporal que o compõem as mesmas, considerando este referencial que favorece a reflexão e a produção coletiva. Pois, sabe-se que o indivíduo se humaniza na convivência com outros seres humanos e nesta relação ele aprende a colaborar, repartir, ceder, expor suas idéias e compartilhar suas experiências de maneira espontânea.
Assim, concluí-se que, a proposta de diferentes modalidades teve um papel preponderante, pela sua importância no desenvolvimento dos alunos. Elas foram á mola propulsora no repensar Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana tendo professores e alunos como seus artífices sob a égide do elemento estruturador do pensamento crítico-reflexivo. Assim, provocando re-elaborações e re-significações na educação da corporeidade humana.
Considerações finaisO desafio que se apresenta na atualidade para a Educação Física é de que dentro do processo educacional ela possa junto com as demais disciplinas, fazer com que os objetivos alcancem suas metas estabelecidas. A partir de iniciativas que oportunizem a reelaboração e a resignificação do conhecimento, mediante interesses transformadores presentes na sua proposta. Para alcançar esses objetivos, prementes se fazem algumas ações pedagógicas direcionando-as para uma práxis focada na reflexão, compreensão e superação da realidade pelo seu repensar.
Considerando isto, foi elaborado este estudo no intuito de colaborar quanto a formas de reflexão e possível atuação junto ao contexto da Educação Física. Estudando-se pontos importantes como: reflexão, corporeidade, principalmente no que se refere à compreensão de se humano, mundo, sociedade, ou seja, pela sua resignificação como educadora da vida, como hábito de vida. Assim, a proposta deste trabalho, teve como objetivo principal uma analise de uma experiência crítico-reflexivo no repensar Educação Física como linguagem educadora da corporeidade humana. Tendo como viés, o trabalho do professor-sujeito da pesquisa orientado pelo pensamento crítico-reflexivo assumido como função. A função do pensamento crítico-reflexivo na prática pedagógica da Educação Física foi focado na aprendizagem de temas relacionados ao movimento/corporeidade, através de modalidades como: voleibol, handebol e basquetebol.
Concluindo, crê-se que a reflexão deve permear a Educação Física e estar presente em todos os temas, por ser uma das mais importantes ferramentas para mudar o cotidiano escolar como um todo. Sendo assim, a Educação Física é importante na medida em que trabalha o ser humano pelo movimento, visando à formação crítica, participativa, transformadora. Para tanto, torna-se necessário que esta ação, seja orientada por uma concepção clara de mundo, do ser humano, sociedade e educação que se almeja.
Referências bibliográficas
Dickel, Adriana. Que sentido há em a se falar de professor-pesquisador no contexto atual? Contribuições para o debate. Cartografias do trabalho docente. Campinas: Mercado Letras, 1998.
Maturana, Humberto. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Ed.UFMG, BH, 2001.
Maturana, Humberto & Varela, Francisco. De máquinas e seres vivos. Ed. Artmed, POA, 2002.
Maturana, Humberto. Emoções e linguagem na Educação e na política. Ed. UFMG, BH, 2002.
Nóvoa, António. Os professores e sua formação. 2. ed. Portugal: Dom Quixote, 1995.
Ludke, Menga. Pesquisa em educação: abordagens Qualitativas. SP: EPU, 1986.
Santin, Silvino. Educar e profissionalizar. Ed. Est/Porto Alegre/RS, 1999.
Santin, Silvino. Educação Física da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Ed. Est/Porto Alegre, 2001.
revista
digital · Año 12
· N° 116 | Buenos Aires,
Enero 2008 |