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Atletas profissionais: seres humanos ou homens de aço?

   
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte.
Instituto de Biociências. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho".
Campus de Rio Claro - SP.
(Brasil)
 
 
Marcelo Callegari Zanetti  
Tiago Nicola Lavoura  
Afonso Antonio Machado
marceloczanetti@uol.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     INTRODUÇÃO E OBJETIVOS: A espetacularização do mundo esportivo, têm levado inúmeros atletas e equipes, a buscar a cada dia o mais alto rendimento atlético; quebrando recordes nunca antes imaginados. Muitas vezes estes atletas acabam sendo comparados a verdadeiros homens de aço, devido ao seu rendimento, e ao seu porte atlético. Mas será essa a realidade? Pensando nisso, este estudo se propôs a verificar a percepção subjetiva de prontidão competitiva de cinco atletas profissionais, da modalidade basquetebol adulto masculino, com idades entre 21 e 26 anos, e propor uma intervenção segura, para que a prontidão competitiva destes indivíduos possa ser melhorada. MÉTODOS: Foi adotada a percepção subjetiva de prontidão competitiva, aplicada diariamente no período da manhã, durante 136 dias ininterruptos, totalizando 680 relatos. RESULTADOS: Os atletas relataram apresentar 55.59% (378 relatos) de prontidão alta; 28.24% (192 relatos) de prontidão média; 12.79% (87 relatos) de prontidão baixa; 3.38% (23 relatos) de nenhuma prontidão. CONCLUSÕES: Este trabalho vem desmistificar a crença popular que atletas profissionais são homens de aço, já que em quase 45% dos relatos a prontidão competitiva destes atletas estava ente média; baixa ou nenhuma prontidão competitiva, demonstrando claramente que não é todo dia que este tipo de atleta consegue atuar com a máxima performance, como um homem de aço. Estes atletas são dotados de uma alta capacidade para a competição, mas também tem limites físicos e psicológicos, estando sujeitos a alterações em seus estados de humor, a sentir medo, a não saber lidar com o estresse, entre outros. Por isso é fundamental que estes indivíduos tenham uma boa preparação física e psicológica, para que eles possam treinar e competir com o máximo rendimento possível.
    Unitermos: Treinamento desportivo. Prontidão competitiva. Percepção subjetiva.
 
Abstract
     INTRODUCTION AND OBJECTIVES: The world sportive show, has taken many athletes and teams, to search to each day the highest athletically income; breaking imagined records never before. Many times these athletes finish being comparative to the true steel men, which had to its income, and it's athletically transport. But will it be the reality? Thinking about it, this study if it considered to verify the subjective perception of competitive promptness from five professional athletes, the basketball adult masculine modality; with ages between 21 and 26 years, and to consider a safe intervention, so that the competitive promptness of these individuals can be improved. METHODS: The subjective perception of competitive promptness was adopted, applied daily in the period of the morning, during 136 days uninterrupted, totalizing 680 stories. RESULTS: The athletes had told to present 55,59% (378 stories) of high promptness; 28,24% (192 stories) of mean promptness; 12,79% (87 stories) of promptness low; 3,38% (23 stories) of no promptness. CONCLUSIONS: This work comes to demystify the popular belief that professional athletes are steel men, since in almost 45% of the stories the competitive promptness of these athletes was mean being; low or no competitive promptness, demonstrating clearly that it is not all day that this type of athlete obtains to act with the maximum performance, as a steel man. These athletes are endowed with one high capacity for the competition, but also she has physical and psychological limits, being citizens the alterations in its states of mood, to feel fear, not to know to deal with stress it, among others. Therefore it is basic that these individuals have a good physical and psychological preparation, so that they can train and compete with the maximum possible income.
    Keywords: Desportive training. Competitive promptness. Subjective perception.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 113 - Octubre de 2007

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Introdução

    Com a popularização de diversos esportes e a divulgação do esporte espetáculo (olimpíadas, campeonatos mundiais e nacionais) pela mídia, tem aumentado cada vez mais o interesse de clubes e atletas pela aquisição da mais alta forma esportiva, visando à obtenção de títulos e o reconhecimento do público.

    Mas se por um lado temos a busca por novos recordes, fama e dinheiro, por outro, temos métodos de treinamento cada vez mais fortes e desgastantes, tanto física, quanto psicologicamente, nos quais os atletas são levados a condições extremas, superando seus limites de dor e sofrimento na busca pela maestria esportiva (WEINBERG & GOULD, 2001).

    Pensando em um maior rendimento atlético, inúmeros cientistas do esporte também têm buscado métodos de treinamento e avaliação cada vez mais eficazes, permitindo, através de sofisticados métodos, serem avaliados: a força, a flexibilidade, a capacidade aeróbia e anaeróbia, entre outros; mas esta prática geralmente é restrita apenas a grandes equipes esportivas, já que elas envolvem um alto custo financeiro.

    A principal proposta de tais testes é avaliar de uma maneira fidedigna o rendimento destes indivíduos, porém tais métodos acabam muitas vezes medindo a performance individual em condições especiais, isto é, longe das quadras, campos, piscinas, etc., criando dúvidas em relação à sua aplicação na confecção das sessões de treinamento.

    Um outro problema é que estes requerem muito tempo para aplicação, por isso eles geralmente são aplicados apenas no início da temporada, o que pode levar a um total desconhecimento das respostas físicas e psicológicas apresentadas pelo atleta durante o decorrer da temporada. Condição esta que pode comprometer o rendimento e a saúde destes atletas, aumentando assim o risco de lesões físicas e psicológicas. (POWERS & HOWLEY, 2001; FOX, BOWERS & FOSS, 1989).

    Por isso é fundamental a busca por sistemas de avaliação mais simples, e que possam ser aplicados em períodos mais curtos de tempo, aumentando o conhecimento de técnicos e treinadores em relação às respostas apresentadas pelos atletas durante as sessões de treinamento, já que os atletas podem apresentar diferentes respostas físicas e psicológicas, mesmo sendo submetidos ao mesmo tipo de treinamento; um outro desafio a ser encontrado seria diminuir os custos de tais avaliações, tornando-os mais acessíveis a equipes de menor porte.

    O objetivo deste trabalho foi verificar a prontidão competitiva diária, isto é, o quanto o atleta estava preparado para a competição e o treinamento, relatada por atletas da modalidade basquetebol adulto masculino, através da aplicação de um questionário fechado, propondo a partir disso uma intervenção eficaz na busca por uma maior performance física e psicológica destes atletas.

    Quando pensamos no rendimento esportivo e na prontidão competitiva, isto é, o quanto o atleta está preparado para o esporte naquele momento, sabemos que os atletas necessitam apresentar níveis ótimos de condição psicológica, e uma preparação para tal deveria estar incluída no programa de treinamento; situação esta negligenciada por grande parte das equipes, já que o interesse pela preparação física geralmente é maior.

    Atualmente, através do crescimento das pesquisas científicas na área da Psicologia do Esporte e da demanda das produções bibliográficas sobre o assunto, temos o conhecimento de alguns estados emocionais que podem interferir na performance esportiva.


Auto-confiança e auto-eficácia

    A autoconfiança e a auto-eficácia são duas características psicológicas que, quando fortalecidas, atuam positivamente no resultando atlético. A autoconfiança é uma característica mais global e estável do indivíduo.

    Weinberg e Gould (2001) a definem como a crença que o atleta tem nele mesmo de que pode executar com sucesso um determinado comportamento desejado. Por outro lado, Bandura (1990) também afirma que a autoconfiança se refere ao grau de firmeza e convicção numa determina crença, mas sem especificar a situação.

    Machado (2006) caracteriza a autoconfiança como uma alta expectativa de sucesso, e descreve que a mesma, quando apresentada em um nível ideal, pode despertar emoções positivas, como favorecer a concentração, facilitar o estabelecimento de metas, aumentar o esforço destinado à determinada tarefa e fortalecer a focalização de estratégias.

    Quando este estado emocional é pouco manifestado em atletas, os mesmos podem prender-se mais em suas deficiências do que em seus pontos fortes e qualidades. Isso pode fazer com estes deixem de se concentrar na tarefa a ser realizada e ainda causar insegurança, afetando o desempenho (WEINBERG e GOULD, 2001).

    Pensando na auto-eficácia, Bandura (1995) descreve que a mesma atua como indicador da ação futura, sendo uma auto-avaliação, as crenças e os julgamentos que o indivíduo faz acerca de suas capacidades para executar ações em determinados momentos específicos do esporte, funcionando como um fator determinante do modo como as pessoas agem e se comportam, dos seus padrões e organizações de pensamentos e das reações emocionais que experimentam em situações de realização destas ações.

    Utilizando um dialeto mais simplificado, a auto-eficácia consiste no grau de convicção que uma pessoa tem de que pode executar com êxito um determinado tipo de comportamento necessário para se alcançar um resultado. São as crenças e os próprios pensamentos que o sujeito possui de suas capacidades individuais para realizar uma ou um conjunto de tarefas (BANDURA, 1993).

    Fazendo uma breve diferenciação entre os termos discutidos acima, relacionando-os com o tempo, esses autores acima mencionados afirmam que a autoconfiança é a característica mais global e estável do indivíduo. Já a auto-eficácia é mais específica a determinado tempo, ambiente e situação, podendo oscilar muito. Mas ambas as características são de extrema importância e funcionam, quando compreendidas e avaliadas, determinantes para se predizer o desempenho dos atletas pensando-se em performance competitiva.


Medo

    Um outro estado emocional que merece ser destacado e que tem tomado momentos de muita reflexão dos estudiosos da área diz respeito ao medo. Ele é considerado como inerente a todos os seres humanos, e um grupo de pesquisadores afirmam que tal sentimento é herdado geneticamente, e outros afirmam que o mesmo é fruto de um aprendizado social.

    Para Machado (2006), o medo é considerado um sentimento de tensão, nervosismo ou opressão, e é responsável por provocar nos indivíduos um estado de alerta frente algum perigo ou ameaça.

    É importante saber que este estado de alerta pode ser provocado por um estímulo real ou imaginário (através de pensamentos ameaçadores), e ambos são acompanhados de respostas fisiológicas como alterações nas freqüências cardíacas e respiratórias, aumento na pressão sangüínea, sudorese e excessiva ou nenhuma salivação. Podemos pensar também em alterações em nível motor, como contrações musculares desnecessárias e falta de coordenação motora (MACHADO, 2006).

    Através de pesquisas com base na neurociência, os cientistas puderam perceber que o medo tem sua originalidade nas amígdalas, pois estas são capazes de reconhecer uma ameaça por serem abastecidas pelo sistema límbico, caracterizado como o nosso "banco de memória". Detectado esta situação ameaçadora, as amígdalas encaminham a mensagem para o hipotálamo, ficando este último responsável pelas respostas ao organismo. A intensidade dessa resposta fará com que o indivíduo tome uma decisão: enfrentar a situação ou fugir dela.

    Quando pensamos no esporte, o medo é capaz de interferir negativamente na performance dos indivíduos devido à desorganização psíquica que é capaz de provocar nos mesmos. Machado (2006) nos apresenta seis distinções de medo que podem ocorrer com freqüência no âmbito do esporte:

  • Medo realístico: medo proveniente de situações reais que podem causar risco ao atleta, como algum tipo de lesão, dor física ou até mesmo a morte;

  • Medo do desconhecido: tal sentimento surge com freqüência em situações tidas como "novas" para o atleta, algo que ele nunca tenha vivenciado ou experimentado antes. É comum o aparecimento deste tipo de medo quando o atleta está prestes a entrar numa competição, pois o mesmo (e ninguém) sabe o que irá encontrar, e o desconhecido pode assumir um caráter do tipo assustador;

  • Ansiedade: este sentimento é provocado pela antecipação do medo propriamente dito, expressado por uma sensação de que algo de ruim está por vir;

  • Medo ilógico: o medo neste caso é manifestado por uma causa externa e injustificável, não tendo nenhuma razão lógica, clara e específica para acontecer;

  • Medo divertido: geralmente o sentimento de medo vem acompanhado por excitação ou prazer. São sensações complexas provocadas em situações de risco, porém que despertam outras emoções positivas nos indivíduos, como alegria e êxtase. Um bom exemplo destas situações são as vivências dos esportes radicais ou de aventura;

  • Medo do fracasso: este sentimento (medo de fracassar) faz com que os atletas fujam de situações de desempenho ou avaliações (como uma competição) buscando-se evitar o insucesso e decorrentes constrangimentos.

    Parafraseando ainda com Machado (2006), ele nos coloca que o medo do fracasso é uma das situações mais terríveis que o atleta pode ter que enfrentar, pois a derrota não pode ser evitada a todos os momentos, e ao entrar em uma competição sem saber se irá ganhar ou perder, o medo de fracassar pode se "instalar" no atleta prejudicando sua performance, devido a todas as conseqüências que essa sensação pode causar, já descritas anteriormente.

    O medo do fracasso pode ter inúmeras fontes responsáveis por sua origem, como a pressão dos pais e técnicos perante a vitória, influência da torcida e da mídia sobre o desempenho do atleta, preocupação excessiva em decepcionar os companheiros de equipe, entre outras.

    Em um estudo realizado com jogadores de futebol profissional, Roffé (1999) investigou trinta diferentes possibilidades de situações nas quais poderiam despertar o sentimento de medo nestes atletas. Nas suas análises, estiveram no topo da lista o medo de se lesionar, o medo de fracassar e o medo de errar.

    Como já citamos anteriormente o sentimento de autoconfiança e suas relações com a performance esportiva, destacamos que vários autores, dentre eles Machado (2006), Baker (2002), Weinberg e Gould (2001) e Roffé (1999), mencionam este estado emocional (autojulgamento com êxito na realização de ações motoras) atua positivamente no combate do medo e no autocontrole da situação.

    Ao pensarmos na prontidão competitiva, isto é, no quanto o atleta está preparado para a competição, nos é claro que deve haver uma harmonia dos estados fisiológicos e psicológicos, temos algumas evidencias de que as reações dos atletas com relação ao medo levam os mesmos a tomarem algumas atitudes que podem ficar claras nos treinamentos dos mesmos.

    Machado (2006) cita alguns sinais que podem retratar estes momentos, como ausências e atrasos corriqueiros nos treinos, excesso de tempo gasto nos aquecimentos, incapacidade de focalização da atenção, excesso de fadiga sem causa lógica, indícios de depressão, facilidades em adoecer e queixas constantes de dores interrompendo a seqüência dos treinos, mas que desaparecem quando o atleta não está em treinamento e demonstra-se apto a praticar outras atividades, como "bater uma bolinha" nos finais de semana.


Estresse

    Um outro componente psicológico que está diretamente relacionado com a prontidão competitiva é o estresse, definido por grande parte dos autores da área da psicologia do esporte (dentre eles: Samulski, 2002; McGrath, 1981; Nitsch, 1976) como um estado de desestabilização psicofísica, fruto da interação do indivíduo com o ambiente.

    Esses autores também afirmam que o estresse está presente na vida de qualquer ser humano e é importante para a manutenção e aperfeiçoamento da capacidade funcional e de autoproteção.

    Para Samulski (2002), quando pensamos na interação do atleta com o ambiente, o meio no qual o indivíduo está inserido pode indicar com qual probabilidade uma determinada realidade, situação ou agente provoca o estresse (meio externo). Tomando como referência o próprio indivíduo (meio interno), é sabido que sob as mesmas condições diferentes pessoas podem reagir de diversas formas, ou ainda em condições distintas elas podem apresentar uma mesma resposta ou ter o mesmo comportamento. Isto é explicado pelo autor devido ao processo de avaliação subjetiva pertencente a cada indivíduo.

    O fenômeno do estresse esportivo vem sendo estudado com freqüência no campo das Ciências do Esporte. Dentre alguns estudos, podemos citar alguns significativos como Lima (1996), que verificou quais as situações mais críticas geradoras de estresse no tênis de mesa; Gonçalves (1997 e 1993) e Chagas (1995), que analisaram em quais condições o estresse competitivo estava relacionado a jogadores de futebol de campo; e De Rose Jr. (1996), que desenvolveu e adaptou um instrumento para avaliar as condições e situações que podem levar atletas jovens à reação do estresse.

    O estresse merece uma significativa atenção porque influencia diretamente a prontidão competitiva. Por ser o ambiente esportivo um local de constante troca de interação entre o atleta e o meio (considerado como o meio físico - local do jogo, equipamentos, materiais - e outras pessoas - companheiros de equipe, adversários, técnicos, torcida, árbitros, família, entre outros), todas essas situações podem ser encaradas como desafiadores ou ameaçadoras pelo esportista, podendo ser ou não fontes geradoras de estresse, e isso dependerá, de acordo com Smith (1986):

  • da situação: tida como essa própria interação do meio e o indivíduo, o quanto ela pode ser ameaçadora ou não;

  • da avaliação cognitiva: processo de avaliação ou interpretação da situação pelo sujeito, que dependerá das próprias características pessoais dele, como nível de expectativa, auto-conceito, e nível de habilidade e experiência;

  • das respostas: resultantes da avaliação cognitiva da situação na qual o atleta se depara. Essas respostas poderão ser fisiológicas, motoras ou psicológicas.

    De Rose Jr. e colaboradores (2004) afirmam que outros estudos importantes sobre as situações causadoras de estresse no esporte competitivo, e que, acreditamos nós, afetam a prontidão competitiva podem ser citados, como Brandão (2000), De Rose Jr, (1999), James e Collins (1997), Gould, Jackson e Finch (1993), sendo que em todos eles as situações geradoras de estresse variam, independentemente da modalidade esportiva, e podem ocorrer por:

  • Má preparação física;

  • Necessidade de manter o padrão de desempenho;

  • Longos períodos de preparação e rotina de treinamento;

  • Falta de estrutura para o treinamento;

  • Problemas de alimentação;

  • Viagens longas;

  • Más condições dos locais de competição;

  • Erros durante jogos;

  • Intervenções dos técnicos;

  • Discussões com companheiros de equipe;

  • Arbitragem;

  • Dormir mal;

  • Problemas em relacionamentos amorosos;

  • Problemas familiares;

  • Falta de recompensas;

  • Falta de tempo para lidar com situações cotidianas;

  • Pressão da imprensa;

  • Entre outros.


Metodologia

    No início de janeiro de 2002, após uma reunião envolvendo toda a comissão técnica da equipe (técnico; assistentes; preparador físico; diretores; entre outros), foram traçadas as metas e o planejamento para a equipe no primeiro semestre, sendo que as sessões de treinamento foram divididas da seguinte maneira:

  • Os atletas foram submetidos a duas sessões diárias de treinamento, de segunda à sexta-feira, sendo uma no período da manhã, com início às 10:00h e término às 12:00h, e outra sessão no período da tarde, das 18:00h às 20:00h;

  • As sessões do período da manhã foram destinadas ao treinamento físico, compreendendo sessões de treinamento de força (em média 2 a 3 dias por semana); treinamento da capacidade aeróbia (1 a 2 dias por semana); capacidade anaeróbia (2 dias por semana); agilidade, e outras (2 a 3 dias por semana), sendo que algumas capacidades físicas eram combinadas e treinadas no mesmo dia, como: treinamento de força e capacidade anaeróbia, agilidade e capacidade aeróbia, etc. Esta sessão era de responsabilidade do preparador físico da equipe;

  • No período da tarde os atletas treinavam habilidades específicas da modalidade; situações de jogo e eram conduzidos os coletivos pelo técnico responsável.

    O início das sessões de treinamento ocorreu no dia 14 de janeiro de 2002, mas somente no dia 15 de janeiro os atletas foram orientados como deveriam responder os questionários.

    O questionário foi preenchido durante 16 dias no mês de janeiro; 28 dias no mês de fevereiro; 31 dias no mês de março; 30 dias no mês de abril e 31 dias no mês de maio, totalizando um período de 136 dias, sendo que 75 dias fizeram parte do período preparatório da equipe, e 61 dias fizeram parte do período competitivo.

    Participaram da pesquisa uma amostra de 9 atletas da equipe Rio Pardo/Maga, com idades entre 19 e 26 anos, participante do II Torneio Novo Milênio de Basquetebol Adulto Masculino durante os meses de janeiro a maio de 2002, mas somente 5 atletas, com idades entre 21 e 26 anos, tiveram seus questionários utilizados, já que 4 atletas não preencheram corretamente o instrumento durante todo o período investigado.

    Cada atleta foi orientado a responder diariamente um questionário fechado proposto por Yusuf Omar, 2002. Estes questionários funcionavam também como um diário de treinamento, já que neste instrumento havia além da variável prontidão competitiva, outras variáveis como: horas de sono; qualidade de sono; sensação de fadiga; vontade de treinar; apetite; dores musculares; peso; e freqüência cardíaca basal.

    O item "Prontidão Competitiva" foi definido juntamente com os atletas como: "o atual estado físico e psicológico do mesmo se ele participasse de uma competição naquele dia".

    Este item era composto pelos níveis: alto (considerado o maior nível físico e psicológico por parte do atleta); médio (definido como um nível mediano), baixo (significando um baixo nível de prontidão); e nenhuma prontidão competitiva (definido como baixíssimo estado físico e psicológico). Todos os atletas foram orientados a responder seus questionários diariamente antes da principal sessão de treinamento, e devolvê-los ao final de cada mês. Para um melhor tratamento dos dados, os mesmos estão apresentados em valores absolutos e percentuais.


Resultados

    Durante toda a temporada foram coletados 680 relatos referentes à prontidão competitiva, sendo 375 relatos no período preparatório; que teve uma duração aproximada de 75 dias, e 305 relatos durante o período competitivo; que teve uma duração de 61 dias.

    Durante toda a temporada os atletas relataram apresentar 55.59% (378 relatos) de prontidão alta; 28.24% (192 relatos) de prontidão média; 12.79% (87 relatos) de prontidão baixa; 3.38% (23 relatos) de nenhuma prontidão.

    Quando verificamos apenas o período preparatório; que teve duração aproximada de 75 dias, os atletas relataram 59.73% (224 relatos) de prontidão alta; 26.67% (100 relatos) de prontidão média; 11.73% (44 relatos) de prontidão baixa; 1.87% (7 relatos) de nenhuma prontidão.

    Durante o período competitivo; que teve duração aproximada de 61 dias, os atletas relataram 50.50% (154 relatos) de prontidão alta; 31.16% (92 relatos) de prontidão média; 14.09% (43 relatos) de prontidão baixa; 5.25% (16 relatos) de nenhuma prontidão.


Conclusões

    O esporte de alto rendimento necessita de atletas cada vez mais preparados, para um maior número de competições em um menor intervalo de tempo. Por outro lado, as altas cargas de treinamento vividas por estes atletas podem reduzir os seus níveis de prontidão competitiva, já que estas cargas podem levar a uma redução das capacidades físicas e psicológicas.

    Este trabalho também serve para desmistificar a crença popular que atletas profissionais são homens de aço, já que quase 45% dos relatos a prontidão competitiva destes atletas estava ente média, baixa ou nenhuma prontidão competitiva. Isto demonstra claramente que não é todo dia que o atleta consegue atuar com a máxima performance, como um homem de aço. Estes atletas são dotados de uma alta capacidade para a competição, mas também tem limites físicos e psicológicos, estando sujeitos a alterações em seus estados de humor, a sentir medo, a não saber lidar com o estresse, entre outros.

    Seria importante também investigar os relatos da prontidão competitiva em dias mais próximos aos jogos e durante os mesmos, para que possam ser observados se o atleta está realmente preparado para aquela competição, possibilitando com isso a adequação das cargas de treinamento, bem como intervenções psicológicas a fim de maximizar o rendimento esportivo.

    Muitos técnicos e atletas acreditam na frase "Treino é jogo", portanto tão importante quanto jogar é treinar, por isso também é necessária uma alta prontidão competitiva também em dias de treinamento, já que este estado pode indicar uma maior performance nos dias de jogos.

    Este trabalho também demonstra a necessidade de um trabalho psicológico, para atuar na redução do estresse causado pelas altas cargas de treinamento diário, aumentando o envolvimento destes atletas de modo satisfatório com a competição e as sessões diárias de treinamento.

    Uma solução prática também seria a introdução de diários de treinamento, permitindo ao atleta registrar eventuais problemas que possam interferir em sua performance e saúde, aumentando com isso o conhecimento dos treinadores em relação às respostas individuais apresentadas pelos diversos atletas de sua equipe.


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