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A recreação terapêutica como forma
de intervenção no âmbito hospitalar

   
Acadêmicos do Curso de Educação Física.
Universidade de Caxias do Sul - UCS.
(Brasil)
 
 
Andressa Casara  
Rafael Abeche Generosi  
Sandra Sgarbi
rafaelgenerosi@hotmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
     A Recreação Terapêutica é uma das formas de recreação que visa colaborar com a recuperação e o resgate do aspecto saudável dos pacientes internados no âmbito hospitalar. Sabe-se que o ambiente hospitalar causa muitos desafios que precisarão ser enfrentados por pacientes de diferentes idades durante a internação, diagnóstico e tratamento. Assim, o texto propõe uma reflexão sobre a Recreação terapêutica além de possibilitar os resultados de uma pesquisa realizada com médicos de Caxias do Sul revelando sua opinião sobre a Recreação Terapêutica.
    Unitermos: Recreação Terapêutica. Pacientes. Brincar. Intervenções.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007

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Introdução

    Os pacientes internados em hospitais enfrentam muitas dificuldades, entre elas, o ambiente desconhecido, à distância do grupo familiar, o convívio com pessoas estranhas, a agressão física e emocional ocasionadas pela medicação, os procedimentos invasivos e as limitações impostas pela enfermidade. A criança, freqüentemente pára ou limita sua atividade lúdica, por razões de ordem física ou psicológica, durante a internação, restringindo ainda mais suas possibilidades de comunicação. Sendo assim, reconhece-se que a Recreação Terapêutica reúne fatores essenciais que possibilitam o equilíbrio harmônico para o desenvolvimento integral do indivíduo.

    A Recreação Terapêutica é entendida como restabelecimento, restauração, recuperação; é a atitude mental de quem deixa fluir o aspecto lúdico da vida, conciliando a diversão e a terapia através de atividades e dinâmicas estabelecidas conforme a necessidade de cada paciente, tornando a passagem pelo hospital menos traumática.

    Assim, as atividades de recreação no meio hospitalar tornam-se passíveis de discussão e pesquisa, primeiramente pela sua importância visando um trabalho humanizado, garantindo e suprindo as necessidades de desenvolvimento dos pacientes em qualquer idade. Também é garantida pela Declaração Universal dos Direitos da Criança que afirma que a criança tem direito a recreação e o mais importante para ela é o brincar, isto é, tão necessário ao seu desenvolvimento quanto o alimento e o descanso. Essa declaração vem ao encontro e confirmação dos resultados da prática hospitalar.

A Recreação Terapêutica constitui-se em um elemento facilitador para a elaboração de ansiedades por parte dos pacientes que se encontram internados ou em tratamento em instituições hospitalares, através do favorecimento de atividades, mediante utilização de exercícios físicos e mentais que possibilitam a promoção de aceitação por parte dos pacientes, da situação muitas vezes de desconforto e estranheza referente a esse ambiente 1.

    A Recreação como proposta terapêutica visa o resgate da possibilidade de vida sadia, através da estimulação da criatividade, das manifestações de alegria, energia e vitalidade conseguidas por atividades que são percebidas como lazer por parte dos pacientes.

    O paciente tende a participar das propostas recreativas pelo prazer que é alcançado durante o desenvolvimento das atividades. No entanto, o que de fato se quer promover é a mudança do significado e percepção do contexto hospitalar por parte do paciente. Essa mudança proporcionará uma permanência mais sadia no âmbito hospitalar, além da superação de tabus como, solidão, saudade, perda, tristeza, lugar de sofrimento que a doença e a hospitalização causam.

    Para que se possa atingir fundamentalmente os objetivos, é preciso considerar que a Recreação Terapêutica reúne muita das qualidades da Recreação. GOLVEIA (1997 pg. 306-327) defende que a Recreação permite criar, satisfaz o espírito estético do ser humano, oferece possibilidades culturais, permite escapar do desagradável utilizando o excesso de energia ou diminuindo a tensão emocional. Consiste também na experiência complementar através de atividades compensadoras que geram uma descarga de impulsos agressivos ou ansiedades. A Recreação não busca retorno, resultado ou benefício. Já a Recreação Terapêutica, busca o retorno, o resultado e o benefício que serão manifestados através do prazer que o paciente poderá demonstrar durante as atividades instigadas pelo recreacionista terapêutico. Além disso, há de se considerar que as atividades utilizam os princípios da Recreação, porém são direcionadas conforme a necessidade, a patologia, respeitando a limitação, porém sempre ressaltando as potencialidades de cada paciente.

Ao hospitalizar-se, independente da sua faixa etária, o indivíduo rompe com todas as suas atividades sociais, ficando longe da sua família e daqueles que lhe têm amor, deixando ser um indivíduo socialmente ativo para se tornar paciente, passando a relacionar-se com estranhos 2.

    Com isso, atualmente defende-se que a recreação Terapêutica seja acessível a todas as idades sempre respeitando o momento de internação do paciente e suas reais necessidades.

    Independente da faixa etária, sexo, etnia, classe social e religião, o paciente como referido anteriormente, é um ser passivo, pois precisa aceitar as intervenções, os procedimentos e demais rotinas hospitalares para a sua recuperação. A Recreação Terapêutica nuca deve ser imposta e em contra partida deve possibilitar o poder de escolha fazendo com que o paciente possa exercer sua capacidade de opinar e escolher, possibilidades raras no âmbito hospitalar. Essa condição colabora para o resgate da individualidade, nos quais passam a perceber-se como um ser singular que possui preferências e acima de tudo, são únicos e importantes.

    Não bastaria perceber a Recreação Terapêutica apenas como o preenchimento do tempo ocioso do paciente. Solidifica-se a cada dia a complexidade que envolve a estrutura da Recreação Terapêutica quando percebida também como um instrumento educativo, podendo abranger aspectos como hábitos inadequados, agressividade, ansiedade, sexualidade, morte, participação e interações familiares.

    O "plano" de atividades a ser oferecido para os pacientes, não é fixo, varia dependendo da idade, do diagnóstico, da fase da doença, do estado geral do paciente, do tempo de permanência no hospital e das suas características sociais.

    Especificamente, as atividades voltadas às crianças envolvem o brinquedo e o brincar.

O brinquedo, além de ser uma necessidade básica da criança, representa distração e oportunidade para a aprendizagem e desenvolvimento de suas habilidades, já que ao brincar a criança pode viver simbolicamente suas fantasias, explorar e dominar o seu mundo externo, bem como suas ansiedades infantis. O brincar surge como instrumento valioso para a observação e atendimentos da criança hospitalizada, já que este é mais que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico, sendo na realidade uma função carregada de significado 3.

    O "simples ato de brincar" é o recurso que a criança possui para elaborar suas defesas e se comunicar espontaneamente. É através do lúdico que a criança pode formular sua realidade e demonstrar os seus verdadeiros sentimentos. O brincar é um fator que gera prazer e é saudável para a criança. Esses fatores agem positivamente na recuperação das mesmas, de forma que existe uma "fuga" do momento difícil, passando a ser um momento agradável, podendo gerar também algumas modificações fisiológicas que colaboram com a efetivação e o tempo de tratamento.

    ABERASTURY (1992, p. 11-18) afirma que o brinquedo possui muitas características dos objetos reais, mas pelo seu tamanho, pelo fato de que a criança exerce domínio sobre ele, transforma-se num instrumento para o domínio de situações penosas, difíceis, traumáticas que se engendram na relação com objetos reais. Além disso, o brinquedo é substituível e permite que a criança repita à vontade situações de prazer ou de dor, nas quais ela não pode reproduzir no mundo real. Ao brincar, a criança desloca para o exterior os seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os por meio da ação.

    Para os adultos as atividades de Recreação Terapêutica devem proporcionar o bem-estar, além de tornar o individuo ativo nas participações para que o mesmo se sinta útil e importante independente da patologia, ou momento de internação. Para que esse processo ocorra de forma saudável, o paciente deve ser submetido a uma estimulação organizada, adequada e acessível. Uma dessas estimulações é a re-socialização, enriquecendo o comportamento e as atitudes dos pacientes adultos.

Ninguém pode viver sadiamente em reclusão. Alguns dos traços peculiares do ser humano desaparecem em condições tais como o confinamento, provavelmente porque o homem adquire sua capacidade humanística somente através do contato com seres humanos e em condições adequadas 4.

    Todas as atividades de Recreação terapêutica devem aproximar os pacientes da realidade e não afastá-los. Porém essa realidade é resgatada de forma tranqüilizadora e segura, fazendo com o paciente perceba outras possibilidades de prazer mesmo sofrendo tantas privações.

    O hospital é um lugar onde a doença e a morte são evidenciadas e enfrentadas. O resgate da vida e a recuperação neste meio ficam esquecidos e o medo se torna um dos fatores que aumentam os tabus do âmbito hospitalar. Assim a Recreação Terapêutica pode colaborar com o processo do inesperado, ajudando a enfrentar a doença resgatando o lado saudável de cada paciente.

É um verdadeiro desafio para os profissionais de saúde saber fazer do brincar não somente uma mera brincadeira, mas um ato significativo relacionado a uma necessidade de reaver a situação hospitalar com vistas a assegurar a possibilidade do paciente exercer de forma ativa, sua condição de sujeito. Trabalhar nesta perspectiva é deslocar-se da doença para a saúde 5.

    Com isso, teoricamente a Recreação Terapêutica tem uma função fundamental dentro de um hospital. Sabe-se que de certa forma, há algum tempo, os profissionais da área da saúde partem em busca de alguma forma de distração para os seus pacientes, que comumente ficam entediados e dificultam as intervenções necessárias. Porém somente atualmente a Recreação Terapêutica vem conquistando o seu espaço. Dessa forma nos questionamos: - Como os médicos percebem a Recreação Terapêutica como instrumento para o tratamento dos pacientes?

    Na busca da solução do problema referido, hipotetizamos algumas possibilidades:

  • Hipótese 1: A Recreação Terapêutica possui apenas um fim lúdico, de distração.

  • Hipótese 2: A Recreação Terapêutica colabora com o tratamento dos pacientes.

  • Hipótese 3: A recreação terapêutica melhora a qualidade de vida durante a internação dos pacientes.

  • Hipótese 4: A Recreação Terapêutica é insignificante ao tratamento e recuperação dos pacientes.

    O teste das hipóteses consiste em uma pesquisa de campo, através de um questionário, especificamente para médicos de três hospitais diferentes de Caxias do Sul, no período de 03 de novembro a 12 de novembro do ano de dois mil e cinco.

    Os dados obtidos seguem conforme tabelas, gráficos e descrição posteriores.


    Os dados da tabela 1 e dos quadros 1 e 2 indicam que em relação à Recreação Terapêutica, dos 79 médicos entrevistados 40 (50,60%) acham que a recreação melhora a qualidade da internação do paciente; 21 (26,60%) vêem como um auxílio no tratamento da patologia. Ainda, 12 (15,20%) acham que ela não passa de uma distração ao paciente, ou seja, um mero passatempo e apenas 6 (7,6%) consideram insignificante tal prática.


Resultados

    A Recreação Terapêutica Hospitalar, não é uma prática oferecida em todos hospitais de Caxias do Sul, ao contrário, é oferecida na minoria dos hospitais da cidade, porém o resultado da pesquisa demonstra que 50,60% dos médicos questionados consideram a Recreação Terapêutica como fator que Melhora a Qualidade de Vida durante a internação do paciente.


Considerações finais

    Considerar que um paciente no meio hospitalar continua em desenvolvimento contínuo, sendo um ser biopsicossocial deve ser uma das preocupações dos profissionais das diferentes áreas da saúde. Essa assistência deve considerar todos os aspectos do indivíduo além do tratamento da patologia. Ou seja, deve-se considerar os aspectos físicos, emocionais, sociais e cognitivos.

    Para que ocorra o processo de desenvolvimento de forma saudável, o paciente, independente da idade, deve ser estimulado de forma organizada e acessível a recursos que potencializem o seu aspecto saudável, resgatando assim os recursos de vida individualizados.

    A Recreação Terapêutica é uma forma de estimulação que enriquece o aspecto comportamental do paciente, além de possibilitar a experimentação de respostas ao ajustamento em relação ao meio que se encontram.

    Os resultados esperados com a Recreação Terapêutica são uma melhora na qualidade de vida dos pacientes, uma maior aceitação da doença e do tratamento médico, uma diminuição considerável do nível de abandono do tratamento, facilitando a integração do paciente ao ambiente hospitalar e uma melhor readaptação ao meio social de origem.

    O grande foco da recreação Terapêutica, desde o início foram às crianças, pois se acredita que a utilização do brincar é feita pelas crianças como uma via fundamental para a compreensão do momento pelo qual estão passando. Essa vontade ocorre mesmo com a criança estando doente. Estimular a brincadeira no hospital, segundo OLIVEIRA, (1998 pg 1-13) acelera a recuperação da criança e ajuda a lidar com algo importante, que é o fato de elas sentirem a doença ou a hospitalização como castigo para algo errado que tenham feito, custando a associar a hospitalização à cura da doença.

    Há de se considerar que atualmente, a Recreação Terapêutica também visa atingir pacientes adultos portadores de diferentes patologias, já que estes em sua maioria, encontram-se deprimidos com diagnóstico ou tratamento da patologia. Para os paciente adultos o grande foco é estimular a descoberta de potencialidades que se associam diretamente com a conquista do novo, perante muitas vezes a perda de algo, como por exemplo, a saúde!

    Dessa forma, podemos considerar que a Recreação Terapêutica colabora com a melhora na qualidade de vida do paciente, além de tornar o ambiente hospitalar mais humanizado. Para que isso ocorra um ambiente favorável deve ser proporcionado aos pacientes sempre que possível, porém a inserção do brinquedo, de técnicas, e atividades que sirvam de recurso para tornar esse meio acessível e mais agradável ao paciente podendo acelerar a recuperação, contribuindo para a diminuição da permanência hospitalar dos internos.


Notas

  1. SIKILERO, Regina.(cit) Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.

  2. AZEVEDO, D.M; SANTOS J.J. Relato de Experiência de Atividades Lúdicas em uma Unidade Pediátrica. Revista Nursing, v.78, n.7 novembro 2004.

  3. AZEVEDO, D.M; SANTOS J.J. Relato de Experiência de Atividades Lúdicas em uma Unidade Pediátrica. Revista Nursing, v.78, n.7 novembro 2004.

  4. CECCIM, Ricardo; CARVALHO, Paulo R. Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.

  5. AZEVEDO, D.M; SANTOS J.J. Relato de Experiência de Atividades Lúdicas em uma Unidade Pediátrica. Revista Nursing, v.78, n.7 novembro 2004.


Referências bibliográficas

  • AZEVEDO, D.M.; SANTOS J.J. Relato de Experiência de Atividades Lúdicas em uma Unidade Pediátrica. Revista Nursing, v.78, n.7 novembro 2004.

  • CECCIM, Ricardo; CARVALHO, Paulo R. Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.

  • OLIVEIRA, Sâmela S.; DIAS, Maria B. O lúdico e suas implicações nas estratégias de regulação das emoções em crianças hospitalizadas. Revista de Psicologia, Reflexão e Crítica, v.16, n 01 2003.

  • PINTO, José R. Corpo, Movimento e Educação. Rio de Janeiro: Ed. Sprint, 1997.

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