efdeportes.com
O treinamento desportivo e a qualidade
de sono de atletas profissionais
The desportive training and the sleep quality of professional athletes

   
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte.
Instituto de Biociências / Universidade Estadual Paulista
"Júlio de Mesquita Filho". Campus de Rio Claro.
Estado de São Paulo.
(Brasil)
 
 
Marcelo Callegari Zanetti  
Tiago Nicola Lavoura  
Afonso Antonio Machado
marcelo.callegari@itelefonica.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Introdução e objetivos: A busca pelo mais alto nível atlético afeta diretamente a condição de saúde física, e psicológica de inúmeros atletas, interferindo muitas vezes na sua qualidade de sono. Por isso este estudo se propôs a analisar a qualidade de sono de cinco atletas profissionais, da modalidade basquetebol adulto masculino, com idades entre 21 e 26 anos, e propor uma intervenção segura, para que a qualidade de sono destes indivíduos possa ser melhorada. Métodos: Foi adotada a percepção subjetiva de qualidade de sono, aplicada diariamente no período da manhã, durante 136 dias ininterruptos, totalizando 680 relatos. Resultados: Os atletas relataram apresentar 43.68% (297 relatos) de sono profundo; 40.74% (277 relatos) de sono normal; 10.88% (74 relatos) de sono sem relaxamento; 4.26% (29 relatos) de sono ruim, com pausas; e 0.44% (3 relatos) de pouquíssimo estado de sonolência. Conclusões: Os dados demonstram que em 15.58% dos relatos a qualidade de sono destes indivíduos não era considerada boa, condição esta que poderia prejudicar em muito a saúde e o rendimento destes atletas. Por isso, é importante que sejam adotadas medidas como: o controle da percepção de qualidade de sono durante as sessões de treinamento e jogos; a busca por instalações adequadas e aconchegantes; o devido controle, e esclarecimento desta população para a adoção de medidas de higiene do sono; acompanhamento psicológico para minimizar a interferência de problemas pessoais, e do estresse trazido pelas altas cargas de treinamento no qual estes atletas são submetidos.
    Unitermos: Treinamento desportivo. Qualidade de sono. Percepção subjetiva.
 
Abstract
     Introduction and objectives: The search for the highest athletic level affects directly the condition of physical and psychological health of many athletes, interfering many times in its sleep quality. Therefore this study would like to analyze the sleep quality of five professional basketball athletes' men, with ages between 21 and 26 years old, and to consider a safe intervention to improve the sleep quality of these individuals. Methods: It was used the perceived sleep quality, applied daily in the morning, during 136 days uninterrupted, totalizing 680 stories. Results: The athletes had told to present 43.68% (297 stories) of very good sleep; 40.74% (277 stories) of normal sleep; 10.88% (74 stories) of sleep without relaxation; 4.26% (29 stories) of bad sleep, with pauses; e 0.44% (3 stories) of very little state of sleepiness. Conclusion: The data demonstrate that in 15.58% of the stories the sleep quality of these individuals was not considered good, condition that could very harm to the health and the performance of these athletes. Therefore, it is important the adoption of measures like: the control of the perceived sleep quality during the trainings and the games; the search for good installations; the control and clarification of this population for the adoption of measures of sleep hygiene; psychological accompaniment to reduce the interference of personal problems, and the stress brought for high loads of training in which these athletes are submitted.
    Keywords: Desportive training. Sleep quality. Subjective perception.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007

1 / 1

Introdução

    Para que possamos abordar de uma maneira mais didática o tema proposto, optamos por dividir a fundamentação teórica em dois tópicos: treinamento desportivo; e sono e exercício.


Treinamento desportivo

    Segundo Granell1, o treinamento desportivo é um dos principais elementos do qual podemos analisar e entender o avanço e o desenvolvimento do esporte moderno. A melhora de marcas e a quebra de recordes atualmente obtidas por diversos atletas são conseqüência direta da aplicação de sofisticados sistemas e programas de treinamento, os quais tem sido implementados e aperfeiçoados graças às contribuições das chamadas ciências aplicadas ao esporte, como: a fisiologia, a psicologia, a nutrição, a biomecânica, a medicina esportiva, a aprendizagem motora, entre outras. Com a divisão e a especialização dessas ciências, as grandes equipes esportivas têm contado cada vez mais com pessoal para desempenhar funções específicas como: técnico, preparador físico, psicólogo, assistente, nutricionista, fisioterapeuta, médico, entre outras, onde o principal objetivo é a maestria esportiva. Mas para que esses atletas atinjam um alto rendimento atlético, eles necessitam de um desenvolvimento físico multilateral como base para o treinamento e o condicionamento físico geral.

    A proposta é elevar os níveis de força, resistência, velocidade, flexibilidade e coordenação, buscando um desenvolvimento corporal harmonioso. Pensando nesse desenvolvimento, precisamos considerar que o corpo humano é composto por órgãos e sistemas que se encontram e se inter-relacionam. Portanto a elevação das funções vitais como o sistema cardíaco, respiratório e endócrino, são fundamentais para o sucesso esportivo2,3.

    Cabe lembrar que cada esporte conta com características específicas, portanto um maior desenvolvimento de determinada função ou sistema é um requisito importante para um aumento no rendimento esportivo futuro. E para que o atleta consiga alcançar este alto nível, ele deve começar ainda muito cedo sua vida esportiva, geralmente ainda criança, onde através de um planejamento a longo prazo; e o cumprimento adequado das etapas de desenvolvimento físico e treinamento, o atleta vai construindo sua carreira. Por outro lado, conforme a evolução e a especialização dos atletas vai ocorrendo, maiores são as cargas de treinamento, e as solicitações físicas e psicológicas impostas a eles4.

    Por isso é fundamental a sistematização e o adequado planejamento dos métodos de treinamento; que devem ser sempre monitorados por avaliações da condição de saúde e performance destes atletas, já que durante a temporada o atleta pode experimentar diversas situações. A incidência de lesões, doenças, o uso de substâncias proibidas, e as exposições ou não destes atletas na mídia também têm contribuído para uma maior variação de suas respostas fisiológicas e psicológicas durante os treinamentos e competições, podendo influenciar diretamente a qualidade de sono destes indivíduos5.

    Por outro lado, métodos e testes cada vez mais sofisticados estão à disposição das grandes equipes esportivas, testes como: consumo máximo de oxigênio; análises bioquímicas; testes isocinéticos; entre outros. Porém, muitos destes testes são de difícil aplicação e acesso, devido ao seu alto custo, o que acaba restringindo-os apenas a equipes maiores. Situação esta que tem levado alguns cientistas a buscar métodos de mais fácil aplicação e de valor mais acessível, a fim de controlar o estado de saúde e o rendimento destes atletas6.

    Falando um pouco sobre a modalidade estudada, para Bompa7, o basquetebol é um esporte que combina velocidade, força e resistência física, fazendo desse esporte, uma modalidade de alta exigência física e psicológica. Algumas capacidades físicas importantes para atletas dessa modalidade são: alta potência anaeróbia, alta capacidade aeróbia, boa coordenação motora, perfil biométrico específico, resistir à fadiga e a altos graus de estresse, ser dotado de uma boa inteligência tática e espírito cooperativo.


Sono e exercício

    Atualmente os distúrbios do sono estão entre os distúrbios clínicos com maior impacto de saúde em nossa sociedade, causando sérios prejuízos econômicos para suas populações8.

    Segundo Mello9, o sono é considerado como restaurador e o exercício está relacionado com diversas alterações no padrão de sono, mas existem várias facetas sobre a influência do exercício em relação ao sono, como a intensidade e a duração do exercício, o intervalo entre o fim da realização do exercício e o início do sono, entre outros, nos quais ainda carecem de maiores estudos.

    Heinzelmann e Bagley10 talvez sejam os pioneiros a estudar as alterações proporcionadas por um programa de atividade física na qualidade de sono. Em seus estudos eles submeteram alguns indivíduos a três sessões semanais de exercício de uma hora, durante 18 meses. Ao final do estudo os participantes relataram menor necessidade de sono, assim como um sono mais relaxado e restaurador, demonstrando a influência da atividade física no sono destas pessoas.

    Vuori at all.11 realizaram um levantamento epidemiológico em que foram entrevistadas 1600 pessoas, com idade variando entre 36 e 50 anos, com o objetivo de investigar a influência da atividade física no sono. Neste estudo os autores também relataram que fatores sociais, psicológicos, condições do local em que dormem, o estilo de vida e as condições de vida do indivíduo influenciam diretamente na qualidade de sono e no desempenho físico. Um outro importante achado é que os exercícios: moderado e vigoroso, podem melhorar a qualidade de sono, mas os exercícios vigorosos devem ser evitados tarde da noite.

    Segundo Tynjala12, uma percepção ruim de qualidade de sono está associada com uma baixa descrição de saúde; baixa capacidade física; e inúmeros sintomas psicossomáticos. Dificuldades para dormir e uma qualidade de sono ruim podem também ser sinais de fatores de estresse, e um estilo de vida inadequado. Para este mesmo autor, a percepção de qualidade de sono é descrita em muitos estudos como dificuldade em cair no sono; dificuldade em manter o sono; acordar muito cedo pela manhã; quanto revigorada a pessoa sente depois do sono; e a própria visão da pessoa sobre sua qualidade de sono. Há também evidências de que qualidade de sono ruim está associada, entre outras coisas, com problemas em relacionamentos sociais, dificuldade em lidar com problemas, distúrbios de sono e estados psicológicos como: depressão, ansiedade, tensão e medo. O hábito de fumar; ingerir bebidas alcoólicas; e bebidas contendo café ou cafeína freqüentemente, podem diminuir a qualidade de sono; por outro lado, a prática de atividade física tem demonstrado gerar efeitos positivos na qualidade de sono, e a inatividade física efeitos negativos. Hábitos de sono como: irregularidades no horário de dormir; dormir tarde; curtos períodos de sono; grandes diferenças entre os horários de ir para a cama durante a semana e o fim de semana; e longos cochilos durante o dia tem sido associados com uma má qualidade de sono.

    Mas segundo Mello13, embora muitos estudos demonstrem importantes benefícios do exercício físico para as funções cognitivas; os transtornos de humor; e sono, ainda há uma carência de pesquisas nesta área de estudos, já que a influência de fatores como a intensidade, a duração e o tipo de exercício, ou ainda, a combinação de diferentes tipos de exercício, como o aeróbio ao de força, a flexibilidade e a velocidade sobre os aspectos psicobiológicos, necessitam ainda de uma melhor avaliação.

    Buckworth & Dishman14, dizem que cerca de 30% da população adulta nos EUA, e de 20 a 40% da população mundial são acometidos por problemas relacionados ao sono, deteriorando assim a qualidade de vida, e diminuindo a produtividade no trabalho, entre outras coisas.

    Para o American Sleep Disorders Association15, o exercício leve e moderado pode ser considerado uma intervenção não-farmacológica para a melhoria do sono, porém poucos profissionais da área de saúde têm recomendado e prescrito o exercício físico com este intuito, talvez por não conhecer a importância da prática de atividades físicas para a aquisição de um sono de maior qualidade. Vale lembrar que esta mesma associação concluiu que os exercícios vigorosos podem prejudicar o sono.

    Após um interessante levantamento epidemiológico realizado na cidade de São Paulo, Mello17 demonstrou que entre 27,1 e 28,9% de pessoas fisicamente ativas e 72,9 e 71,1% entre os sedentários se queixavam de insônia e sonolência excessiva, respectivamente, o que demonstra claramente a influência da atividade física na qualidade do sono.

    Mello13 (p. 204), baseado em importantes estudos diz que: "...a melhoria do padrão de sono conseguida pelo exercício físico apoia-se inicialmente em três hipóteses: a primeira hipótese, conhecida como termorregulatória, afirma que o aumento da temperatura corporal, como conseqüência do exercício físico, facilitaria o disparo do início do sono, graças à ativação dos mecanismos de dissipação do calor e de indução do sono, processos estes controlados pelo hipotálamo; a segunda hipótese, conhecida como conservação de energia, descreve que o aumento do gasto energético promovido pelo exercício durante a vigília aumentaria a necessidade de sono a fim de alcançar um balanço energético positivo, restabelecendo uma condição adequada para um novo ciclo de vigília; e a terceira hipótese, restauradora ou compensatória, da mesma forma que a anterior, relata que a alta atividade catabólica durante a vigília reduz as reservas energéticas, aumentando a necessidade de sono, e favorecendo a atividade anabólica..."

    É importante salientar que a intensidade e o volume de exercícios são extremamente importantes, já que quando a sobrecarga é aumentada até um nível ideal, existe uma melhor resposta na qualidade do sono, mas quando a sobrecarga imposta pelo exercício é muito alta, como aquelas experimentadas por atletas de alto nível; o estresse físico e psicológico pode fazer com que a qualidade do sono seja diminuída13,17-19.

    Segundo Martins20, o comportamento do sono pode trazer informações bastante úteis na preparação do desportista, já que como conseqüências da alteração do padrão de sono podem ocorrer reduções da eficiência do processamento cognitivo; do tempo de reação e responsividade atencional; além de déficit de memória; aumento da irritabilidade; alterações metabólicas, endócrinas e quadros hipertensivos, que podem comprometer o rendimento físico e a saúde destes indivíduos.

    Para Weinberg & Gould21 a insônia que aflige aproximadamente um terço da população adulta, está associada com: aumento da mortalidade; com transtornos psiquiátricos e com a diminuição da produtividade e do desempenho. Por isso o exercício físico tem recebido maior atenção ultimamente, por ser considerado um tratamento alternativo na melhora da qualidade de sono, já que ele causa fadiga física e tem efeitos calmantes fisiológicos e psicológicos bem estabelecidos, por isso a noção de que o exercício estimula o sono pode ser lógica.

    Atualmente existem alguns métodos diagnósticos utilizados para investigar o sono: os questionários de sono; a polissonografia; a actigrafia; e o teste múltiplo de latência do sono, sendo que os questionários de sono são, na sua maioria internacionais e poucos são validados para a língua portuguesa, o que pode levar a erros de interpretação, já que aspectos culturais podem influenciar a especificidade e a sensibilidade destes métodos, mas, se validados para a população em questão, podem predizer e estimar a severidade dos distúrbios do sono22.

    Segundo Zanetti & Machado18, vários estudos têm demonstrado a relação entre o exercício físico e uma boa qualidade de sono, porém muitos desses métodos têm utilizado apenas medidas objetivas como a actigrafia e a polissonografia, que são considerados testes caros e de difícil acesso, e também ignoram a percepção da qualidade de sono do próprio indivíduo, medida esta que deve ser tão considerada quanto as medidas objetivas12.

    O sistema de percepções subjetivas têm sido utilizados por treinadores e cientistas do esporte de todo o mundo, através da aplicação de testes, questionários e diários de treinamento, a fim de controlar as respostas individuais de treinamento destes atletas, e diminuir sintomas relacionados ao sobre-treinamento23,24.

    Alguns estudos12,25 nesta área também têm demonstrado haver uma alta correlação, entre a percepção subjetiva de qualidade de sono e as características fisiológicas do sono, através de comparações destas percepções com exames de polissonografia demonstrando que esses testes podem ser de grande utilidade no controle e predição da qualidade de sono.


Metodologia

    No início de janeiro de 2002, após uma reunião envolvendo toda a comissão técnica da equipe (técnico; assistentes; preparador físico; diretores; entre outros), foram traçadas as metas e o planejamento para a equipe no primeiro semestre, onde as sessões de treinamento foram divididas da seguinte maneira:

  • Os atletas foram submetidos a duas sessões diárias de treinamento, de segunda à sexta-feira, sendo uma no período da manhã, com início às 10:00h e término às 12:00h, e outra sessão no período da tarde, das 18:00h às 20:00h;

  • As sessões do período da manhã foram destinadas ao treinamento físico, envolvendo sessões de treinamento de força (em média 2 a 3 dias por semana); treinamento da capacidade aeróbia (1 a 2 dias por semana); capacidade anaeróbia (2 dias por semana); agilidade, e outras (2 a 3 dias por semana), onde algumas capacidades físicas eram combinadas e treinadas no mesmo dia. Esta sessão era de responsabilidade do preparador físico da equipe;

  • No período da tarde os atletas treinavam habilidades específicas da modalidade; situações de jogo e eram conduzidos os treinamentos coletivos pelo técnico responsável.

    O início das sessões de treinamento ocorreu no dia 14 de janeiro de 2002, mas somente no dia 15 de janeiro os atletas foram orientados como deveriam responder os questionários.

    O questionário foi preenchido durante 16 dias no mês de janeiro; 28 dias no mês de fevereiro; 31 dias no mês de março; 30 dias no mês de abril e 31 dias no mês de maio, totalizando um período de 136 dias, onde 75 dias fizeram parte do período preparatório da equipe, e 61 dias fizeram parte do período competitivo.

    Participaram da pesquisa uma amostra de 9 atletas da equipe Rio Pardo/Maga da cidade de São José do Rio Pardo - SP, com idades entre 19 e 26 anos, participantes do II Torneio Novo Milênio de Basquetebol Adulto Masculino durante os meses de janeiro a maio de 2002, mas somente 5 atletas, com idades entre 21 e 26 anos, tiveram seus questionários utilizados, já que 4 atletas não preencheram corretamente o instrumento durante todo o período investigado.

    Cada atleta foi orientado a responder diariamente um questionário fechado proposto por Yusuf Omar26. Estes questionários funcionavam também como um diário de treinamento, já que neste instrumento havia outras variáveis como: horas de sono; sensação de fadiga; vontade de treinar; apetite; dores musculares; prontidão competitiva; peso; e freqüência cardíaca basal.

    Para este trabalho abordaremos apenas a qualidade do sono, não por considerarmos as outras variáveis menos importantes, mas por considerarmos o sono uma medida extremamente sensível, podendo ser influenciada diretamente por questões de ordem fisiológica, psicológica e social.

    Durante uma reunião os atletas foram orientados como deveriam preencher o questionário, onde cada item foi detalhado minuciosamente, sendo que o item referente à qualidade do sono deveria ser respondido diariamente no período da manhã, e a resposta deveria ser dada através da percepção da qualidade de sono da noite anterior.

    No questionário esta variável era composta de cinco intensidades, onde o sono profundo foi definido como um sono considerado de grande qualidade, capaz de produzir uma excelente sensação de relaxamento e restauração; o sono normal foi definido como um sono de boa qualidade; o sono sem relaxamento foi definido como um sono de qualidade ruim, onde não havia uma boa sensação de relaxamento; o sono ruim, com pausas foi definido como um sono com ausência total de relaxamento, com episódios freqüentes de despertar noturno; e o sono pouquíssimo estado de sonolência que foi definido como ausência quase total de sono. Todos os questionários eram devolvidos ao final de cada mês.

    O objetivo deste trabalho é o conhecimento da qualidade de sono da população estudada, para que possamos planejar e facilitar uma intervenção eficaz na busca por uma maior qualidade do sono, saúde e rendimento destes atletas.


Resultados

    Durante toda a temporada foram coletados 680 relatos (5 atletas) referentes à qualidade de sono, sendo 375 relatos no período preparatório; que teve uma duração aproximada de 75 dias, e 305 relatos durante o período competitivo; que teve uma duração de 61 dias.

    Durante toda a temporada os atletas relataram apresentar 43.68% (297 relatos) de sono profundo; 40.74% (277 relatos) de sono normal; 10.88% (74 relatos) de sono sem relaxamento; 4.26% (29 relatos) de sono ruim, com pausas; e 0.44% (3 relatos) de pouquíssimo estado de sonolência.

    Quando verificamos apenas o período preparatório; que teve duração aproximada de 75 dias, os atletas relataram 46.67% (175 relatos) de sono profundo; 40.53% (152 relatos) de sono normal; 7.47% (28 relatos) de sono sem relaxamento; 5.33% (20 relatos) de sono ruim, com pausas; e 0.00% (0 relatos) de pouquíssimo estado de sonolência.

    Durante o período competitivo; que teve duração aproximada de 61 dias, os atletas relataram 40.00% (122 relatos) de sono profundo; 40.98% (125 relatos) de sono normal; 15.08% (46 relatos) de sono sem relaxamento; 2.95% (9 relatos) de sono ruim, com pausas; e 0.99% (3 relatos) de pouquíssimo estado de sonolência.

    Os resultados demonstram uma importante variação na qualidade de sono do período preparatório para o competitivo, sendo que houve uma diminuição de 14.20% na qualidade de sono profundo do período preparatório para o competitivo, um aumento de 1.10% no sono normal; um aumento de 102.00% no sono sem relaxamento; um aumento de 44.60% no sono ruim, com pausas; e também 3 relatos de pouquíssimo estado de sonolência no período competitivo, situação esta que não ocorreu no período preparatório.


Discussão

    O interesse pela interferência dos exercícios físicos na qualidade de sono não é um assunto novo, como já citado anteriormente, mas a grande maioria das pesquisas tem envolvido apenas indivíduos que praticam atividade física moderada; deixando uma grande lacuna no conhecimento das respostas de qualidade de sono de atletas profissionais.

    Por isso talvez essa pesquisa seja a que mais tempo acompanhou (136 dias ininterruptos) as percepções de qualidade de sono de atletas profissionais, indivíduos que geralmente são submetidos a exigências físicas e psicológicas acima dos níveis de tolerância, tendo muitas vezes que lidar com a dor; a fadiga; as lesões; as pressões de técnicos, torcida, patrocinadores, entre outros.

    Como abordado anteriormente, diversos fatores podem interferir na qualidade de sono, fatores como o uso de substâncias alcoólicas; cafeína; entre outras. Por isso gostaríamos de salientar que o nosso objetivo não foi verificar qual aspecto mais contribui para a melhoria ou deterioração da qualidade de sono destes indivíduos, já que em nenhum momento foi utilizado outro instrumento que verificasse a influência destes fatores na qualidade de sono, mas sim acompanhar as respostas de qualidade de sono apresentadas durante toda a temporada.


Conclusões

    Ao analisarmos a variação na qualidade de sono do período preparatório para o competitivo, encontramos uma grande queda no nível de qualidade do sono no período competitivo, o que demonstra claramente que os atletas não conseguiram lidar efetivamente com a chegada de tal período. O que nos faz acreditar que a carga psíquica exigida destes atletas durante o período competitivo possa influenciar negativamente suas qualidades de sono. Tal conclusão deve-se ao fato de que as cargas de treinamento foram diminuídas durante o período competitivo, para que se buscasse uma maior performance durante os jogos.

    Outros fatores de ordem psicológica como: problemas intergrupais; problemas pessoais; monotonia durante as sessões de treinamento; e o desgaste natural gerado pelo decorrer da temporada; entre outros, também podem ter influenciado diretamente na queda da qualidade de sono do período preparatório para o período competitivo. Cabe lembrar que a equipe não teve nenhuma derrota durante a temporada analisada; sagrando-se assim a grande campeã do torneio descrito anteriormente, por isso, os atletas não tiveram que lidar com o peso psicológico que as derrotas podem trazer, bem como a pressão de patrocinadores, torcida, comissão técnica, entre outros.

    Para que as condições negativas acima encontradas possam ser minimizadas, sugerimos ainda que os atletas busquem locais de pouco barulhos, instalações apropriadas, aconchegantes e de baixa luminosidade, diminuindo a presença de fatores externos que prejudiquem a tranqüilidade dessa tão importante necessidade humana, o sono. Um outro fator que deve ser destacado é a necessidade de uma intervenção psicológica a fim de atenuar efeitos estressores como: tensões geradas por altas cargas de treinamento, problemas pessoais, entre outros que possam influenciar negativamente a qualidade de sono destes atletas.

    Mas a inclusão de um programa de intervenção psicológica na programação de treinamento tem sido na maioria das vezes negligenciada pela maioria das equipes, que apenas utiliza este recurso quando tem tempo disponível, como é o caso do início da temporada, ou quando surgem problemas dentro da equipe, antes de competições mais importantes. Os mais modernos meios de periodização do treinamento têm incluído a periodização psicológica em seus sistemas, mas geralmente estes sistemas não são corrigidos ou adequados às respostas psicológicas que estes atletas vão apresentando durante a temporada27.

    ZANETTI e MACHADO5 ao investigar as respostas de qualidade de sono de atletas de basquetebol profissionais e juvenis durante uma temporada, constataram que as diferenças encontradas na qualidade do sono destes atletas variaram de 0,1 a 2,1%. Portanto podemos concluir que a qualidade de sono destas duas populações parece se comportar de maneira similar. Por isso é fundamental que as preocupações referentes à melhoria da qualidade do sono de atletas profissionais sejam as mesmas com atletas de categorias de base.

    Os profissionais responsáveis pela elaboração das sessões de treinamento deverão dar uma maior atenção às respostas de qualidade de sono que os atletas vão apresentando durante a temporada, podendo com isso diminuir os problemas físicos e psicológicos gerados pelas altas cargas de treinamento na qual são submetidos estes atletas, e conseqüentemente aumentar seus rendimentos, já que por se tratar de um treinamento de alto rendimento, onde são aplicadas altas cargas de treinamento em busca de uma maior performance, os atletas podem sofrer condições de estresse físico e psicológico, acima dos níveis recomendáveis, impedindo que os mesmos desfrutem de uma boa noite de sono.

    A alta qualidade de sono obtida por praticantes de atividade física moderada parece não se aplicar a atletas juvenis e profissionais, como já citado anteriormente pelo American Sleep Disorders Association15; Mello13; Zanetti e Machado5, por isso é importante que novos estudos venham identificar quais fatores mais contribuem para esta situação, já que é difícil atribuir esta baixa qualidade de sono apenas às altas cargas de treinamento, já que diversos fatores podem interferir no sono destes indivíduos.

    Segundo Balaguer28, as pessoas recebem informações de seus estados fisiológicos, e estados de desconforto como uma noite mal dormida, podem indicar ineficácia física e diminuir a percepção de auto-eficácia, que também tem sido apontado como um forte determinante no sucesso esportivo em inúmeras modalidades.


Referências bibliográficas

  1. Granell JC, Cervera VC. Teoria e planejamento do treinamento desportivo. Ed. Artmed. 2003. Porto Alegre, RS;

  2. Fox EL, Bowers RW, Foss ML. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. Ed. Guanabara Koogan, 4º ed. 1989. Rio de Janeiro, RJ;

  3. Powers SK, Howley ET. Exercise physiology: theory and application to fitness and performance. Ed. Wcb Brown & Benchmark. 1994. Dubuque, IA;

  4. Filin VP. Desporto juvenil: teoria e metodologia. Ed. Cid. 1996. Londrina, PR;

  5. Zanetti MC, Moreno RM, Botura HML, Calis MC, Machado AA. Sono em atletas de basquetebol: proposta de análise e intervenção 2006. In: Paula Fontoura. (Org.). Coleção Pesquisa em Educação Física 4. Ed. Fontoura. 2006. p. 275-79. Jundiaí, SP;

  6. Andrés JMP, Ferrer BS, Espa AU. La monitorización y los medios de recuperación en voleibol. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital 2001. Año 6. Marzo. nº 33. Buenos Aires;

  7. Bompa TO. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. Ed. Phorte, 4º ed. 2002. São Paulo, SP;

  8. Vela-Bueno, A, De Iceta, M, Fernandez, C. Prevalence of sleep disorders in. Gac Sanit. 1999. 13 (6), 441-8. Madrid, Spain;

  9. Mello MT, Esteves AM, Comparoni A, Benedito-Silva AA, Tufik S. Avaliação do padrão e das queixas relativas ao sono, cronotipo e adaptação ao fuso horário dos atletas brasileiros participantes da Paraolimpíada em Sidney - 2000. Rev Bras Med Esp. 2002; 8 (3); 122-28;

  10. Heinzelmann F, Bagley R. Response to physical activity programs and their effects on health behavior. Public Health Report; 1970. 85: 905-11;

  11. Vuori I, Urponen H, Hasan J, Partinen M. Epidemiology of exercise effects on sleep. Acta Physiol Scand. 1988; 574:3-7;

  12. Tynjala J, Kannas L, Levalahti E, Valimaa R. Perceived sleep quality and its precursors in adolescents. Health Promotion International, Oxford University Press, 1999. 14, (2), 155-166, Great Britain;

  13. Mello MT, Boscolo RA, Esteves AM, Tufik S. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Rev Bras Med Esp 2005; 11; 203-07;

  14. Buckworth J, Dishman RK. Exercise psychology. Champaign: Human Kinetics, 2002;

  15. American Sleep Disorders Association. The international classification of sleep disorders (diagnostic and coding manual). Kansas; DCSC, 1991;

  16. Mello MT, Fernandez AC, Tufik S. Levantamento epidemiológico da prática de atividade física na cidade de São Paulo. Rev Bras Med Esp 2000; 6; 119-24;

  17. Zanetti MC, Machado AA. Análise da qualidade do sono em atletas de basquetebol através da aplicação de um questionário psico-fisiológico. Em Anais do 9º Congresso brasileiro de psicologia do esporte. [Resumo]. Ed. Fontoura, p. 37. 2002. Jundiaí, SP;

  18. Zanetti MC, Machado AA. Estudo da qualidade do sono em atletas de basquetebol: proposta de análise e intervenção em busca de um alto rendimento atlético. In: Paula Fontoura. (Org.). Coleção Pesquisas em Educação Física. Editora Fontoura 1. p. 94-95. 2003. Jundiaí, SP:

  19. Zanetti MC, Machado AA. Qualidade de sono percebida por atletas de basquetebol profissional e juvenil durante uma temporada. [Resumo]. Em Anais do II Congresso Internacional de Pedagogia do Esporte. p. 172. 2005. Maringá, PR;

  20. Martins PJF, Mello MT, Tufik S. Exercício e Sono. Rev Bras Med Esp 2002; 7. 28-36;

  21. Weinberg RS, Gould D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Ed. Artmed, 2º ed. 2001. Porto Alegre, RS;

  22. Togeiro SMGP, Smith AK. Métodos diagnósticos nos distúrbios do sono. Ver Bras Psiquiatr 2005; 27 (Supl I): 8-15;

  23. Duarte RB. Consideraciones sobre métodos de control psicológico en el entrenamiento de resistencia. Lecturas: Educación Física Y Deportes, Revista Digital 2002. Año 8, Febrerero, nº 45. Buenos Aires;

  24. Andrés JMP, Ferrer BS, Espa AU. Utilidad del test de nivel subjetivo de preparación para valorar la preparación psicológica en deportes de combate. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital 2000. Año 5. Noviembre, nº 27. Buenos Aires;

  25. Akerstedt T, Hume K, Minors D, Waterhouse J. Good sleep - its timing and physiological sleep characteristics. European sleep research society. Journal of sleep research1997; 6, 221-29;

  26. Yusuf O. Repouso e recuperação. In: Periodização: teoria e metodologia do treinamento. Bompa TO. Ed. Phorte, 4º ed. p.101-154. 2002. São Paulo, SP;

  27. Balague G. Periodization of psychological skills training. Journal of science and medicine in sport 2000, 3 (3), 230-37. Belconnen;

  28. Balaguer I. Entrenamiento psicológico en el deporte. Albatros Educación. 1994. Valência, ESP;

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 110 | Buenos Aires, Julio 2007  
© 1997-2007 Derechos reservados