Investigando a tarefa e os fatores de risco em gestantes trabalhadoras: tradução e adaptação transcultural do "Task Description Questionnaire" no Brasil Investigating the tasks and risk factors of working pregnant women: translation and trans-cultural adaptation of the Task Description Questionnaire in Brazil |
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*Doutoranda UFSC - Ergonomia. UDESC/UFSC-CTC. **UFSC-CTC. ***UFSC - CFH. (Brasil) |
Ms. Fabiana Flores Sperandio* Dra. Leila Amaral Gontijo** Dra. Edite Krawulski*** d2fs@udesc.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007 |
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Introdução
Diante da constatação de que a mulher moderna está cada vez mais inserida no atual mercado de trabalho, seria necessário o entendimento, aprofundamento e aprimoramento do estudo sobre a relação entre a atividade laboral e a gestação. Neste caso, os instrumentos ou questionários de avaliação constituem uma importante ferramenta em programas de promoção de saúde materno-infantil, pois aferem os efeitos do trabalho à condição de grávida.
Estudos com gestantes estimam que cerca de 10 a 20% de todas as gravidezes reconhecidas fracassam. O dado mais preocupante é que, em 2 a 3% dessas gravidezes, os bebês têm problemas congênitos (COLIN, BISHOP, 1984; FRATTARELLI; MOORE, 1998;). No entanto, a análise do estudo de Frattarelli e Moore (1998) revelou que as causas desses fracassos e dos problemas congênitos estão relacionadas com fatores como o stress físico, a radiação, as cargas, os agentes biológicos, os anestésicos, os solventes, dentre outros.
A monitorização dos efeitos do trabalho sobre a gestação tem despertado o interesse de vários pesquisadores internacionais (A GUIDE FOR NEW AND EXPECTANT MOTHERS, 1997, 2003; ERGONOMICS & PREGNANCY, 1998; TAPP, 2000, 2001; KALISH; LATIF, 2005; SLOCOCK, 2005; PEMBRY, 2006; ENVIRONMENT HEALTH AND SAFETY MANUAL, 2007). Em síntese, a preocupação dos autores é de que os limites ergonômicos para cada fator de risco, no local de trabalho, durante a gestação, devam ser amplamente atendidos e divulgados.
Face à inexistência, no contexto brasileiro, de um instrumento elaborado com essa finalidade, utilizou-se o Periódico Capes como ferramental de busca, para que fossem identificados, na literatura afim, questionários ou escalas que pudessem ser adaptados à cultura brasileira, dada a premente necessidade de manter a gestante trabalhando com segurança, saúde e bem-estar.
No campo da saúde do trabalhador, pesquisadores, como Minayo (2004) e Richardson et al. (1985) dão ênfase à análise do processo saúde-doença do trabalhador através da abordagem qualitativa. No entanto, Halpern et al. (2001), Leijon et al. (2002) e Laperrière et al. (2005) sugerem a utilização desses questionários como uma das formas para investigar as atividades de trabalho/lazer na população, em geral.
Em pesquisas sobre a temática, saúde da gestante trabalhadora, encontram-se algumas pesquisas com seus respectivos questionários (GREEN et al., 2003; OHMAN; GRUNEWALD; WALDENSTROM, 2003; CHIEN; KO, 2004). Todavia, esses instrumentos abrangem, isoladamente, diferentes dimensões.
No Brasil, a utilização de questionários foi problematizada por Silva e Formigli (1994). Segundo a análise destes autores, o exercício da investigação cotidiana dos serviços de saúde nacionais enfrenta problemas, tanto metodológicos quanto operacionais, por não recorrer a métodos previamente validados e confiáveis.
Na tentativa de minimizar estes problemas, a adaptação ou a tradução de questionários deve ser uma prática de pesquisadores na área de ciências da saúde. No entanto, o processo de adaptação de um instrumento requer muito mais do que uma simples tradução: é necessário que seja adaptado culturalmente para que mantenha a validade de conteúdo entre o questionário de origem/fonte (source) e o de destino/alvo (target) e, assim, alcance a equivalência requerida (HERDMAN; FOX-RUSHBY; BADIA, 1997).
Além disso, é preferível usar um instrumento já desenvolvido em outro idioma e cultura a criar e validar um novo instrumento. Essa dinâmica, quando bem executada, confere maior rapidez e confiabilidade à pesquisa (BEATON et al., 2000).
Dessa forma, o objetivo do presente artigo é descrever o processo de tradução e adaptação da versão inglesa canadense, para o português, do Task Description Questionnaire, elaborado por Cheng et al. (2006b), e contribuir para a investigação sistemática do processo saúde da mulher gestante no ambiente de trabalho.
O Task Description Questionnaire (TDQ) foi criado e validado por Cheng et al. (2006b), para ser aplicado em gestantes que exercem uma função remunerada. O objetivo do estudo foi realizar um levantamento dos problemas que as mulheres grávidas experimentam ao continuarem trabalhando durante a gestação. Mais especificamente, os autores buscaram identificar os fatores de risco relevantes em seu local de trabalho e a influência destes fatores na execução da tarefa.
Nessa linha de pensamento, a identificação precoce de tais elementos poderia reduzir o número de injúrias musculoesqueléticas e a incidência de dor nas costas, causadoras de inúmeros afastamentos de gestantes para tratamento de saúde (FAST et al., 1987; OSTGGARD; ANDERSSON; SCHULTZ; MILLER, 1993; PAUL; VAN DIJK; FRINGS-DRESEN, 1994; FRANKLIN; CONNER-KERR, 1998; LEE; HER, TSUANG, 1999; HALPERN et al., 2001; GILLEARD; CROSBIE; SMITH, 2002; SYDSJO et al., 2003).
Mais especificamente, tais estudos têm sido conduzidos para avaliar o desempenho da tarefa e os fatores limitantes no exercício de suas atividades profissionais (NICHOLLS; GRIEVE, 1992a; NICHOLLS; GRIEVE, 1992b; MORRISSEY, 1998; CHENG et al., 2006a).
Material e métodoRealizou-se um estudo qualitativo inicial, com 22 gestantes, trabalhadoras da comunidade local. Destas, somente 18 fizeram parte do estudo piloto, e foram selecionadas pela técnica de amostragem não probabilística acidental. As pesquisadas freqüentavam a sala de atendimento pré-natal do Hospital Polydoro Ernani de São Thiago - Campus da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina. Não fizeram parte do estudo as gestantes analfabetas, com déficits visuais e/ou auditivos, doenças crônico-degenerativas, cognitivas e/ ou neurológicas.
A comissão interdisciplinar de especialistas foi composta, além do primeiro autor, por mais 13 profissionais: dois professores doutores em língua inglesa, um professor doutor e fisioterapeuta, um fisioterapeuta com proficiência e fluência no inglês, uma enfermeira, dois nativos de língua inglesa, dois ginecologistas obstetras, um doutor em ergonomia, além das duas doutoras em ergonomia, autoras do artigo.
Este estudo obteve a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Obteve-se, igualmente, a autorização e os direitos para adaptação, por escrito, via e-mail, com a Doutora Genevève A. Dumas do Departamento de Engenharia Mecânica da Quee´s University, Kingston, Ontário, Canadá, responsável pelo questionário.
Descrição do instrumento originalO Task Description Questionnaire é um instrumento simples, rápido de ser aplicado e economicamente viável, que busca rastrear as condições de trabalho e as conseqüentes alterações físicas e psicológicas da gestante em seu ambiente de trabalho. O questionário apresenta seis questões (Q): Q1 e Q2 solicitam que o sujeito descreva sua atividade profissional e os materiais, as máquinas e os equipamentos presentes em seu trabalho. A Q3 está subdividida em uma escala nominal (sim/não) com 22 subitens, nos quais os sujeitos identificam os componentes relacionados à postura (manuseio de objetos, movimentos com o tronco); ao levantamento de peso manual (levantar, carregar, puxar e empurrar); à postura mantida do trabalho (em pé, sentada); ao ritmo de trabalho; e outras (ambiente e estresse) presentes em sua tarefa. Os sujeitos também podem adicionar itens à lista, desde que estes estejam envolvidos na tarefa. A Q4 está relacionada com as dificuldades encontradas na realização da tarefa em função da gestação, selecionando sim/não para cada um de oito fatores apresentados e classificando-os na ordem em que contribuem para a dificuldade. As Q5 e Q6 investigam a intensidade do esforço exigido para a realização das tarefas e o desconforto sentido durante a gestação (apresenta-se uma figura de gestante, da posição antero-posterior), respectivamente. Estas duas últimas questões são acompanhadas de uma escala do tipo likert de 10 pontos, variando de 0 (intensidade nula) a 10 (intensidade máxima).
ProcedimentosO procedimento adotado para realizar a adaptação do questionário TDQ seguiu as recomendações e modelos de diversos autores (GUILLEMIN et al., 1993; HERDMAN; FOX-RUSHBY; BADIA, 1997; HERDMAN; FOX-RUSHBY; BADIA, 1998; HERDMAN; FOX-RUSHBY; BADIA, 1997; BEATON et al., 2000). A Figura 1 apresenta o caminho percorrido pelos autores do artigo.
Segundo o modelo desenvolvido por Herdman; Fox-Rushby; Badia (1998), e aplicado em pesquisas nacionais por Reichenheim; Moraes; Hasselmann (2000); Reichenheim; Moraes (2003); Alves et al.(2004) e Fiszman et al. (2005), para que haja a equivalência transcultural de um instrumento, é preciso que este seja submetido à análise ordenada de 6 subtipos de equivalências, quais sejam: conceitual, de itens, semântica, operacional, de mensuração e funcional.
A equivalência conceitual diz respeito à equivalência de conceitos e de domínios entre a cultura de origem e a cultura alvo em que será desenvolvida a nova versão. Esses conceitos e domínios são explorados em questões ou em itens contidos no instrumento.
A equivalência de itens requer a análise de uma comissão de especialistas (juízes ou peritos no assunto), uma revisão da literatura e o julgamento de membros da população-alvo.
A equivalência semântica, muito explorada em processos de adaptação transcultural, consiste em encontrar correspondência lingüística (gramática e vocabulário), através da tradução e retradução, e cultural entre os itens originais e vertidos, quando aplicada a diferentes idiomas. Além das etapas clássicas da equivalência semântica (tradução e retradução), uma etapa adicional de interlocução foi adicionada, por sugestão de Reichenheim, Moraes e Hasselmann, (2000) em seu estudo com mulheres gestantes. Para tanto, a comissão de especialistas sugeriu a utilização dos testes de clareza e de validade propostos por Melo (1998).
A equivalência operacional refere-se aos cuidados metodológicos, isto é, ao modo de aplicação do instrumento e ao número de opções de resposta, proporcionando maior validade e confiabilidade ao instrumento.
A equivalência de mensuração apresenta vários métodos e existe muita discussão sobre o tema na literatura (HERDMAN; FOX-RUSHBY; BADIA, 1998). Essa equivalência avalia as propriedades psicométricas, através de medidas de confiabilidade (coeficiente de correlação intraclasse ou Kappa), e a consistência interna (Alpha de Chronbach´s).
A equivalência funcional refere-se a quanto o instrumento mede na cultura alvo e o que se propõe a medir na cultura de origem.
Sendo assim, este artigo descreve os cinco primeiros tipos do processo de equivalência transcultural do Task Description Questionnaire (TDQ). A equivalência de mensuração e a funcional serão obtidas com a aplicação deste instrumento, a posteriori.
Estudo pilotoNesse estudo, o TDQ foi denominado Questionário Descritivo da Tarefa Profissional (QDTP), e foi submetido a duas avaliações diferentes (teste 1 e 2) no público-alvo, para experimentação e adaptação. O teste 1 foi realizado, inicialmente, com nove gestantes, e o teste 2, em outras nove gestantes, totalizando 18 gestantes pesquisadas. Esta dinâmica foi similar ao estudo de Torres, Hortale e Schall (2005).
Após a apresentação dos objetivos do estudo, o pesquisador lia as questões e as respostas, em voz alta, para cada sujeito pesquisado. Na seqüência, o entrevistado deveria selecionar uma resposta que melhor representasse o nível de compreensão do instrumento (MELO, 1998). As alternativas de respostas para cada questão foram então dispostas do seguinte modo: 0 a 4=confusa/ inválida; 5 a 7=pouco clara/ pouco válida; e 8 a 10=clara/ válida.
ResultadosTradução
O QDTP foi traduzido para o português por dois professores independentes, cuja língua materna é o português, os quais são detentores do título de doutor em letras, sendo um deles, ainda, tradutor público e intérprete. Apenas um dos tradutores estava ciente das características do estudo. Sete dias após a entrega do questionário original em inglês, houve uma reunião com os dois tradutores, o pesquisador principal e a comissão de especialistas, para que fosse gerada uma versão consensual: T1+T2=T12. De modo geral, a tradução foi considerada fácil. O Quadro 1 demonstra alguns itens que foram modificados.
RetraduçãoNesta etapa, a versão consensual T12 foi apresentada a dois professores cuja língua materna é o inglês, para que fosse retraduzida (R1 e R2). Esses profissionais não haviam participado da etapa anterior e não tinham conhecimento do documento original em inglês. As duas versões dos relatórios foram comparadas ao questionário original, em uma reunião entre esses nativos, o pesquisador principal, e a comissão de especialistas, para que fosse confeccionada a versão consensual em inglês: R1+R2=R12. O Quadro 2 demontra o produto final dos itens que foram modificados.
Versão preliminarAo final desse processo, a comissão de especialistas entendeu que a versão preliminar estava pronta para ser testada sob os critérios de clareza e de validade. Os resultados dessa aplicação demonstraram que três questões estavam pouco claras e deveriam ser modificadas/ajustadas (média < 7). No entanto, o quesito validade não apresentou índices abaixo do ponto de corte, já no teste 1.
Análise dos resultados pela comissão de especialistasO objetivo do teste 1 foi coletar informações para se fazer a "inclusão ou substituição" de pequenos termos, frases ou situações culturalmente pertinentes, que não estavam presentes nas questões do questionário original (BANDEIRA; CALZAVARA; VARELLA, 2005). As modificações podem ser vistas no Quadro 3.
Após a realização dessas modificações, aplicou-se o teste 2, com dinâmica semelhante à do primeiro teste, visando à melhora nos escores obtidos no teste 1. A aplicação do teste 2 do instrumento TDQ nas outras nove gestantes demonstrou bons índices de clareza (média de 8,8 a 9,4). A comissão entendeu que esta etapa estava finalizada.
DiscussãoCom base nos relatos da literatura, na análise e discussão com a comissão de especialistas e nas sugestões das respondentes brasileiras, considerou-se que essas estratégias metodológicas maximizaram o grau de compreensão e de refinamento das questões do instrumento. Tais estratégias têm como base os fundamentos teóricos de Bandeira, Calzavara e Varella (2005), que afirmam que estudos de equivalências promovem a identificação clara de possíveis dificuldades na forma de aplicação do instrumento, de incoerência no conteúdo das questões e de inadequações nas alternativas de respostas.
No que se refere à equivalência conceitual e de itens entre "tarefa e atividade", entende-se que, na cultura popular brasileira, esses termos não apresentam distinções. Entretanto, estudos de áreas dedicadas à compreensão do trabalho humano diferenciam estas terminologias. A visão de Montmollin (1984) considera que a atividade é o que se faz realmente, enquanto a tarefa indica o que deve ser feito. Dessa forma, optou-se pela denominação de Questionário de Descrição da Tarefa Profissional (QDTP), como se pode ver no Apêndice, não assumindo a troca de task (tarefa) por atividade (referencial semântico).
A aplicação do teste 1 revelou pequenos problemas na construção dos itens, conforme Pasquali (1996,1998). Seguindo seus critérios, para a construção de itens, é necessário que o item expresse: comportamento, objetividade, simplicidade, clareza, relevância, precisão, variedade, modalidade, tipicidade, credibilidade-face validity. Por entender-se que esse processo é uma "re-construção" de itens, sobrepôs-se as questões a tais critérios. Em suma, verificou-se a desatenção ao critério da clareza e da simplicidade, isto é, o item não se mostrou facilmente inteligível, devendo-se, assim, utilizar frases curtas, com expressões simples e significativas. Nesse sentido, por sugestão das respondentes, optou-se por trocar a palavra abdômen por "barriga", assento por "cadeira", além de introduzir o termo "tronco para frente" na Q3 e na Q6, adicionou-se o termo "ao toque".
Para satisfazer ao critério da credibilidade, na Q5, adicionou-se a palavra "quanto" e a expressão "comparado ao período gestacional". Na Q6, o construto desconforto foi categorizado como dor, cansaço, dormência ou formigamento ao toque, para adaptá-lo ao critério semântico (exigência da comissão e das respondentes) e sintático (comissão de especialistas), já apontados previamente por Richardson et al. (1985). Construtos como a dor, o medo e o stress, por exemplo, embora não possam ser diretamente observados, podem ser mensurados pelos atributos ou indicadores derivados de suas definições (BRAGA; CRUZ, 2006). Nessa linha de pensamento, para satisfazer ainda mais ao critério da credibilidade e ao da precisão, na Q6, estabeleceu-se que uma área corporal poderia ser escolhida na figura, objetivando a identificação e a focalização do desconforto (validade de face).
Outro item não contemplado plenamente foi o critério da variedade da linguagem. Para evitar problemas sintáticos ou cansaço da ouvinte, retirou-se das questões a expressão "por favor" e introduziu-se um agradecimento ao final: "Muito obrigado pela sua atenção!" Excluiu-se, da Q4, a frase "Marque NA para fatores que não se aplicam", para satisfazer ao critério da objetividade, por entender-se que, se a opção escolhida foi N (Não), fica implícita a ausência deste fator.
As estratégias metodológicas deste estudo foram implementadas visando o aparecimento de vieses (erros) de respostas e problemas na equivalência semântica verificados quando o instrumento não é facilmente compreensível e, nesse caso, a pesquisada solicita informações complementares (PASQUALI, 1998).
É importante lembrar ainda que não foram incluídos itens neste questionário, uma vez que tal procedimento configura outro questionário, cujas propriedades, principalmente as de natureza psicométrica, não são, necessariamente, equivalentes às do original (REICHENHEIM; MORAES, 2003).
Finalmente, uma lacuna desse estudo diz respeito à inexistência, por ora, de uma avaliação da confiabilidade e validade concorrente do QDTP. Entretanto, o processo aqui descrito constitui a primeira etapa de uma pesquisa mais ampla e que está sendo concluída, envolvendo o exame da confiabilidade (teste e reteste) do TDQ para o português. O índice Kappa foi usado para investigar a confiabilidade da versão brasileira. Sabe-se, porém, que os testes de validade concorrente na área da saúde são dificultados pelo baixo número de medidas standarts (DA SILVA, 2005).
Ainda que haja, em grande parte, equivalência conceitual, de itens, semântica, cultural e operacional, não se pode deixar de considerar as discrepâncias entre as condições de trabalho, sanitárias, tecnológicas, legais, bem como as condições de vida das trabalhadoras brasileiras e das trabalhadoras canadenses (ALVES et al., 2004).
Nesse contexto, acredita-se, a priori, que a saúde da gestante possa ser investigada por meio do QDTP. A detecção de pequenas disfunções no âmbito ocupacional facilita a reflexão e até o redirecionamento decisório (ajustar, manter ou afastar a trabalhadora) por parte dos empregadores sobre a segurança e a saúde materno-fetal. Por outro lado, é fundamental distinguir, em pesquisas futuras, possíveis fatores de discriminação e até de exclusão, que podem limitar ou não o prazer e o direito de gestar no atual mundo do trabalho.
Sendo assim, sugere-se que esse instrumento, na forma como se apresenta, permita escrutinar diversas condições e eventos situados em ambientes/postos de trabalho onde haja mão-de-obra feminina. Enfim, essa "modelagem" brasileira do instrumento deve ser analisada e debatida pelos pares, o que conduzirá, com certeza, à exploração e à compreensão da polivalência das relações que a mulher estabelece como mãe e trabalhadora.
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