Avaliação nutricional de adolescentes integrantes de uma equipe de basquete de um clube de São Paulo |
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*Aluna de Graduação do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo. **Nutricionista Supervisora do estágio de Instituições Diferenciadas em Esportes do Curso de Graduação de Nutrição do Centro Universitário São Camilo. (Brasil) |
Aline Rissatto Teixeira* Nívea Maria Cola* Adriana Mayumi Ono* Márcia Nacif** aline_rissatto@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 116 - Enero de 2008 |
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Introdução
O basquete é um esporte regido por sua beleza e ritmo. Atualmente, existem cerca de 300 milhões de praticantes no mundo e vem se tornando uma modalidade cada vez mais popular no Brasil, provavelmente devido ao bom desempenho das seleções brasileiras em competições internacionais (OLIVEIRA et. al., 2003).
Este esporte é considerado uma modalidade esportiva composta de uma sucessão de esforços intensos e breves, realizados em ritmos diferentes. É um jogo que exige grande coordenação motora e movimentos de grande intensidade, que permite o desenvolvimento de muitas capacidades físicas que a vida moderna exige de cada indivíduo. As habilidades envolvidas no basquetebol são arremessos, passes, saltos, corridas, dribles, rebotes e as execuções sólidas de jogadas ofensivas e defensivas. Essa exigência física, técnica e tática faz com que os treinamentos se tornem mais fatigáveis e extenuantes, exigindo esforço máximo do atleta em busca da perfeição (DAIUTO, 1991; GENTIL, 2001).
O bom desempenho muscular é importante em vários esportes, dentre eles o basquetebol, cuja prática exige participação de variados músculos, superiores, imprescindíveis para execução de lançamentos e passes de bola, como bíceps, tríceps, deltóide, rotatores internos do ombro e flexores do punho, bem como músculos inferiores, necessários para corridas, dribles, saltos, marcações entre outras funções exigidas pela modalidade, além da participação de articulações superiores e inferiores, como punhos, cotovelos, ombros e quadril, joelho e tornozelo, respectivamente (CEMAFE, 2006).
A alimentação e o estado nutricional de adolescentes praticantes de atividade física podem tanto refletir o estado de saúde como predizer o desempenho e resistência, exigida no emprego de determinadas modalidades esportivas associados ao treino. A importância a esse componente tem se tornado cada vez mais evidente, o que se reflete no aumento de estudos, apesar de ainda insuficientes, sobre a avaliação do estado nutricional, alimentação e sua associação com o treino de atletas de variadas modalidades (SCHNEIDER et. al., 2004).
Além da participação na manutenção da composição corporal e na redução do risco de lesões traumáticas, sejam elas musculares, ósseas e/ou de tendões, um estado nutricional adequado e uma alimentação balanceada e que esteja de acordo com o exercício praticado, auxilia na manutenção do condicionamento aeróbio e anaeróbio (já que esta modalidade refere-se ao uso misto do metabolismo, combinando piques de força e velocidade, o que a caracteriza como atividade intermitente), necessários para garantir a participação do atleta durante os 4 períodos de jogo, equivalentes a 12 minutos cada. O aperfeiçoamento dessas habilidades é importante para um jogador e o desempenho muscular, neste caso, é a prioridade para o jovem atleta, bem como para sua equipe (McARDLE et. al., 1992).
Nesse sentido, a determinação e avaliação dos componentes estruturais do corpo humano, como a massa de gordura, massa óssea, massa muscular, é de fundamental importância (McARDLE et. al., 1992). Esses componentes sofrem variações principalmente no período do crescimento e no período do envelhecimento, assim como devido ao hábito da alimentação e da prática de exercícios físicos (MALINA & BOUCHARD, 1991). Então a análise criteriosa da composição corporal é considerada como um dos recursos para amenizar os riscos à saúde. Desta forma, este estudo visa avaliar o estado nutricional de jogadores de basquete de um Clube da cidade de São Paulo.
Causuística e métodosFoi realizado um estudo transversal, do qual participaram 49 atletas praticantes de basquetebol do sexo masculino, com idade entre 11 e 15 anos de um clube da cidade de São Paulo.
Por meio da aplicação de uma ficha de anamnese foram coletados dados como nome, sexo e data de nascimento dos jogadores.
Foi realizada uma análise qualitativa do consumo alimentar a partir da utilização de um inquérito recordatório de 24 horas (R24h). O inquérito referiu-se ao consumo alimentar nas 24 horas anteriores à entrevista, desconsiderando-se dias pertencentes ao fim de semana, sendo relatadas as porções alimentares em medidas caseiras.
Para obtenção de dados antropométricos foram tomadas medidas de peso, estatura, IMC, dobras cutâneas e circunferências. As medições foram realizadas antes do treinamento, no período da tarde pelo mesmo avaliador, sendo dobras e circunferências aferidas somente no hemicorpo direito, realizando-se 3 mensurações alternadas em cada local para obtenção de valor médio como escore final, a fim de garantir a padronização na obtenção dos dados.
O peso corpóreo foi obtido utilizando-se uma balança digital da marca Filizola, com capacidade de 150 quilos e com precisão de até 100 gramas, nivelada ao chão. Os atletas foram medidos descalços, com o mínimo de roupas possível e sem adornos.
Para a medida de estatura utilizou-se um estadiômetro, acoplado à balança, com precisão milimétrica, estando os atletas em posição ortostática, visando o horizonte e com os pés juntos.
A partir do peso e da estatura, obteve-se o Índice de Massa Corporal (IMC) utilizando-se a equação: IMC = P / A2. Os valores obtidos em kg/m2 foram classificados segundo CDC (2000).
Foram avaliadas as dobras cutâneas tricipital (DCT), bicipital (DCB), suprailíaca (DCSI) e subescapular (DCSE). Para tal, foi utilizado um plicômetro Cescorf. O percentual de gordura dos adolescentes foi calculado por meio da equação de Slaughter et al, (1988) que utiliza os valores obtidos das medidas da DCT e da DCSE. A classificação desses resultados foi feita por pontos de corte propostos por Deurenberg et al, (1990).
As circunferências de braço (CB), de coxa (CCO), de panturrilha (CP), de punho, (Cpu) abdominal (CA), de cintura (CC) e de quadril (CQ) foram medidas através de fita métrica inelástica com precisão milimétrica. Para classificar o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares foram utilizadas como padrão as classificações por WHO (2000) a partir da CA e por Lohman, (1988) a partir das CC e CQ relacionadas (RCQ).
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário São Camilo e todos os participantes assinaram um termo de compromisso livre e esclarecido.
Resultados e discussãoForam avaliados 49 praticantes de basquete com idade média de 13 anos. Os dados antropométricos podem ser conferidos detalhadamente na Tabela 1.
Analisando-se o estado nutricional da amostra estudada, segundo a média do Índice de Massa Corporal (IMC), os jogadores podem ser considerados eutróficos. O resultado obtido no presente estudo mostra-se equivalente ao estudo de Viebig, (2004) realizado com nadadores mirins competitivos com idades entre 7 e 10 anos do sexo masculino em um clube localizado na Zona Leste do Município de São Paulo (SP), revelando um valor médio de IMC de 21,9 kg/m2.
Os dados obtidos revelam que apesar de valores de IMC mostrarem-se de acordo com os padrões de normalidade, constata-se uma classificação moderadamente alta do percentual de gordura corporal total médio entre os jogadores. De acordo com Duthie, (2003), o percentual de gordura corporal registrado acima da normalidade pode estar diretamente relacionado à necessidade de aumento da intensidade de treinamento e adesão de práticas dietéticas mais favoráveis pelos jogadores. Enquanto que a gordura corporal adicional pode servir como proteção desejável em situações de contato (defesa), é uma desvantagem em atividades de sprints (velocidade) e corridas (ataque), como o basquete.
Além de interferir no desempenho esportivo, valores percentuais de gordura corporal acima de valores recomendáveis também podem estar associados ao surgimento de doenças crônicas (PINHEIRO et. al., 2004). No que se refere às medidas de circunferência abdominal e relação entre cintura e quadril, os valores médios obtidos encontram-se dentro dos padrões de normalidade, não evidenciando riscos de ocorrência de doenças cardiovasculares futuras.
A partir do recordatório alimentar de 24 horas, foi possível constatar que somente 28,3% dos jogadores estudados consumiam diariamente acima de 2 litros de água e 25% consumiam repositores hidroeletrolíticos durante o treino acima de 1 hora.
Quando o atleta apresenta sudorese intensa decorrente de treinos prolongados, a perda pode representar uma diminuição de 15% a 30% do sódio permutável no organismo, podendo resultar em declínio do volume sanguíneo, o qual pode levar ao comprometimento cardiovascular, além de causar cãibras e fadiga (FLECK 1997; BERGERON, 2001). Desta maneira, seria recomendável a ingestão hídrica por jogadores de basquete a cada 20 minutos, além do consumo de bebidas esportivas, importantes para reposição de eletrólitos e glicogênio gasto para formação de ATP em atividades superiores à uma hora de exercício (SHEPARD, 1990; KONDO, 1996; FEBRAIO et. al., 1996; JUZWIAK, 2001).
O recordatório alimentar também revelou o consumo alimentar dos jogadores de acordo com os variados grupos da pirâmide de alimentos, (1999), demonstrando suas preferências alimentares. A tabela 2 destaca entre as preferências dos jogadores o grupo das carnes e os grupos de cereais e leguminosas, principalmente o arroz e o feijão, respectivamente. Dentre os alimentos menos consumidos destacam-se as frutas, o grupo do leite e derivados e o grupo de legumes e verduras.
Observou-se também um elevado consumo de alimentos de baixo valor nutricional e elevada densidade calórica pela população estudada, destacando-se o grande consumo de doces (balas, chicletes e chocolates). Bolachas recheadas, lanches e refrigerantes também se apresentaram elevados, evidenciando percentuais de consumo acima de 5 vezes semanais.
O estudo de Cardoso et. al., (2005), referente às preferências alimentares de jogadores de basquete entre 7 e 14 anos de um clube da Zona Norte de São Paulo, demonstra resultados semelhantes aos encontrados no presente estudo, destacando-se as carnes e a combinação de arroz e feijão como grupos alimentares mais consumidos e os grupos de legumes e verduras mostrando-se menos freqüentes na ingestão alimentar diária. O estudo ainda destaca a ingestão de doces (balas e chicletes) em relação à freqüência do consumo de guloseimas, seguidos por bolachas recheadas, refrigerantes e sanduíches, resultado este que também se equipara ao obtido no presente estudo.
De acordo com Silva et. al., (2001), o elevado consumo de alimentos de baixo valor nutricional e elevada densidade calórica contribui para o desbalanço nutricional na alimentação do adolescente, tornando-se esta excessiva em gordura saturada bem como colesterol, sal e açúcar e muitas vezes insuficiente em vitaminas minerais e fibras. Tal desequilíbrio dietético pode causar anormalidades metabólicas em longo prazo e tornar o adolescente mais vulnerável a doenças, além de implicar no aumento de peso corporal, podendo conseqüentemente afetar o desempenho esportivo dos jogadores.
ConclusãoA inadequação dos resultados referentes à composição corporal e alimentação dos jogadores da amostra estudada evidencia a necessidade da atuação de um profissional da nutrição, a fim de implementar a qualidade da alimentação dos mesmos.
A elaboração de dietas individualizadas e balanceadas, que atendam às necessidades dos jogadores de basquete estudados, associada à prática de exercícios físicos, permite a redução de peso e aumento da massa muscular (quando necessário), além de auxiliar na redução da fadiga e otimizar a função cardiorespiratória, podendo maximizar o desempenho esportivo, sem causar danos nutricionais à saúde.
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