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Análise da aptidão física relacionada à saúde de
estudantes da região central do Rio Grande do Sul

   
*Mestranda do Curso de Ciência do Movimento Humano / UFSC.
**Acadêmica do Curso de Educação Física / UFSM.
***Doutora/Professora do Curso de Educação Física / UFSM.
(Brasil)
 
 
Cláudia Cruz Lunardi*  
Schaiene Kaipper**  
Daniela Lopes Santos***
claudia_lunardi@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Introdução: O exercício regular e a prática de esportes aumentam o rendimento físico, fato que está associado a uma melhora na eficiência funcional do organismo. A prática da atividade física influencia e é influenciada pelos índices de aptidão física, as quais determinam e são determinadas pelo estado de saúde. Nas crianças e adolescentes, os níveis de Aptidão Física não devem ser encarados somente como resultados de vivências anteriores, mas também como elemento promotor de estilos de vida futuros. Objetivo: analisar a Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS) de meninas de 8 a 11 anos de uma escola municipal da cidade de Santa Maria - RS. Metodologia: O Grupo de Estudo foi constituído por 51 estudantes do sexo feminino, com idade entre 8 e 11 anos. Para a análise e coleta das variáveis da AFRS utilizaram-se testes e protocolos sugeridos pela AAPHERD (1988). Utilizou-se a estatística descritiva para analise dos dados. Resultados: As meninas apresentaram uma idade média de 10 anos, IMC de 18 + 3 kg/m2, de 33 + 12 mm, 23 + 6 cm no teste de Flexibilidade e 26 + 7 e 3 + 2 repetições no teste de abdominal e barra, respectivamente. Os resultados mostraram-se preocupantes, principalmente nos componentes resistência muscular e flexibilidade, onde grande parte dos escolares apresentou escores abaixo dos limites mínimos das zonas saudáveis de aptidão relacionada a saúde. Conclusão: Devido aos escores insatisfatórios nos componentes da resistência muscular e flexibilidade, verifica-se que o grupo de estudo está exposto a problemas posturais, articulares, lesões músculo-esqueléticas, osteoporose, lombalgia e fadigas localizadas.
    Unitermos: AFRS. Meninas. Saúde.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007

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Introdução

    A Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS) é definida como a capacidade de realizar tarefas diárias com vigor e, demonstrar traços e características que estão associados com um baixo risco do desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas (Pate,1988).

    Este conceito derivou basicamente dos estudos clínicos que evidenciaram a incidência de maiores problemas de saúde entre idosos, adultos e jovens de vida sedentária. O conceito que engloba a AFRS é o de que um melhor índice em cada um dos seus componentes está associado com um menor risco para o desenvolvimento de doenças e/ou incapacidades funcionais (ACSM, 1996). A AFRS engloba 4 componentes, que compreendem os fatores morfológico, funcional, motor, fisiológico e comportamental.

    O componente morfológico refere-se à composição corporal, mais especificamente a quantia de gordura que, quando em excesso está relacionada à várias doenças crônicas não transmissíveis, como: elevados níveis de colesterol sangüíneo, hipertensão, osteoartrite, diabetes, acidente vascular cerebral, vários tipos de câncer, doenças coronarianas, além dos problemas psicológicos e sociais (ACSM, 1996; Bouchard, 2000; Nieman 1999).

    A aptidão cardiorrespiratória ou a capacidade de captar, transportar e gastar oxigênio em atividades de média intensidade, por um período de duração moderada ou prolongada, refere-se ao componente funcional (ACSM, 1996; Hootman et al, 2001).

    Os componentes motores envolvem a força/resistência e a flexibilidade. A força/resistência refere-se a capacidade do músculo, ou de um grupo de músculos, sustentar contrações repetidas por um determinado período de tempo. A flexibilidade refere-se a amplitude de locomoção de uma determinada articulação. Juntos, força/resistência e flexibilidade previnem problemas posturais, articulares e lesões músculo-esqueléticas, osteoporose, lombalgia, fadigas localizadas (George, Fisher & Vehrs, 1996).

    A bateria de testes físicos e medidas da gordura corporal proposta pela AAHPERD (1988) é uma das técnicas para avaliação da AFRS que têm recebido maior aceitação entre pesquisadores de diferentes países. Esta aliança apresenta escores critérios de referência para cada componente da AFRS. Estes escores servem de parâmetro para indicar se o avaliado apresenta uma recomendada AFRS (Glaner, 2002).

    Para Glaner (2002), avaliar a AFRS em escolares parece ser uma alternativa de intervenção primária, de baixo custo, de grande abrangência, de fácil reprodução e interpretação. A mesma autora cita que a avaliação dos componentes da AFRS torna-se importante por poder interagir decisivamente para a informação, conscientização, promoção e motivação da prática da atividade física regular por toda vida, numa sociedade onde as doenças crônico-degenerativas, devido a hipocinesia, têm seu período latente na infância e adolescência.

    É de fundamental importância a realização da avaliação da AFRS nas escolas, para se detectar os possíveis riscos de problemas para a saúde o mais precocemente possível e dar subsídios aos órgãos competentes para desenvolver ações que possam auxiliar na promoção do bem-estar da criança.

    Em vista do exposto, este trabalho analisou a AFRS de meninas de 8 a 11 anos de uma escola municipal do município de Santa Maria - RS.


Metodologia

    A amostra para o presente estudo foi constituída de 51 estudantes do sexo feminino, com idade entre 8 e 11 anos.

    Para a análise e coleta das variáveis da AFRS utilizaram-se testes e protocolos sugeridos pela AAPHERD (1988): Composição Corporal (Índice de Massa Corporal - IMC e Somatório de Dobras Cutâneas Triciptal e Panturrilha -DC), Flexibilidade (Sentar e Alcançar), Resistência e Força Muscular Localizada (abdominal e barra modificada) e Resistência Cardiorespiratória (teste de milha). Devido a problemas de espaço físico não foi possível coletar os dados referentes ao teste de milha.

    Os dados foram classificados conforme critérios estabelecidos pela AAHPERD (1988) (Tabela 02):

    Participaram da pesquisa dois estagiários treinados para a realização das medições antropométricas, dobras cutâneas e administração dos testes de aptidão física. Utilizou-se para medir a estatura um estadiômetro com escala em milímetros e para massa corporal uma balança digital com escalas de 100g.

    Os teste foram realizados durante o mês de outubro de 2004 no âmbito da escola.


Análise estatística

    Utilizou-se para tabulação dos dados o programa Excel versão 2000. A análise descritiva foi realizada no pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 8.0 para Windows.


Resultados e discussão

    A Tabela 03 apresenta a média e desvio padrão dos testes. Analisando os resultados constatou-se que as variáveis não diferem estatisticamente entre as idades.

    A descrição da distribuição dos escolares frente aos critérios de saúde adotados para cada um dos componentes da aptidão física relacionados com a saúde está disposta nas tabelas 04 e 05.

    Corroborando com estudo realizado em Canoas (Bergmann et al, 2005), o IMC e foram as variáveis que apresentaram menor ocorrência de escolares abaixo da zona saudável, estando a maioria deles dentro das faixas recomendadas de aptidão física (com exceção da idade de 10 anos). Encontraram-se correlações altas e significativas entre as variáveis IMC e nas idades de 8, 9 e 11 anos (r= 0,904, r= 0,938 e r=0,852, respectivamente). No entanto, a idade de 10 anos apresentou uma correlação mais fraca (r=0,670, s=0,02), embora significativa, que as demais. Isso talvez possa explicar o fato de 100% das crianças com esta idade estarem classificadas como saudáveis no que se refere ao IMC e ao mesmo tempo 45,45% das mesmas estarem acima do saudável no .

    Nos componentes neuromusculares, houve tendências à maior ocorrência na zona abaixo do recomendado para resistência muscular (abdominal) e para a flexibilidade, com exceção dos 8 anos. Apenas nessa idade constatou-se correlação forte e significante (r= -0,961, s=0,009) entre flexibilidade e abdominal, no entanto, inversa. Ou seja, neste grupo de estudo, as meninas que apresentaram boa flexibilidade evidenciaram resultados insatisfatórios no teste abdominal, ou vice e versa. A força muscular (barra) apresentou maior freqüência na zona ideal para as idades.

    É preocupante a ocorrência de escolares fora da faixa recomendada pelos critérios de saúde adotados. Todavia, não é nenhuma novidade, visto que outros estudos, embora utilizando diferente forma de avaliação (por exemplo, o Fitnessgram), obtiveram resultados semelhantes a este estudo (Bergamann et al, 2005; Gaya et al, 2002; Guedes e Guedes,1993).

    Os resultados apontam para o papel da educação física escolar na vida das crianças, uma vez que muitas delas só têm acesso à prática esportiva ou à participação de programas orientados de exercícios físicos dentro da escola. Assim, as aulas de educação física deveriam buscar mecanismos para desenvolver e/ou contribuir para o desenvolvimento mais adequado dos níveis de aptidão física relacionados à saúde de seus alunos.

    É valido salientar que é preciso ter cuidado ao se interpretar estes resultados, uma vez que os critérios adotados são internacionais (Guedes e Guedes, 1993). A utilização destes critérios se faz necessária quando o objetivo é avaliar a aptidão física de crianças e adolescentes por critérios de referência, visto que ainda não existem critérios de referência para aptidão física de crianças e adolescentes a partir de dados da população brasileira, mesmo existindo alguns esforços neste sentido (Cenesp, 2002).


Conclusões

    Os resultados mostraram-se preocupantes, principalmente nos componentes resistência muscular e flexibilidade, onde grande parte dos escolares apresentou escores abaixo dos limites mínimos das zonas saudáveis de aptidão relacionada a saúde.

    Sugere-se assim, maior atenção em relação aos níveis de aptidão física de crianças e adolescentes por parte principalmente da escola, onde por intermédio da educação física, possa haver o aprimoramento dos componentes da AFRS e incentivo a busca de uma vida fisicamente ativa mesmo depois dos anos escolares.


Referencias bibliográficas

  • AAHPERD. American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance. Physical best. Reston: American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance, 1988.

  • ACSM. American College of Sports Medicine. Manual para teste de esforço e prescrição de exercício. 4.ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

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  • BOUCHARD, C. The obesity epidemic. In: BOUCHARD, C. (Ed.). Physical activity and besity. Champaign: Human Kinetics, 2000.

  • CENESP. Setor de Pedagogia Do Esporte Do Cenesp- UFRGS. PROESP-BR. Projeto Esporte Brasil - Indicadores de Saúde e Fatores de Prestação Esportiva em Crianças e Jovens. Manual de Aplicação de Medidas e Testes Somatomotores. Perfil 2002; VI(6):50-60.

  • GAYA A., GUEDES D.P.G., TORRES L., CARDOSO M., POLETTO A., SILVA M., GONÇALVES DA SILVA G., SOARES K., GARLIPP D., LORENZI T., HECK V., BELMONTE C., MARONA D.. Aptidão Física Relacionada à Saúde. Um Estudo Piloto sobre o Perfil de Escolares de 7 a 17 anos da Região Sul do Brasil. Perfil 2002;VI(6):50-60.

  • GEORGE, J.D.; FISHER, A.G.; VEHRS, P.R. Tests y pruebas físicas: colección fitness. Barcelona: Editorial Paidotribo, 1996.

  • GLANER M.F. Crescimento físico e aptidão física relacionada a saúde em adolescentes rurais e urbanos. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Maria, 2002

  • GUEDES D.P., GUEDES J.E.R.P. Educação Física Escolar: uma proposta de promoção da saúde. Rer Educ Fis. 1993;7(14):16-23.

  • HOOTMAN, J.M.; MACERA, C.A.; AINSWORTH, B.E.; MARTIN, M.; ADDY, C.L.; BLAIR, S.N. Association among physical activity level, cardiorespiratory fitness, and risk of musculoskeletal injury. American Journal of Epidemiology, Baltimore. 2001; 154(3): 251-8.

  • NIEMAN, D.C. Exercício e saúde. São Paulo: Manole, 1999.

  • PATE, R.R. The evolving definition of physical fitness. Quest, Champaign. 1988; 40(3): 174-9.

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