A relação entre a ansiedade e a autoconfiança em jogadores de futsal |
|||
Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte. Universidade Federal do Paraná - UFPR. Curitiba - Paraná. (Brasil) |
Marco Antônio Cabral Ferreira Diogo Cristiano Netto Suzane de Oliveira Ricardo Weigert Coelho macferreira@hotmail.com |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 116 - Enero de 2008 |
1 / 1
Introdução
Quando assistimos a uma partida de futebol de salão (futsal), gostamos de ver as jogadas bem elaboradas, com velocidade e uma beleza plástica das movimentações dentro da quadra e esperamos pelo momento culminante que é o gol, e muitos gols.
A cada ano há um crescimento e valorização do esporte em todo o mundo, o que nas últimas décadas proporcionou um quadro favorável ao surgimento de equipes de treinamento em diversas modalidades esportivas.
Atualmente, especificamente no futebol de salão (futsal) no estado do Paraná, são realizados campeonatos com a participação de crianças na faixa etária dos 6 anos de idade até a idade adulta (profissionais), campeonatos de todas as categorias. Os clubes organizam-se de maneira profissional, mesmo em esportes que recebem ainda a conotação de amadores, como o futsal. O fato é que existe grande pressão e cobrança por vitórias. Sendo assim, o estudo das variáveis que interferem diretamente no resultado e na performance da equipe e do atleta, recebem significativa atenção dos pesquisadores e estudiosos. Sabe-se que estas variáveis não estão somente ligadas aos aspectos técnico/tático e físico, mas também ao processo psicológico que tem relação direta com o rendimento.
O futebol de salão ou futsal é um esporte genuinamente brasileiro, e uma grande realidade no Brasil, pois as estatísticas demonstram que é o esporte mais praticado em todo território nacional (BELLO JUNIOR, 1998, GARGANTA, 1995). O ingresso de atletas em escolinhas começa cedo, possuindo categorias oficiais de competição desde os 7 anos (categoria fraudinha), até o adulto e profissional. A maior concentração de atletas iniciantes ocorre entre a faixa etária dos 11 aos 14 anos. Dos 12 aos 20 anos, durante a adolescência, é que se encontra a fase de desenvolvimento específico da modalidade, buscando a obtenção de performances máximas, através de um trabalho de treinamento físico, técnico, tático e psicológico.
A identificação do povo brasileiro com o futebol, as muitas quadras públicas ou particulares existentes, a grande utilização do futsal nas aulas de educação física e o número reduzido de jogadores necessários à prática desta modalidade são alguns dos fatores que contribuem para sua importância em nosso país.
O Brasil é considerado potência mundial no futsal, os títulos demonstram isso. São cinco títulos mundiais nos sete disputados (vice nos outros dois) e doze títulos sul-americanos em doze disputados, fora os outros vários títulos conquistados pela seleção principal e pelas demais categorias (Confederação Brasileira de Futebol de Salão, 2004).
O futsal e o futebol, em muitos aspectos se assemelham, pois coordenação motora e habilidade fazem parte de ambos e como tal será sempre passível de erros. No entanto, será preciso que tenhamos conhecimentos técnico-científicos para que, caso haja cobranças, sejam feitas com responsabilidade.
O futsal tornou-se alternativa de prática esportiva para crianças e adolescentes brasileiros que, guardadas as proporções, têm, devido a crescente expansão imobiliária que atravessa o país, a diminuição do seu espaço livre. Hoje, pratica-se futsal na escola, no clube, nas associações congêneres (Santana, 1996).
Nos esportes competitivo aspecto físico e tático, durante a atuação desportiva competitiva, torna-se a cada dia mais semelhante entre os atletas, podendo ser as variáveis psicológicas consideradas elementos diferenciais durante a atuação esportiva. A psicologia do esporte e do exercício estuda de forma cientifica o comportamento das pessoas no contexto esportivo e as aplicações práticas de tais conhecimentos (GILL, 1979), trabalhando no diagnóstico e na intervenção de fatores psicossociais como: medo, fracasso, estresse, ansiedade, autoconfiança, entre outros.
A ansiedade pode ser definida como a preocupação ou aflição sobre incertezas futuras, através da percepção de ameaça, freqüentemente caracterizada por elevados níveis de ativação (SCHMIDT e WRISBERG, 2001; WEINBERG e GOULD, 2001). É uma forma de expressão diante dos efeitos da ação e vivenciados por processos emocionais, demonstrando que baixos e elevados níveis de ansiedade estão associados com baixos níveis de desempenho (MACHADO, 1997).
Em estudo realizado por Ferraz at al. (2004) sobre os níveis de ansiedade no futsal competitivo, os autores identificaram que a ansiedade cognitiva apresentou maiores valores, quando comparada com a ansiedade somática e de autoconfiança, e que os atletas titulares apresentaram maiores preocupações com o desempenho e resultado do jogo quando comparados com os jogadores reservas.
A autoconfiança pode ser definida como a crença de que o atleta pode realizar com sucesso um comportamento desejado, despertando emoções positivas, auxiliando na concentração e afetando o estabelecimento de metas desafiantes (WEINBERG e GOULD, 2001). A autoconfiança pode ser considerada variável preditora de uma boa atuação. Ela pode ser de traço, relacionada à certeza que o indivíduo possui à sua capacidade de ser bem sucedido, ou de estado, que é situacional ao momento da atuação.
A falta de confiança é manifestada pelos atletas através de expectativas negativas e dúvidas relacionadas à atuação, e tais aspectos tendem a originar e elevar os níveis de ansiedade (CRUZ e VIANNA citado por LÁZZARO et al., 2005).
"Algumas variáveis psicológicas estão constantemente presentes durante provas e competições, e a psicologia do esporte é uma importante ferramenta para identificar e trabalhar com as variáveis relacionadas a esses comportamentos psíquicos do esporte" (OLIVEIRA et al. 2005). Sob essa perspectiva, o objetivo do estudo foi verificar se existe relação entre a autoconfiança e a ansiedade pré-competiva no futsal.
MetodologiaO estudo se caracteriza por uma pesquisa de campo "ex-post-facto" realizada durante a etapa final dos Jogos Abertos do Paraná - 2005, na cidade de Francisco Beltrão - PR. A amostra foi composta por 44 atletas, competidores dos quatro times finalistas da categoria de futsal, com idade média de 22,85 e d.p. 5,29.
Os instrumentos utilizados foram: o Inventário de Nível de Ansiedade (MARTEENS, 1977) e Inventário de Autoconfiança no Esporte (VEALEY, 1986).
Para a análise estatística foi utilizada uma correlação de Pearson, a um nível de significância de p<0,05.
ResultadosDe acordo com os valores estatísticos obtidos entre as variáveis do estudo, autoconfiança e ansiedade, representadas na tabela abaixo pode-se notar uma correlação de r= -0,137, com valores não significativos p=0,378.
Os resultados do estudo demonstraram que para essa população específica, durante as finais dos Jogos Abertas do Paraná, na modalidade de futsal, não haver relação entre as variáveis do estudo.
ConclusãoTais resultados não demonstraram relação entre a ansiedade e a autoconfiança e vão a desencontro com o que diz Cruz e Vianna (citado por LÁZZARO et al., 2005), em que os autores afirmam que níveis baixos de autoconfiança podem gerar pouca crença em suas habilidades e qualidades técnicas e táticas, aumentando dessa forma o nível de ansiedade.
Da mesma forma que, os níveis altos de autoconfiança refletem no aumento do esforço do atleta, no estabelecimento seguro de suas metas e no desenvolvimento estratégico de competição (MICHELIN, et al., 2005).
Intervenções psicológicas podem ser realizadas com o intuito de treinar as habilidades mentais, controlando os níveis de ansiedade-estado, melhorando a auto-estima, a autoconfiança de traço e estado, buscando e acreditando no potencial de suas habilidades físicas e psíquicas na atuação esportiva. O estado psicológico do atleta é um fator importante durante a competição, e saber diagnosticá-lo, interpretá-lo e treiná-lo, se torna um diferencial individual. Sugerem-se novos estudos com as mesmas variáveis em diferentes populações.
Referências
BALBINO, H. Jogos desportivos coletivos e os estímulos das inteligências múltiplas. Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação Física - UNICAMP, Campinas 2001.
BAYER, C. O ensino dos desportos coletivos. Lisboa, Dinalivro, 1994.
BOTA, I. & COLIBABA-EVULET, D. Jogos desportivos coletivos: teoria e metodologia. Lisboa, Instituto Piaget, 2001.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO. Seleção: performance. Disponível em http://www.cbfs.com.br/. Acesso em 8 fev. 2004.
FERRAZ, C.C.; FERNANDES, S.L.; VIEIRA, L.F. Estudo da ansiedade estado em uma equipe de futsal de alto - rendimento na cidade de Maringá-PR. Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e Arte, Maringá: 2004.
FREIRE, João Batista. Pedagogia do futebol. Londrina: Midiograf, 1998.
GARCIA, R. & FAILLA, W. R. Manual de futebol de salão. v. 1, 2, Araçatuba, Leme, 1986.
GARGANTA, J. Para uma Teoria dos Jogos Desportivos Coletivos. In: _____ A. Graça & J. Oliveira (Eds.). O ensino dos jogos desportivos. 2 ed. Porto, Universidade do Porto, 1995.
GILL, D. L. The prediction of group motor performance from individual menber abilities. Journal of Motor Behavior, v. 11, p. 113-122, 1979.
LAZZARO, J.P; CASEMIRO, E.S.; FERNANDES, H.M. Determinação do perfil psicológico de prestação do jogador de andebol português: um estudo em atletas da liga e da divisão de elite. Psicologia.com.pt - O portal do psicólogo, 2005.
MACHADO, Afonso Antônio. Psicologia do esporte: temas emergentes. Jundiaí: Ápice, 1997.
MICHELIN, A.; OLIVEIRA, S.; KELLER, B. et al. Relação entre a autoconfiança e a auto-estima de atletas participantes do campeonato brasileiro de karatê-dô Tradicional. Anais CIPECIM, Curitiba, 2005.
OLIVEIRA, S.; KELLER, B.; MICHELIN, A.; COELHO, R.W. Relação entre o estresse percebido e a autoconfiança, e o estresse percebido e a ansiedade traço em atletas de corrida de aventura. In: ____ XVII Simpósio de educação física e desporto. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2005, P.107 - 109.
SANTANA, Wilton Carlos de. Futsal: metodologia da participação. Londrina: Lido, 1996.
VEALEY, R.S. Conceptualization of sport confidence and competitive orientation: Prelimary investigation and isntrument development. Journal of Sport Psychology, v.8, p.221 - 246, 1986.
WEINBERG, Robert S.; GOULD, Daniel. Fundamentos da Psicologia do Esporte. 2º Edição. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
revista
digital · Año 12
· N° 116 | Buenos Aires,
Enero 2008 |