Conhecimento de usuários e ex-usuários sobre as causas e efeitos da utilização de esteróides anabolizantes Known of users and former users about causes and effect the utilzation of anabolic steroids |
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*Professor de Educação Física. **Acadêmica de Educação Física da UFSC. **Profª. Drª. do DEF/CDS/UFSC; Programa de Pós-graduação da UFSC. (Brasil) |
Douglas Coelho* Daniele Detanico** Saray Giovana dos Santos*** danieledetanico@gmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007 |
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Introdução
O uso indiscriminado de esteróides anabolizantes não é mais exclusivo de atletas, mas também de jovens que praticam atividade física pelo simples prazer e bem-estar. No Brasil, há indícios que sugerem que o uso de anabolizantes está crescendo entre os jovens pertencentes a diferentes classes sociais (IRIART e ANDRADE, 2002), podendo representar, em breve, um importante problema de saúde pública. De acordo com dados do CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), o consumidor preferencial no Brasil está entre 18 e 34 anos e, em geral, é do sexo masculino.
Kam e Yarrow (2005) sugeriram quatro grupos de consumidores de esteróides anabolizantes: esportivo, representado por diferentes atletas que objetivam melhora de performance; recreacional constituído por bodybuilding, ou seja, não-atletas que utilizam anabolizantes com propósito estético; cosmético, constituído por pessoas que têm como objetivo definir a musculatura e; ocupacional, constituído por policiais, seguranças, vigias e profissionais de esportes.
Os anabolizantes, que são substâncias que possuem a finalidade de promover o maior rendimento na atividade desenvolvida, são conseguidos de várias formas. Legalmente em farmácias, pois são fornecidos somente com receitas médicas. Ilegalmente, em lojas de suplementação alimentar e, mais recentemente com a utilização de anabolizantes para animais, pode-se conseguir em casas de agropecuárias. Talvez por estes motivos que o número de usuários vem aumentando.
A grande preocupação é que o uso destas substâncias produz mais malefícios que benefícios, pois, produzem uma infinidade de efeitos colaterais que promovem inúmeras reações psicológicas que variam a mudanças no humor, como euforia, irritabilidade, agressividade (HALL et al., 2005) até mudanças físicas como crescimento de mamas em homens (ginecomastia) ou excesso de pelos (hirsutismo) em mulheres, podendo causar dependência e em alguns casos até a morte (SANTOS, 2003; MUNIZ et al., 2004).
O uso de tais substâncias deveria ser prescrito e acompanhado por endocrinologista, pois os anabolizantes são utilizados em tratamentos de doenças, a exemplo o HIV, hipogonadismo, hepatite, anemia associada com leucemia (BASARIA et al., 2001). No entanto, isso não ocorre, pois na maioria das vezes os usuários seguem ciclos, doses e períodos que os anabolizantes são utilizados, mencionados por outros praticantes da mesma atividade ou pelo professor/instrutor, que em muitos casos não possui a devida orientação. Contudo, dados do NIDA (National Institute on Drug Abuse) revelam que muitas vezes os usuários ingerem uma combinação de diferentes tipos anabolizantes, que com o intuito de maximizar e agilizar seu efeito, podem acarretar em danos mais sérios como aparecimento de tumores, icterícia, hipertensão, aumento do LDL (colesterol ruim) e decréscimo do HDL (colesterol bom).
Muitos estudos são realizados nesta área (SILVA, 1999; PRONER, 2002; CONSITT et al. 2002; JUNKES, 2004), porém a maioria trata apenas dos benefícios e malefícios promovidos pelos mesmos (SONCINI, 2000; JUNKES, 2004).
Com relação à percepção de causas e efeitos dos sujeitos que utilizam anabolizantes, Iriart e Andrade (2002) analisaram a percepção de risco à saúde decorrentes do consumo de anabolizantes entre jovens fisiculturistas de um bairro pobre da cidade de Salvador e, encontraram, primeiramente que os sujeitos analisados possuíam uma freqüente insatisfação com suas medidas corporais, por maiores que estas fossem. Além disso, entre esses jovens, a falta de informação somada ao desejo de desenvolver massa muscular e alcançar um suposto corpo ideal se sobrepõe ao risco de efeitos colaterais.
Dessa maneira, preocupados com as conseqüências da utilização dos anabolizantes e com o intuito de investigar a percepção dos usuários e ex-usuários sobre as drogas que ingerem é que se definiram as seguintes questões a investigar: será que os usuários e ex-usuários percebem mudanças físicas e psicológicas advindas da utilização de anabolizantes? Será que os usuários e ex-usuários têm conhecimento das causas e dos efeitos da utilização dos mesmos? Será que existe relação entre o nível de auto-estima dos usuários e ex-usuários de anabolizantes com o motivo que os levaram a utilizar?
Para responder as questões, definiu-se como objetivo geral do estudo investigar a percepção dos usuários e ex-usuários sobre as causas e os efeitos da utilização dos anabolizantes, bem como associar a auto-estima com os motivos que os levaram/levam a utilização. Mais especificamente, objetivou-se: 1) identificar os motivos que levam/levaram os sujeitos à utilização dos anabolizantes; 2) identificar quais são/foram os anabolizantes mais utilizados pelos usuários e ex-usuários; 3) verificar o conhecimento dos usuários e ex-usuários sobre os efeitos colaterais da utilização de anabolizantes e, verificar mediante a percepção destes, as mudanças físicas e psíquicas ocorridas com a utilização; 4) identificar o nível de auto-estima dos usuários e ex-usuários e associar tais níveis com os motivos que levaram a utilização de anabolizantes.
Procedimentos metodológicosEsta pesquisa caracterizou-se como descritiva do tipo "ex-post-fact", sendo que este tipo de pesquisa, segundo Selltiz et al. (1975), analisa as características do fenômeno após este ter ocorrido, portanto, sem interferências no mesmo.
Fizeram parte do estudo 34 sujeitos do sexo masculino praticantes de musculação de academias localizadas na grande Florianópolis, sendo 15 usuários e 19 ex-usuários de anabolizantes, escolhidos de forma casual-sistemática, por serem convidados aqueles que estavam se exercitando nas academias nos dias das coletas e se identificaram como usuários ou ex-usuários de anabolizantes.
Os usuários de anabolizantes apresentaram média de idade de 24,9±3,7 anos e os ex-usuários apresentaram média de idade de 27,4 ± 8,8 anos. Os ex-usuários praticam musculação em média a 6,66± 3,1 anos, utilizaram anabolizantes por um tempo médio de 1,16±2,57 anos, seguindo ciclos de uso com 7,6 semanas em média, tendo cessado o uso em média a 2,43±2,14 anos. Já os usuários, praticam musculação em média a 5,75±1,7 anos, utilizam anabolizantes em média a 3,4±1,1 anos, seguindo ciclos de 7,8 semanas em média.
Os instrumentos de medidas utilizados foram dois questionários. O primeiro elaborado especificamente para ao estudo, com o intuito de identificar o sujeito e a utilização de anabolizantes, o qual foi validado por três doutores e um mestre, obtendo um índice de 91%, e, a clareza, realizada com quatro praticantes de musculação, um índice de 99%. O segundo questionário foi utilizado para avaliar os níveis de auto-estima, desenvolvido por Rosemberg (1973), com índice de validação de 72%.
A coleta dos dados foi realizada nos locais de prática (seis academias da grande Florianópolis) e, após esclarecidos os objetivos do estudo e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos sujeitos, foi entregue simultaneamente os dois questionários, sendo combinada uma data para recolhimento.
Com relação ao tratamento estatístico, utilizou-se estatística descritiva em termos de freqüência simples e, estatística inferencial com a utilização do teste Qui-Quadrado com a probabilidade de 0,05.
Resultados e discussãoPara maior compreensão, os resultados estão apresentados e discutidos de acordo com os objetivos específicos do estudo:
Motivos que levaram os usuários e ex-usuários a utilização de anabolizantesO primeiro objetivo específico do estudo foi identificar os motivos que levam/levaram os sujeitos à utilização dos anabolizantes, cujos dados estão contidos no Gráfico 1.
De acordo com o Gráfico 1, verifica-se que dos 15 usuários participantes, o principal motivo que levou a maioria (sete) a utilizarem esteróides anabolizantes foi para o aumento de massa muscular; quatro responderam desejar rapidez no aumento de massa muscular; dois citaram utilizar por vaidade e dois por fins profissionais. Por outro lado, dos 19 ex-usuários participantes, 11 relataram que o principal motivo foi o rendimento esportivo; oito disseram que o aumento de massa muscular foi o principal motivo.
Assim sendo, o motivo principal que levou a maioria dos usuários a utilizarem anabolizantes foi o aumento de massa muscular, seguido da rapidez no crescimento da mesma, já a maioria dos ex-usuários respondeu que o motivo era aumentar o rendimento esportivo. Segundo Guimarães Neto (2002) e Kuhn (2002), o uso de anabolizantes realmente proporciona um aumento da massa muscular, além de acelerar o ganho da mesma, pois eles promovem um balanço nitrogenado positivo. O nitrogênio é um componente fundamental para que se tenha crescimento de proteína, sendo esta fundamental para que se tenha massa muscular maior ou menor. Mantendo um balanço nitrogenado positivo, mantêm-se o crescimento da proteína e, conseqüentemente, um maior e mais veloz aumento de massa muscular.
Dentre os motivos mais citados pelos sujeitos, muito embora apenas dois tenham assumido ser por vaidade, o aumento de massa muscular nada mais é que o resultado de uma geração que cultua o corpo e, em muitas vezes a aceitação em grupos pode ser facilitada quando se tem um corpo bem torneado. Além da questão de aceitação social, Iriart e Andrade (2002) verificaram que para muitos dos usuários de anabolizantes, ter um corpo musculoso aumenta as chances de conseguir uma colocação no mercado de trabalho como seguranças e vigilantes.
Dessa maneira, o culto pelo corpo que a sociedade tanto valoriza, a falsa aparência saudável e a perspectiva de se tornar um símbolo sexual ou de ingressar no mercado de trabalho constituem motivos para o uso e abuso destas drogas e, segundo Ribeiro (2001), a perseguição a estes itens faz com que, principalmente os jovens, caiam em situações de risco, que vão desde sintomas mais amenos como mudança de humor até casos mais graves de agressividade e de depressão.
No que concerne à utilização para rendimento esportivo, é discutível, pois depende do tipo de modalidade e da prescrição por especialistas, o que não foi o caso dos participantes deste estudo. No entanto, Elashoff et al. (1992) apontaram que apesar de ser possível um aumento na força muscular por meio do uso de anabolizantes, a eficácia no desempenho não é verificada, visto que seriam necessários megadosagens destas drogas para conseguir alguma modificação crônica.
Anabolizantes mais utilizados pelos usuários e ex-usuáriosO segundo objetivo específico do estudo foi identificar quais são/foram os anabolizantes mais utilizados pelos usuários e ex-usuários. Os resultados pertinentes estão contidos no Quadro 1.
De acordo com o Quadro 1, os anabolizantes mais utilizados foram o Durateston, o Winstrol e a Deca-durabolin. O Durateston é muito androgênico, o que o caracteriza como excelente para ganho de massa muscular, peso e força (IRIART e ANDRADE, 2002; SANTOS, 2003). Já o Winstrol, é pouco androgênico e moderadamente anabólico, além de aromatizar pouco, ele é mais utilizado por aqueles que querem obter definição muscular (GUIMARÃES NETO, 2002; SANTOS, 2003). A Deca-durabolin, segundo Guimarães Neto (2002) é moderadamente androgênico e possui boas propriedades anabólicas, já segundo Santos (2003), é pouco androgênico e um anabólico forte, deste modo, é bastante utilizado para ganho de massa muscular, e levando em consideração a referência deste autor sobre sua característica androgênica, pode-se dizer que este anabolizante leva a um aumento de massa muscular sem muitos riscos, ou seja, obter os ganhos desejáveis (aumento da massa muscular) sem obter os efeitos indesejáveis (efeitos colaterais prejudiciais).
Dos anabolizantes mais citados pelos usuários e ex-usuários, apenas o Winstrol é administrado via oral (SILVA et al., 2002) e possui um custo mais elevado, por ser um produto importado. Já o Durabolin e Deca-durabolin são esteróides injetáveis, que segundo Iriart e Andrade (2002) são os preferidos pelos usuários, pois além de serem mais baratos, produzem um efeito imediato.
Quanto à ingestão destas substâncias, existem dosagens e freqüências variáveis, determinadas pelo maior ou menor imediatismo dos usuários na aquisição da forma física desejada. De acordo com Iriart e Andrade (2002), o uso acontece de forma irregular, algumas vezes contínuo, quase diário ou com intervalos motivados pelos efeitos colaterais e, o retorno ao uso normalmente ocorre pela falta de motivação para malhar e pela insatisfação com as formas corpóreas na ausência do uso de anabolizantes.
Essa incessante procura pelo "corpo ideal" de forma imediata acaba dando a ilusão de que este é o único meio de se sentir bem consigo e com os outros, pois do contrário, sem auxílio destas drogas, o sujeito será impossibilitado de delinear o corpo e aumentar a massa muscular. Dessa forma, segundo os próprios usuários (IRIART e ANDRADE, 2002), o anabolizante é visto como uma droga poderosa que permite ao organismo trabalhar mais rapidamente, proporcionando resultados quase mágicos e recompensando o suor despendido na malhação.
Conhecimentos dos usuários e ex-usuários sobre os efeitos colaterais dos anabolizantes e percepção de algum efeito colateralO terceiro objetivo específico do estudo foi verificar o conhecimento dos usuários e ex-usuários sobre os efeitos colaterais da utilização de anabolizantes e, verificar, mediante a percepção destes, as mudanças físicas e psíquicas ocorridas com a utilização. Os Gráficos 2 e 3, respectivamente, apresentam os principais efeitos colaterais conhecidos pelos usuários e ex-usuários e a identificação da percepção de algum efeito colateral advindo de tal utilização.
De acordo com os dados contidos no Gráfico 2, dos 15 usuários, nove não conhecem nenhum efeito do uso de anabolizantes e os outros seis dizem saber que causa danos hepáticos, agressividade, ginecomastia e virilação. Já dos 19 ex-usuários, alguns perceberam mais de um efeito, obteve-se oito respostas tendo como efeito a ginecomastia; sete a acne; sete os danos hepáticos; sete a esterilidade e sete não perceberam nenhum efeito.
Na soma das respostas, a ginecomastia é o efeito mais conhecido pelos sujeitos deste estudo, talvez por ser a manifestação física mais comum. Segundo Luis et al. (2001), em um estudo realizado com pacientes que ingerem anabolizantes, a prevalência de ginecomastia era de 52% entre os mesmos. Além disso, de acordo com alguns autores (SONCINI, 2000; GUIMARÃES NETO, 2002; JUNKES, 2004), a genecomastia faz com que os homens comentem mais a respeito do assunto, pelo fato de ser uma característica feminina e, assim, torna-se o efeito mais conhecido pelos usuários e ex-usuários de anabolizantes.
Outra característica citada por ambos os grupos foram os danos hepáticos. O excesso de ingestão de anabolizantes pode levar a sobrecarga de rins e fígado, como relatou Ribeiro (2001), afirmando que em alguns casos pode levar ao aparecimento de hematoma hepático e hemorragia intra-abdominal.
Vale enfatizar que 16 sujeitos não têm conhecimento do que pode acarretar o uso das substâncias que estão ingerindo, fato este que denota de preocupação na medida em que são todos praticantes de musculação de entidade reconhecidas na cidade de Florianópolis.
Tais achados vão ao encontro ao estudo de Iriart e Andrade (2002), os quais encontraram que os praticantes de musculação entrevistados não demonstraram um bom nível de informação sobre os danos causados à saúde pelos anabolizantes que utilizam. Além disso, segundo esses autores, as informações sobre os efeitos colaterais são, na maioria das vezes, oriundas da experiência pessoal, da observação de colegas da academia assim como pelos relatos de casos vivenciados por amigos ou conhecidos, do que propriamente pelas propriedades farmacológicas das substâncias e seus efeitos no organismo.
O Gráfico 3 mostra os efeitos da utilização de anabolizantes percebidos pelos usuários e ex-usuários de anabolizantes.
Em se tratando dos efeitos colaterais percebidos pelos 15 usuários (Gráfico 3), apenas cinco se perceberam mais agressivos, enquanto a maioria (10) afirmou não ter tido nenhum efeito colateral. Quanto aos 19 ex-usuários, quatro relataram a ginecomastia; quatro a diminuição da libido no final do ciclo; outros quatro o aumento da libido sexual durante o ciclo; quatro o surgimento de acne e três não perceberam nenhum tipo de efeito.
A não percepção de outros efeitos pode ser justificada pelo tempo de utilização, o qual pode ainda não ter sido o suficiente para aparentar os efeitos possíveis e ainda, o fato de não querer admitir afirma o senso comum de que "isto não acontece comigo". Aliado a isso, o fato de nunca ter percebido sintomas mais graves e conhecer pessoas, que apesar do alto consumo, nunca manifestaram maiores problemas associados ao uso de esteróides anabolizantes, faz com que o usuário confie que é possível utilizar estas substâncias sem comprometer a saúde (IRIART e ANDRADE, 2002).
Quanto ao fato de alguns sujeitos terem notado um aumento da agressividade pode relacionar-se às características masculinas, ou seja, um indivíduo que possui um nível de testosterona, além dos limites normais, poderá apresentar-se mais agressivo (SILVA et al., 2001).
O'Connor et al. (2004) investigaram mudanças de humor e de comportamento em resposta à injeção de testosterona sangüínea em homens jovens e, concluíram que o excesso de testosterona está associado com a mudança de humor, ou seja, os indivíduos que receberam as injeções de testosterona se mostraram mais hostis e impacientes, no entanto, houve uma redução da fadiga e do cansaço. Essa redução da fadiga faz com que os usuários sintam-se mais motivados a malhar e a ingerir mais substâncias para manter esse nível de motivação e, sobretudo, mais confiantes nos resultados estéticos. Por outro lado, os próprios sujeitos se sentem mais intolerantes e manifestam comportamentos agressivos, como os manifestados e percebidos pelos usuários e ex-usuários deste estudo e de outros (IRIART e ANDRADE, 2002; HALL et al., 2005), podendo até causar dependência a estas drogas em grande parte dos casos (BAHRKE e YESALIS, 1994).
Com relação ao aumento da libido no início do ciclo de anabolizantes e a diminuição no final do mesmo, acontecem porque quando se inicia a utilização de anabolizantes aumenta-se o nível hormonal no organismo, aumentando desta forma a libido, já no final do ciclo tem-se a diminuição gradativa da libido, que volta a normalidade, pelo fato de ocorrer igual retorno do nível hormonal ao normal (GUYTON e HALL, 1998; SONCINI, 2000; SANTOS, 2003).
Além da variação da libido, Iriart e Andrade (2002) verificaram em entrevistas de jovens usuários de anabolizantes alterações no desempenho sexual e redução de volume de esperma provocado pelo uso destas substâncias. No entanto, para os usuários analisados, este fato parece ser tratado com aparente naturalidade, sem levar a interrupção do uso dessas substâncias.
Auto-estima dos usuários e ex-usuários de anabolizantes e associação com motivos que levaram a utilizaçãoO quarto objetivo específico do estudo foi identificar a auto-estima dos usuários e ex-usuários de anabolizantes assim como associá-la com os motivos que levaram a utilização. Os níveis de auto-estima obtidos dos usuários e ex-usuários estão contidos no Gráfico 4.
De acordo com o Gráfico 4, observa-se que dos 15 usuários, seis apresentam-se com auto-estima excelente; seis com auto-estima alta e três média/baixa. Quanto aos 19 ex-usuários, cinco apresentaram auto-estima excelente; dois alta; cinco média/alta; cinco média e dois média/baixa.
Os dados demonstram que a auto-estima dos indivíduos apresenta-se em níveis bons, apesar de contrariar alguns estudos (BAHRKE e YESALIS, 1994). Este fato pode ser justificado porque, no momento, os sujeitos estão com a estrutura física de acordo com o esperado, haja vista que mesmo os que já não utilizam mais os esteróides anabolizantes, pararam o uso há pouco tempo, além de continuarem o trabalho de musculação. Isso também é confirmado pelos elementos fundamentais que formam o conceito de auto-estima, sendo ele a integração, a motivação, o autoconceito, a segurança e a competência (VOLI, 1998), os quais parecem estar sendo contemplados positivamente pelo grupo.
Segundo Kanayama et al. (2006), a percepção de imagem corporal, ou seja, o autoconceito do seu corpo, e o estereotipo de masculinidade foram as características mais marcantes entre os usuários de anabolizantes, principalmente em homens que utilizam estas drogas a muito tempo. Dessa forma, quando se tem um conceito positivo de si mesmo, neste caso apenas corporal, a auto-estima tende a ser elevada. O problema é que, apesar do usuário perceber que suas medidas estão aumentando com a utilização das drogas, ele não para de ingeri-las, pois a motivação pelo corpo desejado faz com que ele continue a utilizá-las. Esse desejo de alcançar o "corpo ideal" supera a possível preocupação com a saúde e os danos que podem ser causados a partir da utilização inadequada destas drogas.
Com relação a associação entre a auto-estima com os motivos que levaram os sujeitos à utilização de anabolizante, mediante a aplicação do teste Qui-Quadrado com um nível de significância estabelecido em 0,05, o resultado (c = 0,91; p=0,45) demonstra que não existe associação significativa entre os níveis de auto-estima e os motivos que levaram os indivíduos a utilizar os anabolizantes.
A não associação encontrada pode ser justificada pelo fato de que independente de terem usado ou estarem utilizando anabolizantes, tanto os motivos apresentados como os níveis de auto-estima detectados, foram similares para os dois grupos.
ConclusõesCom base nos objetivos deste o estudo e respeitando as limitações do mesmo, pode-se concluir que:
o principal motivo que fez os sujeitos buscar a utilização de anabolizantes foi adquirir massa muscular em menor tempo;
o Winstrol, o Durateston e a Deca-durabolin são os três anabolizantes mais utilizados tanto pelos ainda usuários, quanto pelos ex-usuários;
o efeito colateral mais percebido e conhecido, tanto pelos usuários como pelos ex-usuários, foi a ginecomastia, provavelmente pelo fato de ser um dos efeitos mais comentado em academias de musculação;
grande parte dos indivíduos pesquisados não soube citar nenhum efeito colateral referente ao uso de anabolizantes, demonstrando que boa parte dos indivíduos utiliza anabolizantes sem saber dos riscos que correm;
parece que os motivos que levaram tanto esse grupo de usuários quanto os ex-usuários a utilização dos anabolizantes não foi interferido pelos níveis de auto-estima.
Por fim, espera-se que este estudo sirva como parâmetro de demonstração da falta de conhecimento sobre o tema daqueles que praticam musculação e que, profissionais que atuam nesta área munam-se de embasamento teórico para desenvolver uma prática com consciência crítica no sentido de quando deparar-se com usuários ou pretendentes a utilização, possam apresentar os prós e os contras de tal prática, pois, tendo em vista a realidade e a forma como está sendo propagado o uso de tais químicas, grande será a população lesada, seja a curto, a médio ou a longo prazo.
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digital · Año 12
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