O jogo de râguebi como objecto de estudo | |||
Treinador e antigo jogador de Râguebi da I Divisão. Lic. Educação Física e Desporto (UTAD). Mestre em Alto Rendimento Desportivo (COES). |
Luís Miguel Teixeira Vaz lvaz@utad.pt (Portugal) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 114 - Noviembre de 2007 |
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Introdução
Hoje, torna-se curioso constatar como é notável o impulso cultural, social e económico que se vive em redor do jogo de râguebi. Os estudos sobre a modalidade e em especial sobre o jogo do râguebi, nem sempre se realizaram de uma forma estruturada, sendo habitual a utilização de modelos parciais que pretendem explicar a totalidade e a complexidade dos factos. Procuram-se obter respostas rápidas através de factores ou variáveis particulares pouco esclarecedoras e objectivas em relação ao jogo. Esta tendência pode constatar-se pela quantidade de modelos desenhados por exemplo a partir de parâmetros condicionais e fisiológicos que pretendem do nosso ponto de vista pouco mais que reduzir uma modalidade desportiva ao nível de desenvolvimento de tais variáveis. Tendo em conta este quadro que se nos apresenta, pensamos ser pertinente realizar mais estudos de âmbito científico, em relação a um conjunto coerente de categorias e de indicadores que possibilitem centrar a recolha de informação a propósito da prestação de treinadores, de jogadores e respectivas equipas, tendo como referência fundamental a dimensão táctica do jogo no sentido de também nesta área se poder acompanhar o desenvolvimento que a modalidade evidencia.
O jogo de râguebi como objecto de estudoNo râguebi, o objecto de estudo mais utilizado nos últimos anos tem sido a análise de morfotipos, prestações motoras, capacidades funcionais, lesões e relatórios de observação em que dados são explorados de forma quantitativa e numérica. Neste contexto, facilmente diagnosticamos uma área pouco explorada a análise de jogo em râguebi (Vaz, 2000). Da literatura revista, constatamos que de facto existem estudos que se importam com o jogo mas poucos são os que o fazem como análise de jogo: (Coupon,1970; Deleplace,1978; Greenwood,1979; Smith,1979; Usero,1986; F.F.R,1989; Bell,1989 Doucherty, 1989; Menchinelli, 1989; Godemet, 1989; Peys, 1990; Herrero, 1990; Hazeldine, 1991; Treadwell, 1992; Milburn, 1993; Villepreux, 1994; Conquet, 1994; Carreras & Sola,1997; Sarthou,1997; Carter, 1999; Devaluez, 2000; Vaz, 2000; Reilly,2001, Huges;2003; Lambert,2003).
Muitas modalidades têm utilizado a metodologia observacional e a análise do jogo nos seus estudos.
A natureza e âmbito dos mesmos, requerem uma adequação de importantes requisitos básicos que devem sempre ser tidos em conta. No râguebi é notória a ausência destes mesmos requisitos o que pode induzir a interpretações de diferentes naturezas. Actualmente nos jogos de râguebi tende-se a observar em primeiro lugar o desempenho colectivo e em segundo lugar o desempenho individual de cada jogador. Os elementos observados ao nível de jogo colectivo têm incidência sobre os momentos do jogo: (i) Momentos fixos: formação ordenada, alinhamento, penalidades, (ii) Momentos dinâmicos do jogo: jogo á mão, jogo ao pé, jogo agrupado; jogo aberto. Em termos de análise individual, são observados principalmente os elementos técnicos do jogo: placagens realizadas e falhadas, pontapés, passes, mudança de direcção e a forma como o jogador utiliza a posse de bola: abrir ou fechar o jogo com o objectivo de ultrapassar a linha de vantagem.
A análise do jogo de râguebiA análise do jogo de râguebi é hoje um instrumento indispensável para a avaliação e conhecimento das variáveis estruturais e funcionais das performances de jogadores e equipas. Consideramos ser de extrema importância a pesquisa de um saber mais profundo sobre a modalidade para uma melhor intervenção técnica, táctica e pedagógica do treinador. A análise de jogo de râguebi permite estudar, quantificar e qualificar as efectividades das acções em muito domínios de jogadores e equipas, salientando os factos e comportamentos relevantes que contribuem para o rendimento. A identificação e caracterização de alguns requisitos pode revelar um verdadeiro instrumento de controlo e avaliação das performances. A análise de jogo confere assim a possibilidade de uma vasta gama de conhecimentos e informações possíveis de serem avaliados, analisados e acima de tudo exploradas sobre a qualidade do jogo em si, de jogadores e equipas com transferes para o treino e competição.
Objectivos gerais para uma análise do jogo de râguebiO estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores e das equipas tem vindo a constituir um forte argumento para a organização e avaliação dos processos de ensino e treino nos jogos desportivos colectivos (Garganta, 1997). No âmbito dos jogos desportivos colectivos, a valência e análise do jogo tem vindo a constituir um argumento de crescente importância. Este facto pode ser explicado pelas virtudes que se lhe reconhece, traduzidas quer no aporte de informação que daí pode resultar para o treino, quer nas potenciais vantagens que encerra para viabilizar a regulação da prestação competitiva. Procura-se optimizar os comportamentos dos jogadores e das equipas na competição a partir, da análise das informações importantes acerca do jogo. Estas quando devidamente sistematizadas e configuradas permitem uma regulação dos modelos de jogo que possibilitam não só melhorar os métodos de treino, como adquirir estratégias mais eficazes em competição. De uma forma indirecta indicia também as tendências evolutivas do próprio jogo como consequência do princípio da especificidade. Nesta lógica de raciocínio a análise do jogo realizada a partir da observação da prestação dos jogadores e das equipas, tem constituído um meio importante para aceder ao conhecimento do jogo (Mombaerts, 1991). Actualmente são poucos os investigadores que têm procurado entender os constrangimentos que caracterizam o râguebi a partir da identificação de certas acções que ocorrem com carácter de regularidade. Esta mesma análise só é válida se for sistemática e os propósitos da observação estiverem claramente definidos. Verificamos, que uma das tendências na análise observacional dos jogos de râguebi por parte dos diferentes observadores, analistas e centros técnicos prende-se com a detecção das acções de jogo mais representativas ou críticas, com o intuito de perceber os factores que induzem perturbação ou desequilíbrio na relação defesa/ataque e nas situações que conduzem à obtenção de pontos. Se por um lado é escasso o tempo que se permite informar na televisão sobre o jogo o que exige informação perceptível e rápida a todos os telespectadores por outro não invalida que a mesma informação fique por ai em termos de análise do jogo.
Objectivos específicos para uma análise do jogo de râguebi
Avaliação das performances dos jogadores e das equipas;
Caracterização de perfis energéticos e funcionais do jogo, dos jogadores e equipas;
Avaliação das características técnico-tácticas das equipas e jogadores;
Obtenção de indicadores que possam ajudar para o planeamento de treino e competição;
Avaliação dos momentos chave do jogo;
Determinação da eficiência técnica e táctica em jogo;
Estudo de sistemas de organização táctica colectiva,
Recolha de informação sobre as formas de organização adversária,
Melhoria e optimização das estratégias de treino e jogo; individuais e colectivas;
Percepção de variáveis de rendimentos e de resultados;
Registo; Avaliação; Memorização; Correcção de condutas observáveis;
Quantificação e qualificação de variáveis de estudo;
Monitorização e acompanhamento de diferentes parâmetros de jogadores;
Utilização de novos meios de análise, registo e interpretação de dados durante o jogo;
Avaliação dos erros; Conhecimento de resultados e feedbacks;
Análise dos procedimentos pedagógicos, psicológicos e formas de intervir no treino e competição;
Avaliação de condutas e formas de abordagem nos processo de ensino, treino e competição.
Tipos de análise em relação ao jogoA observação técnica no âmbito desportivo, tem sido associada ao desempenho desportivo através da análise qualitativa do movimento e através de parâmetros quantitativos, segundo critérios qualitativos. Ao nível do treino desportivo, a investigação observacional passa por (i) sistematizar o fenómeno desportivo que se deseja estudar; (ii) conhecer as particularidades dos movimentos; (iii) conhecer as condições externas; (iv) caracterizar os sujeitos em análise; (v) conhecer as particularidades dos métodos de ensino; (vi) conhecer conteúdos da modalidade em questão. Estes passos permitem: (i) identificar (descrever); (ii) objectivar (medir, controlar e descontextualizar); (iii) conceptualizar (relacionar, interpretar, integrar); (iii) diagnosticar (prescrever) no sentido de planificar e programar a curto, médio e longo prazo o processo de treino ou aprendizagem. Como já foi referido, os investigadores cada vez mais têm dedicado o seu estudo para a compreensão de componentes do jogo, ou seja, tentam simplificar a grande complexidade que envolve os jogos desportivos colectivos com incidência nos aspectos técnicos e tácticos.
Análise quantitativaPreocupa-se com a enumeração dos acontecimentos (acções de jogo) que ocorrem ao longo dos jogos, com base num conjunto de comportamentos pré-determinados e que na sua maioria são baseados em acções de natureza técnica e/ou táctica. Este tipo de análise poderá realizar-se e incidir sobre as acções da equipa ou sobre as acções individuais de cada um dos jogadores. Exemplos deste tipo de análise são, a análise de aspectos como o tempo útil de jogo, o número de ataques de uma equipa, o número de passes certos e errados de uma equipa e ou jogador, o número de pontapés, a eficácia defensiva de uma equipa e outros aspectos passíveis de quantificação.
Análise qualitativaProcura entender o global através de uma capacidade interpretativa dos dados provenientes da realidade em causa, sem os dividir. Isto permite uma análise mais dirigida para se poder compreender e descrever o porquê de tais realidades. Este tipo de análise, difere do tipo de análise quantitativa, centrando-se na procura dos comportamentos de êxito ou fracasso da equipa(s) e jogadore(s). Por norma, esses valores são expressos através de percentagens de sucesso e acções originárias de resultados. A descrição destes comportamentos poderá em alguns casos revelar a existência de alguns "automatismos" (jogadas tácticas) que permite a organização ou reorganização da equipa. Outros exemplos de indicadores deste tipo de análise são as zonas de marcação de pontapés, faltas ou penalidades, erros, pontos marcados por cada jogador, passes realizados entre os jogadores e uma série de outros indicadores possíveis de serem caracterizados qualitativamente. De igual modo, consideramos ser importante separar estas duas realidades na forma de estudar o jogo de râguebi se bem que alguns autores tendem em confundir as mesmas.
ConclusõesNo râguebi, as competições desportivas de elevado nível são momentos privilegiados para se proceder à observação e análise do comportamento dos jogadores e das equipas. (Vaz, 2000). A utilização da metodologia observacional como estratégia do método científico surge como uma opção válida e muito útil, pois tem como objectivo a análise da conduta espontânea de um sujeito num determinado contexto. Na verdade, pretende-mos contribuir para que se possam encontrar respostas a questões metodológicas não sustentadas em termos científicos na literatura específica sobre sistemas de informação e análise de jogos de râguebi. De igual modo pretendemos reforçar e validar a importância que a observação e estudo do jogo de râguebi tem e que tipo de soluções e respostas pode permitir dar aos diferentes intervenientes do jogo.
Referências bibliográficas
Garganta, J. (1997). Modelação da dimensão táctica do jogo de futebol. In Estratégia e táctica nos desportos colectivos: 63-82. J. Oliveira & F.
Mombaerts, E. (1991). Football de l´analyse du jeu à la formation du joueur. Ed. Actio. Joinville-le-Pont. France.
Vaz; L. (1997). Análise do jogo de rugby actual. Análise técnica e táctica.
Vaz; L. (2000). Tendência evolutiva do jogo de rugby - Tese de Mestrado em Ciências do Desporto. C.O.E - Madrid.
Vaz; L. (2004). Diferenças do jogo de rugby praticado no Hemisfério Norte e Hemisfério Sul.
Revista Digital - Educación Física y Deportes: http://www.efdeportes.com/efd49/rugby.htm.
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