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Saúde, esporte, lazer e... deficiência (?):
entre políticas públicas e barreiras arquitetônicas / atitudinais

   
Professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO / Campus de Irati
Doutor em Educação Física - UNICAMP.
(Brasil)
 
 
Gilmar de Carvalho Cruz
gilmarcruz@onda.com.br
 

 

 

 

 
     É preciso termos em mente que uma determinada limitação definida por uma deficiência física (como a ausência de uma perna) jamais definirá uma pessoa. Uma pessoa que passa a usar cadeira de rodas após uma lesão medular, que nasce sem uma das pernas, ou tem uma delas amputada ao longo da vida é, e sempre será, antes de tudo, uma pessoa. As necessidades especiais por ela apresentadas não podem ser interpretadas como incapacidade e, muito menos, como condições que a impeçam de realizar suas necessidades e desejos de promoção da saúde, de prática esportiva e de participação em atividades de lazer. Não basta viabilizar a ida a hospitais e terapias, afinal de contas a vida humana não pode ser restrita a espaços sociais específicos pré-determinados.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 114 - Noviembre de 2007

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Introdução

    Vamos imaginar uma pessoa que não possui uma das pernas entrando em um clube ou em uma academia de natação. Provavelmente o estranhamento coletivo será grande, principalmente se essa pessoa estiver se encaminhando para a piscina com o claro intuito de nadar. E se for uma pessoa sem as duas pernas? E sem as pernas e os braços? Imaginá-la nadando seria uma grande sandice, não é mesmo? Só imaginar uma pessoa com essas características já pode ser assim considerado.

    Mas pensar que uma determinada limitação (seja ela de ordem sensorial, mental ou física como, por exemplo, a ausência de uma das pernas) significa impossibilidade, incapacidade de usufruir de determinados espaços sociais é um grande equívoco. Mais grave ainda é pensar que por conta dessa limitação, que objetivamente existe, uma pessoa não pode alimentar certas expectativas relacionadas à promoção da saúde, à prática esportiva ou à realização de atividades de lazer, como nadar ou, quem sabe, surfar.

    A história da humanidade é repleta de capítulos protagonizados por pessoas com necessidades especiais. O relacionamento social estabelecido com essas pessoas se deu, e se dá ainda, por intermédio de distintas perspectivas sobre o tema necessidades especiais - particularmente aquelas que dizem respeito a algum tipo de deficiência, como a deficiência física a título de ilustração. Divinas idéias de benção ou maldição, sacrifício, castigo, cura, educação, se fazem presentes ao longo dessa longa história.

    É comum em nosso cenário social atual a exposição de dados estatísticos indicadores de que cerca de 10 a 15% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência. Do ponto de vista da elaboração de políticas públicas esse é um dado de interesse. Mas no que se refere à necessária mudança de atitudes quanto à oferta de serviços profissionais e viabilização de espaços sociais para essas pessoas, essa é uma informação muito pouco relevante. Não se trata de uma questão exclusivamente econômica, administrativo-financeira, definida em função da relação custo-benefício. Uma pessoa deve, ou pelo menos deveria, sempre, justificar todo e qualquer investimento sócio-econômico nela empreendido.

    É preciso termos em mente que uma determinada limitação definida por uma deficiência física (como a ausência de uma perna) jamais definirá uma pessoa. Uma pessoa que passa a usar cadeira de rodas após uma lesão medular, que nasce sem uma das pernas, ou tem uma delas amputada ao longo da vida é, e sempre será, antes de tudo, uma pessoa. As necessidades especiais por ela apresentadas não podem ser interpretadas como incapacidade e, muito menos, como condições que a impeçam de realizar suas necessidades e desejos de promoção da saúde, de prática esportiva e de participação em atividades de lazer. Não basta viabilizar a ida a hospitais e terapias, afinal de contas a vida humana não pode ser restrita a espaços sociais específicos pré-determinados.

    Esse é um assunto que dever superar a banalização que em alguns momentos acompanha os debates sobre a inclusão social de pessoas que apresentam condições peculiares de atender a suas necessidades pessoais e às exigências sociais. Não adianta construir elevadores em ginásios se as pessoas não desejarem participar de espetáculos esportivos. As grandes barreiras que temos que enfrentar não são as arquitetônicas, não são a ausência de elevadores e rampas. A grande barreira por se destruir é atitudinal. A atitude do poder público, a atitude dos profissionais que oferecem serviços a todas as pessoas (dentre elas aquelas que apresentam necessidades especiais) e também a atitude das próprias pessoas, a despeito de suas mais peculiares necessidades.

    Quem sabe um dia o desejo de uma pessoa de freqüentar uma piscina, mesmo que ela não tenha braços e pernas, não nos cause mais estranhamento, assim como o aperto de mão dado a alguém que não tem mão não seja mais motivo de eterno comentário. Quem sabe um dia quando nascer um bebê nosso primeiro impulso seja pegá-lo no colo, antes de contarmos braços, pernas, dedos. Quem sabe um dia sejamos indiferentes às diferenças que se manifestam em nossas relações cotidianas e não nos cause mais estranhamento uma pessoa sem perna nadando, surfando... e por aí à fora.


Lista de figuras, disponíveis em:

  1. http://www.paraolimpiadas2004.kit.net/fotos.htm

  2. http://www.piratasurf.com.br/galeria.asp?foto=78&secao=1#ancora

  3. http://waves.terra.com.br/galeria_miolo.asp?idfoto=44973&chaves=pararadical+waves

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revista digital · Año 12 · N° 114 | Buenos Aires, Noviembre 2007  
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