A mentalização e a frequência cardíaca no desenvolvimento dos passes em atleta de futebol |
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UFSC - Departamento de Psicologia. Laboratório de Neurociência do Esporte e Exercício. Florianópolis, Santa Catarina. (Brasil) |
Fernanda Bollmann Oleskovicz Emílio Takase fernandabollmann@hotmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007 |
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Introdução
A análise comportamental aplicada ao esporte tem dois objetivos principais: a promoção da saúde e a melhora do rendimento esportivo, sendo que o primeiro é a base para a melhora do rendimento (Pesca, 2004).
Segundo Pesca (2004), na terapia comportamental existem várias técnicas específicas que sempre quando necessário o psicólogo poderá utilizar-se, entre muitas delas temos o relaxamento e a visualização. As técnicas de relaxamento constituem um conjunto de procedimentos de intervenções utilizadas em todos os âmbitos da psicologia (Pesca, 2004). De acordo com Caballo (1996), "a evolução das técnicas de relaxamento ao longo do século XX e sua consolidação como procedimentos válidos de intervenção psicológica, deveu-se em grande parte, ao forte impulso que receberam dentro da terapia de modificação do comportamento, ao serem consideradas como parte integrante de outras técnicas".
Consideramos válido iniciar uma técnica de relaxamento ou de visualização com uma outra denominada Respiração Profunda de Lindemann. Isto porque, segundo Samulski (1998), através de movimentos respiratórios pretende-se relaxar todo o organismo e os segmentos corporais. Dentre os principais efeitos desta técnica, aprende-se o autocontrole e autodomínio sobre seu próprio corpo e mente (Samulski, 1998), o que facilitaria a entrada no estado de relaxamento e deixaria a mente livre apenas para exercer a mentalização.
O Relaxamento Progressivo de Jacobson é um método que oportuniza, através de contrações e descontrações de grupos musculares isolados, o aperfeiçoamento da percepção sensorial dos mesmos e, conseqüentemente, o controle consciente sobre eles (Becker Jr e Samulski, 1998). Segundo Samulski e Becker Jr (1998), o relaxamento progressivo é um método excelente para influir no estado pré-competitivo do atleta. Os principais efeitos desta técnica são, de acordo com Becker Jr e Samulski (1998): aumento da percepção dos diferentes níveis de tensão muscular, redução da freqüência cardíaca e respiratória, redução da tensão psicofísica, economia de energia psicofísica e aumento do rendimento motor. A mentalização precedida de relaxamento é mais efetiva do que apenas mentalização (Weinberg, Seabourne e Jackson, 1981 citado em Weinberg e Gould, 2001). Assim, segundo Weinberg e Gould (2001), antes de cada sessão de mentalização, deve-se relaxar usando respiração profunda, relaxamento progressivo ou algum outro procedimento de relaxamento que funcione para o sujeito. O relaxamento é importante porque ele o faz esquecer as preocupações e problemas cotidianos e concentrar-se na tarefa a ser realizada e resulta em mentalizações mais poderosas porque elas não precisam competir com outros eventos (Weinberg e Gould, 2001).
Os termos mentalização ou visualização referem-se à criação ou recriação de uma experiência na mente. Mentalização é na verdade uma forma de simulação. É semelhante a uma experiência sensorial real, mas toda a experiência ocorre na mente (Weinberg e Gould, 2001). De acordo com Becker Jr e Samulski (1998), é um tipo de treinamento mental que oportuniza ao praticante a aprendizagem e/ou aperfeiçoamento do movimento, através de uma imaginação do mesmo.
Segundo Weinberg e Gould (2001), a mentalização deve envolver o máximo de sentidos possível. O sentido cinestésico é particularmente importante para os atletas porque envolve a sensação de posição e movimento corporal que surge da estimulação das extremidades nervosas sensoriais nos músculos, nas articulações e nos tendões (Weinberg e Gould, 2001). Imaginar eventos pode ter um efeito semelhante sobre nosso sistema nervoso ao que a experiência real ou verdadeira teria, ou seja, eventos nitidamente visualizados ativam os músculos assim como o faz a prática física do movimento (Weinberg e Gould, 2001). Quando você se imagina nitidamente realizando um movimento, você usa caminhos neurais semelhantes aos que você usa no desempenho real do movimento (Weinberg e Gould, 2001).
Segundo a Teoria Bio-Informativa de Lang's (1988 citado em Callow e Hardy, 2004), a imagem contém três classes de estruturas que codificam a informação: proposição do estímulo (detalhes físicos do objeto, o que ele parece), proposição de resposta (tensão muscular) e significado da proposição (interpretação da imagem).
Para Becker Jr e Samulski (1998), os efeitos principais da mentalização são: aumento, imediato, do tônus dos músculos implicados no exercício imaginado; aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da excitabilidade do sistema nervoso e aumento da sensibilidade da visão periférica (Cratty, 1989 citado em Becker Jr e Samulski, 1998). Ainda como efeito da mentalização, para Hale (1982, citado em Callow e Hardy, 2004), estudos mostram que as imagens internas tendem a produzir uma atividade eletromiográfica mais forte nos músculos envolvidos na atividade imaginada.
Como se trata de um treinamento, quanto mais sessões forem realizadas, maior a probabilidade de aumento do rendimento (Becker Jr e Samulski, 1998). Já para Collet et al. (2000) a mentalização praticada de maneira geral pode ter uma função motivadora não desprezível, mas ela não acarretará necessariamente uma melhora no desempenho. O registro das respostas vegetativas (freqüência cardíaca e respiratória) permite seguir o andamento do trabalho mental, sendo que, quanto mais essas respostas são comparáveis com aquelas registradas durante a execução da tarefa real, melhor é a qualidade da mentalização (Collet et al, 2000).
Visto os benefícios que uma técnica ou conjunto de técnicas de treinamento mental podem trazer a atletas, o objetivo geral deste estudo foi verificar se o uso das técnicas de Respiração Profunda, Relaxamento Progressivo de Jacobson e Mentalização auxiliam na melhora do rendimento de três atletas juvenis de futebol. Os objetivos específicos foram: realizar o "scout" técnico dos três participantes nos dias de jogos válidos pelo Campeonato Estadual de Futebol; estabelecer as metas para a partida seguinte com os atletas, individualmente, e com a comissão técnica (a partir da análise dos dados obtidos pelo "scout" do jogo anterior); realizar o treinamento mental (Respiração Profunda, Relaxamento Progressivo e Mentalização); monitorar a freqüência cardíaca dos atletas durante o treinamento mental; avaliar a eficácia da técnica aplicada a partir de um questionário e principalmente proporcionar aos atletas um aumento no número de acertos do fundamento "passe" no futebol.
Vale a pena ressaltar aqui, o que consideramos como o fundamento "passe". De acordo com Cunha (2003), os critérios estabelecidos nesta pesquisa para exclusão do que seria um passe errado são: passes efetuados com as mãos (arremesso lateral); passes originários de bolas paradas (escanteios, tiros de meta e cobranças de falta); bolas chutadas pela defesa com o claro objetivo de apenas afastar o perigo; bolas divididas, tanto com os pés, quanto com a cabeça e quando o atleta não receber a bola, por falta recebida, falta cometida, escorregar ou estar em impedimento.
Material e métodos1. Instrumentos
Um "scout" contendo os fundamentos executados em jogo foi desenvolvido pela pesquisadora. O mesmo continha as seguintes categorias comportamentais: PCD (passe curto para direita), PCE (passe curto para a esquerda), PLD (passe longo para direita) e PLE (passe longo para a esquerda). O "scout" foi dividido em 'acertos' e 'erros', também divididos em '1º tempo' e '2º tempo'. Um roteiro de mentalização elaborado pela pesquisadora, pelos atletas (individualmente) e pelo treinador da equipe foi utilizado na mentalização. Este roteiro continha as jogadas que eram metas para a partida seguinte. O Monitor Cardíaco Polar foi utilizado para o monitoramento da freqüência cardíaca dos atletas durante a intervenção psicológica. Com a finalidade de verificar a eficácia das técnicas aplicadas, foi aplicado um questionário (adaptado pela pesquisadora) de Becker Jr e Samulski (1998). O questionário continha 11 questões, todas objetivas. Nestas os atletas deveriam indicar: o nível de dificuldade para realizar a sessão, o nível de relaxamento e vivências alcançadas, a região corporal mais relaxada, a região que sentiu (ou não) formigamento, a região que sentiu (ou não) frio, o período de tempo que ouviu a voz do operador, o tempo que demorou para abrir os olhos após a orientação do operador, se sentiu dor em alguma parte do corpo (indicando-a), como se sentia antes, durante e após a sessão.
2. ParticipantesParticiparam do estudo 3 atletas de futebol, do sexo masculino. Todos pertencentes a categoria juvenil, entre 16 e 17 anos. Os sujeitos estavam participando durante a pesquisa da 1ª fase do Campeonato Estadual de Futebol Juvenil. O atleta 1 era um zagueiro, com lateralidade destra nas mãos e ambidestra nos pés. Tem 16 anos completos, dos quais 9 é dedicado ao futebol. A FC deste atleta manteve-se com uma média de 63,18 batimentos/minuto durante a técnica aplicada. Recentemente integrou a Seleção Brasileira Sub-17 de Futebol. O atleta 2 era um lateral/meia direita, destro, com 17 anos completos. Destes 17, dedica 11 anos ao futebol. Sua freqüência cardíaca (FC) média durante o exercício de mentalização ficou em torno de 67,9 batimentos/minuto. O atleta 3 era um volante/zagueiro, com 17 anos completos. Destes 17, pratica o futebol a 11 anos. Sua FC manteve-se numa média de 78,81 batimentos/minuto durante a mentalização.
3. ProcedimentosA partir do "scout" feito de cada atleta em dia de jogo, o qual indicava seus acertos e erros nos fundamentos, e a partir de uma conversa com o treinador e com os atletas individualmente, metas eram objetivadas para o jogo que ocorria no dia seguinte. As metas eram visualizadas sendo realizadas com sucesso, individualmente, na mentalização. O monitor cardíaco era colocado nos atletas momentos antes da intervenção. As técnicas de intervenção aplicadas foram na ordem de acontecimento: respiração profunda, relaxamento progressivo de Jacobson e mentalização. A intervenção durava de 15 a 20 minutos e foram um total de 8 sessões com dois atletas e 9 sessões com outro. Após a aplicação da técnica, os atletas deveriam responder um questionário para verificar a eficácia da técnica utilizada.
Resultados e discussão1. Atleta 1
No jogo 1 a freqüência cardíaca (FC) deste atleta (zagueiro) teve uma média de 61 batimentos por minuto (bpm). Nesta mesma partida, o atleta acertou 73% dos passes executados. No jogo 2, este atleta executou com sucesso 71% dos passes. Sua FC nesta partida não foi verificada por o monitor cardíaco apresentar problema. No jogo 3, o mesmo problema foi apresentado, não conseguindo, portanto, verificar sua FC durante a mentalização. No entanto, seus acertos nesta partida chegaram a 75%. O defeito no monitor cardíaco se manteve para o jogo 4, sendo mais um jogo sem registro da FC durante a sessão de treinamento mental. Neste jogo, a atleta obteve 80% de acertos nos fundamentos desenvolvidos. No jogo 5, o atleta desempenhou 86 % dos fundamentos com eficiência e sua FC durante a mentalização teve média de 64 bpm. No jogo 6, sua FC manteve-se com os mesmos 64 bpm de média. Seus acertos nesta partida chegaram a 85%. No jogo 7, este atleta obteve seu melhor desempenho, acertando 94% dos passes realizados. Sua FC durante a mentalização teve média de 66 bpm.
Com estes resultados, pode-se observar, fazendo uma média aritmética dos acertos, que nas três primeiras partidas o atleta acertou uma média de 73% dos fundamentos. Nos quatro últimos jogos, observou-se um aumento no sucesso na execução dos passes, passando para 86,25% a média do número de acertos durante a partida. Isso pode ser explicado pelo uso da mentalização Ter se tornado mais automático pelo atleta, contribuindo para sua melhora na prática, visto que a mentalização é um treinamento, e que resultados ainda melhores seriam esperados se o mesmo fosse continuado. Relacionando a FC deste atleta com os acertos durante os jogos, não se pode dizer qual a FC que otimizaria seu rendimento, devido as FCs terem ficado muito próximas nas partidas que foi possível sua medida. Em duas vésperas de jogo, a mentalização foi realizada, mas o atleta não foi aproveitado em campo. As FCs nessas mentalizações ficaram com 70 e 71 bpm. Visto isso, pode-se perceber que em geral, a média da FC deste atleta durante a mentalização ficava em torno de 63,18 bpm.
Com relação às respostas dadas no questionário para avaliação da técnica aplicada, analisa-se que o atleta não apresentou nenhuma dificuldade para realizar qualquer sessão e considerou "bastante" o nível de relaxamento e vivências alcançadas em todas as sessões. A região corporal mais relaxada indicada por este participante em todas as sessões foram as pernas; sentiu formigamento apenas uma única ocasião, nesta, nas mãos e não sentiu frio em nenhuma região. Ouviu a voz do operador todo o tempo em todas as sessões. Abriu os olhos após a orientação do operador "imediatamente" com exceção de uma sessão, a qual "demorou um pouco". Após o retorno, não apresentou dor em nenhuma região corporal em qualquer sessão. Antes do início das sessões, o atleta sentia grande bem-estar em 4 sessões e em 5 sentia bem-estar.Após o início da sessão, sentia grande bem-estar em 4 sessões e bem-estar em 5 sessões. Após o término da sessão, sentiu grande bem-estar em 5 sessões e bem-estar em 4. Com essas respostas percebe-se que o atleta não teve dificuldade para realizar o treinamento mental e que isto contribuiu para um melhor aproveitamento da mentalização e conseqüentemente auxiliou no aumento no número de acertos, como já era esperado.
2. Atleta 2A FC deste atleta, lateral/meia, na mentalização antecedente ao jogo 1 manteve-se com uma média de 70 bpm. Na partida correspondente, o mesmo acertou 67% dos passes executados. Nos dois jogos seguintes, um problema no monitor cardíaco impediu a verificação da FC durante a sessão de visualização. No jogo 2, o atleta atingiu 72% de acertos nos fundamentos desenvolvidos durante a partida. Já no jogo 3, o número de passes certos aumentou consideravelmente, passando para 83% de acerto. Para o jogo 4, a FC voltou a ser medida, a qual registrou 64 bpm de média. No jogo realizado no dia seguinte, o atleta obteve 77% de acertos nos fundamentos. Novamente, desta vez no jogo 5, a FC do atleta não pode ser medida devido a um problema no monitor. Entretanto, a mentalização foi realizada normalmente e no dia seguinte foi registrado 75% de acertos. Na mentalização realizada visando o desempenho no jogo 6, a FC durante a sessão ficou em 72 bpm em média. No mesmo, o atleta apresentou um desempenho inferior, atingindo apenas 53% dos passes com eficiência. Coincidiu neste caso uma FC superior às demais mentalizações e um desempenho inferior. Pode-se supor que para uma maior eficácia da mentalização, o atleta deveria manter uma FC menor. Para o jogo 7, a FC durante o treinamento mental para esta partida apresentou uma média de 64 bpm. Neste mesmo jogo, o lateral acertou 81% dos passes realizados. A FC do atleta durante a visualização visando o jogo 8 foi de 68 bpm de média. Nesta partida, o atleta obteve seu melhor desempenho acertando 88% dos passes executados. Na última mentalização realizada tendo como meta o jogo 9, a FC do lateral ficou com 57 bpm de média. Neste jogo, o atleta obteve 79% dos passes realizados com sucesso.
Para uma melhor visualização da porcentagem de acertos em cada partida, comparada a FC registrada no dia da mentalização correspondente a cada jogo, segue a tabela abaixo:
Observando a evolução deste atleta, pegando as médias de acertos da primeira metade do estudo (que corresponde as 4 primeiras rodadas) e comparando os resultados com a média de acertos da Segunda metade (correspondente as 5 últimas rodadas) pode-se notar que a sua média de acertos passou de 67,25% para 75,2%. Devido ao não registro da FC em três mentalizações antecedentes a três partidas ficamos impossibilitados de dizer ao certo qual FC é ideal para otimizar a mentalização na prática. Um dado que podemos reforçar, o qual já foi mencionado anteriormente, é que na sessão que o atleta obteve uma média de FC mais elevada, foi a partida com o pior desempenho por parte do atleta, o que podemos novamente pensar, que uma FC menor desenvolveria um melhor proveito da mentalização com um conseqüente aumento no número de acertos. Pegando as médias de batimentos cardíacos durante todas as sessões, podemos observar que a FC do atleta durante o treinamento mental ficava em média de 67,9 bpm.
Fazendo a análise das respostas dadas por este participante no questionário de avaliação da técnica aplicada, constata-se que o atleta não apresentou nenhuma dificuldade para realizar a sessão em nenhuma das realizadas e considerou como "bastante" o nível de relaxamento e vivências alcançadas em 7 sessões, considerando "um pouco" em apenas uma sessão. A região corporal mais relaxada foi a cabeça em 7 sessões, a região do pescoço/nuca em 3, os braços e as mãos em 7 sessões, as pernas em 5 e os pés em 5. Sentiu formigamento nos braços e pernas em 5 sessões, nas mãos em 7, nos pés em 3 e na cabeça em 3. Sentiu frio nas mãos, pés e pescoço/nuca em 5 sessões, nos braços e pernas em 2 e na cabeça e peito em uma sessão. Ouviu a voz do operador todo o tempo em todas as sessões. Em todas as sessões, demorou um pouco para abrir os olhos após a orientação do operador. Não sentiu dor em nenhuma região do corpo em qualquer sessão. Sentia bem-estar em 7 sessões e mal-estar em 1 sessão, antes do início das mesmas. Após o início da sessão, sentia bem-estar em todas as sessões. Após o término das sessões, sentia grande bem-estar em todas. Percebe-se que apesar deste atleta ter apresentado algumas manifestações corporais como frio e formigamento em certas partes do seu corpo, essa foi a maneira que seu corpo encontrou para realizar as vivências, visto que após as sessões, este atleta sempre sentia-se melhor do que quando chegou para realizar o treinamento.
3. Atleta 3No exercício de mentalização realizado nas vésperas do jogo 1 a FC deste atleta ficou em média 76 bpm. Neste mesmo jogo, o atleta acertou 70% dos passes desenvolvidos. Nos três jogos seguintes, um problema no monitor cardíaco impossibilitou o registro da FC durante o treinamento mental. Entretanto, da mesma forma as sessões e o registro dos passes foram realizados. No jogo 2 , o atleta acertou 50% dos passes; enquanto que no jogo 3 seus acertos subiram para 72%. A média de acertos deste continuou aumentando, alcançando 77% no jogo 4. A FC voltou a ser registrada no jogo 5, ficando com média de 88 bpm. Nesta partida, o atleta evoluiu muito, conseguindo acertar 88% dos passes realizados. Para o jogo 6, a FC novamente não pode ser registrada durante a mentalização por um problema no monitor cardíaco. Na partida equivalente, o atleta acertou 77% dos fundamentos executados. A FC registrada durante a mentalização visando o jogo 7, ficou em torno de 75 bpm. Neste jogo, o atleta obteve 76% de acerto nos passes realizados. Visando o jogo 8, a FC registrada durante a mentalização foi a mais alta, com média de 90 bpm. Coincidentemente, o atleta acertou 100% dos fundamentos executados. A alta FC registrada para esta partida, com os acertos totais apresentados por este atleta neste jogo, pode indicar que um melhor proveito da mentalização por parte do jogador, é quando sua FC permanece alta. No jogo 9 o atleta acertou 81% dos passes e sua FC visando essa partida ficou em 61 bpm.
Para uma melhor visualização da relação entre a porcentagem de acertos em cada jogo e a FC registrada na mentalização correspondente, segue a tabela abaixo.
Devido ao não registro da FC em 4 partidas, ficamos impossibilitados de dizer qual FC otimizaria um melhor proveito da mentalização. Vale reforçar, entretanto, que no exercício de mentalização o qual o atleta obteve maior FC, na partida correspondente, o atleta acertou 100% dos passes executados. Observando a evolução deste atleta, comparando sua média de acertos no início do campeonato (4 primeiras rodadas) com o final do campeonato (5 últimas rodadas), observa-se uma evolução de 67,25% de acertos para 84,4% de acertos.
A partir das respostas dadas por este atleta no questionário de avaliação da técnica aplicada, pode-se analisar que este atleta não apresentou nenhuma dificuldade para realizar a sessão em 5 ocasiões e "um pouco" de dificuldade em 3 sessões. Considerou "bastante" o nível de relaxamento e vivências alcançadas em todas as sessões. A região corporal mais relaxada em 5 sessões foram as pernas, em 3 foram as mãos, em 2 foram os braços e em 1 foram os pés. Não sentiu formigamento em nenhuma ocasião. Sentiu frio em duas sessões no peito (nas quais estava resfriado) e em 5 sessões não teve essa sensação. Ouviu a voz do operador a maior parte do tempo em 7 sessões e em uma ouviu todo o tempo. Demorou "imediatamente" para abrir os olhos após a orientação do operador em todas as sessões. Não sentiu dor em nenhuma parte do corpo em qualquer sessão. Sentia bem-estar antes de iniciar a sessão em todas as ocasiões. Após o início da sessão sentia bem-estar em 3 sessões e grande bem-estar em 5 sessões. Após o término da sessão sentia bem-estar em todas as sessões.
ConclusãoApós a conclusão da análise dos dados, pode-se perceber um grande aumento no número de acertos do fundamento "passe" nos três atletas participantes. Análise esta, possível a partir do "scout" técnico elaborado pela pesquisadora, imprescindível para o desenvolvimento do trabalho, visto que era o mesmo que nos permitia enxergar as falhas apresentadas pelos atletas durante as partidas e que deveriam ser corrigidas, com auxílio da mentalização, para os jogos seguintes. Este aumento da eficiência na execução deve-se e muito, também, ao trabalho de treinamento mental realizado com os atletas. O trabalho ajudou não só o aprimoramento dos fundamentos, como o mesmo dava autoconfiança para os atletas entrarem em campo sabendo que já haviam realizado (mentalmente) as jogadas esperadas com sucesso. O fato de a mentalização ser realizada sempre um dia antes da partida reforçava ainda mais aos atletas o que havia sido visto naquela, por a mesma estar "viva" na mente dos atletas. Os mesmos foram orientados a praticar a mentalização algumas vezes no período entre a sessão até a hora da partida, procurando deixar sempre "fresco" na memória o que havíamos visualizado. A técnica utilizada é um treinamento, por isso, quanto mais vezes fosse realizada e por um intervalo de tempo maior, com certeza aumentaria mais ainda o número de acertos, quando não, tornando zero o número de erros. O registro da freqüência cardíaca durante o treinamento foi de grande importância devido ao monitoramento da FC poder nos revelar o grau de concentração e ativação dos atletas durante o treinamento. A FC não deveria baixar a ponto de os atletas entrarem em estado de relaxamento profundo ou até mesmo sono, e deveria manter-se numa ativação constante, como ocorre durante a partida e como de fato aconteceu durante o treinamento. Com certeza, parte dessa evolução foi o trabalho técnico-tático realizado em conjunto com a mentalização durante o campeonato. Da mesma forma, ambos (trabalho técnico-tático e trabalho mental), são treinamentos, portanto, precisam de tempo para dar os resultados esperados. Considero válido o trabalho realizado, principalmente pelo retorno dado pelos atletas, os quais mostraram grande interesse em querer continuar com o treinamento mental.
Referências
BECKER JR B.; SAMULSKI, D. Manual de Treinamento Psicológico para o Esporte. 1. ed. Feevale, 1998. 173 p.
CABALLO, V. Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. 1. ed São Paulo: Santos, 1996. 873 p.
CALLOW, N., Hardy, L. The relationship between the use of a kinaesthetic imagery and different visual imagery perspectives. Journal of Sports Science, Feb 2004, v22, i2, p167(11).
COLLET, C., Roure, R., Dittmar, A., & Vernet-Maury, E. (2000) L' activité du systéme nerveux végétatif comme témoin de l'imagerie mentale chez les sportifs, de son role dans la performance et l'apprentissage. Sciences & sport, 15, 261 - 263.
CUNHA, F. A. Correlação entre Vitórias e Passes Errados no Futebol Profissional. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ano 9 - nº 62 - Julho de 2003. Acesso em: 20/11/03.
PESCA, A. D. (2004). Intervenção Psicológica em um Trabalho Interdisciplinar na Recuperação de Atletas Lesionados de Futebol. Dissertação de Mestrado. Pós-Graduação em Psicologia - UFSC - Florianópolis/SC.
WEINBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 560 p.
revista
digital · Año 12
· N° 110 | Buenos Aires,
Julio 2007 |