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Análise das interferências motivacionais
verbais durante o esforço físico
Analysis of the verbal motivation interference during physical strain

   
*Dicente do curso de EF e membro do Laboratório de Fisiologia
do Exercício (LAFIEX) da Universidade Estácio de Sá, Petrópolis.
**Doutora em Psicologia (UFRJ) e docente do curso de
Psicologia da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro.
***Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Coordenador do Laboratório
de Fisiologia do Exercício da Universidade Estácio de Sá, Petrópolis
 
 
José Campos* | Ricardo Oliveira*  
Luana Vale**  
Alexandre Machado***
axes@oi.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente estudo teve como objetivo verificar a interferência da motivação verbal durante o esforço físico. Participaram do presente estudo 11 voluntários. Primeiramente realizou-se as medidas antropométricas. Seqüencialmente o teste de força máxima (1RM) no exercício supino reto e após 48 horas o teste de repetição máxima, com um percentual equivalente a 80 % da carga do teste de 1RM. Em todos os testes, os voluntários não tinham conhecimento da sobrecarga imposta nos testes. Cada voluntário realizou quatro testes de repetição máxima com um intervalo entre eles de 48 horas, sendo eles: sem motivação verbal e com os olhos vendados (SMSV), com motivação verbal e com os olhos vendados (CMSV), sem motivação verbal (SMCV) e com motivação verbal (CMCV). A motivação verbal foi padronizada e armazenada em um CDR e reproduzida durante os testes. Para análise dos resultados, foi utilizado o Wilcoxon Matched Paris Test, onde adotou-se o valor p < 0,05 para uma diferença significativa. Os resultados encontrados confirmam as interferências da motivação verbal sobre a performance dos indivíduos, durante a execução do número máximo de repetições, observando-se um aumento médio do número de repetições de 24,83 % sem o uso da visão e 18,99 % com o uso da visão. Contudo, esta relação não é genérica a ponto de ser expandida indiscriminadamente para todos os formatos de exercícios. Concluíndo-se que a utilização da motivação verbal aumenta a performance dos indivíduos durante a execução do exercício supino reto. Porém o aumento da performance conseqüente da utilização da motivação verbal diminuiu quando os voluntários estavam com os olhos abertos e também foi observado que a visão causa uma interferência diferenciada entre os voluntários.
    Unitermos: Motivação. Treinamento. Força.
 
Abstract
     The study's objective was verify the interference of the verbal motivation during physical strain. Eleven volunteers have participated on the current study. First of all, it was executed the anthropometric measures. After that it was executed the maximum strength test ( 1RM) in the right supine exercise and 48 hours after the maximum repetition test, with eighty percentage charge of the 1RM test. During the tests the volunteers haven't know about the overcharge impost on them. Each volunteer have executed 4 maximum repetition test with a 48 hours interval between them, being: without verbal motivation and occluded eyes, with verbal motivation and occluded eyes, without verbal motivation and opened eyes and with verbal motivation and opened eyes. The verbal motivation was padronized and stored in a CDR and reproduced during the tests. To analyze the results it was utilized the Wilcoxon Matched Paris Test where it was adopted the value p<0,05 for a significative difference. The found results confirm the verbal motivation interferences on individual performances during the execution of the maximum number of repetitions observing an increase in the number of repetitions of 24,83% with occluded eyes and 18,99% without occluded eyes. However this relation is not generic to be wholesale extended to all kinds of exercise. It was concluded that the verbal motivation increases the individual performances during the execution on the right supine exercise. But the performance increase consequent of verbal motivation use decreased when the volunteers were with opened eyes and it was also observed that the vision causes an interference differentiated among the volunteers.
    Keywords: Motivation. Training. Strength.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007

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Introdução

    A motivação pode ser definida como resultado da interação do indivíduo com a situação (RYAN, DECI, 2000; WEINBERG, GOULD, 2001), sendo responsável pela intensidade e duração dos esforços através da integração entre as características individuais das pessoas com a situação. As interferências motivacionais dividem-se em dois grupos: intrínseca, que é o desejo de realizar determinada tarefa, e a extrínseca, que está relacionada com interação do indivíduo com o momento (MACHADO,1995).

    O treinamento contra resistência é um excelente método de promover aumentos da força (MOURA, ALMEIDA, SAMPEDRO, 1997), sendo prescrito para promover melhora da qualidade de vida, aptidão física e performance atlética. Entre os componentes envolvidos no programa de treinamento, podemos destacar: número de sets, repetições, carga de trabalho e intervalo de recuperação. Mesmo não sendo considerada um componente do treinamento contra resistência, a motivação está presente no treinamento, seja o praticante atleta ou não.

    Uma prática muito comum entre atletas e praticantes desta modalidade é o treinamento em dupla, onde um motiva o outro durante a realização dos exercícios. Ao som de palavras motivantes de seu parceiro ou professor, o praticante interage com a situação (motivação extrínseca) e realiza o exercício. A fim de verificar se a motivação verbal interfere na performance, o objetivo do presente estudo foi observar a influência da motivação verbal durante a realização do exercício supino reto.


Materiais e métodos

    Participaram do presente estudo 11 voluntários (23 ± 2 anos; 76,45 ± 12,13 Kg; 177,45 ± 8,89 cm), de baixo risco, não tabagistas e com uma experiência superior a 12 meses no treinamento de força. O experimento foi realizado em cinco etapas descritas abaixo. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre esclarecido, conforme a resolução do Conselho Nacional de Saúde (n° 196/96).


Procedimentos do experimento

    Após a aplicação do PAR-Q e sendo constatado que os voluntários eram de baixo risco, foram realizadas as medidas de massa corporal e estatura, seqüencialmente iniciou-se a aplicação do teste de força de 1RM para determinação da força máxima. Os testes de repetição máxima foram aplicados a um percentual equivalente a 80 % da carga do teste de 1RM, aleatoriamente. Em todos os testes, os voluntários não tinham conhecimento da sobrecarga imposta.

    Sabendo que o movimento surge da interação entre sistemas de percepção e ação, o sistema interage com as informações de diferentes sentidos (SHUMWAY-COOK, WOOLLACOTT, 2003). No teste de força, basicamente estão presentes três destes sentidos: tato - imprescindível para o exercício -, a audição e a visão. Neutralizou-se a visão em duas das fases do experimento a fim de verificar com maior exatidão a interferência da motivação verbal. De forma que cada voluntário realizou quatro testes de repetição máxima com um intervalo entre eles de 48 horas, sendo eles: sem motivação e com os olhos vendados (SMSV), com motivação e com os olhos vendados (CMSV), sem motivação (SMCV) e com motivação (CMCV).

    A motivação verbal foi padronizada e armazenada em um CDR e reproduzida durante os testes.


Determinação da força máxima

    Após breve aquecimento específico, a força máxima foi determinada através do teste de 1RM crescente (MOURA et al., 1997), denominado de 1RM.


Determinação do número máximo de repetições

    Após breve aquecimento específico, o número máximo de repetições foi determinado pela exaustão ou incapacidade de manter o movimento a um percentual da carga equivalente a 80% de1RM.


Descrição do experimento

    Etapa-A: aplicação do PAR-Q, medidas de massa corporal (balança Welmy, Brasil), estatura (estadiômetro Sanny, Brasil) e aplicação do teste de 1RM.

    Etapa-B: após 48 horas da etapa-A, aplicação do teste de Repetições máximas com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).

    Etapa-C: após 48 horas da etapa-B, aplicação do teste de repetição máxima com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).

    Etapa-D: após 48 horas da etapa-C, aplicação do teste de repetição máxima com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).

    Etapa-E: após 48 horas da etapa-D, aplicação do teste de repetição máxima com um percentual equivalente a 80% de 1RM (80%-1RM).


Análise estatística

    Para análise dos resultados, foi utilizado o Wilcoxon Matched Paris Test, onde se adotou o valor p < 0,05 quando houver uma diferença significativa, depois de testada a distribuição da amostra e constatada a não normalidade.

    Em seguida os dados foram relativizados e calculados o índice de melhora (IM), através do subtração do segundo teste pelo primeiro para cada pareamento.


Resultados

    Analisando o número de repetições obtidas em cada teste (Figura -1), os resultados demonstram uma diferença significativa em todos os pareamentos , SMSV x CMSV (p = 0,003), SMCV x CMCV (p = 0,005), SMSV x SMCV (p=0,021) e CMSV x CMCV (p=0,042).

    Em seguida foi calculada a diferença para cada pareamento (figura-2), SMSV x CMSV (1,73 ± 0,79 repetições), SMCV x CMCV (1,64 ± 0,81 repetições), e SMSV x SMCV (1,18 ± 1,72 repetições) e CMSV x CMCV (0,80 ± 2,20 repetições) e testadas as diferenças dos grupos SMSV x CMSV e SMCV x CMCV (p = 0,779) e SMSV x SMCV e CMSV x CMCV (p = 0,554) observando-se que os resultados não sofreram interferência significativa, mas nota-se uma maior discrepância dos resultados nos testes que sofriam a interferência da visão.

    Em seguida os resultados dos pareamentos foram relativizados sendo calculada a média e o desvio padrão do IM de cada pareamento: SMSV x CMSV 24,83 ± 13,32 %, SMCV x CMCV 18,99 ± 8,94 %, SMSV x SMCV 16,08 ± 23,55 % e CMSV x CMCV 11,01 ± 22,72 % (Figura - 3).

    No pareamento SMSV x CMSV (Figura -3), a ausência da visão proporcionou um IM superior quando comparado com o uso da visão, o que nos leva acreditar que a utilização da visão diminuiu a interferência da motivação verbal observada no pareamento SMCV x CMCV (Figura -3).

    Observa-se ainda (Figura -3) que não houve uma diferença significativa entre os IM dos pareamentos SMSV x CMSV e SMCV x CMCV (p = 0,221), constatando-se que a interferência causada pela motivação verbal é minimizada durante a execução dos exercícios com os olhos abertos.

    Os resultados encontrados demonstram uma alta significância sobre a interferência da motivação verbal durante a realização do exercício, porém quando os resultados foram relativizados e analisados os IM, observou-se que a motivação verbal tem menor interferência quando os indivíduos realizavam os exercícios com os olhos abertos e não sendo significativa a diferença encontrada quando comparada com a realização dos exercícios com os olhos fechados, com ou sem o uso da motivação.


Discussão

    Vários estudos (BOCCATELLI, GUISELINI, 2005; CANTEIRO, MORENO, 2005), utilizaram-se de questionários para identificar a motivação. Recentemente, Soares e Nasser (2005) verificaram que os motivos que levam os indivíduos à prática da atividade física apresentam-se associados com a percepção e a subjetividade, podendo ser influenciados por fatores individuais (intrínsecos) e situacionais (extrínsecos).

    Como o objetivo do presente estudo foi verificar a interferência da motivação verbal sobre o número de repetições máximas no exercício supino reto, observou-se que os valores atingidos pelos testes que obtiveram uso da motivação verbal foram maiores e estatisticamente significativos quando comparados com os testes sem o uso da mesma.

    O que vem corroborar os dados encontrados na literatura (BOCCATELLI, GUISELINI, 2005; CANTEIRO, MORENO, 2005), demonstrando que o individuo motivado tem melhor rendimento em qualquer que seja a atividade. Porém os estudos supracitados não utilizaram-se da motivação verbal como estímulo, não adotaram como ferramenta exercícios dinâmicos como aqui pesquisados, e não analisaram os dados de forma quantitativa.

    Recentemente (CAMPOS, BARILLO, MACHADO, 2005) analisaram a influência da motivação verbal durante a execução do teste de 1RM, observando um aumento médio sobre a carga de 5,21 ± 2,87 Kg representando um aumento de 7,03 ± 4,01 por cento (p = 0,0001) na performance máxima durante a execução do teste, corroborando de forma mais efetiva com os resultados encontrados no presente estudo, onde observou-se um aumento médio do número de repetições 24,83 ± 13,32 % sem o uso da visão (p = 0,003) e 18,99 ± 8,94 % com o uso da visão(p= 0,005).

    A diferença encontrada entre o teste sem visão e o com visão, ambos utilizando-se da motivação pode ser compreendida através de um velho ditado: uma imagem vale mais que mil palavras, que segundo Lee e Aronson (1974) este ditado procura expressar a dimensão da superioridade de potencial informativo da visão em relação a audição. Baseado no principio que a visão é o sentido que tem a capacidade de nos dar informações (forma, distância e velocidade) sobre o mundo exterior com precisão (MONTELLO, RICHARDSON, HEGARTY, PROVENZA, 1999).

    A familiarização com o teste de 1RM assim como do teste de repetições máximas não foi realizada no presente estudo. Recentemente Dias et al. (2005) observaram resultados significativos com a familiarização do teste de 1RM, acreditando-se com isso que o resultados aqui encontrados podem sofrer alterações significativas com o processo de familiarização o que pode gerar uma diminuição do IM com o uso da motivação verbal.

    Os resultados encontrados confirmam, assim, as interferências expressivas da motivação verbal sobre a performance dos indivíduos, durante a execução do número máximo de repetições no exercício supino reto. Contudo, esta relação não é genérica a ponto de ser expandida indiscriminadamente para todos os formatos de exercícios e nem para todas as formas de motivação.


Conclusão

    Concluíndo-se que a utilização da motivação verbal aumenta a performance dos indivíduos durante a execução do exercício supino reto. Porém o aumento da performance conseqüente da utilização da motivação verbal diminuiu quando os voluntários estavam com os olhos abertos e também foi observado que a visão causa uma interferência diferenciada para os diferentes indivíduos.

    Recomendamos a realização de outros estudos, onde possam controlar o tempo de prática de maneira minuciosa, realizar testes com e sem o processo de familiarização do exercício e por último o controle da motivação extrínseca que não foi controlada neste estudo.


Referências bibliográfricas

  • BOCCATELLI, M; GUISELINI, M.A N. O estudo da motivação em atletas do pólo aquático. Revista Motriz. 2005; 11(1):S23.

  • CANTEIRO, M; MORENO, J. C. A . Aspectos motivacionais e o rendimento do jogador de futebol. Revista Motriz. 2005; 11(1):S34.

  • CAMPOS, J. A N. C; BARILLO, J. L.M; MACHADO, A F. Influência da motivação verbal no teste de 1RM. Anais do Simpósio Internacional de ciência do esporte. 2005: 261.

  • DIAS, R. M. R. et al. Influência do processo de familiarização para avaliação da força muscular em testes de 1-RM. Revista Brasileira Medicina Esporte. 2005; 11(1): 34-38.

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  • MACHADO, A A . Importância da motivação para o movimento humano. In Perspectivas Interdisciplinares em Educação Física. S.B.D.E.F. 1995.

  • MONTELLO, D.R; RICHARDSON,A E; HEGARTY, M; PROVENZA, M.A . Comparison of methods for estimating directions in egocentric space. Perception. Londres.1999; 28:981-1000.

  • MOURA, J.A R; ALMEIDA, H.F.R; SAMPEDRO, R.M.F. Força máxima dinâmica; uma proposta metodológica para avaliação do teste de peso máximo em aparelhos de musculação. Revista Kinesis. 1997; 18: 23-50.

  • NEVES. E.R.C; BORUCHOVITCH, E. A motivação e a progressão continuada. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2004; 20(1):77-85.

  • RYAN, R.M; DECI, E.L. Intrinsic and extrinsic motivations: Classic definitions and new directions. Contemporary Educational Psychology. 2000; 25:54-67.

  • SOARES, T; NASSER, J.P. Motivação para a prática de atividades físicas: um recorte entre os motivos mais relevantes. Revista Motriz. 2005; 11(1):S180.

  • SHUMWAY-COOK, A; WOOLLACOTT, M.H. Controle motor: teoria a aplicações práticas. Manole. São Paulo. 2003

  • WEINBERG, R.S; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Artmed. Porto Alegre. 2001.

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revista digital · Año 12 · N° 110 | Buenos Aires, Julio 2007  
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