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As orientações motivacionais dos jovens
nadadores são iguais às dos seus treinadores?

   
Director Técnico Associação Natação Leiria
Docente Escola Superior Educação - IPLeiria
(Portugal)
 
 
Pedro Morouço
pmorouco@esel.ipleiria.pt
 

 

 

 

 
Resumo
     O número de crianças e adolescentes que regularmente ingressam pelo desporto de competição faz com que esta actividade se torne num dos mais populares contextos entre as crianças de hoje. Compreender e realçar a motivação neste contexto constitui um tópico de investigação extremamente importante para o desenvolvimento das crianças.
    Unitermos: Psicologia. Motivação. Objectivos de realização. Treino de jovens.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007

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Introdução

A influência das orientações motivacionais no processo de treino

    William (1986) defende que os factores psicológicos têm uma primordial influência no sucesso que se obtém em prestações desportivas e Fernandes (1999), particularizando para a modalidade de natação, afirma que estes factores em nadadores assumem um papel fundamental relativamente aos restantes factores pressupostos do rendimento.

    A motivação é considerada responsável pela direcção, intensidade e persistência dos indivíduos numa determinada modalidade desportiva e manifesta-se como a principal fonte de êxito desportivo, devendo ser mantida permanentemente. Ao que Alves (1997, cit. por Fernandes, 1999) acrescenta que manter um elevado nível de motivação faz parte integrante do processo de evolução do nadador.


Os Objectivos de Realização (OR)

    Nos últimos catorze anos, a investigação no mundo desportivo baseou-se em modelos cognitivo-sociais de motivação o que enfatiza a importância e o desenvolvimento do significado das orientações pessoais. Desta forma, para se compreender a motivação nas crianças é necessário dar a devida atenção aos seus OR, isto é, tentar compreender globalmente os fins que pretendem atingir com os seus comportamentos.

    A pesquisa efectuada a este nível, no desporto, tem tido por base as teorias proferidas por diversos investigadores da área (Nicholls, 1989, 1992; Duda, 1992; Roberts, 1992; Duda e Whitehead, 1998; Treasure, 2001). Estes investigadores concordam na definição de duas perspectivas (apesar de poderem ter diferente nomenclatura) a ter em conta nas situações de realização, sendo uma auto-referênciada ou focada na mestria e outra comparativa ou normativamente referenciada.

    A primeira, denominada de Orientação para a Tarefa (OT), caracteriza-se pela vontade e predisposição para a aprendizagem de novas competências. A segunda, Orientação para o Ego (OE), caracteriza-se por uma preocupação dominante dos indivíduos em demonstrarem elevada capacidade perante os outros.

    Aumentar a competência percebida, aprender novas tarefas ou melhorar competências são os principais objectivos para os indivíduos com OT. De acordo com Nicholls (1992) para estes desportistas, o sucesso é definido com base em auto-referências padrão, esforçando-se ao máximo para demonstrarem aprendizagem, melhorarem habilidades e/ou domínio das tarefas.

    Por outro lado, o sucesso desportivo, mediante a OE, é definido com base nos processos de comparação social, estando subjacente uma elevada imagem de si próprio e preocupações mais centradas no produto ou resultado final.

    Fonseca (1999) nos seus estudos apercebeu-se que a OE parece levar a menores índices de satisfação e empenho nas tarefas inerentes ao processo desportivo, enquanto que a OT parece associar-se a uma maior persistência e satisfação nessas mesmas tarefas.


Mas o que é melhor?

    É errado pensar-se que Atletas/Equipas com OE têm melhor performance do que com OT, uma vez que não existem evidências que sugiram que a primeira é melhor no alcance de elevados níveis de performance, especialmente quando falamos a longo prazo.

    Outra ideia errada, que é necessário combater é a de que apenas atletas com OE desejam a competição e querem ganhar, isto é, que os indivíduos com OT não se preocupam com a vitória. Pelo contrário, desportistas com OT fazem um investimento considerável de tempo e esforço no seu desporto, e utilizam feed-backs acerca da sua performance em situações de competição para julgarem a sua própria melhoria. Independentemente da orientação, os indivíduos querem ganhar.

    A diferença baseia-se no porquê de quererem ganhar. Enquanto que para os indivíduos com OE a vitória permite-lhes proclamar "Eu sou o melhor", para os indivíduos com OT fornece-lhes informação reforçando-lhes o seu trabalho árduo "Eu faço o meu melhor".

    Para além disto, está comprovado que pessoas com elevados níveis de OT têm maior grau de divertimento quando praticam desporto, uma vez que "competem" consigo próprias no sentido de melhorar as suas performances, sendo igualmente mais persistentes. (Duda, 2001). Não evitam grandes desafios com medo da possível derrota, desde que esta participação lhes traga uma mais valia na melhoria da sua performance.


O papel do treinador

    Após as constatações acima efectuadas torna-se pertinente referir a importância do clima motivacional criado pelo treinador, como influenciador das definições dos OR dos jovens nadadores. Trabalhos como os desenvolvidos por Ames (1992) sugerem que a predominante estrutura de orientação, percepcionada pelo meio envolvente, influencia atribuições causais, OR e interesses intrínsecos.

    Ou seja, é de notar que a OE e a OT estão, por vezes, condicionadas pelo contexto envolvente e pelo processo de socialização dos indivíduos. Nicholls (1989) sugere que os OR são resultado das experiências sociais que ocorrem durante a infância. Este ponto vem confirmar a visão de Duda e Whitehead (1998) de que o treinador pode criar dois tipos de ambiente entre os seus nadadores. Um clima de mestria, com situações que focam o processo de aprendizagem, o aperfeiçoamento pessoal e o esforço pela melhoria, profundamente relacionado com a OT, ou um clima de performance caracterizado por competições inter-pessoais, apreciação do público, feed-backs normativos e/ou teste de determinados atributos, que subjuga a uma OE.

    Elevam-se, então, das mais preocupantes questões da pedagogia do desporto. Como maximizar a motivação entre crianças? Como levá-las a esforçarem-se, divertirem-se e a ter experiências predominantemente positivas?

    De modo a optimizar a motivação dos jovens praticantes, torna-se necessário que os treinadores tenham em atenção dois factores essenciais, apesar de ser necessário ter em consideração que o clima criado pelo treinador pode ser antagónico do clima familiar.

    Assim, em primeiro lugar, há que tentar proporcionar um envolvimento desportivo de longo prazo entre as crianças. A maioria da população adulta tem uma vida sedentária, e pesquisas revelam que crianças com experiências positivas no desporto mais facilmente continuarão a sua participação em actividades físicas na sua vida adulta.

    Em segundo lugar, existe o desejo dos treinadores da excelência desportiva. Mas, esta deve ser controlada para prevenir o abandono da modalidade, visto que, muitas crianças talentosas parecem sofrer os efeitos do abandono antes de terem oportunidade de desenvolver todas as suas potencialidades.

    No entanto, o papel do treinador não é fácil visto que não é possível, nem realista, retirar do mundo das crianças uma componente tão importante do comportamento dos mais velhos e da vida social - a competição - cuja influência é, aliás, sentida e integrada pelas próprias crianças em todas as suas aprendizagens e em todos os seus comportamentos. Já em 1965, Neto (1965) discute que é assinalável o número crescente de crianças que são utilizadas numa prática de rendimento desportivo, levantando algumas preocupações quanto à salvaguarda de direito fundamentais. Sendo um fenómeno de dimensão internacional, não deixa de ser inquietante ver crianças (numa grande parte de modalidade desportivas) a serem submetidas a cargas de treino (trabalho infantil?) e a pressões psicológicas e afectivas à sua idade, com a finalidade de obtenção de condições de sucesso em competições desportivas.

    De acordo com Nicholls (1989) é, aproximadamente, a partir da idade de 12 anos que as crianças desenvolvem os seus OR e mostram uma tendência para serem mais e/ou menos orientadas para a Tarefa e Ego. Na visão deste autor as crianças são naturalmente orientadas para a Tarefa até desenvolverem uma madura compreensão das habilidades, que ocorre, para a maioria das crianças, entre os 12 ou 13 anos. Considera, então, que as crianças são incapazes de se orientarem para o Ego até compreenderem conceitos específicos necessários para a correcta avaliação da habilidade normativa.

    Treasure (2001) defende que no desporto de jovens, se é desejado que todos tenham sucesso, deve criar-se um contexto orientado para a Tarefa o que permite uma equidade motivacional e oportunidades para todos, e é comum ouvir grandes desportistas fazerem afirmações do género "Sinto-me mais satisfeito pelo meu desempenho desportivo do que com os meus resultados em termos de vitórias e derrotas", o que reforça a ideia de que um contexto de mestria é mais favorável.


Então, como colocá-lo em prática?

    Se a OT é tão desejada a nível da motivação, como podem os treinadores criar e manter um envolvimento que privilegie esta orientação? Será que os treinadores portugueses se preocupam realmente com o futuro das crianças ou pretendem somente bons resultados a curto prazo?

    A escassez de estudos a nível nacional é uma realidade, de onde emerge a necessidade de consciencialização da importância que um treinador pode ter ao nível da personalidade de um jovem desportista.

    A literatura da Psicologia do Desporto aponta para a importância do treinador em termos de influência psicológica, emocional, moral e comportamental do atleta em experiências desportivas a longo prazo. Esta influência pode ser positiva ou negativa dependendo do que o treinador enfatiza para os seus atletas (Balaguer et al., 2002). Este autor sugere investigações neste domínio, devido ao seu escasso número, essencialmente no que se refere aos desportos individuais, de maneira a se poder estabelecer uma relação com os desportos colectivos.


Bibliografia

  • Ames, C. (1992). Achievement goals, motivational climate, and motivation processes. In: G. C. Roberts (ed.), Motivation in Sport and Exercise, pp. 161-176. Human Kinetics, Champaign.

  • Balaguer, I.; Duda, J. L.; Atienza, F. L.; Mayo, C. (2002). Situational and dispositional goals as predictors of perceptions of individual and team improvement, satisfaction and coach ratings among elite female handball teams. Psych. of Sport and Exerc., 3 (4), pp. 293-308. Loughborough, Reino Unido.

  • Duda, J. L. (1992). Motivation in Sport Settings: A Goal perspective Approach. In: G. C. Roberts (ed.), Motivation in Sport and Exercise, pp. 57-92. Human Kinetics, Champaign.

  • Duda, J. L. (2001). Achievement Goal research in Sport: Pushing the Boundaries and clarifying some misunderstandings. In: G. C. Roberts (ed.), Advances in motivation in sport and exercise, pp. 129-182. Human Kinetics, Champaign.

  • Duda, J. L. e Whitehead, J. (1998). Measurement of goal perspectives in the physical domain. In: J. Duda (ed.), Advances in sport and exercise psychology measures, pp. 21-48. Fit Press, Morgantown.

  • Fernandes, R. (1999). Caracterização fisiológica, cineantropométrica e psicológica do nadador pré-júnior. Tese de Mestrado. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto. Porto.

  • Fonseca, A. M. (1999). Atribuições em contextos de actividade física ou desportiva: perspectivas, relações e implicações. Tese de Doutoramento. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto. Porto

  • Neto, A. C. (1965). Motricidade e jogo na infância (3ª edição). Sprint. Lisboa (2001).

  • Nicholls, J. G. (1989). The competitive ethos and democratic education. Harvard University Press, Cambridge.

  • Nicholls, J. G. (1992). The General and the Specific in the Development and Expression of Achievement Motivation. In: G. C. Roberts (ed.), Motivation in Sport and Exercise, pp. 31-56. Human Kinetics, Champaign.

  • Roberts, G. (1992). Motivation in Sport and Exercise - conceptual constrains and convergence. In: G. C. Roberts (ed.), Motivation in Sport and Exercise, pp. 3-30. Human Kinetics. Champaign, Illinois.

  • Treasure, D. C. (2001). Enhancing Young People's Motivation in Youth Sport: An Achievement Goal Approach. In: G. C. Roberts (ed.), Advances in motivation in sport and exercise, pp. 129-182. Human Kinetics, Champaign.

  • William, J. M. (1986). Psychological characteristics of peak performance. In: J. M. William (ed.), Applied Sport Psychology: personal growth to peak performance, pp. 123-132. Mayfield Publishing Company, Mountain View.

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revista digital · Año 12 · N° 115 | Buenos Aires, Diciembre 2007  
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