Análise das interferências motivacionais verbais durante o esforço físico Analysis of the verbal motivation interference during physical strain |
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*Dicente do curso de EF e membro do Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFIEX) da Universidade Estácio de Sá, Petrópolis. **Doutora em Psicologia (UFRJ) e docente do curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. ***Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Coordenador do Laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade Estácio de Sá, Petrópolis |
José Campos* | Ricardo Oliveira* Luana Vale** Alexandre Machado*** axes@oi.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007 |
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Introdução
A motivação pode ser definida como resultado da interação do indivíduo com a situação (RYAN, DECI, 2000; WEINBERG, GOULD, 2001), sendo responsável pela intensidade e duração dos esforços através da integração entre as características individuais das pessoas com a situação. As interferências motivacionais dividem-se em dois grupos: intrínseca, que é o desejo de realizar determinada tarefa, e a extrínseca, que está relacionada com interação do indivíduo com o momento (MACHADO,1995).
O treinamento contra resistência é um excelente método de promover aumentos da força (MOURA, ALMEIDA, SAMPEDRO, 1997), sendo prescrito para promover melhora da qualidade de vida, aptidão física e performance atlética. Entre os componentes envolvidos no programa de treinamento, podemos destacar: número de sets, repetições, carga de trabalho e intervalo de recuperação. Mesmo não sendo considerada um componente do treinamento contra resistência, a motivação está presente no treinamento, seja o praticante atleta ou não.
Uma prática muito comum entre atletas e praticantes desta modalidade é o treinamento em dupla, onde um motiva o outro durante a realização dos exercícios. Ao som de palavras motivantes de seu parceiro ou professor, o praticante interage com a situação (motivação extrínseca) e realiza o exercício. A fim de verificar se a motivação verbal interfere na performance, o objetivo do presente estudo foi observar a influência da motivação verbal durante a realização do exercício supino reto.
Materiais e métodosParticiparam do presente estudo 11 voluntários (23 ± 2 anos; 76,45 ± 12,13 Kg; 177,45 ± 8,89 cm), de baixo risco, não tabagistas e com uma experiência superior a 12 meses no treinamento de força. O experimento foi realizado em cinco etapas descritas abaixo. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre esclarecido, conforme a resolução do Conselho Nacional de Saúde (n° 196/96).
Procedimentos do experimentoApós a aplicação do PAR-Q e sendo constatado que os voluntários eram de baixo risco, foram realizadas as medidas de massa corporal e estatura, seqüencialmente iniciou-se a aplicação do teste de força de 1RM para determinação da força máxima. Os testes de repetição máxima foram aplicados a um percentual equivalente a 80 % da carga do teste de 1RM, aleatoriamente. Em todos os testes, os voluntários não tinham conhecimento da sobrecarga imposta.
Sabendo que o movimento surge da interação entre sistemas de percepção e ação, o sistema interage com as informações de diferentes sentidos (SHUMWAY-COOK, WOOLLACOTT, 2003). No teste de força, basicamente estão presentes três destes sentidos: tato - imprescindível para o exercício -, a audição e a visão. Neutralizou-se a visão em duas das fases do experimento a fim de verificar com maior exatidão a interferência da motivação verbal. De forma que cada voluntário realizou quatro testes de repetição máxima com um intervalo entre eles de 48 horas, sendo eles: sem motivação e com os olhos vendados (SMSV), com motivação e com os olhos vendados (CMSV), sem motivação (SMCV) e com motivação (CMCV).
A motivação verbal foi padronizada e armazenada em um CDR e reproduzida durante os testes.
Determinação da força máximaApós breve aquecimento específico, a força máxima foi determinada através do teste de 1RM crescente (MOURA et al., 1997), denominado de 1RM.
Determinação do número máximo de repetiçõesApós breve aquecimento específico, o número máximo de repetições foi determinado pela exaustão ou incapacidade de manter o movimento a um percentual da carga equivalente a 80% de1RM.
Descrição do experimentoEtapa-A: aplicação do PAR-Q, medidas de massa corporal (balança Welmy, Brasil), estatura (estadiômetro Sanny, Brasil) e aplicação do teste de 1RM.
Etapa-B: após 48 horas da etapa-A, aplicação do teste de Repetições máximas com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).
Etapa-C: após 48 horas da etapa-B, aplicação do teste de repetição máxima com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).
Etapa-D: após 48 horas da etapa-C, aplicação do teste de repetição máxima com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).
Etapa-E: após 48 horas da etapa-D, aplicação do teste de repetição máxima com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).
Análise estatísticaPara análise dos resultados, foi utilizado o Wilcoxon Matched Paris Test, onde se adotou o valor p < 0,05 quando houver uma diferença significativa, depois de testada a distribuição da amostra e constatada a não normalidade.
Em seguida os dados foram relativizados e calculados o índice de melhora (IM), através do subtração do segundo teste pelo primeiro para cada pareamento.
ResultadosAnalisando o número de repetições obtidas em cada teste (Figura -1), os resultados demonstram uma diferença significativa em todos os pareamentos , SMSV x CMSV (p = 0,003), SMCV x CMCV (p = 0,005), SMSV x SMCV (p=0,021) e CMSV x CMCV (p=0,042).
Em seguida foi calculada a diferença para cada pareamento (figura-2), SMSV x CMSV (1,73 ± 0,79 repetições), SMCV x CMCV (1,64 ± 0,81 repetições), e SMSV x SMCV (1,18 ± 1,72 repetições) e CMSV x CMCV (0,80 ± 2,20 repetições) e testadas as diferenças dos grupos SMSV x CMSV e SMCV x CMCV (p = 0,779) e SMSV x SMCV e CMSV x CMCV (p = 0,554) observando-se que os resultados não sofreram interferência significativa, mas nota-se uma maior discrepância dos resultados nos testes que sofriam a interferência da visão.
Em seguida os resultados dos pareamentos foram relativizados sendo calculada a média e o desvio padrão do IM de cada pareamento: SMSV x CMSV 24,83 ± 13,32 %, SMCV x CMCV 18,99 ± 8,94 %, SMSV x SMCV 16,08 ± 23,55 % e CMSV x CMCV 11,01 ± 22,72 % (Figura - 3).
No pareamento SMSV x CMSV (Figura -3), a ausência da visão proporcionou um IM superior quando comparado com o uso da visão, o que nos leva acreditar que a utilização da visão diminuiu a interferência da motivação verbal observada no pareamento SMCV x CMCV (Figura -3).
Observa-se ainda (Figura -3) que não houve uma diferença significativa entre os IM dos pareamentos SMSV x CMSV e SMCV x CMCV (p = 0,221), constatando-se que a interferência causada pela motivação verbal é minimizada durante a execução dos exercícios com os olhos abertos.
Os resultados encontrados demonstram uma alta significância sobre a interferência da motivação verbal durante a realização do exercício, porém quando os resultados foram relativizados e analisados os IM, observou-se que a motivação verbal tem menor interferência quando os indivíduos realizavam os exercícios com os olhos abertos e não sendo significativa a diferença encontrada quando comparada com a realização dos exercícios com os olhos fechados, com ou sem o uso da motivação.
DiscussãoVários estudos (BOCCATELLI, GUISELINI, 2005; CANTEIRO, MORENO, 2005), utilizaram-se de questionários para identificar a motivação. Recentemente, Soares e Nasser (2005) verificaram que os motivos que levam os indivíduos à prática da atividade física apresentam-se associados com a percepção e a subjetividade, podendo ser influenciados por fatores individuais (intrínsecos) e situacionais (extrínsecos).
Como o objetivo do presente estudo foi verificar a interferência da motivação verbal sobre o número de repetições máximas no exercício supino reto, observou-se que os valores atingidos pelos testes que obtiveram uso da motivação verbal foram maiores e estatisticamente significativos quando comparados com os testes sem o uso da mesma.
O que vem corroborar os dados encontrados na literatura (BOCCATELLI, GUISELINI, 2005; CANTEIRO, MORENO, 2005), demonstrando que o individuo motivado tem melhor rendimento em qualquer que seja a atividade. Porém os estudos supracitados não utilizaram-se da motivação verbal como estímulo, não adotaram como ferramenta exercícios dinâmicos como aqui pesquisados, e não analisaram os dados de forma quantitativa.
Recentemente (CAMPOS, BARILLO, MACHADO, 2005) analisaram a influência da motivação verbal durante a execução do teste de 1RM, observando um aumento médio sobre a carga de 5,21 ± 2,87 Kg representando um aumento de 7,03 ± 4,01 por cento (p = 0,0001) na performance máxima durante a execução do teste, corroborando de forma mais efetiva com os resultados encontrados no presente estudo, onde observou-se um aumento médio do número de repetições 24,83 ± 13,32 % sem o uso da visão (p = 0,003) e 18,99 ± 8,94 % com o uso da visão(p= 0,005).
A diferença encontrada entre o teste sem visão e o com visão, ambos utilizando-se da motivação pode ser compreendida através de um velho ditado: uma imagem vale mais que mil palavras, que segundo Lee e Aronson (1974) este ditado procura expressar a dimensão da superioridade de potencial informativo da visão em relação a audição. Baseado no principio que a visão é o sentido que tem a capacidade de nos dar informações (forma, distância e velocidade) sobre o mundo exterior com precisão (MONTELLO, RICHARDSON, HEGARTY, PROVENZA, 1999).
A familiarização com o teste de 1RM assim como do teste de repetições máximas não foi realizada no presente estudo. Recentemente Dias et al. (2005) observaram resultados significativos com a familiarização do teste de 1RM, acreditando-se com isso que o resultados aqui encontrados podem sofrer alterações significativas com o processo de familiarização o que pode gerar uma diminuição do IM com o uso da motivação verbal.
Os resultados encontrados confirmam, assim, as interferências expressivas da motivação verbal sobre a performance dos indivíduos, durante a execução do número máximo de repetições no exercício supino reto. Contudo, esta relação não é genérica a ponto de ser expandida indiscriminadamente para todos os formatos de exercícios e nem para todas as formas de motivação.
ConclusãoConcluíndo-se que a utilização da motivação verbal aumenta a performance dos indivíduos durante a execução do exercício supino reto. Porém o aumento da performance conseqüente da utilização da motivação verbal diminuiu quando os voluntários estavam com os olhos abertos e também foi observado que a visão causa uma interferência diferenciada para os diferentes indivíduos.
Recomendamos a realização de outros estudos, onde possam controlar o tempo de prática de maneira minuciosa, realizar testes com e sem o processo de familiarização do exercício e por último o controle da motivação extrínseca que não foi controlada neste estudo.
Referências bibliográfricas
BOCCATELLI, M; GUISELINI, M.A N. O estudo da motivação em atletas do pólo aquático. Revista Motriz. 2005; 11(1):S23.
CANTEIRO, M; MORENO, J. C. A . Aspectos motivacionais e o rendimento do jogador de futebol. Revista Motriz. 2005; 11(1):S34.
CAMPOS, J. A N. C; BARILLO, J. L.M; MACHADO, A F. Influência da motivação verbal no teste de 1RM. Anais do Simpósio Internacional de ciência do esporte. 2005: 261.
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LEE, D.N; ARONSON,E. Visual proprioceptive control of standing in human infants. Perception and psychophysics. 1974; 15(3):529-532.
MACHADO, A A . Importância da motivação para o movimento humano. In Perspectivas Interdisciplinares em Educação Física. S.B.D.E.F. 1995.
MONTELLO, D.R; RICHARDSON,A E; HEGARTY, M; PROVENZA, M.A . Comparison of methods for estimating directions in egocentric space. Perception. Londres.1999; 28:981-1000.
MOURA, J.A R; ALMEIDA, H.F.R; SAMPEDRO, R.M.F. Força máxima dinâmica; uma proposta metodológica para avaliação do teste de peso máximo em aparelhos de musculação. Revista Kinesis. 1997; 18: 23-50.
NEVES. E.R.C; BORUCHOVITCH, E. A motivação e a progressão continuada. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2004; 20(1):77-85.
RYAN, R.M; DECI, E.L. Intrinsic and extrinsic motivations: Classic definitions and new directions. Contemporary Educational Psychology. 2000; 25:54-67.
SOARES, T; NASSER, J.P. Motivação para a prática de atividades físicas: um recorte entre os motivos mais relevantes. Revista Motriz. 2005; 11(1):S180.
SHUMWAY-COOK, A; WOOLLACOTT, M.H. Controle motor: teoria a aplicações práticas. Manole. São Paulo. 2003
WEINBERG, R.S; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Artmed. Porto Alegre. 2001.
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