Preserve a sua natureza, faça atividades físicas! | |||
Graduada em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá e em Musicoterapia pelo Conservatório Brasileiro de Música. (Brasil) |
Denise Guerra dos Santos denise.guerra@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007 |
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Introdução
Justificativa
A disciplina Educação Física sempre foi subjugada aquela que se limitava a lecionar atividades práticas não se incluindo num pensar científico. Desta forma, a Educação Física nas escolas de ensino fundamental, também "não contribuía" de maneira tão expressiva para o desenvolvimento intelectual dos alunos. Esta visão está ficando cada vez mais inadequada. A Educação Física Escolar hoje assume seu compromisso para com o desenvolvimento integral dos alunos.
A importância deste trabalho se deu a partir da realização de uma avaliação formativa da referida área, na qual os alunos foram estimulados a refletir, se posicionar de maneira critica, responsável e construtiva, sobre os benefícios que as atividades físicas tem a oferecer à sociedade. Em seguida, eles foram encaminhados a uma criação textual sobre as diversas atividades físicas mostradas em figuras, que pudessem mobilizar a comunidade a cuidar de sua própria natureza buscando hábitos de vida mais saudáveis praticando atividades física.
A presente proposta fez-se relevante posto que os alunos foram levados ao exercício da cidadania, a formulação de novos conhecimentos, a utilização de diferentes formas de expressão (seja verbal, gráfica ou corporal), a intenção de busca da qualidade de vida agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e a saúde coletiva.
Sobre o tema "Preserve a sua Natureza, faça atividades físicas", os alunos discutiram e trouxeram a tona suas capacidades imaginativas, criativas e expressivas; o trabalho foi apresentado numa exposição multieducacional da escola e posteriormente transformou-se em um livro ainda não editado. Desta forma, a Educação Física compareceu de maneira plural tal qual o homem o é.
ObjetivosEste trabalho teve como cerne chamar a atenção para a necessidade de preservação da natureza humana através de hábitos de vida mais saudáveis. Entretanto, apontou como meta à realização dos seguintes objetivos:
Levar os alunos a compreender e vivenciar a cidadania como participação social e política, adotando atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito.
Tornar o aluno mais autônomo e crítico percebendo-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, valorizando hábitos saudáveis para a vida humana, seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria da própria qualidade de vida e de sua comunidade.
Utilizar as diferentes linguagens -verbal, gráfica e corporal- como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias e sentimentos, interpretando e usufruindo as produções culturais em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação.
Promover uma avaliação formativa onde os alunos pudessem perceber suas possibilidades e necessidades a partir de um contexto sócio cultural, sendo este mais um momento de aprendizagem significativa.
Conteúdos curricularesAo longo da historia da Educação Física determinados tipos de conteúdos, sobretudo aqueles relativos a fatos e conceitos, tiveram e ainda têm uma presença desproporcional nas propostas curriculares (Zabala, 1998). Entendendo currículo como tudo que se tem a aprender, seja num paradigma conceitual, vivencial ou atitudinal, incluindo-se ainda a possibilidade do currículo oculto (Darido e Rangel, 2000), estes foram os conteúdos ministrados:
Dimensão conceitual
Conhecer de uma forma geral elementos sobre o corpo, a prática de atividades físicas, suas adaptações especiais, e a influência destes para a qualidade de vida.
Conhecer aspectos éticos e morais do seu âmbito histórico cultural, e relacioná-los com as necessidades atuais de atividade física.
Dimensão procedimental
Vivenciar a pluralidade da cultura corporal de movimento, articulando-a a perspectiva da alteridade e valorização do outro e a si mesmo.
Vivenciar momentos de discussão questionando a realidade, formulando produção textual, exercendo suas opiniões, habilidades, sua expressividade e criatividade.
Dimensão atitudinal
Valorizar o patrimônio das experiências corporais de movimento do seu contexto sócio-cultural.
Posicionar-se de maneira crítica e reflexiva fazendo uso do diálogo, em respeito aos colegas, a sua comunidade e no pleno exercício da cidadania.
Reconhecer e valorizar atitudes não preconceituosas, lutando contra a discriminação e a exclusão social de qualquer tipo.
MetodologiaApós as experiências vividas no terceiro bimestre de 2005, é chegado o momento da avaliação final do referido período. Junto a esta etapa do processo de ensino aprendizagem, a escola se preparava para uma mostra de trabalhos no final do quarto bimestre do corrente, cujo tema englobava a saúde e o meio ambiente. Desta forma, foi levantada uma discussão em sala de aula sobre o homem como parte da natureza e a necessidade de cuidar de si e do outro. A partir desta atividade surgiu o tema gerador: "Preserve a sua Natureza, Faça Atividades Físicas".
Na aula seguinte, foram disponibilizadas pela professora de Educação Física, diversas figuras retiradas de jornais e revistas, as quais mostravam variadas formas de prática de atividades físicas, para que os alunos escolhessem uma de seu interesse. Receberam ainda uma folha de fichário para colar a figura escolhida, com o enunciado: Crie uma pequena história sobre o tema "Preserve a sua Natureza, Faça Atividades Físicas" a partir da figura escolhida. No momento da criação textual os alunos podiam interagir entre si ou com a professora. Ficou combinado também que seriam escolhidos alguns textos em cada turma para representação das mesmas na exposição. Nas aulas subseqüentes após as correções e discussões sobre os resultados, passou-se a etapa de tirar fotos da turma como um todo e separadamente dos alunos cujas histórias foram selecionadas. Mais tarde montou-se painéis com os textos e as fotos dos alunos. Numa breve ilustração as figuras de cada texto a professora de Educação Física entremeou pequenas referências de poesia, letras de musica, conceitos teóricos sobre educação, e trechos dos textos dos alunos.
Durante a exposição os alunos explicavam aos visitantes suas idéias e defendiam suas propostas. Terminada a exposição, a professora avaliou os resultados com as turmas. Surgiu então a idéia de fazer um livro com o material produzido. Iniciou-se em 2006 o processo de editoração do livro com a colaboração de um amigo da professora, fase esta já concluída. Neste momento a escola busca recursos para a edição do livro.
ConclusãoO sonho, tantas vezes destacado pelos alunos em seus textos, permitiu aflorar a criatividade e a conscientização sobre seus papéis sociais. Aqui, o mundo imaginário confundiu-se com a intempestiva realidade da nossa sociedade mesclada de preconceitos e violências, belezas e riquezas. No entanto, urge entre os autores das histórias a necessidade de acreditar na possibilidade de mudar, e mudar para melhor! como um pano de fundo, a dualidade entre o bem e o mal serviu de palco para que os discentes mostrassem seus conhecimentos, suas vivencias e o caminho do crescimento para a vitória.
Quanto ao processo de aprendizagem sobre a ótica da Educação Física, percebe-se que a dimensão conceitual se apresentou como norteadora do conhecimento das atividades físicas e de aspectos éticos e morais do seu âmbito sócio cultural. Que a dimensão atitudinal dialogou com a efervescência do cotidiano desta comunidade escolar e o entorno sócio cultural, lutando contra a discriminação e a exclusão de qualquer tipo, fazendo jus ao pleno exercício da cidadania. Que a dimensão procedimental não deixa dúvida sobre o prazer de praticar as atividades físicas, assisti-las ou mesmo de incentivar o outro a cuidar de sua natureza fazendo atividade físicas.
A cultura corporal de movimento como objeto privilegiado de trabalho da Educação Física Escolar, aponta para a ressignificação das intencionalidades e formas de expressão do gesto motor (PCN-EF, 2000). Assim, pressupõe-se um movimento de aproximação afetiva entre a docente e os discentes. O lugar de professora que me foi confiado, foi também de mediadora, cúmplice e aprendiz. Em cada etapa do trabalho, percebia o empenho dos alunos, a credibilidade na minha intermediação e na esperança de novos horizontes. Percebi que as lições estão mesmo em toda parte e em especial no brilho dos olhos de cada um, ou na janela da alma, como queira!
Acredito que a comunidade tenha se beneficiado de contar com cidadãos mais críticos, mais investidos da alteridade, e mais orgulhosos dos seus valores morais e culturais. Há uma certa timidez para falar e realizar atividades físicas por parte dos adultos desta comunidade. Entretanto, o convite alegre e pueril das crianças tão certas dos benefícios oferecidos, já interfere neste estado de ser. A semente foi plantada e o movimento está no ar. Por último, tomo de empréstimo as palavras de Rubem Alves que fazem parte da capa posterior do livro para finalizar este trabalho:
"É necessário pegar o texto da mesma forma como se pega uma flauta, pra acordar o artista que dorme em nós, ou como quem pega uma pipa, fazendo voar os pensamentos. É sempre assim com a arte e o brinquedo: o prazer só vem quando o corpo se põe a dançar" (Rubem Alves).
Referências bibliográficas
CONFEF. Carta Brasileira de Educação Física. Brasil. 2000.
DARIDO e RANGEL org. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
FIEP. Manifesto Mundial da Educação Física. Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil: Editora Kaygangue Ltda, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários á prática educativa. Rio de janeiro: Paz e terra, 1996.
FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Revista Nova Escola. São Paulo: Abril cultural. Maio/2006.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Volume 7, educação Física. 2ª edição. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto alegre: Artmed, 1998.
revista
digital · Año 12
· N° 110 | Buenos Aires,
Julio 2007 |