Lecturas: Educación Física y Deportes. Revista Digital

DA EDUCAÇÃO GERONTOLÓGICA À EDUCAÇÃO FÍSICA GERONTOLÓGICA: EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO FÍSICA MAIS APROPRIADA PARA OS IDOSOS
Prof. Ms. Edmundo de Drummond Alves Junior

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Educação Física Gerontológica
Foi na perspectiva de fazer uma pesquisa com os idosos que nos aventuramos a investigar uma atividade educativa que faz parte de vários programas para idosos: a prática de atividades físicas esportivas. Optamos por pesquisar atualmente uma atividade que gravita nas diversas associações, quer sejam nos clubes, como nas universidades para idosos: a prática da ginástica. Temos procurado estudar os componentes do sistema didático: o aluno, o professor e o saber.

Alfredo Gomes de Faria Junior26 viu na figura de um octaédro os componentes do que ele observa como integrante nas atividades físicas esportivas praticadas pelas pessoas idosas. Baseado num modelo heurístico, multidimensional, que inclui subdomínios, quase independentes, foram categorizados por este autor os seguintes domínios: promoção da saúde, experiência pedagógica, experiência social, experiência estética, exercício da cidadania (projeto sócio político), competição, catarse e superação dos limites.

Os profissionais que investem nesta nova atividade social, a ginástica específica para grupo de idosos, têm uma responsabilidade que ultrapassa o simples preencher do tempo de aposentados com uma prática qualquer. O que leva os idosos a praticarem, quais os objetivos dos professores, o que verdadeiramente ocorre nestas aulas? A partir da utilização do tempo da aula, procuramos em outro trabalho introduzir a discussão da qualidade dos conteúdos. Este trabalho foi apresentado no Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, em 199727 .

Percebida como parte da educação permanente, a educação física gerontológica ainda está em construção28 e temos de reconhecer que os profissionais envolvidos no projeto Idosos em Movimento Mantendo a Autonomia (IMMA), idealizado em 1989 pelo professor Alfredo Gomes de Faria Junior, tem feito através de diversas pesquisas avanços significativos neste sentido29 . Um dos desafios deve ser no sentido de se liberar do modelo de uma educação física adaptada da que se faz na escola, que acaba por infantilizar o idoso. Devemos propor uma educação física apropriada, específica a este público30 .


Algumas recomendações para aqueles que vão trabalhar com a ginástica para idosos
O planejamento para esta atividade, como para qualquer atividade física esportiva para idosos, deverá constar do que, como, e a quem se pretende apresentar as atividades. Deve ainda conter uma previsão para as avaliações, que podem permitir o melhor acompanhamento do progresso dos alunos face aos objetivos propostos pelos professores e os interesses dos praticantes. Nas aulas de ginástica convive-se com uma forte heterogeneidade e caso seja possível os grupos devem ser diferenciados por níveis. Entretanto reconhecemos a dificuldade operacional de efetuar esta divisão, que em hipótese alguma deve ser ignorada.

Quais critérios deveríamos então estabelecer? Esta resposta virá dos objetivos do professor com relação ao grupo, aliada principalmente com o que os idosos anseiam do projeto. Uma sondagem com algumas avaliações físicas deve ser efetuada já no início das atividades. Quando possível, o programa proposto deve estar em perfeita sintonia com o médico que acompanha o idoso. O projeto IMMA tem um modelo próprio de carta para os idosos apresentarem ao seu médico particular, informando que tipo de atividade e a intensidade do que se pretende alcançar nas aulas que eles irão participar.

Uma reavaliação constante do programa serve sempre para corrigir os problemas detectados, principalmente os devidos a ausência de homogeneidade e diversidade de interesses dos alunos. Propomos que se deva começar sempre das coisas mais simples para as mais complexas, mesclando em suas aulas situações de ensino onde os próprios alunos possam construir sua atividade. Isto é outro grande desafio, principalmente tratando-se da atividade ginástica. Sabemos que em geral o grupo de idosos que freqüentam este tipo de atividade não teve anteriormente muita experiência com as atividades físicas esportivas, tendendo a aceitar a apresentação de exercícios construídos pelo professor, segundo os parâmetros do que se considera uma 'educação física tradicional', ou uma 'educação física de ontem'31 , onde o professor é um modelo a ser seguido.


Um projeto já em desenvolvimento
Num trabalho de intervenção e pesquisa que atualmente se desenvolve através do Centro de Estudos do Projeto IMMA (CEPrIMMA)32 , optamos por começar um programa pelas questões posturais, separando esta temática em três situações (vertical, sentada e deitada), fazendo com que os participantes do projeto tenham a percepção da necessidade de manter uma boa postura na execução de suas tarefas cotidianas. Para isto, teremos a preocupação de definirmos o que vem a ser para nós uma boa postura tratando-se de pessoas idosas. Este projeto está integrado com uma fisioterapeuta que atua com exercícios terapêuticos, além de contar com acompanhamento médico. Prevê-se, em seguida, para o segunda parte do planejamento algo mais voltado às especificidades apontadas pelos praticantes, que com certeza surgirão no decorrer das atividades práticas. Estas podem ser desde problemas ortopédicos, reumáticos ou outros que logo tomaremos conhecimento.

Na ginástica, um esquema de aula desenvolvido a partir do modelo criado por Dominique Collignon33 é seguido no projeto IMMA, onde propomos uma aula dividida em seis partes, fundamentada nas dificuldades básicas que vão influir na autonomia física dos idosos, e que pela sua abrangência dá bastante espaço para a criatividade dos professores. Neste sentido, recomendamos sempre que algumas atenções metodológicas sejam respeitadas e que o planejamento das atividades seja formalmente elaborado, de forma seqüencial, com diversas avaliações previstas para poder acompanhar o desenvolvimento dos praticantes.

Num contexto global podemos e devemos pensar na possibilidade de progresso, independente da idade cronológica dos participantes do projeto. Evidentemente que sabemos que o processo normal do envelhecimento não é homogêneo e que certos aspectos em cada um podem se acentuar mais ou menos, conforme a época, em ritmos dos mais variados. Resumindo, a multidimensionalidade do envelhecimento é uma realidade que não nos permite especular em demasia sobre a constituição do grupo que cada um de nós vai atender. Devemos através de sondagens estruturadas encontrar respostas que permitam dar uma noção exata de quem são os inscritos, suas ansiedades com o projeto, suas experiências com as atividades físicas, enfim, sua história de vida. Podemos ter como meta e desafio, combater os azares e acúmulo de certas deficiências de vários anos de mau uso, de desuso, e mesmo de total abandono do corpo.

O programa geral, integrado com outros profissionais, tal qual se faz no projeto IMMA, deve ter uma certa preocupação com a prevenção, dando também noções básicas a estes idosos de como eles podem vir a desenvolver de uma forma autônoma seus próprios programas de atividades físicas no seu cotidiano. Por trás desta proposta de trabalho estará sempre o referencial teórico da promoção da saúde, cujas relações e compromissos com a educação física já foram definidos34 . Desde o início das atividades do projeto, recomendamos enfatizar situações de ensino que propiciem a sociabilidade dos participantes, tendo em vista que parece ser esta um dos principais objetivos dos freqüentadores de grupo de idosos.

A nossa proposta não privilegia jogos, contestes ou qualquer outro tipo de atividade que provoque emulação. Deve-se também estar sempre atento a tentação fácil de se utilizar do modelo da educação física escolar, já que a infantilização dos idosos e a negação da velhice já foram apontados como dificultadores no trato com idosos35 .

Antes de finalizar um outro ponto merece reflexão: a segurança nas aulas. Problemas auditivos e de visão são freqüentes entre os idosos. Nesse sentido, a ausência de aparelhos ou de óculos nas atividades podem acarretar acidentes. Queremos conviver com risco zero de acidentes. Movimentos contra indicados ou não recomendados para idosos devem ser levantados e discutidos, fundamentando os motivos das restrições. O uso de roupas adequadas à atividade física deve ser sempre incentivado, não sendo no entanto fator de impedimento para a participação na aula. A atenção com a regularidade do piso e obstáculos arquitetônicos merecem especial atenção e sapatos com solado antiderrapante devem ser sempre solicitados.

Os idosos medicalizados e que necessitem de maior controle, como hipertensos e diabéticos, devem ser medidos antes do início das atividades físicas. Os limites de normalidade dependem de cada um, da medicação a qual se submetem e dos parâmetros definidos pelo médico que acompanha o idoso.


Concluindo
O trabalho com idosos difere fundamentalmente do trabalho com crianças, adolescentes e mesmo com o de adultos. O nosso desafio é no sentido de criar conteúdos apropriados para a população que vamos atender e não adaptar conteúdos já consagrados na educação física escolar ou em outras atividades físicas esportivas por nós já desenvolvidas ou vivenciadas.

É de extrema importância respeitarmos o indivíduo idoso, tal qual ele é, sem caracterizar este período da vida em que ele se encontra como sendo algo de menor importância social ou mesmo indesejável. Falar em declínio ou mesmo acentuar as inexoráveis perdas é a nosso ver a aceitação dos estereótipos que visam fragilizar os idosos, aproximando-os ao tratamento dado as crianças. De forma semelhante a infantilização do idoso, que pode ser através dos conteúdos das aulas como nas atitudes face aos idosos, a negação da velhice deve ser totalmente evitada. A aparente aceitação por parte dos idosos de qualquer coisa que lhes é proposta pode ser entendida como reflexo de uma geração que viveu oprimida, onde a velhice é normalmente estigmatizada pela sociedade e que durante décadas de autoritarismo acostumou os hoje idosos a não reclamar do que lhes incomoda. Além disso, sabemos que a atual geração de idosos, principalmente destes que procuram a ginástica como atividade física, não tiveram muitas experiências com a educação física.

O que se propõe, no caso específico do projeto IMMA, é influir na questão da autonomia, cuja conceituação ainda não é definitiva, mas que no momento nos permite trabalhar com algumas pistas. No que se refere a autonomia física para as atividades cotidianas, ela pode ser percebida através da execução independente de auxílio externo ou de outros de certos gestos diários.

No entanto, nossa prática deve procurar desenvolver uma outra característica do que pode ser entendida também como autonomia: a capacidade dos próprios alunos virem a criar seus próprios programas de atividade física ou mesmo virem a ter o hábito de repetirem em suas residências certos exercícios recomendados por nossos profissionais. Após terem adquirido conhecimentos mínimos que pretendemos lhes passar em nossas atividades, os idosos atendidos devem ter segurança e confiança na sua própria capacidade de autogerirem sua atividade física.

Tememos que propostas de ensino que privilegiem a ação do professor, impedindo o desenvolvimento da criatividade e da construção dos movimentos por parte dos alunos, levem os idosos a dependência: que eles nunca se acharão capazes de criarem para si o mais simples programa de atividade física. A proposta de autonomia e as ações neste sentido têm como reflexo saber que nossa proposta de trabalho não será em vão e estaremos contribuindo para a melhor qualidade de vida daqueles que nos procuraram.


Referências bibliográficas
1. Doutorando na Universidade de Rennes 2 - França; Prof. Do Departamento de Educação Física - Universidade Federal Fluminense
Endereço do autor : Rua Assunção 162/203, Botafogo, CEP:22251-030, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: drummond@marlin.com.br.
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32. O projeto constituído de Pólos no Estado do Rio de Janeiro visa a atender 240 idosos entre março e dezembro de 1998. Englobando entre outras, a parceria com o Instituto do Desenvolvimento do Esporte (INDESP).
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35. DECHAVANNE, Nicole, PARIS, Bernard. Education Physique des adultes. Paris: Vigot, 1994.


Fotos: Silvia Mabel Maranzano (Argentina)
Profesora Nacional de Educación Física
Especialista en Adultez Avanzada y Vejez


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Año 3. Nº 11. Buenos Aires, Octubre 1998.