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Estudo descritivo das relações interpessoais de
um time de futebol juvenil de um clube de Porto Alegre

   
*Feevale/NH, Ulbra/Canoas, UCO/Espanha.
**PUCRS.
**PUCRS.
***Ulbra/Canoas, UCO/Espanha.
****Ulbra/Canoas.
(Brasil)
 
 
Marcio Geller Marques* | Nedio Seminotti**
marciogmarques@yahoo.com.br | nedios@pucrs.br  
Marta Regina Cemin** | Benno Becker Jr.***
martacem@terra.com.br | bennojr@terra.com.br  
Alexandre Machado Lehnen****
amlehnen@terra.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Pressupomos que conhecer o inter-relacionamento entre os jogadores em grupos/equipes esportivas de futebol contribui na obtenção de coesão/união entre os jogadores, o que poderá trazer como conseqüência bons resultados à equipe. Na prática, isto foi evidenciado por diversos grupos/equipes que tinham como característica principal a união e que se tornaram campeões. Este estudo, com referencial teórico na teoria moreniana e na psicologia do esporte, tem como objetivo descrever as relações interpessoais de uma equipe de futebol juvenil de um clube de Porto Alegre, a partir de mapas descritivos e compreensões obtidas através do teste sociométrico. O instrumento utilizado foi o teste sociométrico criado e elaborado por Moreno. A amostra constitui-se de 32 jogadores da categoria juvenil (16 a 17 anos) do sexo masculino. Como resultado evidenciou-se um grupo/equipe no qual dois atletas obtiveram maior número de escolhas, significando duas lideranças. Em contrapartida, três jogadores não foram votados, ou seja, estão isolados no grupo/equipe. Os resultados indicam que os recursos da psicologia do esporte junto ao treinador, preparador físico e treinador de goleiro são apoios importantes para proporcionar a coesão/união do grupo.
    Unitermos: Futebol. Adolescente. Grupo. Equipe esportiva. Sociometria.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 114 - Noviembre de 2007

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Introdução

    Sabe-se da importância dos inter-relacionamentos em grupos/equipes1 esportivas. Habilidades relacionais como perceber o outro, como se é percebido e articular-se no grupo são fundamentais para o sucesso do grupo/equipe, uma vez que favorecerá a coesão entre os jogadores. Afirmações como "o grupo estava desunido", "cada um jogava por si", ou, em contrapartida, "o grupo estava unido" ou "o grupo está fechado" são comuns no esporte coletivo, e as últimas surgem freqüentemente nas equipes que vencem.

    Um grupo/equipe esportivo deve permanentemente discutir as relações entre os participantes, trabalhar questões grupais, uma vez que é constantemente permeado por fatos que o modificam. A mudança é inevitável, considerando-se, além de outros fatores, a dinâmica peculiar do futebol. Por exemplo, existem momentos em que o grupo/equipe encontra-se vitorioso, mas em outros está em má fase. Além disso, existem fatores individuais que afetam cada jogador, que, por sua vez, dinamicamente modifica o grupo/equipe. Segundo Rubio (2003) todos estão implicados no processo de manutenção do grupo/equipe, no que diz respeito tanto às próprias tarefas a executar, como às atitudes no sentido de fortalecer cada vez mais a coesão da equipe e obter bons resultados. Em outras palavras, é imprescindível haver um entendimento dos papéis e funções de cada jogador na equipe, a fim de que haja uma comunicação e um relacionamento adequados ao atingimento dos objetivos do grupo.

    Neste artigo nos fundamentamos na teoria socionômica para compreensão do grupo/equipe esportiva. A partir desse referencial, a pessoa - neste caso o atleta - constitui-se, ao longo da vida, por meio de suas relações interpessoais. A ênfase está nas interações estabelecidas com tudo o que a cerca, a partir de relações primitivas que Moreno denominou de matriz de identidade2. A tele é o fundamento de todas essas relações, definida como o processo pelo qual as pessoas se atraem ou se repelem mutuamente durante toda a vida. Tele é o próprio relacionamento, fundamento de todas as relações interpessoais, dando sentido a elas (MORENO, 1999, p. 45; WILLIAMS, 1998, p. 56). Para a socionomia, o homem é um ser social, nascido em sociedade e necessitado de outra pessoa para constituir-se. Moreno atribuiu importância ao encontro entre pessoas e à força, à dinâmica do momento aqui e agora e todas as suas implicações pessoais, sociais e culturais relativas às relações (GONÇALVES, 1988; FOX, 2002; FONSECA, 1980; ELMOS, 2002, MORENO, 1997).

    A partir dessa perspectiva, fundamos a compreensão do processo grupal inerente ao esporte coletivo. Nosso objetivo é descrever as inter-relações de uma equipe de futebol juvenil de Porto Alegre através de mapas sociométricos e de tabelas elaboradas a partir deles, que a seguir são analisadas.


O que é a sociometria?

    As raízes da sociometria começaram com as experiências de Moreno em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Para Fox (2002), a criação do teste sociométrico foi uma importante contribuição para a compreensão da dinâmica dos grupos. A expressão "conhece-te a ti mesmo" (p. 58) poderia ser aplicada aos grupos em sua totalidade, desde que por meio de um processo em que cada membro se tornasse um "experimentador" ativo e em que os investigadores fossem também investigados. Quer dizer, mesmo que tenha a denominação de teste, a sociometria supõe que todos se envolvam no processo de avaliação e transformação do grupo, inclusive o pesquisador/sociômetra, e que todos participantes conheçam as produções que realizam, para que estas sejam causas geradoras de outros processos e produções.

    Moreno (1992, 1999, p. 162, p. 35) define o teste sociométrico (socius = companheiro; metrum = medida). De um lado, dá ênfase ao estudo matemático de características psicológicas dos conjuntos sociais, a partir de métodos quantitativos, que registram as atrações e rejeições que existem entre os membros de um grupo. De outro, quando sublinha o socius, põe em evidência o ser humano em relação. O teste sociométrico é um instrumento que possibilita investigar os vínculos - de modo geral desconhecidos - entre pessoas, mapeá-los e permitir que sejam vistos e compreendidos na configuração do grupo: forças de atração e afastamento, interações e comunicações emitidas e recebidas pelos participantes de um grupo. Além disso, é um método de ação-investigação feita em status nascenti, no aqui-e-agora dos grupos e a partir do seu interior, que pode ser quantificado. Como afirma Fox (2002, p.17) sua essência repousa na idéia de que os grupos possuem vida interna, podendo esta ser compreendida pela análise das escolhas que seus membros fazem entre si, em dado momento.

    A sociometria necessita de uma etapa inicial de preparação/sensibilização, denominada aquecimento grupal, para estimular seus participantes a conquistar um estado espontâneo que possibilite explorar perguntas sobre suas relações em seu grupo de pertença, em relação ao grupo, e, a partir destas, compor outra geral, ou eleger a mais importante a ser respondida pelos participantes do grupo. A pergunta emergente eleita serve de critério para que se explore o tema grupal emergente, em torno do qual cada membro do grupo revelará seus movimentos de atração e/ou rejeição e/ou neutralidade aos seus colegas, possibilitando a composição de um mapa da configuração grupal (WILLIANS, 1998). O caráter da pergunta - profissional, afetivo, ou outro que emerja do processo do grupo, sem ter sido trazido pelo pesquisador - deverá implicar escolha individual de atração, neutralidade ou rejeição em relação a cada um dos companheiros, revelando, assim, a dinâmica grupal (CEMIN e SEMINOTTI, 2006). As escolhas podem ser mútuas, recíprocas, ou sem reciprocidade. O conjunto de escolhas cria um mapa de grupo que traduz as redes sociométricas, a composição de subgrupos e a existência de participantes não escolhidos (isolados). No mapa sociométrico, ficam evidentes os subgrupos, os isolados, os líderes, as duplas e as cadeias. Segundo (Moreno, 1994, p. 127), quanto maior o número de estruturas isoladas, menor será o padrão de integração; e, quanto maior o número de atrações mútuas, maior será o padrão de sua integração. As atrações mútuas são solo fértil para a harmonia grupal e para o aparecimento maior de estruturas complexas, mas a ocorrência de mutualidades em certo subgrupo não implica integração com o grande grupo. Moreno (1999) afirma, além disso, que, quanto mais mutualidades, isto é, escolhas télicas, maior será a coesão do grupo. Este tipo de escolha só ocorre quando há uma coincidência de escolhas. Ou seja, quando uma pessoa escolhe quem ela sabe que a escolherá, o que significa que há um conhecimento recíproco. Para Moreno, coesão e tele estão intimamente ligadas, ou seja, a tele define as forças de coesão dentro do grupo desde seus primeiros encontros, de modo a manter as dinâmicas e diferentes formas de agrupamento. Significa dizer que a coesão está intimamente ligada à percepção fidedigna do outro: "sei quem vou escolher" e, além disso, "eu percebo quem vai me escolher". Em outras palavras, "A coesão interna do grupo original é uma função do tele", ou "Tele é aquilo que mantém o grupo e faz surgir a sua coesão" (MORENO, 1999, p. 65, 75, 76).

    Para Aguiar (1990), o teste sociométrico, como instrumento de investigação científica, faz um corte na realidade e fixa um determinado momento, como em uma lâmina microscópica. Através da observação da lâmina, pode-se, por exemplo, descrever a estrutura histológica de um tecido. O teste sociométrico permite, da mesma forma, um estudo sistematizado das relações do grupo em questão. Um corte histológico nos mostra uma parte do órgão e abstrai a dinâmica desse mesmo órgão quando vivo e inserido no organismo total. O mesmo ocorre com o teste sociométrico: ele nos permite ver o grupo em um dado momento de acordo com um critério (visão) determinado. Podem-se observar as redes de ramificações múltiplas que englobam o indivíduo. Além disso, afirma Moreno (1999), a análise cuidadosa do sociograma oferece ao sociometrista indícios sobre como intervir no tecido social do grupo para desenvolver a coesão.

    Conforme Williams (1998, p. 152), as explorações sociométricas revelam estruturas ocultas que dão ao grupo sua forma: as alianças, as crenças ocultas, os temas proibidos, os acordos ideológicos, as "estrelas" do show, etc. A sociometria centra-se nas conexões que existem entre membros de um grupo e revela algumas motivações individuais para sua constituição. Dito de outra forma, o grupo revela um determinado arranjo de suas relações, tais como relações de poder, de valores ou papéis, que, na literatura de psicologia de grupo, é a denominada estrutura do grupo (GONZÁLEZ, 1996). Segundo as palavras de Moreno (1994, p. 126) "chamamos as formas assumidas pela inter-relação de indivíduos de estrutura e a figura final formada por estas, em um grupo, sua organização." A sociometria desvela a estrutura não formal do grupo, o que está por detrás da estrutura formal. Estas duas, a estrutura formal e a sociométrica, podem coincidir em certos pontos e divergir em outros; a dinâmica das duas produz a realidade social do grupo (MORENO, 1999, p. 75). A compreensão desta dinâmica grupal possibilita o entendimento dos processos e relações subjacentes à estrutura, a fim de que se possa, através destes subsídios, intervir na direção de maior coesão grupal.

    Como este estudo refere-se a equipes esportivas, no tópico a seguir discutiremos o grupo/equipe no esporte.


Equipes esportivas

    Uma equipe esportiva é um grupo especial. Apresenta características dinâmicas derivadas da atividade esportiva, tendo como identidade e objetivo formal a vitória frente a equipes adversárias, o que implica, necessariamente, a cooperação entre os atletas, da qual todos devem participar. Todos dependem uns dos outros, assumindo objetivos comuns.

    Equipe e grupo, a partir desta perspectiva, são diferentes, sendo uma das características que fundamentam a passagem de um grupo a equipe esportiva a freqüente proximidade física durante os longos espaços de tempo necessários e importantes na história de vida do atleta, os quais envolvem treinamentos, convivência nos vestiários, concentração, viagens, além da convivência no campo do jogo. Além disso, os uniformes, cânticos, rituais especiais muitas vezes ajudam o treinador a desenvolver o conceito de equipe. Estas condições em si mesmas não se constituem único fator desencadeador de vínculo da equipe; porém, de qualquer forma, são catalisadores importantes para o processo grupal, na mediada em que provocam interações repetitivas e obrigatórias, movendo o grupo na direção da equipe (GARCÍA-MAS, 2001; WEINBERG & GOULD, 2001).

    Em outras palavras, nos grupos/equipes esportivas faz-se necessário que seus integrantes o considerem uma unidade em si mesmo, ou seja, o vivenciem como identidade coletiva. Essas interações tornam-se possível, como relata Becker (2000), quando há o sacrifício da individualidade para facilitar o rendimento grupal da equipe. Figueiredo (2000), por sua vez, na mesma linha de raciocínio, afirma que a unidade do grupo prevalece sobre as preferências dos atletas. "A unidade do time é um alicerce sobre o qual o grupo irá crescer e ter sucesso e é essencial para a existência do grupo" (p. 120).

    A coesão é uma conquista obtida na inter-relação entre atletas e comissão técnica. Como produto/resultado do processo grupal, vai gerar outros processos, como, por exemplo, a construção de um terreno firme para o desenvolvimento do jovem atleta, dando-lhe apoio e condições para superar os desafios inerentes à atividade esportiva. Em outras palavras, para que haja crescimento mútuo e coesão dentro do grupo/equipe, é essencial que seus participantes aceitem a maneira de pensar e de agir dos outros, e que cada um procure desempenhar o seu papel da melhor maneira possível (MARQUES, 2003).

    Em síntese, a coesão é questão central no estudo de grupos/equipes esportivas. Uma equipe somente será uma equipe quando puder estabelecer entre si comunicações que revelem integração e percepção do outro. A coesão estabelece um clima de confiança, um terreno firme para a realização dos objetivos da equipe.

    Na continuidade do estudo, detalharemos o método utilizado e a análise dos resultados, pressupondo que o entendimento dessas estruturas grupais aqui reveladas darão subsídios para futuras intervenções com vistas a promover coesão grupal.


Método

    O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa transversal descritiva. Através desta, objetiva-se observar, descrever e analisar as inter-relações de um time de futebol de Porto Alegre em um dado instante, correlacionando fatos ou fenômenos sem manipulá-los. Segundo Cervo & Bervian (p. 49, 2002), este tipo de pesquisa procura conhecer situações e relações que ocorrem na vida social, aspectos do comportamento humano, isoladamente ou em grupos, e comunidades mais complexas.


Instrumento

    A aplicação do teste sociométrico na sua forma completa ocorreu em aproximadamente 10 encontros. A partir dos resultados obtidos nos primeiros encontros, foi possível construir os mapas grupais denominados sociogramas e tabelas. A posição de cada participante do grupo/equipe fica clara através dos dois registros.

    Neste estudo, os registros citados são o objeto de nossa análise, produtos do teste sociométrico. Tanto um como outro foram construídos pelos atletas e pesquisador. Os atletas foram estimulados a descobrirem quais as perguntas que se faziam sobre suas relações no grupo/equipe, e, a partir destas, compor outra, geral, ou eleger a mais importante para o grupo. Como resultado desse processo, cada participante respondeu individualmente a seguinte pergunta: "quem eu convidaria para ir a uma festa?", indicando, por ordem de preferência, três colegas de equipe. As perguntas foram reveladas ao grande grupo, e este processo, no conjunto, caracterizou intervenção e compreensão das estruturas grupais naquele momento de análise. O mapa grupal deste estudo é o primeiro mapa revelado pelo grupo, ou seja, o dos primeiros encontros. O mesmo grupo foi posteriormente trabalhado, mas esta intervenção não é o nosso foco de atenção. Destacamos, aqui, a análise desta primeira estrutura grupal revelada pela sociometria.


Resultados e discussão

    A partir da tabela construída com base nos resultados do teste sociométrico aplicado conforme metodologia já citada, obteve-se o panorama de votos apresentado no quadro 1.

    Nas colunas estão dispostos os votantes, e nas respectivas linhas estão dispostos os atletas votados, por ordem de preferência (P1, P2 e P3). Conforme se pode observar, existe uma região de votos que varia de 0 (nenhum voto) até o máximo de 7 votos. A estatística descritiva aperfeiçoa e elucida melhor os dados da pesquisa, fornecendo uma tabela de freqüência (Tabela 1 - Freqüência dos Votos do Sociograma), a qual é apresentada abaixo.

    O maior número de votos, segundo o Quadro 1, foi atribuído ao atleta 1 e ao 28, com 7 votos. Por outro lado, três atletas não receberam votos (nenhum). São os atletas 12, 17 e 27, o que se torna um fator preocupante em termos de grupo, pois não estão integrados na equipe . A média de votos para a amostra estudada foi de 3,0 ± 1,9 votos, atingindo uma amplitude de 1,1 até 4,9 votos. Portanto, os atletas que receberam menos que 1,1 e mais que 4,9 votos estão fora da região padrão dessa amostra. Essa região está destacada na tabela de Freqüência dos Votos. Os participante do grupo são escolhidos na média de 2 a 4 vezes, representando 59,37% do grupo. São poucos os atletas que possuem mais de quatro (4) votos, ou menos de dois (2), ou seja 18,76% teve de 0 a 1 voto e 28,13% mais de quatro (4) votos. Além disso, no total de 96 votos possíveis, foram identificados 42 votos correspondidos, ou seja, 21 mutualidades. Em uma visão geral, pode-se dizer que o grupo obteve 43,75% de escolhas télicas.


    Dada a descrição das tabelas e dos mapas, seguimos na discussão dos dados.

    A categoria juvenil é constituída por atletas participantes da equipe no seu segundo ano e atletas provenientes da categoria infantil. Os três atletas que estão isolados procedem da categoria infantil, assim como os que estão constituindo um dos subgrupos (azul). Estes parecem que fazem escolhas a partir de relações já existentes no grupo de origem. O mesmo não acontece com os atletas que fazem parte do grupo infantil que não fazem escolhas entre si. Ou seja, estes buscam uma relação no grupo em que estão ingressando, porque dirigem suas escolhas a atletas do grupo juvenil, mas não têm reciprocidade. Os atletas não oferecem reciprocidade, assim como não oferece sua categoria de origem. Os atletas da equipe infantil, portanto, saem de um grupo de pertença para um grupo de referência, no qual ainda não encontram confirmação dessa pertença. Levando isso em consideração, precisamos ponderar que é um grupo em início de temporada, tentando constituir-se como equipe. Dito de outra forma, é um grupo em início de temporada constituindo-se como equipe.

    Neste sentido, os subgrupos ou duplas isoladas provavelmente serviram como estratégia de pertencimento a um novo grupo; no entanto, sabe-se que estas estruturas sociométricas fechadas em si mesmas, frente ao grande grupo, não o favorecem no sentido da formação coesa necessária nas equipes esportivas, uma vez que geram circuitos fechados de comunicação, dificultando a integração grupal. Inúmeros atletas sem reciprocidades, subgrupos e duplas isoladas indicam, assim, um grupo que ainda transita no sentido de constituir-se como uma equipe. Evidencia-se a necessidade de um trabalho permanente da psicologia do esporte que mantenha os atletas atualizados quanto a suas dificuldades ou facilidades de inter-relação, de modo que o grupo, futura equipe, se mantenha atualizado e sabedor frente às suas dificuldades ou facilidades, de modo a cumprir o objetivo comum de todos: ter ótimo rendimento e conquistar o título de campeão.

    Por outro ângulo, no sociograma, além dos subgrupos, duplas e isolados já citados, existe uma rede sociométrica complexa de escolhas múltiplas/recíprocas, dando inicio à criação de um núcleo de grupo com um bom padrão de integração e coesão grupal.


O padrão de integração ou coesão grupal

    Nesta rede há um fluir da comunicação entre colegas, ao que tudo indica coesos entre si. As lideranças também fazem parte dessa rede indicando ser essa região grupal a de maior atração em relação aos seus participantes. Em outras palavras, o grupo movimenta-se para esta região observando-se, além das escolhas recíprocas, escolhas sem reciprocidade dirigidas aos líderes, parte desta rede complexa. Sendo assim, esta rede, pela matriz consistente que gera, poderá facilitar a pertença/inclusão dos recém-chegados ao grupo a partir do trabalho da psicologia do esporte.

    O conhecimento da visão e da análise do sociograma oferece elementos para que o sociomêtra dirija suas intervenções na busca da coesão da equipe. Apontam-se os recursos socionômicos como aportes de grande valor e eficientes no trabalho da psicologia do esporte, na medida em que estuda e cria condições para visualização e intervenção em grupos. No caso específico deste grupo/estudo, fica evidente a necessidade do trabalho da psicologia para a formação coesa da equipe. Uma vez que qualquer grupo/equipe necessita de redes consistentes e coesas, pois estas são inerentes ao próprio esporte coletivo, pergunta-se como teriam se integrado as duas redes sociométricas - atletas do infantil e atletas já participantes há um ano na equipe juvenil.

    Além disso, como nos referimos a jovens que se preparam para a vida dentro do futebol profissional ponderamos ser este grupo de pertença de grande importância não só dentro do campo de futebol, mas também na vida de cada um deles fora dos treinos e jogos. Sabe-se que freqüentemente, ou quase sempre, as equipes de futebol são formadas por jovens oriundos de diferentes regiões do Brasil.

    O estudo socionômico deste grupo ocorreu em março de 2005. A psicologia do esporte, através de seus profissionais, interveio ao longo de toda temporada, e, ao final do campeonato estadual, em agosto, a equipe sagrou-se campeã, título até então inédito para o clube.


Notas

  1. Neste estudo optamos por utilizar grupo/equipe porque de acordo com a literatura nem sempre um grupo é uma equipe. Pode-se pensar num grupo transformando-se em equipe. Sendo assim, entendemos que a palavra composta cria a idéia de que por vezes pode ser um grupo esportivo e por vezes uma equipe esportiva.

  2. A matriz de identidade é o lócus no qual a criança se prende. Esta matriz é constituída pelo grupo social ao qual pertence e do qual depende (FONSECA, p. 18, 1980)

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