Correlação entre indicadores antropométricos de riscos à saúde em prestadores de serviços do CDS-UFSC |
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*Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Mestrando do PPGEF/CDS/UFSC. **NuPAF - Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde - CDS/UFSC. (Brasil) |
Hector Luiz Rodrigues Munaro* ** Suziane de Almeida Pereira** hectormunaro@cds.ufsc.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007 |
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Introdução
Com os avanços tecnológicos da vida moderna, cada vez mais as pessoas tornam-se menos ativas, o que pode acarretar em alguns distúrbios hipocinéticos, como sobrepeso e obesidade. Desta maneira, identificar tais distúrbios é tarefa importante em todos as fases da vida, desde crianças e adolescentes até idosos.
Vários são os recursos disponíveis na literatura para mensuração e avaliação antropométrica que indiquem fatores de risco à saúde. Destes, podemos citar o índice de massa corporal (IMC), que é largamente utilizado em avaliação do estado nutricional principalmente de adultos. Haja vista, a sua facilidade de aplicação, seu baixo custo e pequena variação intra ou intermedidor1.
Alguns estudos selecionados demonstraram forte correlação entre o IMC e outros indicadores antropométricos de distribuição de gordura não visceral (prega cutânea subescapular e prega cutânea triciptal) e de gordura abdominal ou visceral (circunferência da cintura), além de ter relação direta com a massa de gordura corporal total2.
Desta forma, sabendo-se que o IMC possui forte correlação com outros indicadores antropométricos, que o presente estudo procurou avaliar a correlação entre o IMC e outros indicadores, bem como, identificar valores de riscos à saúde dos prestadores de serviço do CDS/UFSC.
MetodologiaA amostra deste estudo foi composta por 14 voluntários prestadores de serviços gerais, representativo dos prestadores lotados no CDS/UFSC. O design da pesquisa foi descritivo do tipo transversal3, onde a amostra foi selecionada através de convite escrito, incluídos no estudo, os que compareceram nos dias e horários determinados, durante o mês de Agosto e Setembro de 2005.
As medidas foram coletadas no Laboratório de Avaliação de Esforço Físico do CDS/UFSC. Foram verificadas as medidas antropométricas de massa, estatura, circunferência de cintura (CC) e quadril (CQ), além de referidas as medidas de massa, estatura, sexo e idade pelos participantes. Utilizou-se a padronização preconizada por Lohman4, sendo duplicadas as medidas, fazendo-se a média aritmética e quando necessária uma terceira, caso houvesse diferenças exageradas entre as duas primeiras.
A massa corporal foi mensurada através de balança marca Filizola com precisão de 50 g. Utilizou-se estadiômetro de torre de madeira com fita métrica fixada e precisão de 1 mm para estatura. Para as medidas de circunferência de cintura e quadril, utilizou-se fita não elástica marca Sanny com precisão de 1 mm.
O IMC foi calculado utilizando-se os dados referidos e mensurados de massa e estatura (massa (Kg)/ estatura (m)2), onde foi utilizado os pontos de cortes proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS)5, onde IMC 25 kg/m2 foi considerado sobrepeso e risco aumentado para doenças metabólicas.
Foi calculada a Relação Cintura-Quadril (RCQ) e utilizado os pontos de corte da Pereira et al6, onde homens com valores 0,95 e mulheres 0,80 foram considerados como risco aumentado.Também foi utilizada a circunferência de cintura isoladamente com pontos de corte de > 88 cm para mulheres e > 102 para homens como risco aumentado para doenças metabólicas5.
Os procedimentos estatísticos foram realizados utilizando-se o programa Excel para entrada de dados e foram analisados no pacote estatístico SPSS for Windows 11.57, utilizando-se a estatística descritiva e o teste de correlação de Pearson adotando-se como estatisticamente significante o valor de p < 0,05.
ResultadosO perfil antropométrico, bem como as características de faixa etária e sexo estão descritos na tabela 1. Os homens representaram 21,4% (n=3) da amostra contra 78,6% (n=11) de mulheres. A faixa etária média de ambos os sexos foi de 38,29 (DP=11,3) anos.
Tanto homens como as mulheres apresentaram valores de IMC referido em média, acima do ponto de corte para sobrepeso (tabela 1), no entanto quando analisado o IMC medido, as mulheres apresentaram valores abaixo do ponto de corte para sobrepeso sendo 23,2 Kg/m2 (DP=3,1) em relação ao IMC referido.
Devido a amostra ser pequena, não foi possível realizar testes de diferenças entre as médias, no entanto percebemos não haver diferenças grandes entre as médias. Fato interessante foi a diferença entre os valores de IMC referido e medido entre as mulheres, já que pelo IMC referido, estas estariam abaixo do ponto de corte para sobrepeso, não obstante, para o IMC medido, encontram-se dentro da categoria de sobrepeso.
Os homens não apresentaram valores de risco aumentado tanto para RCQ e CC isolada, mas as mulheres apresentaram os valores de RCQ e CC dentro da categoria de risco aumentado para adquirirem doenças metabólicas.
Na tabela 2 encontram-se os valores de correlação entre os indicadores antropométricos gerais de risco à saúde.Podemos observar a excelente correlação entre o IMC referido e o medido (r= 0,912; p=0,000).
Quando correlacionado o IMC medido e a RCQ esta se mostrou fraca (r=0,524; p=0,55) não sendo significativa, fato também observado para a associação entre IMC referido e RCQ (r=0,406; p=0,150).
A medida de CC comparada ao RCQ houve uma correlação muito boa e significativa (r=0,874; p=0,000).
Na tabela 3 observa-se a prevalência de sobrepeso e obesidade relativa aos pontos de corte do IMC referido e medido, bem como, o risco aumentado para a CC. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia8, a associação da medida de CC e o IMC associados pode oferecer uma forma combinada de avaliação de risco metabólico.
Observou-se uma prevalência nos homens de sobrepeso de 66,66% (n=2) em relação ao IMC referido, já nas mulheres a prevalência foi de 36,36% (n=4). Em relação a CC as mulheres apresentaram uma prevalência de 63,63% (n=7) para risco aumentado, o que não foi observado nos homens.
Nota-se de forma geral que as mulheres apresentam medidas associadas de IMC e CC que indicam maiores riscos metabólicos em relação aos homens. Fato interessante foi que mesmo apresentando prevalência de 100% em relação ao IMC medido, os homens não apresentaram risco aumentado para a CC, mostrando que os valores isolados possuem limitações na avaliação dos riscos metabólicos.
Discussão e conclusõesO presente estudo procurou analisar a correlação entre o IMC referido e outros indicadores antropométricos de risco à saúde. O estudo demonstrou haver uma excelente correlação entre o IMC referido e o medido (r= 0,912; p=0,000), apesar de haver diferenças entre os valores médios das mulheres entre o IMC referido e medido (25,7 3,4 e 23,2 3,1), o que sugere uma subestimação da referência pelas mulheres. Em relação aos outros indicadores antropométricos o estudo mostrou correlação muito boa entre o IMC medido e a medida de CC isolada, sendo r= 0,815 e significativa.
Em relação ao IMC referido, CC e RCQ respectivamente, apenas a CC mostrou correlação boa e significativa (r=0,680; p=0,007).
Em estudo recente Sampaio & Figueiredo9, encontraram excelente correlação entre o IMC e a CC (r=0,96; p<0,001) o que foi confirmado no presente estudo. Quando comparado o IMC com a RCQ, não foi encontrada associação entre os indicadores, tanto para referido quanto medido, diferentemente do encontrado em outros estudos9,10.
A principal limitação deste estudo é o fato da amostra ser pequena, principalmente os homens (n=3) não sendo possível realizar outras análises estatísticas, o que pode de certa forma influenciar nos resultados das correlações, visto que, alguns dados sugeriam compreender sub-grupos11.
Pode-se concluir que a correlação entre o IMC referido e medido mostrou-se excelente, podendo ser utilizado o referido como indicador de risco à saúde, sendo de fácil aplicação e baixo custo. Quando analisados os indicadores aos pontos de corte de risco à saúde, os homens apresentaram risco de sobrepeso em relação ao IMC, já as mulheres apresentaram riscos aumentado na RCQ e CC, no entanto, somente para o IMC medido apresentaram risco de sobrepeso.
Em relação a prevalência de indicadores associados, as mulheres apresentam maiores chances de desenvolverem doenças metabólicas em relação aos homens, assim, as medidas associadas podem avaliar melhor tais riscos.
Sugere-se estudos com amostra maior para verificar tais associações bem como identificar a prevalência de fatores de risco.
Referências
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Navarro, A.M, Marchini, J.S. Uso de medidas antropométricas para estimar gordura corporal em adultos. Nutrire: Ver. Soc. Bras. Alimen. Nutr. 2000; 19/20:31-47.
Thomas, J.R. , Nelson, J.K.. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. 3 ed. Porto Alegre : Artmed, 2002.
Lohman, T.G., Roche, A.E., Martorell R. Anthropometric standardization reference manual. Illinois: Human Kinetics Books; 1988. (mimeo).
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Pereira, R.A, Sichieri, R., Marins, V.M.R. Razão cintura/quadril como preditor de hipertensão arterial. Cad Saúde Pública 1999;15:333-4.
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Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Sobrepeso e Obesidade: Diagnóstico. Projeto Diretrizes, 2004; 1: 9.
Sampaio, L.R. Figueiredo, V.C. Correlação entre o índice de massa corporal e os indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal em adultos e idosos. Rev. Nutr., Campinas, 18(1):53-61, jan./fev., 2005;53 : 61.
Seidell J.C., Cigolini M, Charzewsla J., Ellinger B.M., Deslypere, J., Cruz, A. Fat distribution in European men: a comparison from anthropometric measurements in relation to cardiovascular risk factors. Int J Obes Relat Metab Disord. 1992; 16(1): 17-22.
Barros, M.V.G., Reis, R.S. Análise de dados em atividade física e saúde. 1 Ed. Londrina : Midiograf, 2003.
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digital · Año 12
· N° 110 | Buenos Aires,
Julio 2007 |