Educação Física no Ensino Médio. A opinião dos alunos sobre as aulas |
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Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP. (Brasil) |
Mariana Camargo Frey mariana_frey@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 113 - Octubre de 2007 |
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Introdução
Atualmente, entre os vários estudos e debates, relacionados à Educação Física escolar, a desvalorização que sofre essa área, tem tomado boa parte das discussões e reflexões.
Para muitos autores como MARIZ de OLIVEIRA (1991), BARROS (1992), NISTA-PICCOLO (1995), PAIANO (1998) e POSSEBON e CAUDURO (2001), entre outros,a desvalorização da Educação Física ocorre pela falta de identidade da disciplina dentro do âmbito escolar. Para esses autores a Educação Física não apresenta um corpo de conhecimento teórico próprio fazendo com que os conteúdos das aulas não apresentem significado e nem importância para os alunos.
Eles mesmos apresentam propostas para solucionar esses problemas. Trabalhos com teorias significativas e mais próximas a realidade que os alunos estão inseridos, poderiam ser realizados.
Acrescenta CORREIA (1996) que um planejamento participativo aumenta a participação e motivação dos alunos nas atividades, proporcionando a valorização da Educação Física dentro da escola e possibilitando a expressão dos alunos, face ao caráter participativo da proposta.
Segundo HENRIQUE e JANUÁRIO (2005) é essencial que, para um bom planejamento e desenvolvimento das aulas, se considere o pensamento do aluno.
Educação Fisica na escolaAo lermos estudos realizados na área da Educação Física escolar encontramos sempre as mesmas discussões sobre a desvalorização da área. Um exemplo é apresentado por MARIZ de OLIVEIRA (1991) quando afirma que a instituição "escola" pode ser comparada com vários castelos de areia interligados. Cada castelo corresponde a uma disciplina. Segundo o autor, o castelo da Educação Física é frequentemente varrido pela maré, pois nota-se uma falta de essência e de uma liga consistente para mantê-lo em pé. Muito diferente das outras disciplinas da escola, que apresentam um corpo de conhecimento específico e um "objeto de estudo" bem claro, segundo o autor.
Para ele essa falta de essência que causa um não entendimento ou não solidez da Educação Física é nitidamente percebida por pessoas que não são da área. Como destaca o autor, quando perguntamos a pessoas alheias a área o que entendem por Educação Física tristemente ouvimos resposta como: "eu não aprendi nada em Educação Física", "passei 11 anos na escola e muito pouco da Educação Física eu aproveito em minha vida". Mais assustador é ouvir de 28 diretores de escolas da DRECAP 3, de São Paulo, que o maior problema da escola é a Educação Física.
MARIZ de OLIVEIRA (1991) também afirma que para a maioria dos graduandos da área a Educação Física na escola não foi uma experiência agradável.
Nesse contexto, reparamos que os professores de Educação Física também sofrem com as desvalorizações. Para BOTELHO e OLIVEIRA (2005) os graduandos da área estão sofrendo depreciações sociais. Em seu estudo realizado com graduandos de Educação Física da UERJ concluíram que esses estudantes já foram vítimas de preconceitos negativos, discriminações negativas e estereótipos negativos. Um exemplo encontrado de preconceito negativo partiu do âmbito familiar. Para o pai:
"... a Educação Física é para pessoas ignorantes, que não se interessam pelos estudos". (pg 236).
O que está acontecendo para que se tenha essa visão tão nebulosa da nossa área? Para o autor sofremos esse enorme preconceito, pois há uma deficiência na própria preparação profissional. Até os professores de Educação Física relatam que não participam da escola, que são uma classe secundaria e que não recebem a devida consideração. (MARIZ de OLIVEIRA 1991)
BOTELHO e OLIVEIRA (2005) afirmam que as disciplinas Educação Física, Educação Artística e Educação Religiosa são, historicamente, posicionadas de forma desigual. Para as autoras as outras disciplinas do currículo escolar se sobrepõem, pois consideram que a exigência intelectual seja mais marcante.
Seguindo essa mesma linha autores como PAIANO (1998) e NISTA-PICCOLO (1995) também se preocuparam com a desvalorização da Educação Física no ambiente escolar. No seu estudo NISTA-PICCOLO (1995) constata o mesmo problema. A falta de identidade da disciplina na escola, pelo mesmo motivo, por se tratar de uma área multidisciplinar e não ter um corpo teórico próprio. Para a autora a Educação Física deve ter um papel importante no processo educativo, pois precisa estar comprometida com a formação integral do aluno.
PAIANO (1998) destaca a falta de importância dada a Educação Física que é tratada de forma acrítica e alienante não proporcionando a participação dos alunos.
Para BARROS (1992) o grande problema da Educação Física é a inexistente relação entre teoria e prática nos programas. Para ele, a falta de conteúdo teórico torna a prática intuitiva. Não havendo teoria, se questiona a função da Educação Física no processo educacional e torna-se mínimo o nível de conhecimento que os alunos adquirem nas aulas.
Acrescentando, POSSEBON e CAUDURO (2001) justificam o declínio da Educação Física Escolar ao afirmar que "... ainda não se conseguiu explicitar a importância desse componente curricular, uma vez que não há elaboração e hierarquização de seus objetivos" (pg 131).
LORENZ e TIBEAU (2001) reforçam os problemas, afirmando que as aulas de Educação Física estão perdendo o significado, pois há falta de contextualização dos conteúdos transmitidos. Os alunos consideram a Educação Física como prática especifica de modalidades esportivas e as freqüentam apenas para distração e descontração.
KUNZ (1991) contribui afirmando que são três as deficiências da Educação Física. Para o autor as aulas atendem apenas a minoria dos alunos, aqueles com talento esportivo, prejudicando a maioria, os "não talentosos". Isso se justifica pelos princípios que norteiam as aulas: concorrência e competição. Também afirma que a Educação Física desconsidera as vivências anteriores dos alunos e não permite sua participação no processo de planejamento das aulas.
Concordando com os autores já citados, KUNZ (1991) reforça a idéia que a falta de planejamento prévio está fazendo com que a aula de Educação Física se limite a um repertório mínimo de especialização das modalidades esportivas. Para o autor, a Educação Física não está contribuindo para a descoberta e o desenvolvimento de um repertório motor amplo capaz de ser significativo para os alunos no seu dia-a-dia fora da escola.
Já que as demais disciplinas do currículo escolar apresentam um "objeto de estudo" próprio, o que será específico da Educação Física para que ela possa se entendida como "disciplina" dentro do ambiente escolar?
A fim de justificar a presença da Educação Física na escola alguns autores apresentam suas idéias.
Para PAIANO (1998)
"A Educação Física precisa justificar sua presença no meio escolar através de um trabalho inovador que considere o individuo como um ser complexo, uno, que se expressa de maneira muito singular, permitindo a manifestação dessa diferença" (pg 84).
Preocupando-se não apenas com o corpo e o movimento, é importante que a Educação Física, para ser mais significativa e abrangente, lide com o verdadeiro ser humano e com tudo que se relaciona ao movimento em nossa sociedade, assim como justifica MARIZ de OLIVEIRA (1991). E para justificar essa presença, a Educação física deve ser modificada, usando ambientes que envolvam os alunos como cooperação, respeito e colaboração. Assim será possivel que os alunos compreendam a realidade em que estão inseridos podendo posteriormente intervir de maneira positiva (PAIANO 1998).
Para MARIZ de OLIVEIRA (1991) "... as discussões devem caminhar mais para a idéia de educação para o movimento..." tentando fazer com que o aluno intrinsecamente entenda e compreenda a importância e o significado do movimento para o ser humano no seu cotidiano em toda e qualquer atividade motora humana. Concordando, BARROS (1992) afirma que a Educação Física precisa proporcionar aos alunos conhecimentos específicos sobre atividade física para que possam ser solucionados os problemas do dia-a-dia.
Acrescentando, POSSEIBON e CANDURO (2001) afirmam que a Educação Física deve determinar claramente seus objetivos e qual sua relação com a escolarização, só assim conseguiria se consolidar no âmbito escolar.
Fica evidente que a Educação Física precisa adotar uma característica contrária a que sempre utilizou. Seus objetivos, conteúdos e metodologias precisam ser revistos e reformulados, a fim de valorizar a importância da disciplina no âmbito escolar, construindo e organizando seu corpo de "conhecimento próprio" para se consolidar na escola.
Educação Física no Ensino MedioA visão nebulosa sobre a Educação Física é também muito percebida no Ensino Médio. Muitos teóricos da área estão preocupados em entender qual a contribuição da Educação Física no ambiente escolar e qual é seu objeto de ensino neste nível da Educação Básica.
O Ensino Médio é um dos níveis da Educação Básica, como cita a LDB (BRASIL, 1996). Ele é entendido como uma continuidade do Ensino Fundamental, ou seja, para a Legislação (Lei nº9394 de 20 de dezembro de 1996 - Seção IV - Art. 35) o Ensino Médio prevê a finalidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental. Além dessa finalidade há outras: prosseguimento dos estudos; preparo para o trabalho e a cidadania; o desenvolvimento de habilidades como continuar a aprender e capacidade de se adaptar com flexibilidade às novas condições de ocupação e aperfeiçoamento; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento critico; e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria e prática.
Infelizmente, se analisarmos bem a Educação Física, podemos observar que essa continuidade no Ensino Médio em relação às experiências vividas pelo educando no Ensino Fundamental, não ocorre. Para MATTOS e NEIRA (2000) há escolas em que o aprofundamento tático das modalidades é o único conteúdo das aulas de Educação Física. Essa especialização, não se mostra eficaz, pois só quem domina os fundamentos do jogo pode "jogar taticamente", perdendo o significado esse conhecimento de alto nível. Vemos que a prática pedagógica pouco tem contribuído para a compreensão dos fundamentos, para o desenvolvimento da habilidade de aprender ou para a formação ética.
Segundo os autores, para os alunos que apresentam um fracasso no desenvolvimento motor ou não alcançam o desempenho desejado, a Educação Física passa a ter característica recreativa, encontramos alunos que freqüentam as aulas de forma descompromissada e percebemos uma visível evasão das aulas. Assim, os alunos afastam-se das quadras, do pátio, e procuram locais extra-escolares como clubes e academias para as experiências corporais que lhe trazem satisfação, ou seja, se afastam das práticas motores escolares não eficientes para atender suas expectativas, mas não se desinteressam pelas manifestações da cultura corporal e assuntos relacionados ao próprio corpo (MATTOS e NEIRA, 2000).
Para entender e explicar qual é a Educação Física que deve ser aplicada no Ensino Médio autores reforçam a idéia de serem trabalhados conteúdos inovadores em suas aulas e o quanto é importante que ocorra um planejamento participativo.
DARIDO, GALVÃO, FERREIRA e FIORIN (1999) citam em seu estudo autores como DE ÁVILA (1995) e MELO (1997) que implantaram atividades rítmicas e expressivas para alunas do Ensino Médio e Jogos como diferentes tipos de queimadas, hand sabonete, entre outros, respectivamente. Fica explícito, nesses estudos, que o aluno no Ensino Fundamental já experimentou várias modalidades e já está apto a escolher o que conhece e mais lhe interessa nas aulas de Educação Física no Ensino Médio.
Saber quais os interresses dos alunos, procurar entender a sociedade em que eles estão inseridos, procurar chegar próximo à realidade dos alunos e permitir a participação deles no planejamento das aulas podem ser alternativas para solucionar os problemas que a Educação Física enfrenta.
CORREIA (1996) apresenta uma proposta de planejamento participativo e concepção de currículo aberto para o Ensino Médio. Seu estudo foi realizado em duas escolas públicas do Ensino Médio de São Paulo. Segundo o autor, a Educação Física tem como compromisso uma educação sobre o movimento levando em consideração a realidade que os alunos estão inseridos, para que seus interesses e necessidades sejam atendidos. Assim, se estará educando para a cidadania, para que dentro do processo possa ocorrer o exercício da reflexão crítica garantindo uma educação para a autonomia.
Para o autor, trabalhar com o planejamento participativo tem inúmeras vantagens, incluindo, os níveis satisfatórios da participação e motivação dos alunos nas atividades, valorização da Educação Física dentro da escola por eles e pela direção e, o mais importante, a possibilidade dos alunos se expressarem, face ao caráter participativo da proposta.
Então, fica evidente a importância da opinião dos alunos no desenvolvimento do projeto pedagógico da aula de Educação Física para que a adesão futura a atividade física seja maior e com mais consciência.
Visão dos alunosPara que o professor de Educação Física realize um bom planejamento e desenvolvimento do ensino é importante que seja considerado o pensamento do aluno (HENRIQUE e JANUÁRIO, 2005). Com esse intuito inúmeros estudos foram realizados (PAIANO 1998, POSSEBON e CAUDURO 2001, BETTI e LIZ 2003, LOREZ e TIBEAU 2003, DARIDO 2004, SCHENEIDER e BUENO 2005).
Em vários trabalhos é possível verificar que os alunos gostam das aulas de Educação Física. Por exemplo, no estudo de LOVISOLO (1995) citado por BETTI e LIZ (2003), é apresentada uma pesquisa com 703 alunos de escolas públicas do Rio de Janeiro, a qual se concluiu que os alunos mais gostavam na escola eram os professores, os amigos e as aulas de Educação Física e o que menos gostavam era a sujeira e a bagunça da escola. Já quando questionados sobre a importância da Educação Física essa aparecia em sétimo lugar, vinda atrás de Matemática, Português, Ciências, Historia, Geografia e Inglês.
Um estudo realizado por DARIDO (2004) em Rio Claro procurou entender as razões pelas quais os alunos se afastavam da prática da atividade física regular. 799 estudantes da 5ª e 7ª série do Ensino Fundamental e 373 do 1º ano do Ensino Médio responderam um questionário. A autora verificou que 74% dos alunos do Ensino Fundamental gostam das aulas de Educação Física e havendo um enorme decréscimo 37% dos alunos do Ensino Médio responderam o mesmo. Mas, ao analisar as respostas sobre a importância da disciplina no currículo escolar no Ensino Médio, a autora constata que essa aparece em terceiro lugar caindo para quinta posição no Ensino Fundamental. Para SCHENEIDER e BUENO (2005) que dá prosseguimento ao diagnóstico da Educação Física no estado do Espírito Santo o resultado é igual. A grande maioria dos alunos gosta das aulas de Educação Física. Os que responderam que não gostam não acham que a disciplina deveria ser excluída da grade curricular e sim melhorada.
Os próprios alunos apontam sugestões para essa melhora. POSSEBON e CAUDURO (2001) analisaram alunos que, interessados em melhorar as aulas de Educação Física responderam:
"Eu acho que o professor tem que se atualizar mais..." (pg 141).
"Eu acho que os professores tinham que evoluir com a gente mesmo, com a nossa opinião, acho que tinha que mudar, vir gente nova da universidade..." (pg 141).
"Dividir as aulas de Educação Física porque nos dias de chuva e frio não tem porque não é ginásio, é ar livre, então seria aproveitável naquele período de frio fazer aulas mais teóricas do que pratica..." (pg 142).
Benefícios percebidos pelos alunos perante a prática da Educação Física na escola também foram encontrados nos estudos. Para BETTI (1986) e LOVISOLO (1995) citados no estudo de BETTI e LIZ (2003) os alunos responderam que a atividade física é motivante, pois desenvolve o corpo e a força, melhora as condições físicas e de saúde, aprendem e praticam esporte, além de aprenderem a competir. SCHENEIDER e BUENO (2005), compararam os benefícios percebidos pelos alunos do Ensino Fundamental e Médio. Essa diferença ficou evidente já que os alunos do Ensino Fundamental entendiam a Educação Física como aprendizado esportivo, desenvolvimento físico-corporal e como um espaço para brincar. Já no Ensino Médio, possuíam um conceito de espaço para socialização.
Mas, se os alunos gostam das aulas de Educação Física, compreendem a importância da mesma, relatam benefícios adquiridos por ela, porque há tanta "fuga" das aulas? Para tentar responder essa questão PAIANO (1998) buscou identificar os motivos que levam os alunos à "fugir" das aulas de Educação Física e se apoiou nas declarações de 20 alunos com idades entre 12 e 17 anos que frequentemente se recusavam a participar das aulas. Concluiu que o fator determinante para essa "fuga" eram os colegas que adotavam atitudes agressivas fazendos-os se sentirem humilhados. Também reclamaram que as aulas não agradavam a todos já que o que estava sendo priorizado era apenas o desenvolvimento de modalidades coletivas mais conhecidas (Futebol, Basquete, Voleibol e Handebol).
Motivos diferentes foram encontrados em um estudo realizado nos EUA. VANREUSEL et al. (1997), citado por DARIDO (2004), concluiu que 73% dos 1.438 alunos investigados não participavam das aulas de Educação Física, pois diziam ser essas pouco criativas, de baixa qualidade e sempre iguais.
Já LORENZ e TIBEAU (2003) preocuparam-se em verificar se os conteúdos teóricos são importantes para os alunos e como eles são desenvolvidos nas aulas. Para esse estudo questionaram 60 alunos do Ensino Médio de escola publica e particular.
A partir de um questionário com perguntas abertas e fechadas concluíram que para os alunos da escola particular o esporte é o principal conteúdo das aulas de Educação Física. Já na escola, pública mais preocupados com a saúde, os alunos indicaram o condicionamento físico como o principal conteúdo que deveria ser ensinado nas aulas.
Quando questionados sobre os conteúdos teóricos que aprendem nas aulas de Educação Física, foi unânime a resposta: não aprendem nada na teoria, mas conhecem a importância desta, pois compreendem que é necessário um embasamento teórico para que se desenvolva a prática. Para a autora, esses alunos se contradizem, pois quando questionados sobre a forma como os professores abordam os conteúdos teóricos nas aulas, 83% dos alunos afirmam que o professor, através da fala explica os jogos e as regras, que podem ser considerados conteúdos teóricos.
Fica evidente que a percepção dos conteúdos pelos alunos não está ocorrendo e/ou não está tendo significado. Então, concordamos com as autoras quando dizem que está claro que os alunos precisam mudar seus conceitos sobre as aulas teóricas, compreendendo que essas podem ocorrer em qualquer ambiente, não necessariamente em salas de aula.
Podemos então concluir, baseado nos estudos anteriormente realizados, que os alunos gostam da Educação Física na escola, mas não acham que a disciplina seja importante. Eles também percebem que essa tem que ser melhorada, já que percebem os benefícios produzidos pela atividade física.
Percebemos também que mesmo assim "fogem" das aulas com inúmeros pedidos de dispensas e não compreendem os conteúdos teóricos apresentados pelos professores.
ResultadosA partir do questionário aplicado, foi possível verificar que em relação às disciplinas do currículo escolar que os alunos mais gostam a Educação Física apareceu em primeiro lugar. Sendo indicada por 81,6% dos alunos questionados.
Dados parecidos são apresentados por BETTI e LIZ (2003) onde 64,9% das alunas do Ensino Fundamental indicaram a Educação Física como a disciplina que mais gostam na escola e LOVISOLO (1995) citado por BETTI e LIZ (2003) onde os alunos declaram que a aula de Educação Física, os professores e os amigos é o que mais gostavam na escola.
Os dados obtidos são diferentes daqueles apresentados por DARIDO (2004), onde há um decréscimo em relação ao Ensino Médio. Em sua pesquisa, apenas 37% dos estudantes do Ensino Médio indicaram a Educação Física como a disciplina que mais gostavam, aumentando para 74% no Ensino Fundamental.
Em relação às disciplinas do currículo escolar que os alunos menos gostam, Física (71,4%) foi a mais citada, seguida de Química (63,2%), Matemática (46,8%), Inglês (42,8%) e Biologia (40,8%). Comparando com BETTI e LIZ (2003) a disciplina Matemática aparece simultaneamente entre as disciplinas que os estudantes mais gostam e menos gostam.
Já quando questionados sobre a importância da disciplina no currículo escolar, Matemática e Português apareceram em primeiro lugar sendo indicados por 91,8 % dos alunos. Seguido de História (53%), Geografia (51%) e Física com (42,8%).
Logo percebemos que apesar da Educação Física ser citada como a disciplina que os alunos mais gostam, essa já não é considerada importante por esses alunos. Caindo para a sétima colocação com 28,5 % das citações. Isso, segundo BARROS (1992), pode ser explicado pela falta de teoria e conhecimento que os alunos adquirem com a prática da Educação Física, complementando LORENZ e TIBEAU (2001), reforçam dizendo que a falta de contextualização dos conteúdos tornam as aulas sem significado para os alunos.
Isso confirma os dados obtidos por BETTI e LIZ (2003) onde a Educação Física aparece em sétima colocação quanto à importância. Para os autores à tendência dos alunos em considerar mais importante as disciplinas cientificas em relação às disciplinas humanísticas.
Já para DARIDO (2004) os estudantes do Ensino Médio apontam a Educação Física como terceiro lugar no critério de importância, diferente do obtido no presente estudo.
Para os estudantes a Educação Física é considerada ao mesmo tempo como uma "obrigação e diversão", sendo citado por quase dois terços dos alunos (69,3%).
Segundo BETTI e LIZ (2003) com os dados semelhantes, onde 70,9% das alunas percebem a Educação Física como "obrigação e diversão", o fato da Educação Física pertencer à grade curricular, ela é considerada pelos alunos como obrigatória e ao mesmo tempo com diversão, pois esses percebem que a aula é um momento de lazer.
Cerca de 40 alunos declaram que gostam ou gostam muito da Educação Física. Já 03 declararam que não gostam da Educação Física, escrevendo no questionário sentimentos como:
"... faço o possível para não entrar na quadra". Ou "... só fico sentada na arquibancada".
Dados parecidos com esses podem ser encontrados no estudo de BETTI e Liz (2003) onde 75% das alunas do Ensino Fundamental sentem enorme satisfação em participarem das aulas de Educação Física. Para SCHENEIDER e BUENO (2005) no Espírito Santo, o resultado é igual, a grande maioria dos alunos gostam das aulas de Educação Física.
Com relação aos benefícios decorrentes das aulas de Educação Física, saúde (69,2%) e desempenho físico (36,5%) foram os mais citados. A prática de Esportes e exercícios aparece em terceiro lugar com 30,4% das citações.
Como imaginávamos haver diferenças entre o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, devido características e aulas diferentes, BETTI e LIZ (2003) confirmam essa hipótese, onde em seu estudo as alunas do Ensino Fundamental citam a prática de esporte como o benefício mais decorrente das aulas.
Para SCHENEIDER e BUENO (2005) os alunos do Ensino Fundamental entendiam a Educação Física como aprendizado esportivo e os estudantes do Ensino Médio tinham um conceito de espaço para socialização.
Para LOVISOLO (1995) os estudantes percebem a Educação Física como desenvolvimento do corpo e da força, melhoria das condições físicas e de saúde e prática de esportes.
Com relação à que os alunos mais gostam nas aulas de Educação Física as modalidades esportivas aparecem em primeiro lugar. Para quase metade dos estudantes do Ensino Médio o Futebol é o que mais os agradam nas aulas de Educação Física, seguido de Voleibol com 24,4%. Dentre os conteúdos listados pelas alunas do Ensino Fundamental por BETTI e LIZ (2003), voleibol, handebol, futebol e basquete apareceram em primeiro lugar, ou seja, apreciam mais as modalidades esportivas, coincidindo com os resultados aqui encontrados com os alunos do Ensino Médio.
Para os estudantes questionados o que menos gostam nas aulas de Educação Física são as aulas teóricas. Esse resultado pode ser explicado pelo fato dos professores de Educação Física desses alunos usarem em seus planejamentos aulas teóricas.
O professor da escola particular afirma utilizar aulas teóricas para conceituar o histórico e regras das modalidades esportivas. Já a professora da escola pública afirma trabalhar com os adolescentes um projeto de prevenção as DST/AIDS e gravidez precoce.
As modalidades esportivas, contradizendo aparentemente com os resultados, também os alunos declaram gostar menos. Resultado parecido pode ser visto no estudo de BETTI e LIZ (2003), onde Basquete e Futebol lideram as respostas com 35,1% das citações.
É oportuno acrescentar que respostas como "sol forte" e "falta de material" também foram registrados no questionário. As duas escolas escolhidas para a pesquisa não possuem cobertura nas quadras, assim verificamos o descaso que ocorre com essa disciplina, os materiais são insuficientes para uma prática correta e agradável para os alunos.
Para os alunos diversão, saúde, união, atividade física, esporte e obrigação são palavras que se associam as aulas.
Para BETTI e LIZ (2003) jogo, diversão e movimento lideraram as escolhas das alunas do Ensino Fundamental.
Fica evidente que a maioria dos alunos do Ensino Médio associam as aulas de Educação Física a palavras positivas, mas é oportuno acrescentar que algumas palavras negativas foram encontradas no questionário. Para um sujeito "pânico e terror" são palavras que ele associa a aula, complementando, diz: "faço o possível para não participar da aula".
A participação dos alunos nas aulas de Educação Física é voluntária, ou seja, não se sentem obrigados a participarem, a fazem com satisfação. Apenas 5 alunos expressam a obrigação, relatando que a participação não é voluntária. Nos estudos de BETTI e LIZ (2003) os dados se confirmam. 70% das alunas do Ensino Fundamental fariam as aulas mesmo se não fosse obrigatória.
ConclusãoVerificamos que os alunos do Ensino Médio gostam das aulas de Educação Física, mas não a consideram importante. Esse comportamento pode estar acontecendo pelo fato dos alunos não verem significado nas aulas de Educação Física, ou seja, a falta de contextualização dos conteúdos transmitidos pode justificar o porquê dos alunos não a considerarem importante. Para mais que a metade dos alunos que participaram do estudo, a Educação Física é vista ao mesmo tempo como "obrigação e diversão", mas eles mesmos relatam que a participação nas aulas é voluntária.
Para esses alunos a saúde, o desempenho físico e a prática de esportes são os benefícios mais evidentes nas aulas. Quanto a gosto, o Futebol é o conteúdo que eles mais gostam nas aulas, já o que menos gostam são as aulas teóricas. Saúde, diversão, união, atividade física, esporte e obrigação são as palavras que eles associam a Educação Física.
Então, fica evidente que a Educação Física necessita de modificações. Os objetivos, conteúdos dos programas e as metodologias precisam ser revistos e reformulados, a fim de valorizar a importância da disciplina dentro do ambiente escolar e ter um significado para os alunos. Essa mudança pode ocorrer a partir do momento que se construir e organizar o corpo de conhecimento próprio da disciplina e quando nós professores de Educação Física, aceitarmos que a opinião e a participação dos alunos no processo de planejamento é importante para desenvolvimento, tanto das aulas como dos próprios alunos.
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