Árvores genealógicas e cladística como base para o estudo das relações históricas entre as danças de salão: uma proposta Genealogical tree and cladistics in the study of historical relations among ball dances: a proposal |
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Mestre em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná. Secretaria Municipal da Saúde do Município de Curitiba. Faculdade Anchieta de Ensino Superior do Paraná - FAESP. |
Maristela Zamoner maristelaz@curitiba.org.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 113 - Octubre de 2007 |
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Introdução
As recentes discussões sobre a importância da interdisciplinaridade vêm fomentando a união de áreas, o que permite o surgimento de novos conhecimentos. A área das Ciências Biológicas recebe contribuição e contribui sensivelmente com outras áreas como: Sociologia, Antropologia, Direito, Estudos de Cultura, Lingüística, Matemática, Física, História, Geografia etc..
Darwin (1871) já se referiu ao fato que a evolução de aspectos culturais e das espécies ocorre paralela e gradualmente. Trabalhos que utilizam a metodologia cladística na análise da classificação de línguas, fazendo uso de caracteres fonológicos e morfológicos datam de desde o fim da década de 1930 (Kroeber & Chretien, 1937) até recentemente (Ribeiro, 2006). Estudos que analisam analogias entre aspectos culturais como a lingüística e processos fundamentais de evolução (Pagel, 2000), apresentam resultados significativos. Como as línguas, as danças são resultado de processos culturais que envolvem desde a genética dos indivíduos até eventos ambientais.
Dawkins (2001) também apresenta comparações entre as unidades replicáveis de conhecimento, que denominou de memes, e os genes. Nesta ótica, cada dança é composta por um pool memético, ou seja, um conjunto de memes. Da mesma forma que as espécies estão sujeitas à seleção natural, as expressões culturais, dentre elas as danças, estão sujeitas à seleção social. Os processos de extinção e de surgimentos de novas espécies ou danças têm semelhanças que permitem o uso de metodologias semelhantes para estudo. Como as linhagens biológicas se dividem e podem ser representadas por árvores genealógicas, as danças também o fazem. Robinson (1978) chegou a apresentar um diagrama indicando a gênese e as aplicações contemporâneas da dança.
Em relação à dança de salão, é reconhecido um padrão evolutivo puramente cultural. Todas as espécies atuais tem um único ancestral comum. Retrocedendo ao passado podemos perceber que todas as danças de salão atuais, possivelmente, tiveram uma única como origem. Esta dança original, para qual se propõe a denominação de protodança, transformou-se nas atuais, por meio de misturas com outras danças e de modificações que ocorreram e foram replicadas. A transmissão das danças (memes) ocorre de geração a geração, sendo que a palavra "geração", neste caso, significa um período no tempo em que as danças ocorrem mantendo determinadas características.
A idéia da árvore para representação de relações de parentesco foi introduzida por Schleicher (1861). Desta forma, entende-se que é possível propor o estudo da estrutura evolucionária das danças na forma de uma árvore (Strazzacappa, 2001).
Um grande desafio atual para este estudo, é o processo de miscigenação horizontal que vem ocorrendo pelo processo natural de globalização. As danças vêm sendo disseminadas em regiões onde existem outras danças, promovendo misturas e reformulações.
Existem documentos sobre a história das danças de salão que nos permitem produzir árvores genealógicas. É importante que estas sejam produzidas e comparadas em estudos posteriores para o aprofundamento do conhecimento na área.
O aprimoramento deste estudo pode ser feito pelo uso da cladística. Esta é a técnica de análise do processo evolutivo que se baseia na descoberta das relações filogenéticas, analisando o que se chama de caracteres ancestrais ("primitivos") comparativamente aos caracteres derivados (Zamoner, 2007). Para o uso deste método no estudo das danças de salão, é preciso inicialmente elencar características das danças de salão para posteriormente determinar quais são primitivas e quais são derivadas, o que permite a construção do cladograma.
O objetivo deste trabalho é propor, com base em um autor, uma árvore genealógica para demonstrar as relações históricas entre as danças de salão e identificar características desta arte que permitam iniciar uma lista para discussão e futura aplicação na construção de cladogramas.
MetodologiaFoi procedido o estudo das relações históricas das danças a partir do livro "Samba de Gafieira - a história da dança de salão brasileira", de Marco Antônio Perna. A partir deste estudo foi desenvolvida uma árvore genealógica de 18 danças de salão. O diagrama foi apresentado ao autor do livro referência para aprovação.
Elencaram-se características das danças de salão possíveis de serem usadas para construção futura de cladoramas que podem ser analisados comparativamente com as árvores genealógicas.
Resultados e discussãoO diagrama abaixo foi desenvolvido a partir da análise das relações históricas entre as danças, apresentadas por Perna (2005) e conferência por parte do autor do livro usado como referência.
As características danças de salão, classificadas como primitivas e derivadas, sugeridas como iniciais para proposição de um estudo cladístico são:
Características e exemplos:
Casal: sem formar casal: danças livres para as quais não se forma casal, exemplo: gavota; danças que formam casal, exemplo: valsa, samba de gafieira, bolero, tango;
Direção frontal/traseira: exemplos: direção frontal, exemplo: bolero carioca, samba de gafieira, salsa em linha e direção lateral, exemplo: valsa, curinga (Demário e Zamoner, 1999);
Proximidade do casal: com distância, exemplo: valsa; aproximado, exemplo: maxixe;
Conduções de perna ("sacadas"): com conduções de perna, exemplo: tango; sem conduções de perna, exemplo: salsa;
Movimentação vertical de quadril: presente em samba, salsa, ausente em bolero, valsa;
Movimentação horizontal de quadril: presente em bolero, tango, ausente em valsa;
Execução de S: presente em: samba de gafieira, bolero, tango, ausente em valsa;
Troca de casais como parte da dança: presente em Roda de Cassino e ausente em valsa, samba de gafieira, bolero carioca, salsa, tango.
ConclusãoO presente trabalho permitiu a produção de uma árvore genealógica demonstrativa das relações históricas entre as danças de salão com base em um autor, o que demonstra que podem ser produzidas outras árvores partindo de outras fontes para aprofundamento de estudos futuros.
A proposição inicial de características (primitivas e derivadas) visando futuro uso por meio de técnicas de cladística deve ser ampliada para produção de cladogramas.
A produção de árvores genealógicas e cladogramas demonstrativos das relações históricas entre as danças de salão configuram contribuições para solidificação de um conhecimento histórico mais definido.
Referências bibliográficas
DARWIN, C. The Descent of Man. London: Murray. 1871.
DAWKINS, R. Gene Egoísta (O) Belo Horizonte (MG): Itatiaia, 2001.
KROEBER, A. L. & C. D. CHERETIEN. Quantitative Classification of Indo-European Languages. Language 2. Vol. 13: 83-103. 1937.
PERNA, M. A. Samba de Gafieira a História da Dança de Salão Brasileira. 3ª ed. s/ editora. Rio de Janeiro. 2005.
PAGEL, M. Maximum-Likelihood Models of Glottochronology and for Reconstructing Linguistic Phylogenies. In: C. RENFREW, A. MCMAHON & L. TRASK (eds.). Time Depth in Historical Linguistics. Cambridge: The McDonald Institute for Archaeological Research. p. 413-439. 2000.
RIBEIRO, L. A. A. Quantitative approach to the classification of Indo-European language. DELTA, vol.22, no.2, p.329-344. 2006.
ROBINSON, J. Le langage chorégraphique. Paris: Vigot, 1978.
SCHLEICHER, A. Compendium der Vergleichenden Grammatik der Indogermanischen Sprachen: Kurzer Abriss einer Laut-und Formenlehre der Indogermanischen Ursprache. Weimar: Hermann Böhlau. 1861.
STRAZZACAPPA, Márcia. The education and the body's factory: dance in school. Cad. CEDES. Campinas, v. 21, n. 53, 2001.
ZAMONER, M. Biologia Ambiental. Editora Protexto. Curitiba. 2007.
revista
digital · Año 12
· N° 113 | Buenos Aires,
Octubre 2007 |