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A pratica de atividades físicas regulares
e o envelhecimento bem sucedido: estudo sobre a
relação e o tipo de convivência dos avós com os netos
The practice physical activities and the successful aging: relationship and way of coexistence of grandparents and their grandchildren

   
  1. Professora titular e coordenadora do Curso de Psicologia do Centro
    Universitário Feevale. Psicóloga, Especialista em Gerontologia
    Social, Mestre em Psicologia Clínica, Doutora em Psicologia.

  2. Professor de Educação Física.

  3. Professora de EF. Coordenadora do Programa da Terceira Idade.

  4. Professor de EF. Professor do Programa da Terceira Idade.

  5. Bolsistas de Iniciação Científica.
      Centro Universitário FEEVALE. Novo Hamburgo, RS.


 
 
Geraldine Alves dos Santos1 | Ms. Jean Paul Steiner2  
Esp. Luciele Pioly3 | Esp. Juarez Stürmer4  
Henrique Zimmermann Kunert5 | Fernanda Jaeger5
geraldinesantos@feevale.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente estudo visa compreender como a presença dos netos influencia o processo de envelhecimento. Método: amostra de 160 pessoas, com idade superior a 40 anos, que participam das atividades físicas desenvolvidas no Programa da Terceira Idade da Feevale; foram utilizadas o Inventário de Qualidade de Vida WHOQOL-100 e uma entrevista fechada. Apresentação e Análise dos Resultados: Através da comparação de médias (ANOVA - < 0,05) encontramos que os sujeitos sem netos, em comparação com os que possuem netos, têm mais dificuldade em lidar com desconforto físico (0,00), mais experiências positivas no cotidiano (0,02), acreditam que suas vidas têm mais sentido (0,05) e têm mais capacidade para o trabalho (0,04). Os entrevistados que se ocupam raramente com os netos apresentaram maiores dificuldades na capacidade para o trabalho (0,01) e na realização das tarefas (0,01). Esta amostra indica que as relações dos avós com os netos trazem qualidade à sua vida, de acordo com a singularidade de cada pessoa e sua família. Mas também precisamos questionar o afastamento de algumas pessoas que se relacionam esporadicamente com seus netos devido à distância, problemas familiares ou mesmo oportunidades, pois estes elementos determinam dificuldades emocionais e sociais no cotidiano destes indivíduos.
    Unitermos: Envelhecimento. Avós. Família. Atividade física.
 
Abstract
     The present study had the objective to understand the how the presence of grandchildren influences the process of aging. Methods: a sample of 160 people, with age greater than 40 years old, who participate of the physical activities developed at the Third Age Program of Feevale; there were used the Life Quality Inventory (WHOQOL-100) and an closed interview . Display and Analisys of Results: By comparing means (ANOVA, < 0,05) we found that subjects without grandchildren, if compared to those without children, have more difficulty to handle with physical discomfort (0,00), more positive experiences in the quotidian life (0,02), they believe their lives have more meaning (0,05) and have greater capacity to work (0,04). The interviewd subjects that rarely spare time with their children showed more difficulties for work capacity (0,01) and to performing tasks (0,01). This sample indicates that the relationships of grandparents with their grandchildren bring quality to their lives according the uniqueness of each individual and family. However, it is necessary to question the withdrawal of some people who socialize just sporadically with their grandchildren due to distance, familiar conflicts or even opportunities, because this elements determine emotional and social difficulties in the quotidian life of these individuals.
    Keywords: Aging. Grandparents. Family. Physical activities.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007

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Introdução

    A estrutura familiar até alguns anos atrás era mais rígida, sendo composta por uma mãe, um pai e seus respectivos filhos. Entretanto, essa estrutura familiar vem sofrendo transformações e suas conseqüências ainda não são previsíveis. Outra transformação que vem ocorrendo nas famílias corresponde ao papel dos avós e como estes são identificados culturalmente. A imagem que a sociedade possuía dos avós serem pessoas doentes e pouco interessantes é agora substituída por pessoas bonitas, alegres e ativas (SALGADO, 1999). Nesse artigo, especificamente, pensamos nessas transformações no que diz respeito à relação entre avós e netos. Procuramos, portanto, compreender como é essa relação e como a mesma influência o processo de envelhecimento de pessoas que praticam regularmente atividades físicas em um Programa para terceira idade. É importante destacar como observam Guimarães, Mazo, Simas, Salin, Schwertner e Soares (2006) que "os idosos que praticam atividade física têm uma baixa tendência a estados depressivos e uma melhor percepção da sua capacidade funcional, ou seja, maior autonomia nas atividades da vida diária" (p. 1). Portanto os dados apresentados neste trabalho reverem-se a um grupo cultural específico, pois eles estão trilhando um processo de envelhecimento bem sucedido que facilita a sua integração social e a sua maturidade emocional.

    Na relação entre avós e netos, Fraiman (1996) e Hillman (2001) afirmam que os avós são aqueles que passam para os netos as tradições, as memórias da família e do passado da sociedade em que os mesmos estão inseridos. Já os netos, significam para os avós uma ponte para o futuro e o novo. É a partir dos netos, muitas vezes, que o idoso tem conhecimento e até mesmo participa mais ativamente das modificações nas formas de relações da sociedade e nas transformações tecnológicas. Costuma-se dizer que os avós são aqueles que mimam seus netos, uma vez que não têm a responsabilidade efetiva na educação dos mesmos. Entretanto, quando os avós são responsáveis integralmente ou parcialmente, a situação configura-se de maneiras diversas.

    Segundo Carson (2001), existem cerca de 3,2 milhões de avós nos Estados Unidos que criam seus netos. Embora não existam dados desse tipo no Brasil, pensamos que tal fenômeno vem ocorrendo também em nosso país. O fato dos avós criarem seus netos, é atribuído pela autora a inúmeros fatores, tais como: gravidez precoce de uma filha, incapacidade dos filhos cuidarem de seus filhos, uso de drogas dos pais dos netos, dificuldades econômicas, doença, morte, prisão, etc... Ao assumirem a responsabilidade na educação dos netos, os avós acabam por tornar-se mãe e pai novamente. E desse papel, fazem parte não somente o investimento emocional nessas crianças ou adolescentes, mas também o investimento econômico.

    Os avós que auxiliam na criação de seus netos, por um lado, têm mais experiência de vida e sabedoria para tomar decisões em relação a melhor maneira de educar, por outro lado, estes estão em um período onde querem aproveitar a vida para fazer o que não podiam quando eram responsáveis por seus filhos. Diante desta situação, como afirma Salgado (1999), os avós representam uma estrutura de apoio importante para toda a família, auxiliando nas atividades cotidianas, financeiramente e também dando aos filhos e netos incentivo e apoio emocional. Entretanto, Carson (2001) afirma que os avós ao assumirem a responsabilidade de criarem os netos devem abdicar das próprias ocupações e planos, perdendo a liberdade muitas vezes conquistada com a velhice. Por isso, podemos pensar que essa situação, em alguns casos, é vivida de forma estressante, causando brigas e preocupações. Esses desentendimentos ocorrem não somente entre avós e netos, mas com os pais desses netos, uma vez que estamos falando de três gerações distintas e por isso, formas de pensar diferentes.


Método

    Realizamos nessa pesquisa, um estudo de delineamento quantitativo descritivo. Os dados coletados foram analisados e submetidos a um estudo comparativo através do teste ANOVA (one way), com nível de significância < 0,05. Foi utilizado o Programa SPSS for Windows (Statistical Package for the Social Sciences - versão 12.0).


1. Amostra

    Participaram desta pesquisa 165 pessoas, com idade superior a 40 anos, de ambos os sexos, que realizam uma ou mais atividades físicas (alongamento, musculação, dança, hidroginástica, caminhada orientada) no Programa da Terceira Idade do Centro Universitário Feevale.


2. Instrumentos

    Foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário com dados de identificação sobre aspectos de saúde, familiares e socias organizado a partir do referencial teórico montado para a elaboração do projeto e da dissertação de mestrado de Brito (1992). Também foi usado o Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida - WHOQOL-100, organizado pela divisão de saúde mental da Organização Mundial de Saúde. Este instrumento foi traduzido e validado para o Brasil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ Faculdade de Medicina (1998) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O Inventário possui 100 questões fechadas, com uma escala de resposta do tipo Likert, com uma escala de intensidade (nada-extremamente), capacidade (nada - completamente), freqüência (nunca-sempre) e avaliação (muito insatisfeito - muito satisfeito; muito ruim - muito bom). O pressuposto de qualidade de vida utilizado na construção deste instrumento é: "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (p. 3). Na estruturação do instrumento evidencia-se a preocupação com a multidimensionalidade que é expressada pela sua divisão em 6 domínios (Físico, Psicológico, Nível de Independência, Relações Sociais, Ambiente e Aspectos espirituais/ Religião/ Crenças pessoais) e 24 facetas.


3. Procedimento

    Os instrumentos de pesquisa foram aplicados individualmente por professores pesquisadores e bolsistas de iniciação científica. O local selecionado para pesquisa foi o Campus I da Feevale e as entrevistas duraram cerca de 60 minutos. Antes de inicar a aplicação dos instrumentos foi realizada a leitura do Termo de Consentimento Informado e após concordância dos sujeitos em relação ao procedimento da pesquisa e sua assinatura, a entrevista foi realizada.


Resultados e discussão

    Os dados levantados neste estudo apontam que entre os 157 sujeitos entrevistados nessa pesquisa, 102 possuíam netos e 55 não possuíam. Os indivíduos que não tinham netos, em comparação com os que tinham, apresentam maior preocupação (0,01) e dificuldade (0,00) para lidar com a própria dor e desconforto físico. Esses mesmos indivíduos disseram ter mais experiências positivas no seu cotidiano (0,02), o que demonstra que eles não realizam uma associação direta destas com as dores físicas. Concomitante a este fato, também consideram que suas vidas têm mais sentido (0,05). Os sujeitos sem netos afirmam estarem mais satisfeitos com as oportunidades de adquirir novas informações (0,05), pois possuem menor envolvimento com responsabilidades vinculadas à família e podem, portanto, se envolver com a comunidade e com os veículos de comunicação. Essa amostra afirma ter mais dinheiro para satisfazer suas necessidades (0,00) e por isso estão mais satisfeitos com sua situação financeira (0,03). Os indivíduos que não têm netos afirmam ter mais capacidade para o trabalho (0,04), uma vez que provavelmente eles mantêm atividades laborais que lhes possibilitam um maior rendimento financeiro. Já os indivíduos com netos afirmam que sua qualidade de vida depende mais de medicação e tratamento médico do que os participantes sem netos (0,00), assim como dizem ter mais coisas em sua aparência que não os faz sentirem-se bem (0,04). As pessoas com netos necessariamente não possuem melhor ou pior qualidade de vida do que os que não possuem netos. Porém as pessoas que não possuem netos podem usufruir mais de seu cotidiano e dedicar maior atenção aos seus interesses, como outras atividades, recursos financeiros, informações e experiências positivas, demonstrando naturalmente mais sentido para suas vidas.

    Dentro da amostra dos indivíduos com netos, identificamos 39 sujeitos que se ocupam muito com os netos, 29 que se ocupam pouco e 34 que se ocupam com os netos raramente. Nessa população específica, percebemos que as pessoas que apresentam pouca ocupação com os netos necessitam de mais tratamento médico para levar sua vida diária (0,05). Em relação à capacidade de locomoção (0,06), de trabalhar (0,01) e de fazer suas tarefas (0,01), identificamos que as pessoas que raramente se ocupam de seus netos têm maiores dificuldades nessas áreas. Estas mesmas pessoas apresentam menor satisfação com as oportunidades de adquirir novas habilidades (0,00) e informações (0,03) necessárias para o seu cotidiano. Os sujeitos que se ocupam raramente com os netos possuem a tendência de se preocuparem menos com sua segurança (0,06) por apresentarem maior satisfação com a mesma (0,00).


Conclusão

    A partir da análise dos dados dessa pesquisa, constatamos que grande parte dos entrevistados possui netos e que dentre estes existem diferenças significativas na intensidade do contato que estabelecem. Dentre essas diferenças, destaca-se o fato de que os sujeitos que não têm netos apresentam maior dificuldade em lidar com dor e desconforto, acreditam que suas vidas têm mais sentido e têm mais dinheiro para satisfazer suas necessidades. Os que possuem netos afirmaram precisar mais de medicação e tratamento médico em sua vida diária e encontram mais coisas em seu corpo que não os satisfazem, demonstrando maior insatisfação na sua relação com o corpo.

    Entre os indivíduos que possuem netos, identificamos, a maioria da população ocupa-se muito com os mesmos. Porém os que se ocupam raramente apresentam maior dificuldade na locomoção, na capacidade de trabalhar e de realizar suas tarefas. É preciso ressaltar que esta amostra é constituída de pessoas que participam de uma ou mais atividades físicas regulares, portanto as suas dificuldades não são por incapacidade física, mas por dificuldade de engajamento social e familiar. Esses mesmos sujeitos disseram ter menos preocupação com a segurança física, por estarem mais satisfeitas com a mesma.

    A partir dos dados analisados, podemos identificar o quanto aspectos como segurança física, capacidade de aprendizagem, necessidade de medicação e tratamento médico, assim como aspectos financeiros são influenciados por questões familiares, como o relacionamento com os netos. Esta amostra indica que as relações dos avós com os netos trazem qualidade à sua vida, de acordo com a singularidade de cada pessoa e sua família. Mas também precisamos questionar o afastamento de algumas pessoas que se relacionam esporadicamente com seus netos devido à distância, problemas familiares ou mesmo oportunidades, pois estes elementos determinam dificuldades emocionais e sociais no cotidiano destes indivíduos.


Referências

  • BRITO, L. C. O idoso visto por ele mesmo: a auto-imagem do idoso em uma população nordestina. Dissertação de mestrado. Mestrado em psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992. 306f.

  • CARSON, L. A importância dos avós: como se tornar uma referência positiva na vida dos netos. São Paulo: Paulinas, 2001. 303p.

  • FAMED - Universidade Federal do Rio Grande do Sul/HCPA. Versão em português dos instrumentos de avaliação de qualidade de vida (WHOQOL). Porto Alegre, 1998.

  • FRAIMAN, A. P. Para ser um bom avô. São Paulo: Gente, 1996. 94p.

  • GUIMARÃES, A. C. A.; MAZO, G. Z.; SIMAS, J. P. N.; SALIN, M. S.; SCHWERTNER, D. S.; SOARES, A. Idosos praticantes de atividade física: tendência a estado depressivo e capacidade funcional. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 10, n 94, Marzo de 2006. Disponível em: http://www.efdeportes.com/. Acesso em: 20 de setembro de 2006.

  • HILMANN, J. A força do caráter: e a poética de uma vida longa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 272p.

  • SALGADO, C. D. S. Gerontologia social. Porto Rico: Publicaciones Puertorriqueñas, 1999. 248p.

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