Por uma Universidade Empreendedora: o papel da pós-graduação no modelo da hélice tríplice |
|||
*Centro Universitário Augusto Motta - Rio de Janeiro - RJ. **Universidade Salgado de Oliveira - Niterói - RJ. (Brasil) |
Branca Terra* brancaterra@unisuam.edu.br Carlos Alberto Figueiredo da Silva** ca.figueiredo@yahoo.com.br Sebastião Josué Votre* | Saulo Roni Moraes* Kátia Eliane Santos Avelar* |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 113 - Octubre de 2007 |
1 / 1
Introdução
O Brasil tem grandes desafios no século XXI, dentre os quais sobressaem impulsionar o desenvolvimento nos bolsões de pobreza que se verificam em todas as regiões geográficas e diminuir a desigualdade entre pobres e ricos. O país necessita, com urgência, de estratégias para a implantação de programas que contribuam, de forma efetiva, para a transformação da sua sociedade, possibilitando a geração e distribuição mais eqüitativa da riqueza. Dentre as estratégias de melhor eficácia, estão as que contam com a educação como meio.
Urge adotar parâmetros eficazes e flexíveis de gestão educacional, pois o desenvolvimento se mede por meio de indicadores que demonstram a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Esses parâmetros devem favorecer o movimento cíclico, espiral, cumulativo e contínuo do processo criativo e inovador, conforme preconizado no modelo da hélice tríplice, que articula universidade, empresa e governo.
Este trabalho apresenta um estudo de caso de ensino, de um programa multidisciplinar de educação continuada em cursos de pós-graduação lato sensu, no Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM, no qual se privilegia a formação empreendedora, em sete diferentes áreas do conhecimento (Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra, Lingüística-Letras-Artes, Ciências da Saúde e Ciências Biológicas).
Na concepção das disciplinas que promovem a formação empreendedora, privilegia-se o conhecimento sobre as múltiplas manifestações dos atores universidade, empresa e governo, dentro da abordagem da hélice tríplice. Discutem-se alternativas para esses atores desempenharem seu papel na indução do desenvolvimento local.
O modelo teórico da hélice trípliceNo modelo da hélice tríplice, adotado como referencial teórico para o desenho da arquitetura das disciplinas do Módulo de Gestão Empreendedora, os atores que labutam na tríade universidade-empresa-governo desempenham o papel de protagonistas nas ações cívicas, educacionais e de desenvolvimento. A expectativa é de que o programa forme profissionais empreendedores, que possam atuar como agentes multiplicadores de ações de mudança na sociedade.
O curso se concebe com vistas a que os alunos formados a partir desta nova proposta irão contribuir para promover o desenvolvimento econômico e social local, por meio da criação de novos negócios, pela incorporação de tecnologias às suas vidas e às dos demais cidadãos, de forma a favorecer o exercício da cidadania, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento econômico. Esses alunos - postula-se - serão capazes, em primeiro lugar, de analisar como as universidades produzem conhecimento e o transferem para o mercado, para fins de comercialização e lucratividade. Estarão aptos também a verificar e avaliar como as empresas interagem com as universidades e governos de forma a estimular a produtividade e a competitividade. Por fim, terão ferramentas para verificar como os governos contribuem com a criação, aperfeiçoamento e consolidação de políticas públicas de desenvolvimento, com mecanismos de fomento a essas ações.
A partir de estudo bibliográfico e análise empírica verifica-se que o modelo da hélice tríplice pode tornar-se adequado ao programa, uma vez que é normalmente utilizado para descrever as relações de interação dos atores envolvidos, com vistas a: 1) à universidade cabe produzir conhecimento socialmente relevante e empenhar-se em transferir este conhecimento para o setor produtivo, habilitando-se assim ao título de universidade empreendedora e inovadora; 2) à empresa cabe dar conta da inovação tecnológica que atenda aos interesses das comunidades; 3) ao governo cabe participar com incentivos e estímulos ao processo de inovação.
O modelo da hélice tríplice, que vem sendo utilizado extensivamente na Comunidade Européia e nos Estados Unidos da América, insere-se numa linha progressista, em que se ancoram as redes de desenvolvimento, envolvendo atores dos contextos produtivos, tecnológicos, científicos, legais, logísticos, financeiros, sociais e ambientais (TERRA, 2006). Entretanto, entre nós o modelo precisa ser repensado e, mesmo, reinventado. Pois a imagem da hélice tríplice - nos seus termos originais - não consegue caracterizar a sinergia dos atores universidade, empresa e governo, em um sistema regional de inovação (EQUIST, 1997) de país em desenvolvimento como o Brasil. Pois se nossas universidades estão relativamente avançadas em termos teóricos e mesmo tecnológicos, nossos governos vêm aprimorando os mecanismos de financiamento e suporte ao desenvolvimento, à ciência, à tecnologia e à inovação. Infelizmente, o mesmo não ocorre com grande parte das empresas, que não acompanharam o movimento geral de desenvolvimento. Assim, o modelo esbarra na necessidade de as empresas, antes de iniciarem o processo de inovação, modernizarem-se tecnologicamente e fazerem com que as pessoas que vão participar do processo de desenvolvimento adquiram as competências para o trabalho, necessárias a estas ações, por meio da educação continuada, que é conferida pela universidade.
Segundo ETZKOWITZ (2005), o desenvolvimento individual e dos grupos, no modelo da hélice tríplice, é atravessado pela inovação, com a criação de novas configurações entre as instituições que o protagonizam:
"A interação universidade-empresa-governo é cada vez mais a base estratégica para o desenvolvimento social e econômico nas sociedades industriais desenvolvidas e também naquelas em desenvolvimento" (p. 2).
O modelo, com seu aparato descritivo e explicativo (ETZKOWITZ E LEYDESDORFF, 1996), apóia-se na concepção de que as regiões são concebidas e interpretadas, sobretudo, como espaços de inovação; e não apenas como áreas geográficas, geo-educacionais, culturais ou empresariais. Ora, a inovação é pensada como atributo específico da universidade. Portanto, no contexto brasileiro, alguém tem que liderar o processo de inovação, e a expectativa é que a universidade cumpra esse papel. Assim, a interação operada e esperada pela hélice tríplice se caracteriza pela presença das universidades como instituições de ciência e tecnologia, marcadas pela responsabilidade social, quanto ao retorno de suas ações educacionais empreendedoras. Esta interação ocorre com vistas a construir estratégias para o surgimento e crescimento de novos espaços pró-ativos, nas regiões em que as universidades e as empresas estão inseridas.
O desenvolvimento regional, neste modelo, acontece em três espaços mentais não-lineares, que, embora modulares, interagem continuamente: conhecimento, consenso e inovação:
"Os espaços de conhecimento provêem os dispositivos estruturais para o progresso tecnológico; para tal, supõem espaços de consenso, em que os autores, em conjunto, cumprem tarefas relevantes; os espaços de inovação favorecem uma predisposição organizacional para fortalecer o processo de inovação" (ETZKOWITZ, 2005, p. 4).
O espaço mental de conhecimento cresceu a ponto de tornar-se referência índice de desenvolvimento. Continua a ser um espaço específico da Universidade, mas não de forma exclusiva. Este espaço mental reúne programas, projetos e atividades de educação voltadas para o desenvolvimento com retorno social. O resultado da formação empreendedora incentiva o crescimento regional, nele incidindo diretamente, a partir de iniciativas da hélice tríplice na comunidade. Quando a educação se isola do setor produtivo e de fomentos governamentais, tende à esterilidade, incapaz de colocar o conhecimento produzido em uso, a serviço da comunidade. Nesse contexto, cresce a importância da publicação como forma de divulgação de resultado de pesquisa pura e aplicada e disponibilização das informações que são de interesse para distintos grupos de pessoas envolvidas com a produção do conhecimento.
Dada a natureza complexa e multiforme dos interesses dos pesquisadores, não se pode garantir que apenas se pesquise o que dá retorno social. Deve-se compreender, portanto, que a publicação, por si só, não garante a aplicabilidade dos resultados dos estudos no desenvolvimento das comunidades. Entretanto, é criticamente importante publicar, viabilizar o exame das idéias, propostas e projetos, através da análise do que circula nos periódicos em cada área de estudo.
O espaço de consenso é difícil de construir, uma vez que supõe ajuste de idéias e projetos, propostas e ações concretas. Ancora-se na cooperação entre os pesquisadores e os investidores, bem como na solidariedade no interior do grupo de pesquisadores e no interior do grupo dos investidores. O espaço de inovação, por sua vez, tem como pressupostos sine qua non a consolidação dos espaços anteriores. Portanto, os espaços de consenso e inovação se constroem cooperativamente, com direcionalidade explícita, em que consenso se constitui como termômetro do sucesso, nas parcerias entre os três protagonistas: universidade-empresa-governo. Entende-se, portanto, que a parceria será dinamizada, à proporção em que os conhecimentos produzidos sejam avaliados consensualmente como dignos de aplicação em novas tecnologias, sociais ou físicas, e se tornem dignos de investimento e aplicabilidade, com possibilidade de retorno financeiro ou social para as empresas, e com alternativas para o governo alcançar suas metas políticas e dar conta de suas promessas de atuar no desenvolvimento econômico e social.
Na filosofia da hélice tríplice, (ETZKOWITZ, 1999), a despeito do que pode sugerir esta metáfora, de três pás jungidas a um mesmo eixo, postula-se que cabe normalmente às instâncias universidade e empresa liderar os processos de mudança1. Além da idéia de liderança de uma ou duas pás, predomina a idéia de espiral, em que o objeto atrelado às três pás move-se para frente, impulsionado pelo giro da hélice. Por outro lado, as instâncias educacionais, produtivas e governamentais, pensadas em termos modulares, trabalham de forma autônoma, mas interdependente, podendo assumir papéis diferenciados, a cada instante. As universidades, que numa visão míope poderiam estar limitadas a formar pessoas para a capacitação profissional, e preencher os lugares vazios do mercado, antenadas a suas necessidades e projetos, têm ampliado o seu papel na produção de conhecimento, no estabelecimento de novas relações com as empresas e os governos, com a criação de novas áreas de atuação.
Essa ampliação do papel de produzir conhecimento supõe aceitar e responder de frente ao desafio da responsabilidade social, com a realização de ações inovadoras de ensino, pesquisa e extensão, que garantam a inserção de seu corpo docente e, sobretudo, discente no mercado de trabalho. Supõe também a criação de novas capacitações, resultado de gestos e movimentos pró-ativos, que propiciem o surgimento de lideranças e novos agentes de mudança, capazes de impulsionar, por meio do empreendedorismo, o desenvolvimento de grupos humanos de regiões, até então pouco contempladas. Supõe-se, por fim, a inclusão social dos componentes desses grupos a novos nichos de ocupação profissional.
Os processos através dos quais surgem e se consolidam ações inovadoras são extremamente complexos, considerando-se a emergência e a difusão dos elementos do conhecimento, isto é, os elementos com possibilidades científicas e tecnológicas e a translação desses elementos dentro de novas ambiências da sociedade e dos planejamentos de negócios lucrativos. Além da complexidade, há a questão do ajuste, em vista da necessidade de contextualizar estas ações no sistema local de inovação e de entender as metodologias de pesquisa, a produção de textos e programas tecnológicos capazes de promover o desenvolvimento.
Nesta sociedade do conhecimento, baseada em novas tecnologias sociais, novos paradigmas vêm emergindo, os quais se refletem nas disciplinas propostas nos programas de pós-graduação. Estas novas disciplinas abordam desde as políticas públicas de desenvolvimento local, sustentável, até temas de áreas específicas do conhecimento, que visam promover a cidadania, a qualidade de vida e de trabalho, além de incentivarem a produção de conhecimento sobre atitudes empreendedoras.
As mudanças que vêm ocorrendo na sociedade estão associadas a uma série extremamente complexa de fenômenos, que não podem ser compreendidos com base nos modelos analíticos de natureza discreta, de orientação estruturalista. Com efeito, temos evidência suficiente para afirmar que o dualismo e o modelo de pensamento linear são insuficientes para dar conta do que se passa nos níveis macro e micro da sociedade. Portanto, ao se analisar o fenômeno do desenvolvimento humano, faz-se mister observar não somente os modelos de impulsão técnica, mas também os sonhos e projetos, as necessidades sociais e culturais das pessoas. Nessa perspectiva, cabe avaliar os modelos, selecionando os que se pautarem por diretrizes mais abrangentes, de forma a não entravarem ou dificultarem o processo de desenvolvimento.
A temática do desenvolvimento está articulada com a criatividade cultural e com a morfogênese social (FURTADO, 2000). As sociedades se desenvolvem e se organizam em termos de metas claras, especialmente na busca da eficácia na ação e de propósito e sentido para a existência das pessoas que as constituem. Contemplam-se assim a racionalidade formal, que nos dá a técnica, e a racionalidade substantiva, que nos dá os valores.
A inovação, no que concerne aos meios, tem privilegiado a técnica, pois esta possui um poder de difusão muito maior do que a criação de valores substantivos. Entretanto, gera-se inevitável tensão entre os agentes que controlam o sistema produtivo, por meio do desenvolvimento da técnica, utilizando-a como instrumento de luta pela preservação dos sistemas sociais, e o grupo de agentes que participam do sistema produtivo sem ter a responsabilidade por sua direção. Essa tensão pode impedir ou atrapalhar a desejável convergência de forças, necessária para impulsionar o desenvolvimento. Neste sentido, torna-se fundamental olhar criticamente para o que se produz nesse contexto tenso e, na medida do possível, atenuar ou superar os efeitos negativos:
"(...) enfocar o desenvolvimento como um processo global: transformação da sociedade não só em relação aos meios, mas também em relação aos fins; processo de acumulação e de ampliação da capacidade produtiva, mas também de apropriação do produto social e de configuração desse produto; divisão social do trabalho e cooperação, mas também estratificação social e dominação; introdução de novos produtos e diversificação do consumo, mas também destruição de valores e supressão de capacidade criadora" (FURTADO, ibid., p.8).
Entendemos que na universidade brasileira, nos cursos de graduação e, especialmente, na pós-graduação, cria-se um espaço privilegiado para discutir as contradições e os paradoxos apontados acima e aprofundar a análise das questões desenvolvimentistas. O espaço é propício para propor ações relacionadas à educação com retorno econômico e social e à formação profissional empreendedora, comprometida com o desenvolvimento. O corpo docente passa a assumir, assim ações interessadas em relação ao que se estuda, se pesquisa, se transfere para a sociedade e ao que se propõe.
Compartilha-se a idéia de que à universidade cabe prioritariamente desenvolver seu papel acadêmico de produtora de conhecimento, em consonância com os interesses, sonhos e necessidades da comunidade em que está inserida a instituição universitária, com vistas à proposição de atividades empreendedoras, que contribuam para promover o crescimento local e regional, (MELLO, A. da S; VOTRE, S., 2005).
Na interlocução com o mercado local e regional, constata-se que existe uma demanda reprimida por profissionais capazes de assumir o papel de empreendedores, protagonistas em programas de desenvolvimento, que venham a interferir decisivamente no processo de mudança.
É nesta perspectiva que o programa de pós-graduação lato sensu da UNISUAM, através de sócio-diagnóstico, verificou alternativas e possibilidades de mudança e inovação, contribuindo para a formulação e consolidação de ações educacionais com vistas ao desenvolvimento sustentável, que promovam o aumento da qualidade de vida da sociedade, a partir de uma visão sistêmica, estratégica e holística da hélice tríplice, nas diversas áreas de conhecimento.
Um estudo de caso na UNISUAMNa região da Leopoldina, onde está localizada sua sede, a UNISUAM desenvolve, há muitos anos, atividades que promovem o crescimento da área, que é composta por vários bairros, tendo como pólos Bonsucesso, Penha e Olaria. Nesta região localizam-se os Complexos do Alemão e da Maré e a Favela do Jacarezinho, onde a instituição implementa programas e mantém convênios de pesquisa e extensão. A convivência com o cotidiano dessas comunidades revelou-se que há uma demanda reprimida por profissionais empreendedores, capazes de intervirem no processo local de mudança.
A região da Leopoldina vem sofrendo mudanças rápidas e profundas. O bairro de Bonsucesso, por exemplo, teve um grande crescimento com as indústrias que lá se instalaram a partir de meados do século XX. Tais empresas introduziram novos produtos, diversificaram o consumo e ampliaram a capacidade produtiva da região. O crescimento populacional que se deu acompanhou o crescimento industrial, comercial e econômico.
Entretanto, a introdução de novas tecnologias e o implemento da produção não vieram acompanhados da reflexão sobre o impacto que tais inovações poderiam provocar na comunidade. Observaram-se apenas os meios e a técnica e esqueceram-se os fins e os significados de toda mudança empreendida pela inserção de tecnologias na região. E o que se vê hoje, na favelização e nos problemas decorrentes da tensão entre os grupos dominantes do sistema de produção (PEREIRA FILHO, 1998), permite inferir que alguns dos agentes sociais, que não detinham a responsabilidade de direção desse sistema produtivo acabaram por inviabilizar várias empresas, que optaram por transferir suas sedes para outras regiões, como por exemplo, a Coca-Cola, a General Electric, entre outras.
A demanda por ações que possam alavancar o progresso da região da Leopoldina foi o grande estimulador do programa de pós-graduação lato sensu da UNISUAM. Antes da implementação do programa, a instituição iniciou um trabalho de incentivo às atividades de educação, com o intuito de aplicar o conhecimento produzido em ações capazes de promover o desenvolvimento das comunidades. Essas iniciativas resultaram na formação de grupos de pesquisa, que ora desenvolvem projetos tecnológicos nas áreas de Biologia, Farmácia, Educação Física, Engenharia, Nutrição e Educação. Resultaram também na apresentação a CAPES e conseqüente recomendação do programa de mestrado profissional multidisciplinar em Desenvolvimento Local e finalmente no programa inovador de pós-graduação lato sensu, em curso, em que a formação empreendedora, particularmente por meio de disciplinas de administração, objetiva contribuir para o desenvolvimento da comunidade.
O programa de pós-graduação lato sensu da UNISUAMVerifica-se que, por um lado, cresce a demanda por pessoas que tenham a competência de gerenciar equipes multidisciplinares e elaborar projetos que possam resultar em produtos ou serviços competitivos e de sucesso, no mercado, nos seus locais de trabalho, seja em grandes empresas ou nas pequenas e médias empresas, muitas vezes de sua propriedade. São pessoas que conhecem as atividades empresariais e sabem exatamente as formas de negociação adequadas ao que se manifesta nos gestos e nas ações da concorrência.
Por outro lado, os profissionais formados a partir de cursos tradicionais de pós-graduação lato sensu vêm encontrando dificuldades em gerir processos de criação, implementação e manutenção de empresas no mercado competitivo de hoje, ou mesmo, em desenvolver o papel de intra-empreendedores em grandes empresas, em qualquer área do conhecimento, em que possam oferecer produtos e processos inovadores.
Levando em conta essas tendências e demandas, a UNISUAM organizou o seu programa de pós-graduação lato sensu, cujo objetivo é que os profissionais formados estejam aptos para atuar no mercado de trabalho, na sua área específica de conhecimento e, concomitantemente a essa capacitação, recebam uma formação empreendedora, capaz de viabilizar a produção de bens e serviços, contribuindo para aumentar a qualidade de vida da sociedade.
O programa leva em conta a oportunidade da comunidade nos arredores da Instituição e, em especial, objetiva que os alunos egressos da UNISUAM alcancem o desenvolvimento econômico e social por meio da educação. O programa tomou como diretrizes balizadoras: o acesso amplo e a educação baseada em competências para o mercado de trabalho, com ênfase no empreendedorismo.
A justificativa para a elaboração do programa de pós-graduação lato sensu da UNISUAM, com um enfoque amplo e com interface entre a universidade-empresa-governo, está baseada no perfil do aluno de graduação da instituição. Com base na Avaliação Institucional de 2002, concluiu-se que a pós-graduação é entendida como educação continuada das áreas de conhecimento da graduação.
No perfil do profissional formado pela pós-graduação lato sensu da UNISUAM inclui-se a sua capacidade de atuação como agente de mudança e gestor da modernização e de inovação tecnológica nas comunidades; de avaliação de tecnologias consolidadas e emergentes em diferentes áreas de conhecimento, identificando suas interdisciplinaridades, o seu papel e o impacto no desenvolvimento local; de análise e implementação de técnicas para a otimização e a melhoria de desempenho dos sistemas locais de inovação; de identificação de segmentos do mercado produtivo, onde ocorre o desemprego estrutural, no sentido de transformar o conhecimento científico em atuações profissionais significativas para a sociedade; de análise das políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação e suas implicações nos sistemas locais de inovação, com ênfase nos atores governamentais, educacionais e produtivos; de desenvolver métodos e técnicas para a construção de sistemas inteligentes voltados para o desenvolvimento de sistemas produtivos locais; de avaliação e construção de programas de formação, qualificação e re-qualificação do trabalhador face ao estágio atual de desenvolvimento, com foco na cidadania, na qualidade de vida e no trabalho.
O aluno também estará apto a entender como o conhecimento é gerado e transferido para diversas áreas da organização, utilizando as ferramentas de planejamento estratégico, de modo a diagnosticar os diversos agentes externos à sua organização, de forma a visualizar ameaças e oportunidades, bem como os agentes internos: pontos fortes e fracos, gerenciando talentos e medindo o valor do conhecimento agregado aos produtos e serviços.
As atitudes empreendedoras traduzidas pelas competências técnicas, gerenciais e comportamentais deste profissional pós-graduado são trabalhadas durante o curso, com vistas a alcançar o aprimoramento de suas habilidades. As competências comportamentais e gerenciais deste profissional envolvem: capacidade de negociação, persuasão, valorização da diversidade, desenvolvimento de talento, liderança, gerenciamento de projetos, gestão de recursos, planejamento, relacionamento interpessoal, orientação para resultados, solução de problemas, comunicação, tomada de decisão, criatividade, integridade, assertividade, capacidade de trabalhar em equipe, potencial de desenvolvimento, entusiasmo e raciocínio analítico. Por meio de dinâmicas de vivências empresariais, todas essas habilidades são trabalhadas e - na medida do possível - desenvolvidas. As competências técnicas são aprimoradas nas disciplinas das respectivas áreas de conhecimento.
Além disso, os cursos, em qualquer área do conhecimento, oferecem a formação em planejamento de negócios e desenvolvimento de estudos de viabilidade de mercado. Os alunos também aprendem desde a organização de um dossiê empresarial, até a elaboração de projetos e propostas, bem como a elaborar os respectivos folders. Aprendem também a identificar as possibilidades de financiamento por capital de risco ou mesmo de micro-crédito, disponíveis nas instituições de apoio à iniciativa empreendedora. Adquirem noções básicas de legislação comercial e direito do consumidor, com ênfase em contratos e contabilidade, administração financeira e orçamentária.
A formação por meio do Módulo de Gestão Empreendedora consiste da inclusão de disciplinas que promovem o conhecimento do aluno nas esferas acadêmicas, governamentais e empresariais, dentro do modelo teórico da hélice tríplice. Essas disciplinas, que dão um caráter multidisciplinar aos cursos, são denominadas Atitude Empreendedora, Planejamento de Negócios, Contexto Empresarial Brasileiro e Metodologia da Pesquisa, Produção de Textos e Projetos Tecnológicos.
Na disciplina Atitude Empreendedora o aluno desenvolve os comportamentos empreendedores a partir da identificação dos perfis psicológicos individuais, o que lhe permite a construção de um planejamento estratégico pessoal para empreendimentos. Desta forma, o aluno tem a oportunidade de refletir sobre o planejamento de sua carreira, identificando oportunidades e avaliando riscos. A disciplina permite a construção de objetivos, metas e estratégias para desenvolvimento de empreendimentos profissionais e pessoais.
Na disciplina Planejamento de Negócios, o aluno estuda o impacto das mudanças nas relações empresariais, comportamentais e sociais nos últimos tempos, as formas e os sistemas organizacionais, a cultura da mudança e as relações de poder na empresa. Aprende sobre os desafios para a implementação de um plano de negócios, no que diz respeito às dimensões ambientais, aspectos internos, marketing, gestão de pessoas, processos e finanças. Também aprende a fazer um estudo de viabilidade de mercado e estudo de concorrência, além de construir um plano de negócio na sua área especifica de conhecimento de graduação e a criar uma estratégia de desenvolvimento empresarial.
Na disciplina Contexto Empresarial Brasileiro o aluno adquire conhecimentos sobre a organização do estado, com noções do processo legislativo e da hierarquia das leis. A organização da C&T&I no Brasil, bem como os programas governamentais em C&T&I e orçamento público são abordados de maneira a estimular o pensamento empreendedor, com aplicação prática, visto que, nas análises de ementário de leis e decretos em C&T&I, leis de incentivos fiscais (tecnológicos, culturais, esportivos e outros), leis de regulamentação da C&T&I, leis de incentivo fiscal e sua utilização nos empreendimentos de base tecnológica, o objetivo é a simulação do cálculo de benefícios advindos da utilização dessas leis de fomento.
Na disciplina Metodologia da Pesquisa, Produção de Textos e Programas Tecnológicos, o aluno aprende a analisar os processos de construção do conhecimento. O enfoque dessas disciplinas é capacitar o aluno para a elaboração de um projeto de pesquisa que possa ser aplicado na comunidade. Além disso, ele aprende a elaborar textos técnicos e científicos e a organizar projetos tecnológicos cooperativos para fins de solicitação de fomento através de agências federais, estaduais e municipais.
Essas disciplinas são ministradas de forma compartilhada, isto é na mesma turma tem-se alunos de cursos de diferentes áreas do conhecimento (por exemplo, os cursos de: Engenharia Estrutural, Psicopedagogia e Serviço Social Organizacional), de modo a criar sinergia entre os alunos e favorecer o surgimento de idéias de empresas inovadoras.
A orientação das monografias, as quais são apresentadas em um Seminário Anual de Pós-graduação, é feita com um orientador da área fim e outro da área de administração, de forma a incentivar o surgimento de novas metas para a empresa que é planejada na disciplina Planejamento de Negócio. Os cursos apresentam um total de 450 horas, distribuídas em catorze meses, sendo que 130 horas são dedicadas ao ensino de administração, no Módulo de Gestão Empreendedora.
ConclusãoA partir dos indicadores de avaliação aplicados aos cursos de pós-graduação da UNISUAM e que abordam quantitativamente a visão do aluno sobre os conhecimentos adquiridos na área de administração, concluiu-se que se deve priorizar a formação continuada, garantindo a educação como mola-mestra do crescimento econômico e social, promovendo a geração do conhecimento, a competitividade, a cooperação e, conseqüentemente, a geração de novos postos de trabalho e desenvolvimento.
Dessa forma, a pós-graduação lato sensu tem o papel de fortalecer e garantir a continuidade da ação institucional orientada por suas linhas de pesquisa e criar uma estratégia de desenvolvimento orientada numa perspectiva multidisciplinar, sem prejuízo das ações tradicionais de natureza disciplinar. Entretanto, esta orientação deve seguir estratégias de desenvolvimento com ações de responsabilidade social mobilizadas no espaço de consenso por meio dos agentes de mudança que agem como empreendedores.
A proposta é que a pós-graduação lato sensu venha a consolidar a hélice tríplice para a geração de conhecimento, por meio de ações e mecanismos em que a produção acadêmica, além de direcionada para publicações, possa também ser medida pelas ações empreendedoras que resultem em aplicação efetiva na comunidade.
Sem entrar no mérito das ações afirmativas, entendemos que os segmentos menos favorecidos da sociedade brasileira necessitam, na universidade, de ações efetivas de produção de conhecimento suscetível de ser acolhido em estratégias de desenvolvimento, que envolvam eficiência e eficácia para os programas governamentais e possam, de fato, promover o bem-estar das comunidades locais e regionais por meio de ações marcadas pelo empreendedorismo, socialmente responsáveis.
As universidades devem ampliar sua forma de atuação, e passar a criar projetos pedagógicos multidisciplinares. O aluno deve compreender espaços, em contextos mais abrangentes, nas diversas instâncias empresariais e governamentais, e não apenas na instância acadêmica, como forma de alcançar o desenvolvimento regional. Cabe às universidades promover uma formação mais abrangente do aluno, perfeitamente coadunada com as necessidades da sociedade do conhecimento da atualidade.
Notas
O que não impede que o governo lidere e organize movimentos de avanço científico e tecnológico, como vem fazendo atualmente, por exemplo, com a lei da inovação e com a lei do bem.
Referências
EDQUIST, C. Systems of Innovation Technologies, Institutions and Organizations. London: A Cassel Imprint, 1997.
ETZKOWITZ, H. The Future Location of Research and Technology Transfer. New York: The Journal of Technology Transfer. v. 24, n. 2/3, 1999.
ETZKOWITZ, H.; WEBSTER A.; GEBHARD C.; TERRA B. R. C. The Future of The University And The University of The Future: Evolution of Ivory Tower To Entrepreneurial Paradigm. London: Research Policy. v. 29, n. 2, 2000.
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The Triple Helix - University, Industry, Government Relations: A Laboratory for Knowledge Based Economic Development. In: The Triple Helix of University, Industry, and Government Relations: the Future Location of Research Conference. Amsterdan, 1996.
ETZKOWITZ, H. Reconstrução criativa: hélice tripla e inovação regional. Rio: Inteligência Empresarial/CRIE/COPPE/UFRJ, n. 23, 2005.
FURTADO, C. (2000). Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Paz e Terra. ISBN: 8521903529.
MELLO, A. da S.; VOTRE, S. Representações sociais em projetos de cidadania ativa: projeto esporte cidadão. Rio: UGF, PPGEF, 2005.
PEREIRA FILHO, J. R. Complexo da Maré: possibilidades de construção da cidadania a partir de políticas públicas nas áreas de educação física, esporte e lazer. Rio de Janeiro: UGF, PPGEF, 1998.
TERRA, B. Em Tempos de Rede: A Gestão do Conhecimento para o Desenvolvimento de Regiões. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.
revista
digital · Año 12
· N° 113 | Buenos Aires,
Octubre 2007 |