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Educação para o lazer e educação estética.
História das artes visuais na educação infantil

   
Educadora Infantil na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte - Minas Gerais.
Graduada em Turismo pelo Centro Universitário Newton Paiva.
Especialista em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais.
 
 
Cleide Aparecida Gonçalves de Sousa
cleide_tutora@yahoo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Este artigo trata-se de um relato de uma experiência com Artes Plásticas realizada em uma escola Municipal da Rede pública de ensino de Belo Horizonte - Minas Geais, Brasil, durante o segundo semestre de 2005. Nesse contexto reflete-se sobre Educação para o lazer e educação estética na escola de Educação Infantil.
    Unitermos: Arte. Educação. Lazer.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007

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Introdução

    Muito se reflete na área de estudos sobre o Lazer, a respeito de seu duplo aspecto educativo: "Educação para o Lazer", ou seja, o lazer como objeto da educação, que trata da importância de se vivenciar esse direito social de maneira crítica e criativa; e "Educação pelo Lazer", discussão que considera as possibilidades desse como um veículo de educação, com potencialidades para o desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos. Tal entendimento pode ampliar as chances de se romper com a hegemonia, formando indivíduos capazes de questionar a ordem social vigente.

    Dentro da discussão da educação para o lazer, tem se estudado a educação estética, ou seja, a educação das sensibilidades para compreensão e fruição de diferentes valores, estímulos do que já se está acostumado. O presente trabalho é um relato de experiência, de uma tentativa de educação estética em uma escola pública, com turmas da Educação Infantil.

    O contato com as diversas modalidades artísticas é de grande importância para o ser humano desde a infância. Através da produção artística, compartilhamos a história universal, a cultura produzida pela humanidade através dos tempos.

    Maurício de Sousa, um cartunista brasileiro famoso, produziu uma exposição de artes, intitulada: História em Quadrões, no qual seus personagens "Turma da Mônica" são interpretados como imagens de quadros famosos, de pintores brasileiros e internacionais, dessa forma, o artista citado faz com primazia a aproximação das crianças com o universo das artes plásticas, utilizando-se ludicamente dos populares personagens.

    Observando tal potencialidade, foi desenvolvido o presente projeto com o intuito de apresentar às crianças das turmas de Educação Infantil da Escola Municipal União Comunitária (EMUC) instituição da rede pública de ensino do município de Belo Horizonte - estado de Minas Gerais - Brasil. A riqueza do mundo das artes visuais no mundo. A grande esperança na realização desse trabalho é que para essas crianças, tal iniciativa tenha sido o princípio de uma longa trajetória de descobertas, ressignificação da vida, despertar de sensibilidade, através de novos olhares.

    O principal objetivo do trabalho foi trabalhar a História das Artes Visuais na Educação Infantil tomando como ponto de partida a obra de Maurício de Sousa. Pretendendo-se também desenvolver a criatividade dos alunos através da observação e releitura de artes visuais; estimular a sensibilização estética no ensino infantil; trabalhar diferentes técnicas de desenho e pintura; levar as crianças a conhecerem alguns períodos e termos específicos da História da Arte;


Por que estudar arte na educação infantil?

"Acreditamos que o envolvimento da criança com as artes, por meio dos textos e das imagens, não é tão-somente um recurso para ela perceber o modo como as pessoas e as épocas são retratadas, ou para tomar conhecimento das várias manifestações artísticas, é também examinar a arte como uma oportunidade para que a criança possa desenvolver ainda mais suas habilidades criativas a partir de estímulos visuais e pela sua recriação. Por isso tudo, História em Quadrões com a Turma da Mônica, em sua lúdica viagem, contribui, de modo muito especial, para aproximar ainda mais as crianças do mundo da arte". (Zimmermann in Sousa. 2001, 62).

    Tomando como ponto de partida para justificar esse trabalho, a fala da mestre em história da arte, em seu comentário sobre a obra de Maurício de Sousa, seria interessante reforçar a importância da presença da arte na escola, nesse caso especial da educação infantil. Considerando que a escola, mais que mera transmissora de informações, deve ser um centro de cultura, de formação do ser humano integral, e nesse aspecto, a educação para o lazer deveria ser preocupação de todos educadores, que mais do que racionalidade também compartilha suas experiências, sentimentos, conhecimentos; a arte configura-se como uma das linguagens primordiais para o trabalho da sensibilização. Morin (2000) comenta que a educação do futuro deve enxergar adiante do paradigma cartesiano que imperou na modernidade e no século XX, e considerar outros saberes que não apenas os lógico-racionais. A proximidade com as artes, com a dimensão subjetiva do ser humano, cada vez mais deve ser observada, sem ignorar o raciocínio lógico, mas considerando o ser como um todo. Segundo ele:

"(...) o ser humano não só vive de racionalidade e de técnica; ele se desgasta, se entrega, se dedica a danças, transes, mitos, magias, ritos; crê nas virtudes do sacrifício, viveu freqüentemente para preparar sua outra vida além da morte. Por toda parte, uma atividade técnica, prática, intelectual testemunha a inteligência empírico-racional; em toda parte, festas, cerimônias, cultos com suas possessões, exaltações, desperdícios, "consumismos", testemunham o Homo ludens, poeticus, consumans, imaginarius, demens. As atividades de jogo, de festa, de ritos não são apenas pausas antes de retomar a vida prática ou o trabalho; as crenças nos deuses e nas idéias não podem ser reduzidas a ilusões ou supertições: possuem raízes que mergulham nas profundezas antropológicas; referem-se ao ser humano em sua natureza. Há relação manifesta ou subterrânea entre o psiquismo, a afetividade, a magia, o mito, a religião. Existe ao mesmo tempo unidade e dualidade entre Homo faber, Homo ludens, Homo sapiens e Homo demens. E, no ser humano, o desenvolvimento do conhecimento racional-empírico-técnico jamais anulou o conhecimento simbólico, mítico, mágico ou poético. (p.58/59).

    Acreditando que mais do que moldar a razão, a escola tem um papel mais profundo, envolvendo olhares e sensibilidades de cada indivíduo, trabalhando todas as dimensões humanas sem hierarquizá-las, a educação estética é de grande importância, e deve estar presente desde à educação infantil. Entendendo aqui a Estética :

"(...) como o estudo de um modo específico de apropriação da realidade, modo em que se destacam as questões ligadas à sensibilidade, ainda que vinculadas a outras formas de apropriação da realidade e às condições históricas, sociais e culturais do momento em foco". (Alves Jr. e Melo, 2003, 65).

    Oferecer condições para que o aluno desenvolva seu olhar, de modo que ele possa se apropriar desde cedo da produção da cultura na qual está inserido, dando-lhe subsídios para analisar criticamente a realidade que o cerca, esse é um dos papéis da educação, buscando a formação de indivíduos participantes da sociedade e conscientes no seu exercício de cidadania.

    A obra de Maurício de Sousa, em sua exposição dos Quadrões, configura-se como uma ponte para alcançar a educação infantil, uma introdução das crianças menores no mundo da pintura universal. Essa proximidade dá-se através da ludicidade presente nas suas paródias dos grandes pintores.. O conceito de ludicidade aqui adotado é conforme explica Debortoli (2002, 82), "A ludicidade, como dimensão humana, é essa humana capacidade de brincar com a realidade: atribuímos permanente significado às coisas". Para o autor, a ludicidade é uma das dimensões da linguagem humana, expressão do sujeito criativo capaz de ressignificar sua existência, repensa a realidade, é capaz de mudar o mundo. Por ser capaz de estimular o diálogo a reflexão, a construção coletiva, o lúdico pode colaborar com a educação empenhada em promover pessoas emancipadas. Uma educação lúdica, segundo Pinto (2004) deve ser entendida como "Experiência plural significativa" ação com sentidos atribuídos pelos seus praticantes, suas subjetividades, características individuais; "Experiência compartilhada" confiança no outro para superação de desafios, construção compartilhada de significados; "Exercício da autonomia" a experiência lúdica é mais profunda quando todos tem direito de ser decidir e agir como indivíduo e como sujeito coletivo, entende-se que a verdadeira liberdade é a "autonomia construída na interação com o outro".

    Através às razões acima apresentadas, acredito na importância do trabalho proposto que se desenvolve segundo o proposto e nos bons resultados de se trabalhar o universo das artes e da história com as crianças nas classes de Educação Infantil da EMUC.


Relato da experiência

    A intervenção na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte se deu através de atividades de apoio: musicalização, artes, jogos, recreação, atividades físicas (esquema corporal), brincadeiras. O campo de intervenção foram duas turmas de Educação Infantil da instituição citada anteriormente. Cada turma era formada por aproximadamente 25 crianças de 5 a 6 anos de idade. As turmas eram heterogêneas em vários aspectos. No que diz respeito à cognição, haviam crianças com bom desenvolvimento de raciocínio matemático e algumas com grandes dificuldades, crianças com o esquema corporal muito desenvolvido e outras não. Quanto à alfabetização, háviam crianças alfabéticas e algumas ainda no nível pré-silábico, haviam também diferenças sociais, familiares. Ambas as turmas demonstravam grande interesse pelas artes, por isso o ambiente favorável para desenvolvimento do projeto, e algumas crianças demonstravam habilidades artísticas avançadas: noções de composição, mistura de cores, perspectiva.

    O projeto foi desenvolvido nas aulas destinadas à arte, no segundo semestre de 2005, nas quartas feiras, durante 50 minutos em cada uma das duas turmas.

    Através de cópias em tamanho grande dos quadros, confeccionadas com técnicas diversas foram feitas em sala a releituras das obras com os alunos, partindo da paródia com a turma da Mônica em "História em Quadrões", e observando-se também cópias do pintor original, o qual Maurício de Sousa se inspirou para suas "paródias", apresentava-se assim às crianças, os grandes mestres da pintura, sua biografia e características básicas do período histórico ao qual pertenceu (Renascimento, Barroco, Impressionismo).

    A cada semana o trabalho produzido pelos alunos foi confeccionado em materiais e técnicas diferentes. E discutia-se aspectos diversos de uma obra de arte. Procurava-se privilegiar sempre as observações das crianças e partir delas, observar as cores, quais as cores presentes no quadro, como se forma tal cor, o que há no fundo do quadro, atras do personagem... qual material que utilizei para fazer a cópia, como se trabalha com ele, o que é tinta goache, pastel seco ou oleoso, como fazer um quadro com lápis de cor? Obras de arte são exclusivamente pintura? Procurou-se valorizar também a ludicidade, através do compartilhamento de experiências com o grupo, do diálogo, negociação, da alegria e contentamento de se produzir arte em sala de aula.

    Devido à limitação do tempo para a realização do projeto, foram selecionadas algumas obras a partir dos seguintes critérios:

  • Facilidade de se conseguir uma cópia da obra original que foi homenageada por Maurício de Sousa, para a observação das crianças;

  • Características mais marcantes do período histórico ao qual a obra pertença;

  • Simplicidade da figura para facilitar a releitura por parte das crianças.

    Foram apresentados aos alunos também alguns termos da área das artes para que eles se familiarizem com o tema. E curiosidades sobre a vida dos pintores. A maioria das produções foi livre, mas com algumas intervenções no que diz respeito a técnicas de desenho e pintura que podiam ser desenvolvidos nos trabalhos e que fossem do interesse dos alunos. Intervenções que levavam a observar com mais acuidade o que se olha, tentar retratar todos detalhes percebidos (da maneira deles), maneiras de se usar o giz de cera ou lápis de cor, manuseio de outros materiais como o giz pastel, como montar composições: localizar a figura no papel, proporções do corpo humano e das paisagens, muitas crianças desenvolveram ao longo do ano saberes técnicos e olhar atento e concentrado ao desenhar, muitas até um olhar crítico sobre o que se vê.


Organização do trabalho


Montando uma exposição de artes

    Durante o processo os quadros foram discutidos e seus resultados avaliados com as crianças.

    Em ocasião da Mostra Cultural da EMUC, foi feita uma avaliação geral dos quadros, as crianças tiveram acesso à todas suas obras e puderam apreciar suas preferidas e dar seus retoques finais para a montagem da exposição. Os quadros foram expostos juntamente com as cópias das obras de Mauricio de Sousa reproduzidas para o projeto.

    A exposição das produções artísticas bem como os trabalhos na Educação Infantil durante o ano relativo às outras áreas de conhecimento na Mostra Cultural da EMUC realizada no dia 19/11/05 foram visitadas pelas crianças e seus pais, pelos profissionais da escola e pela comunidade. Os resultados foram muito positivos, além da valorização e da elevação da auto-estima do grupo, trouxe muito conhecimento para todos. Várias crianças conseguem identificar pinturas e pintores famosos da arte universal, e valorizam a arte em suas vidas.

    Certamente, essa experiência irá influenciar seu olhar e o meu para sempre, e dessa maneira abrir-lhes a sensibilidade para outros aspectos da vida. Desenvolvendo senso crítico e estético, nos momentos livres, nos momentos de trabalho, lazer, escolhas pessoais.


Referências bibliográficas

  • ALVES JR. Edmundo D. MELO, Victor A . Introdução ao Lazer. São Paulo, Manole. 2003.

  • ALVES, Vania de F. N. GOMES, Christianne L. REZENDE, Ronaldo de. Lazer, Lúdico e Educação. Brasília, Unisesi. 2005.

  • DEBORTOLLI, José Alfredo. Linguagem, marca da presença humana no mundo. In: CAVALHO, Alyson. SALLES, Fátima e GUIMARÃES, Marília. Desenvolvimento e Aprendizagem. Belo Horizonte, Ed. UFMG. 2002.

  • MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Cortez Editora, UNESCO 1999, 5ª Edição, 2000.

  • SOUSA, Maurício de. História em Quadrões - Pinturas de Mauricio de Sousa. São Paulo, Globo. 2001.

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