Sobrepeso, obesidade e qualidade de vida de mulheres de baixa renda |
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*Prof° Educação Física e Analista de Sistemas. **Profa Educação Física - Mestranda em Ciência do Movimento Humano - CEFID/UDESC. |
Jonathan Ache Dias* Cristina Brust** jonadias@pop.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007 |
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Introdução
A cada ano que passa a preocupação com a qualidade de vida e a saúde da população aumenta proporcionalmente ao estilo de vida adotado, cada vez mais urbano e conseqüentemente sedentário. Este fato deve-se, em grande parte, às tecnologias que nos cercam e que substituem a execução de simples atividades físicas, atribuídas a nós, dentro de nosso cotidiano.
Com os estudos das últimas décadas não se tem duvida da importância da prática de atividades físicas regulares em busca de uma melhor qualidade de vida e saúde, mas algumas questões ainda geram interesse de profissionais e pesquisadores da área.
A qualidade de vida pode ser conceituada como atendimento das necessidades humanas básicas, como: alimentação, moradia, educação e trabalho. Também pode ser definida, de forma holística, como: "a condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano"3. Nahas propõe um método para avaliar a qualidade de vida através do pentáculo do bem estar que classifica o estilo de vida como sendo positivo ou negativo analisando os seguintes aspectos: nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamentos e controle do stress.
Nos últimos anos, em paises industrializados, vem ocorrendo uma mudança nos padrões nutricionais e de atividade física, aumentando assim o surgimento do sobrepeso e da obesidade que estão relacionadas com o desenvolvimento de várias patologias. O avanço da obesidade vem crescendo de forma rápida sem diferenciar raça, sexo, idade ou nível social6.
É necessário buscar a caracterização da população em relação a composição corporal e a qualidade de vida afim de criar parâmetros para melhor entender o crescimento do sobrepeso e da obesidade e as conseqüências deste avanço. Os indicadores mais utilizados para avaliar o sobrepeso e a obesidade são: índice de massa corporal (IMC) e percentual de gordura (%G). Em relação a distribuição da gordura corporal, que é outro fator que indica risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e crônico degenerativas, são utilizados dois indicadores, são eles: relação cintura/quadril (RCQ)e índice de conicidade (IC)5.
Portanto, este estudo teve como objetivo caracterizar e correlacionar os indicadores de sobrepeso, obesidade e analisar a qualidade de vida da população de baixa renda habitante do PAR de Santa Maria, RS.
O PAR é um programa de compra da casa própria destinado a população com no máximo 6 salários mínimos, financiado pela caixa econômica federal e instalado em diversas cidades do pais. O PAR de Santa Maria é atualmente formado pelos condomínios: Novo Tempo, Noel Guarany, Luis Bavaresco.
Procedimentos metodológicosA pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso do tipo descritivo, onde é realizada uma descrição detalhada do fenômeno mas não tenta testar ou construir modelos teóricos1.
A amostra deste estudo foi formada por 39 individuos do sexo feminino com idade entre 14 e 50 anos residentes nos PAR, afim de representar a população de aproximadamente 300 mulheres, segundo a associação de moradores. Os sujeitos foram selecionados pelo método não-probabilisto ou não-aletório intencional (por julgamento), ou seja, onde o pesquisador deliberadamente escolhe os elementos pertencentes a amostra julgando que os mesmos sejam representativos da população em questão2.
Os instrumentos utilizados para coleta dos dados foram: adipometro da marca Cescorfe modelo clinico com precisão de 1mm; fita antrométrica genérica com resolução de 100 cm; um estadiometro adaptado; balança digital da marca britânia modelo BE1 com capacidade máxima de 150 kg e divisão de 100g; Questionário para avaliação da qualidade de vida (QV), onde são considerados os aspectos da nutrição (NU), atividade física (AF), comportamento preventivo (CP), relacionamento (RE), controle do stress (CE)3. Para o calculo da densidade corporal foi utilizada a equação de Petroski4 D = 1,02902361 - 0,00067159 (X4) + 0,00000242 (X4)2 - 0,00026073 (ID) - 0,00056009 (MC) + 0,00054649 (ES), onde X4 é a soma das dobras cutâneas subscapular, do tríceps, da panturilha média e suprailíaca, e as demais variáveis correspondem a idade, a massa corporal e a estatura. Para o calculo do percentual de gordura a partir da densidade corporal foi utilizada a formula de Siri %G=(495/D(g/ml))-450.
Os procedimentos utilizados para a coleta de dados foram: apresentar a comunidade do PAR o serviço de avaliação física; através deste serviço foi feita a coleta de dados na residência de cada sujeito; as avaliações foram realizadas no período de outubro a dezembro de 2005, sendo necessário o tempo médio de 30 minutos/sujeito. Todos aceitaram que seus dados fossem utilizados em pesquisas contanto que fosse preservada a sua identidade.
Os métodos estatísticos utilizados foram: a estatística descritiva (mínimo, máximo, média, desvio padrão) para descrição da amostra, correlações de Pearson, a fim de descrever as relações entre os indicadores de sobrepeso, obesidade e distribuição de gordura corporal. O software utilizado na coleta foi o SAPEF (Software de Apoio ao Profissional de Educação Física)7, o FireBird como banco de dados, o Microsoft Excel e o SPSS versão 13.0 para o tratamento dos dados.
Resultados e discussãoA tabela 1 descreve as variáveis da amostra através do valor mínimo e máximo, da média e do desvio padrão.
Através da tabela 2 pode-se afirmar que existe uma prevalecia de indivíduos com o peso normal tendo o IMC como referência. No entanto, a tabela 3 demonstra a prevalência de indivíduos com o %Gord acima do normal.
Foi encontrada uma forte correlação entre o IMC e %Gord com valor de r = 0,957 em um intervalo de confiança de 0,01. Confirmando a relação linear entre estas duas variáveis.
Em relação a distribuição da gordura corporal, a tabela 4 demonstra que a maioria dos indivíduos da amostra possuem a relação relação cintura/quadril de moderada a alta indicando que existe risco desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas nesta população.
A figura 1 demonstra que o valor médio do índice de conicidade é 1,07, com uma freqüência maior entre 1,025 e 1,05, ou seja, o IC em média é próximo a 1. Sendo estes valores considerados como ótimos pois o riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e crônico degenerativos é baixo. Valores próximos a 1,73 são associado ao alto risco5.
Foi encontrada também correlação considerável entre o RQC e Índice de Conicidade, com valor de r = 0,887 e intervalo de confiança de 0,01.
Na tabela 4, é demonstrado os scores médios do questionário da qualidade de vida, ou seja, scores de 0 e 1 são associados ao perfil negativo do estilo de vida, portanto pode-se notar que 51,28 % da amostra possui o perfil do estilo de vida positivo e 48,72% o negativo. Os escores mais baixos estão em questões relacionadas a nutrição e a atividade física.
ConclusãoApesar da correlação significativa entre as variáveis IMC e %Gord, grande parte da amostra que possui o IMC normal e o %Gord acima do normal. Isto sugere que o IMC não é tão sensível em relação a composição corporal desta amostra.
Os dados de distribuição da gordura corporal, do RQC e IC, também obtiveram uma correlação significativa, no entanto em termos qualitativos o RQC aponta para a maioria dos indivíduos da amostra índices de moderado a alto e o IC aponta para valores mais baixo e intermediários.
Pode-se inferir que o percentual de gordura acima do normal desta amostra pode estar associado com perfil negativo do estilo de vida em relação aos componentes de nutrição e atividade física.
Referências bibliográficas
Thomas, J.; Nelson, J. Métodos de pesquisa em atividade física. 2002. 3 ed. - Porto Alegre: Artmed.
Costa Neto, P. L. O. 1977. Estatística. São Paulo. Edgard Blücher.
Nahas, M. V. 2003. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3. ed. Londrina, PR: Midiograf
Petroski, E.L. 1999. Antropometria - Técnicas e Padronizações. 1. ed. Porto Alegre, RS: Palotti.
Pitanga, F. J. G. 2004. Testes, medidas e avaliação em educação física. São Paulo, SP: Phorte.
Pontes, L; et al. 2005. Análise da qualidade de vida e prevalência de sobrepeso em moradores da zona rural do município de Pombal. Revista Saúde.com.Vol1, Numero1. http://www.uesb.br/revista/rsc/
Dias, J. A. 2005. SAPEF - Software de Apoio ao Profissional de Educação Física. Trabalho Final de Graduação. Centro de Educação Física e Desportos.Universidade Federal de Santa Maria.
Pitanga, F. J. G. 2006. Indicadores antropométricos de obesidade como dicriminadores de risco coronariano elevado em mulheres. Rev. Brasileira de Cineantropom e Desempenho Humano. pg 14-21.
Tritschler K. Medida e Avaliação em Educação Física e Esportes: de Barrow & McGee. Barueri-SP: Manole; 2003.
revista
digital · Año 12
· N° 111 | Buenos Aires,
Agosto 2007 |