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Estudo das lesões em atletas de voleibol
participantes da Superliga Nacional

   
Escola de Educação Física - UFRGS.
Grupo de Estudos em Voleibol.
(Brasil)
 
 
José Cicero Moraes  
Deise da Rosa Bassedone
cicero@esef.ufrgs.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Com a evolução do voleibol brasileiro de alto rendimento, esta modalidade passa a adquirir um status significativo de profissionalização. Como conseqüência o volume e a intensidade do treinamento aumentou consideravelmente e a incidência de lesões cresceu na mesma proporção. Deste modo, o conhecimento das possíveis lesões pertinentes aos atletas de voleibol poderá ser útil, na medida que auxiliará na prevenção e na base de prescrição do treinamento. Este estudo teve por objetivo descrever a incidência de lesões, o tipo que mais ocorreu, jogadores (por função) que mais se lesionam e segmento mais acometido por lesão. A amostra constou de atletas participantes da Superliga Nacional. Os resultados mostraram que o tipo de lesão que mais ocorreu foi o processo inflamatório. Entre as regiões corporais o joelho foi o segmento mais afetado. O número de lesões foi muito semelhante durante o período pré-competitivo e competitivo e houve predominância de lesões do tipo I ou leve, sendo que a função que mais apresentou lesão foi a dos ponteiros.
    Unitermos: Voleibol. Alto rendimiento. Lesões.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007

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Introdução

    O voleibol, atualmente dinâmico e exigente sob ponto de vista físico, foi criado em 1895 para ser uma modalidade voltada para indivíduos de meia idade. O objetivo era criar um esporte de menor exigência física do que o basquete, em ascensão na época. Muitos anos se passaram até chegarmos aos dias de hoje e, assim como o esporte em geral, com certeza o voleibol evoluiu muito em vários aspectos aliado a um alto índice de popularidade. No que diz respeito ao alto rendimento a exigência chegou a tamanho refinamento que para ser atleta não basta apenas a vontade de jogar. Soma-se um conjunto de requisitos associados a modernas técnicas de treinamento.

    Segundo Nascimento (1997) a popularização atraiu empresas dispostas a investir, o que ajudou na profissionalização do voleibol. Este fato gerou muitas interferências como a cobrança de resultados e consequentemente os profissionais da área passaram a buscar alternativas para um bom rendimento de suas equipes. Uma delas foi aumentar o tempo de treinamento com o intuito de atingir o ápice físico e técnico do atleta, ocasionando, se não bem administrado, desrespeito a princípios básicos e qualidade do treinamento aplicado. Do mesmo modo, a incidência de lesões entre os atletas, nesta modalidade, cresceu na mesma proporção. Para o mesmo autor, em sua grande maioria, as lesões no voleibol competitivo são causadas por overuse (sobre uso) e overload (sobrecarga). Isto significa que o atleta esta ultrapassando seus limites, causando microtraumas em regiões como músculos e tendões, propiciando lesões como tendinites, rupturas de tendões, fraturas por stress etc.

    O conhecimento das possíveis lesões pertinentes aos atletas que praticam este esporte pode ser útil, na medida em que auxiliará na prevenção de lesões com base na prescrição do treinamento. Chiappa (2001) reforça esta idéia, dizendo que para diminuir o número de lesões é importante conhecer com exatidão tanto o tipo como a incidência das mesmas.

    Sendo assim, determinou-se como objetivo geral deste estudo, identificar as lesões em atletas de voleibol do sexo masculino e participantes da Superliga Nacional, e específicos no que se refere: a) A sua incidência; b) Os tipos de lesões que mais ocorreram; c) As regiões corporais mais acometidas; d) Período de treinamento; e) Grau de incapacitação; f) Função do jogador.

    Deste modo, justifica-se este estudo onde a partir de uma análise das lesões acometidas, em atletas da Superliga Nacional de Voleibol, haja possibilidade de oferecer subsídios para auxiliar na prescrição do treinamento como forma de prevenção das lesões.


1. Revisão de literatura

1.1. Lesão

    Lesão é qualquer descontinuidade traumática ou patológica do tecido, ou perda de função de uma parte. Lesão esportiva é um tipo de lesão que é acidental em muitos esportes e mais incidente em outros (como esportes de alto contato, individuais ou coletivos). Quase todo o esporte apresenta risco de lesões musculares, stress psicológico e machucados menores. (Barbanti, 1994).


1.2. Classificação das lesões

    Segundo Peterson e Renströn (2001) podemos classificar as lesões em duas categorias básicas: lesões traumáticas agudas e síndromes por uso excessivo. De acordo com sua gravidade, podem ser classificadas como do tipo I ou leve, do tipo II ou moderada e do tipo III ou grave. A do tipo I mantém o atleta afastado por até sete dias da prática esportiva; lesão do tipo II ou moderada afastam o atleta de sete a trinta dias e a lesão do tipo III ou grave mantém o atleta fora de treinos e jogos por no mínimo trinta dias (Lysens et al, 1995).


    1.2.1. Lesões traumáticas agudas

    Lesões traumáticas agudas são responsáveis pela maior parte das pesquisas na área de medicina esportiva principalmente, segundo Peterson e Renströn (2001), por serem fáceis de identificar, e por terem causa e gravidade óbvias. Podem ser provocadas por acontecimentos súbitos, de causa e efeitos imediatos, como dor com desenvolvimento de inchaço, podendo também ocorrer edema, escoriações ou até mesmo uma ferida (macrotraumas). Para Grisogono (1989) as lesões agudas podem ser de causa extrínseca, ou seja, devido a uma causa externa como um golpe direto, uma torção brusca (quando se muda de direção) ou uma queda; ou de causa intrínseca, sem uma causa óbvia, como estiramento súbito de uma musculatura ou ruptura de um tendão.


    1.2.2. Síndromes por uso excessivo

    Síndromes por uso excessivo, segundo Peterson e Renströn (2001), são lesões de difícil diagnóstico e tratamento. Tornaram-se mais comuns devido ao aumento da intensidade e duração dos treinamentos, no caso dos esportes de alto rendimento, e do aumento da prática de esportes em geral. Atinge 25 a 50 % dos atletas que procuram tratamento, na faixa etária entre 20 a 29 anos, ou nos amadores entre 30 a 49 anos, em média após dois anos de treinamento regular. Podem ser causadas por excesso de cargas repetitivas, resultando em lesões microscópicas no sistema músculoesquelético (microtraumas repetitivos). Freqüentemente provocam reações inflamatórias e sua principal consequência é a degeneração dos tecidos envolvidos. Podem ser de causa intrínseca, como desalinhamento dos membros, desigualdade muscular, e problemas anatômicos em geral, ou de causa extrínseca, como erro na prescrição do treinamento, falha na execução da técnica, equipamento e superfícies inapropriadas e falta de estrutura. A maioria dos casos (80 %) ocorre nos esportes de alta resistência ou que exigem técnica habilidosa e movimentos repetitivos, com maior incidência nos membros inferiores (80 %), principalmente joelho (28 %) e tornozelo, pé e calcanhar (21 %).


1.3. Fatores que influenciam a ocorrência da lesão

    A lesão ocorre como resultado de uma soma de diversos fatores numa determinada ocasião. È difícil estabelecer a linha divisória entre causa e efeito devido à multiplicidade de fatores interagindo em cada atleta. Esses fatores incluem o tipo de esporte em que o atleta participa, o nível competitivo, o equipamento utilizado, a experiência, as técnicas do treinador e as condições de jogo. Estas variáveis interagem com as características físicas do atleta e traços de personalidade que, por sua vez, também determinam o desempenho do indivíduo (Jackson et al. 1978).

    Com base nisso, podemos dividir os fatores de risco para lesão em duas categorias (Lysens et al, 1995):

  • Fatores de risco extrínsecos: relacionados com o tipo de atividade esportiva, o modo de praticar o esporte, as condições ambientais, o equipamento utilizado; Tem relação, portanto, com a exposição, tipo do esporte, tempo de jogo, posição no time, nível de competição, treinamento, ambiente (tipo e condição da superfície de jogo, condições do tempo, hora do dia, época da temporada) e equipamentos (equipamentos protetores e calçados).

  • Fatores de risco intrínsecos: mais relacionados às características físicas individuais e aos traços psicológicos, portanto, com as características físicas (idade, sexo, somatotipo, lesão anterior, aptidão física, mobilidade articular, rigidez muscular, frouxidão ligamentosa, mau alinhamento das extremidades inferiores) e características psicológicas e psico-sociais.


1.4. Lesões no voleibol

    O conhecimento da epidemiologia das lesões do voleibol apresenta grandes dificuldades. Aspectos como os critérios de categorização dos conceitos de lesão, a descrição da incidência de lesões, a inclusão das lesões nos protocolos de estudo e a inclusão de sua própria denominação são importantes e variam segundo os autores estudados. Por outro lado, a impossibilidade de poder reconhecer todos os casos de lesões produzidas e por último, a diversidade dos grupos de atletas estudados: profissionais da Superliga Nacional, profissionais do voleibol feminino e masculino, de alto nível (Ferreti et al., 1990).

    A entorse de tornozelo por inversão é a lesão traumática aguda mais comum em jogadores de voleibol (Hirstman, 1998; Brinner e Kacmar, 1997). Isso deve-se principalmente ao fato de os jogadores poderem tocar o pé na linha central da quadra , aumentando o risco de choques com o adversário. Muitas ocorrem na aterrissagem de um salto sobre o pé do jogador oponente (50%) ou quando o jogador, ao saltar na execução de um bloqueio duplo, por exemplo, aterriza no pé de seu parceiro (25%). Muitas destas lesões ocorrem na ação de bloqueio (60%) ou ataque (30%), porque, como esperado, existe uma diferença de tempo de execução entre o salto do atacante e do bloqueador (o primeiro salta antes) (Hirstman, 1998).

    No estudo de Solgard et al. (1995) sobre lesões esportivas, 5222 indivíduos atendidos em emergências de traumatologia foram avaliados através de questionário, apresentando um total de 278 lesões em 269 praticantes do voleibol, representando 5,3% de todas as lesões associadas com esporte (quarto maior responsável pelas lesões reportadas). As áreas mais afetadas, comparadas com outras modalidades, foram as mãos/dedos (45% / 25%) e tornozelo (31% / 20%), porém poucas lesões em outra regiões anatômicas. Nestas regiões, a lesão mais freqüente foi a entorse. Comparando atletas com não-atletas, a incidência de lesões nos atletas foi maior. Muitas das lesões de joelho (82%) e tornozelo/pé (79%) foram lesões sem contato. Nos atletas são comuns as lesões sem contato, durante o salto, e nos demais praticantes (principalmente os jovens), lesões por contato na bola, principalmente ao executar o toque.

    Porém Nardelli (2001), para coletar dados necessários para seu estudo sobre lesões, acompanhou uma equipe de alto nível durante 5 anos e encontrou a lesão do tipo tendinite como a lesão mais freqüente, seguida de entorse (20%), lesão muscular (13%) e fratura (4%).

    No estudo de Bahr e Bahr (1997), cujo objetivo era analisar incidências de lesões agudas no voleibol e sua relação com fatores de risco e mecanismo da lesão, foram entrevistados treinadores e atletas de duas divisões da Federação Norueguesa de Voleibol. Encontrou-se 89 lesões em 272 atletas, em 45837 horas de treinamento e 5751 horas de partidas jogadas. O total de incidência de lesões foi de 1,7 +/- 0,2 por 1000 horas jogadas (1,5 +/- 0,2 durante treinamento e 3,5 +/- 0,8 durante partidas jogadas). A região corporal mais atingida foi o tornozelo (58%), seguido da região lombar (11%), joelho (8%), ombro (8%) e dedos (7%).

    Aagaard e Jorgensen (1996) aplicaram um questionário de observação durante a temporada de 1993/1994 em jogadores das duas divisões de elite de Danish, Dinamarca. Oitenta por cento dos jogadores retornaram os questionários. Do total de atletas, 70 sexo feminino e 67 do sexo masculino, foram relatadas 79 lesões e 98 lesões, respectivamente, representando uma incidência total de 3,8 lesões por jogador por 1000 horas jogadas. A incidência de lesões foi a mesma para homens e mulheres. Entre as lesões agudas, a região corporal de maior ocorrência de lesões foram os dedos (21%) seguidos dos tornozelos (18%). Já entre as lesões crônicas foram os joelhos (16%) e ombros (15%).

    Referente aos dedos, um estudo de Bhairo et al. (1992) sobre lesões nas mãos em atletas de voleibol em retrospectiva mostrou que 226 indivíduos, no período de cinco anos, apresentaram este tipo de lesão. Entorse e distensão foram as lesões mais freqüentes (39%), seguidas de fraturas (25%) e contusões (16%). Os dedos estão envolvidos em 44% dos casos.

    Sobre os tornozelos, um estudo de Bahr et al. (1994) feito em retrospectiva durante a temporada 1991/1992 em duas divisões da Federação Norueguesa de Voleibol nos mostra 63 lesões em 318 atletas em 60.612 horas de treino e 928 partidas. A incidência total de lesões foi de 0,9 +/- 0,12 por 1000 horas jogadas O risco relativo de lesão entre treino e partida jogada ficou em 3,9 (p< 0,001). A maioria dos jogadores (78%) já tinha sofrido lesão no mesmo tornozelo anteriormente.

    Num estudo sobre as lesões no ombro, de Wang e Cochrane (2001), o objetivo foi descobrir a prevalência e incidência de lesões no ombro em atletas de alto nível do sexo masculino. Foram investigadas as principais ações associadas a este tipo de lesão e as características físicas comparativas entre os atletas lesionados e não-lesionados. Cinqüenta e nove atletas da primeira divisão da liga inglesa de voleibol responderam a questionários nas temporadas 1997/1998 e 1998/1999. Vinte e sete atletas tiveram lesão, num total de 29 lesões relatadas. Lesões do tipo por overuse foram as mais comuns.

    No estudo de Carazzato (1992), os locais apontados como os de maior incidência de lesões foram: o joelho (26%), o tornozelo (19%), a coluna (13%), a mão (13%) e o ombro (7%).

    Enfim, vários estudos apontam para as causas, incidências, tipos de lesão e regiões corporais acometidas, mas, segundo Chiappa (2001), para o conhecimento da epidemiologia do voleibol deve-se primeiramente padronizar os conceitos de lesão e dos seus tipos, e incluir estas nomenclaturas padronizadas nas pesquisas; isto tornaria as pesquisas mais compreensivas e adequadas, além destas fornecerem dados "reais", dando uma dimensão mais próxima da incidência geral e incidência específica por tipos de lesão.


Metodologia

1. Descrição

    Este estudo é caracterizado como ex post facto do tipo descritivo-exploratório por inquérito, ou seja, objetiva demarcar características ou delinear o perfil de determinado grupo ou população utilizando como instrumento de coleta de dados um formulário elaborado com base na literatura revisada (Gaya, 1990).


2. População e amostra

    2.1. População

    A população foi composta pelos jogadores das equipes (no total onze) que disputaram a Superliga Nacional de Voleibol (competição nacional organizada e dirigida pela Confederação Brasileira de Voleibol - CBV), temporada 2002/2003.


    2.2. Amostra

    A amostra foi composta pelos jogadores de seis clubes participantes da Superliga Nacional de Voleibol - temporada 2002/2003.


3. Instrumentos de coleta de dados

    A partir da literatura revisada e dos objetivos específicos propostos neste estudo, elaborou-se um formulário de coleta de dados para a obtenção dos dados acerca de incidência e localização de lesões.


4. Procedimentos gerais

    Foram enviadas duas cópias de uma carta de apresentação do estudo e do formulário de coleta de dados a todos os supervisores de clubes participantes da Superliga Nacional de Voleibol - temporada 200/2003, uma via correio simples e outra por correio eletrônico ("e-mail"), para que fossem reencaminhados aos departamentos médicos dos clubes ou aos responsáveis pela coleta e organização dos dados durante a temporada.


5. Tratamento estatístico dos dados

    Utilizou-se a estatística descritiva através de freqüência de casos relativos (%) e absolutos. O pacote estatístico utilizado foi o SPSS versão 8.0.


Resultados e discussão

    Do total de formulários enviados, retornaram oito, sendo que seis estavam preenchidos com os dados solicitados, correspondendo a 75 % de aproveitamento dos formulários recebidos. Dois formulários foram devolvidos em branco: um clube alegou não ter os dados tabulados; o outro não ter autorização da gerência para enviá-los. O restante (três clubes) não enviou resposta alguma. Pressupõe-se que esta ausência de resposta deve-se a situações como, por exemplo, a não tabulação dos dados, questões administrativas, ou os formulários não chegaram até os clubes (erro de endereço, mudança de supervisor, mudança de endereço de e-mail). A amostra ficou então composta por 95 atletas, de seis clubes, que reportaram 193 lesões.

    Referente aos tipos de lesão, os que mais ocorreram foram os processos inflamatórios (37,3%), as lesões musculares (36,3%), as torções articulares (12,4%), as fraturas (0,5%) e as rupturas (0,5%); os demais tipos de lesões isoladas totalizaram 13% (gráfico 1).

    Entretanto, percebeu-se uma variabilidade entre os dados enviados pelos Clubes. Esta variabilidade pode ser explicada, segundo Chiappa (2001) por fatores como os critérios de categorização dos conceitos de lesão entre os clubes, registro de todas as lesões, independente de sua gravidade, falta de padronização da nomenclatura de cada tipo de lesão, etc. Por outro lado, ela pode também ser atribuída ao desenvolvimento de cada equipe dentro da competição, já que este fator pode interferir na exigência física de seus atletas (Nascimento, 1997).

    O tipo de lesão mais freqüente foi o processo inflamatório (resultado semelhante ao do estudo de Nardelli, 2001), seguido pelas lesões musculares. No caso dos processos inflamatórios específicos dos tendões, segundo Chiappa (2001) são comumente causados por overuse e bastante freqüentes em esportes de gestos repetitivos, como é o caso do voleibol. Tendinites e entesites do aparelho extensor do joelho são as mais comuns. Na região do joelho, as tendinites patelares e as tendinites do tendão quadricipital comprometem o movimento do atleta e podem tornar-se crônicas.

    Lesões do tipo processo inflamatório nos tendões são causadas por overuse, sobrecarga ou repetição exacerbada do gesto esportivo. A alta freqüência deste tipo de lesão pode indicar, segundo Nascimento (1997), que o atleta está sendo exigido além do seu limite; esta exacerbação gera os microtraumas no sistema músculoesquelético, que se tornam repetitivos, já que a sobrecarga mantém-se por um período prolongado na vida do atleta. Isto provoca as lesões por overuse ditas "crônicas", como a tendinite, as fraturas por stress e até entorses por ruptura de ligamentos desgastados.

    Para Peterson e Renströn (2001), mudanças no treinamento, como aumento repentino na distância da corrida ou alterações nas atividades, são os fatores etiológicos primários na maioria das lesões tendíneas por uso excessivo. Este risco de lesão, devido a estes fatores, é baseado no princípio de transição. De acordo com esse pressuposto, as lesões são mais freqüentes quando o atleta passa por alguma mudança no estilo ou uso da parte envolvida. Exemplos de risco de transição são as tentativas de elevar o nível de desempenho (concordando com Nascimento, 1997), treinamento impróprio, mudanças nos equipamentos, alterações na freqüência, intensidade, ou resistência de treinamento, tentativas de dominar novas técnicas, crescimento do corpo e recuperação pós-lesão e pós-treinamento.

    As lesões musculares apresentaram valores bastante próximos dos resultados sobre lesões tendíneas. Segundo Peterson e Reström (2001) as lesões musculares são bastante comuns na maioria dos esportes (segundo alguns estudos estima-se que de 10 a 30% das lesões esportivas sejam lesões musculares) e muitas vezes são tratadas de forma errônea ou são subestimadas em sua importância, já que o indivíduo pode retomar as atividades diárias pouco tempo após a lesão. Porém seu tratamento inadequado pode afastar o atleta por longos períodos da prática esportiva, tornando-se inoportunas para o mesmo e respectiva equipe. As lesões musculares podem ser provocadas por trauma direto ou por sobrecarga; este fato, associando aos dados encontrados neste estudo sobre processos inflamatórios dos tendões, pode ser um indicativo de prevalência de lesões crônicas, comparadas às lesões agudas, em nossa amostra.

    O alto índice de lesões musculares no voleibol deve-se, segundo Peterson e Renströn (2001), às características específicas das ações deste esporte, como, por exemplo, combinações de aceleração e desaceleração em movimentos como saltos, viradas, cortadas, etc., e suas conseqüências podem ser agravadas pela falta de preparação física do atleta para suportar as cargas de treinamento ou falta de um aquecimento adequado.

    Relativo às regiões corporais mais acometidas, este estudo apresentou os seguintes resultados: joelho (24,6%), ombro (19%), coxa (15, 9%), tornozelo (11,8%), mão (9,7%), pé (5,1%) e demais lesões isoladas que somadas representaram 13,8 % da amostra (gráfico 2).

    Se forem somadas as lesões de membros superiores e inferiores separadamente, teremos uma predominância de lesões nos membros inferiores em comparação aos membros superiores, com valores bem próximos, ao contrário do que apresentam muitos estudos como o de Ferreti et al. (1983) e Chiappa e colaboradores (1999), onde a predominância ocorre nos membros superiores. No caso destes estudos, os resultados baseiam-se no fato de que atualmente o ataque tornou-se o fundamento principal, seguido do bloqueio. Mas as lesões de membro inferiores também são bastante comuns, principalmente por overuse (no caso de lesões crônicas) e entorses por inversão (lesões agudas) já que para realizar estas ações o atleta executa inúmeros saltos para a realização dos fundamentos ataque e bloqueio.

    Em nosso estudo, o joelho foi a região corporal mais acometida de lesões. Segundo Ferreti (1990), O joelho é a região corporal com maior freqüência de lesões em jogadores de voleibol. Mais de 40% delas são lesões por overuse. Estas lesões explicam-se em razão do joelho, assim como os membros inferiores num todo, serem muito solicitados na prática deste esporte, pois os atletas executam multisaltos. Conseqüentemente, o grupo muscular extensor do joelho é extremamente solicitado, e a inserção do tendão no osso é a região mais atingida principalmente por lesões por overuse (lesão conhecida como jumper's knee, ou joelho do atleta). No caso das lesões agudas, as lesões de ligamento cruzado anterior são as mais freqüentes; geralmente ocorrem na aterrissagem de um salto (durante ataque ou bloqueio).

    Apesar de muito citadas nos estudos revisados, foram identificadas nesta investigação poucas lesões na região lombar, e estas foram computadas na categoria "outras", pela razão de sua incidência reduzida.

    Quanto ao momento de maior incid6encia das lesões, embora próximos, o período competitivo obteve um percentual maior (54,5%) quando comparado com o período pré-competitivo (45,5%). Isto reforça a o pressuposto do constante controle do treinamento, segundo o planejamento elaborado (Nascimento, 1997 e Ferreti, 1990), já que no período competitivo além das cargas do treino a comissão técnica deve levar em consideração a exigência desencadeada pela participação em cada um dos jogos da competição.

    Neste estudo ficou demonstrado que quanto ao grau de incapacitação o percentual das lesões foi do tipo I ou leve foi o mais elevado (80,5%). Enquanto as lesões do tipo II ou moderadas apresentaram um índice de 16,7% e as do tipo III ou graves tiveram um percentual bem menor, 2,8%. Isto talvez possa ter relação com o fato do voleibol ser um esporte sem contato (Barbanti, 1994) bem como as lesões podendo ser amenizadas pelo uso de alguma medida profilática.

    Com relação às funções exercidas pelos jogadores, os resultados mostraram que os ponteiros foram os que mais se lesionaram (30,7%), seguidos pelos centrais (27,2%), logo a seguir a função de oposto com 21,3%, os levantadores com 15,6% e por ultimo o líbero com um percentual de 5,2%. O índice obtido pelos ponteiros pode ter relação com sua função técnico-tática, pois além de serem bastante exigidos na rede, são eles junto com o líbero, os responsáveis pelo passe (recepção) da equipe. Sendo que, dependendo de seu potencial, alguns deles ainda tornam-se uma opção ofensiva importante, mesmo estando numa posição defensiva (ataque do fundo), acumulando assim responsabilidades de grande exigência físico-técnico-tática.


Considerações finais

    Este estudo de caráter descritivo exploratório que teve por objetivo analisar a incidência de lesões, os tipos de lesões que ocorreram e as regiões corporais acometidas, em indivíduos do sexo masculino e atletas de clubes participantes da Superliga Nacional de Voleibol, temporada 2002/2003, permite emitir as seguintes considerações finais:

  • A incidência de lesões para a amostra foi de 2,03 lesões por atleta, e mostrou-se próxima à média apresentada nos estudos revisados, sendo o período competitivo o que apresentou a maior incidência.

  • A lesão mais freqüente foi a lesão do tipo processo inflamatório, principalmente tendíneo (37,3%), e a lesão muscular (36,3%), os valores foram bastante aproximados. Este resultado é explicado pelo fato de que, no caso do processo inflamatório, esta é uma típica lesão por overuse, que em contrapartida, é uma lesão típica em modalidades onde predomina a repetição do gesto e a sobrecarga de treinamento (como é ocaso do voleibol). Se somadas as lesões de membros superiores e membros inferiores separadamente, a incidência de lesões foi maior nos membros inferiores, porém com valores bastante próximos às dos membros superiores; os estudos revisados apontam o oposto.

  • A região corporal mais acometida por lesões foi o joelho (24,6%), e isto se deve ao fato de que os joelhos são muito solicitados na prática deste esporte, pois os atletas executam muitos saltos (principalmente nas ações de ataque e bloqueio). Conseqüentemente, o grupo muscular extensor do joelho é extremamente solicitado, e a inserção do tendão no osso é a região mais atingida principalmente por lesões por overuse (a lesão desta natureza mais conhecida é a chamada jumper's knee, ou joelho do atleta). No caso das lesões agudas, as lesões de ligamento cruzado anterior são as mais freqüentes; geralmente ocorrem na aterrissagem de um salto (durante ataque ou bloqueio).

  • Os ponteiros são os jogadores que apresentaram um percentual maior de lesão, seguidos pelos centrais. Isto talvez possa ser explicado pelo fato dos ponteiros terem maior tempo de jogo, já que os centrais são quase sempre substituídos pelos líberos no fundo de quadra, diminuindo seu tempo de jogo.

  • Quanto ao grau de incapacitação a lesão que mais ocorreu foi do tipo I ou leve.

  • São necessários mais estudos sobre a temática "lesão no voleibol de alto nível" dentro da realidade brasileira, estes ainda são pouquíssimos e principalmente os referentes à profilaxia de lesões neste esporte.


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