Respostas cardio-respiratórias e metabólicas em diferentes modos de exercício. (Adaptações agudas ao exercício físico submáximo realizado à mesma carga externa e em diferentes ergómetros) |
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Licenciado em EF e Desporto pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - Vila Real; Mestre em Ciências do Desporto de Recreação e Lazer pela Faculdade de Desporto. Universidade do Porto; Professor de Educação Física. |
Filipe Ferreira lipesf@gmail.com (Portugal) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007 |
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Introdução
Actualmente, a prática de actividade física é muito valorizada em termos sociais e para o desenvolvimento da saúde pública. Por vezes, nem sempre se pode integrar o exercício físico num determinado estilo de vida, bem como, valorizá-lo relativamente aos seus potenciais benefícios para a saúde. Esta causa, deve-se ao desenvolvimento de determinadas rotinas sociais e profissionais, que têm proporcionado uma diminuição da actividade física, e do exercício físico pela grande maioria dos cidadãos. As barreiras mais comuns referidas para a participação numa actividade física são a falta de tempo e a existência de uma lesão, que posteriormente levam ao abandono da prática de exercício físico (para refs. ver Pate et al., 1995). A actividade física reveste-se, assim cada vez mais de uma maior importância para a conservação, restituição e melhoria da saúde do ser humano (Barata, 1997; Wilmore & Costill, 2001).
O estudo da actividade física e do exercício físico orientado para saúde, tem sido alvo de grande preocupação na investigação contemporânea, facto que tem permitido aumentar o conhecimento nesta área (Pate et al., 1995; USDHHS, 1996). A actividade física regular tem sido considerada uma componente importante de um estilo de vida saudável. Adultos fisicamente activos, quando comparados a pessoas com hábitos de sedentarismo, tendem a desenvolver e a manter elevados níveis de aptidão física (ACSM, 1990; Pate et al. 1995).
Vários estudos realizados sobre esta temática (Blair, 1993; Oja, 1995), referem que, os indivíduos fisicamente activos ou com uma boa aptidão física, usufruem habitualmente de uma vida mais longa, relativamente aos indivíduos menos activos que possuem duas vezes mais a possibilidade de contrair doenças cardio-respiratórias. Os mesmos autores referem que hábitos de sedentarismo aumentam o risco de mortalidade provenientes de um grande número de doenças crónicas. Num estudo realizado com uma determinada população, estimou-se que 16,1% dos casos de mortalidade, poderia ser atribuída a estilos de vida sedentários (para refs. ver Blair, 1993).
Quando um indivíduo sedentário inicia um programa de actividade física regular, este tem de ser definido com base num conjunto de factores, tais como, o estado de saúde, o nível de aptidão física, os objectivos do programa, e os objectivos do praticante (Bryant & Peterson, 1999). Com o exercício o organismo vai desencadear um conjunto de adaptações ao esforço, algumas das quais estão mais relacionadas com a saúde, pois vão auxiliar na prevenção primária de doenças cardio-respiratórias (Wilmore e Costill, 2001). No entanto, outras das adaptações vão promover o aumento da aptidão física (Oja, 1995; ACSM, 1998; Bryant & Peterson, 1999; Wilmore & Costill, 2001).
A aptidão física apresenta um carácter essencialmente pedagógico, com implicações mais ou menos robustas na saúde e hábitos de vida das pessoas, bem como na realização de um conjunto variado de tarefas (Maia, 1996). Deste conceito emergem duas orientações balizadas por preocupações distintas que direccionam a noção de aptidão física para duas vertentes aparentemente divergentes: a aptidão física associada à saúde e a aptidão física associada à performance desportivo-motora (Maia, 1996; Barata, 1997).
Metodologia1. Descrição metodológica dos procedimentos
Para a elaboração deste documento, necessitamos de recorrer a um conjunto de suportes bibliográficos, principalmente constituído por artigos alusivos ao tema.
Numa primeira fase, foi consultada a base de dados Sport Discus, para realizar a procura de material mais relevante. Foram utilizadas as palavras-chave: "exercise mode", "external load" e "power output". Dos registos obtidos seleccionaram-se os seguintes:
Beneke, R., Leithauser, R., & Hutler, M. (1997). Rating of perceived exertion depends on the mode of exercise. In: Proceedings of the Second World Congress of the ECSM, Copenhaga, Dinamarca, 400-401;
Hoffman, M., Kassay, K., & Zeni, A. (1996). Does the amount of exercising muscle alter the aerobic demand of dynamic exercise? European Journal of Applied Physiology, 74, 541-547;
Kang, J.; Chaloupka, E. C., Mastrangelo, M. A., Angelucci, J. (1999). Physiological responses to upper body exercise on an arm and leg modified leg ergometer. Medicine & Science in Sports & Exercise, 31, 1453-1467;
Mayo, J., Kravitz, L., Chitwood, L., Kinzey, S.J., Waters, W., & Wongsathikun, J. (1999). Cardiovascular responses to combine arm and leg exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, 31, S421;
Mayo, J., Kravitz, L., & Wongsathikun, J. (2001). Detecting the onset of added cardiovascular strain during combined arm and leg exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, 4, 53-60;
Turley, K. R., & Wilmore, J. H. (1997). Cardiovascular responses to treadmill and cycle ergometer exercise in children and adults. Journal of Applied Physiology, 83, 948-957.
Todos estes estudos são relativamente recentes, o que suporta o facto desta temática ainda ser matéria de estudos posteriores.
Das referências mais antigas, foram consultados dois abstracts, cujo conteúdo não permite estudar com certezas o presente problema, sendo eles os seguintes:
Borg, G., Hassmyen, P., & Lagerstryom, M. (1987). Perceived exercion related to heart rate and blood lactate during arm and leg exercise. European Journal Applied Physiology, 56, 679-685;
Christensen, C. L., & Ruhling, R. O. (1983). Physiological and perceptual responses of women to equivalent power outputs on the bicycle ergometer and treadmill. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, 23, 436-444.
Posteriormente, procedeu-se à consulta de todo o suporte bibliográfico, para a elaboração de uma revisão da literatura.
2. Revisão da literatura2.1. Aptidão física e saúde
Actualmente, começa a ser clara a diferença entre o exercício físico orientado para a performance desportivo-motora e para a saúde, em que este último assume uma posição relevante na prevenção primária de doenças cardio-respiratórias. Vários estudos confirmam existir uma diminuição da taxa de mortalidade, quer global quer por causas específicas, tais como, causa cardiovascular ou diabetes em indivíduos moderadamente activos (para refs. ver Barata, 1997).
Outros apontam para a existência de uma relação inversa entre a mortalidade por doença coronária e a quantidade de actividade física e/ou o nível de aptidão física (Shephard, 1994; Pate et al., 1995; USDHHS, 1996; ACSM, 2000). Assim, indivíduos mais activos ou com um melhor nível de aptidão física, apresentam menores índices de morbilidade e mortalidade por doença coronária (para refs. ver Barata, 1997).
Ainda em alguns estudos, parte-se do pressuposto demasiado forte que a população em geral é cada vez mais sedentária e menos apta que nos anos 60, 70 ou 80, e que a actividade física diária condiciona, de algum modo, a expressão da sua aptidão física (Maia, 1996). Verificou-se que a população transitou de um estilo de vida caracterizado por um trabalho mais rural que resulta num maior dispêndio energético (e.g., agricultura), para um trabalho mais urbano que resulta num menor dispêndio de energia (e.g., trabalhos de gabinete, mão de obra substituída por equipamentos específicos) (USDHHS, 1996).
Tendo em conta todas estas desvantagens do quotidiano e consequentemente da inactividade física, podemos concluir que um estado de saúde débil poderá estar associado com elevados índices de morbilidade, e em casos extremos, com uma taxa de mortalidade prematura também elevada (USDHHS, 1996).
Alguns estudos apontam que para que o exercício físico apresente características consensuais no que se refere à sua relação para com a saúde, deveríamos dar preferência a exercícios de intensidade relativamente baixa (para refs. ver Wilmore e Costill, 2001).
Os valores de intensidade considerada baixa (55-64% da frequência cardíaca máxima) estão mais indicados para indivíduos que apresentem hábitos de vida sedentários (ACSM, 1998). Recomenda-se para indivíduos sedentários e consequentemente com níveis de aptidão física baixos, a acumulação de 30 minutos de exercício físico moderado na maioria (preferencialmente todos os dias) dos dias da semana, para um ganho efectivo de benefícios para a saúde. Este tipo de prescrição é orientado para alguns indivíduos, mas o volume e a intensidade do esforço podem não ser suficientes para provocar um estímulo suficiente para o aumento da sua aptidão cardio-respiratória.
No entanto, esta forma de exercício, para além de estar directamente relacionada com a saúde, traduz segurança, prazer, satisfação e adesão para quem o pratica (Hills et al., 1998; USDHHS, 1996).
A necessidade de combater hábitos de vida sedentários resulta numa preocupação em elaborar de programas de exercício físico devidamente ajustados aos indivíduos. Assim, os programas devem ser elaborados com o intuito de melhorar ou manter níveis de aptidão física.
De uma forma generalizada, podemos definir aptidão física como a capacidade de executar trabalho e/ou de cumprir com as exigências diárias satisfatoriamente (Bouchard et al., 1994).
Torna-se então necessário que os indivíduos desenvolvam um bom nível de aptidão física, de forma a aumentar a probabilidade de conseguir executar com sucesso as tarefas diárias e o exercício físico.
Quando direccionada para a melhoria da saúde, a aptidão física, pode ser entendida como a obtenção e/ou manutenção de uma dada expressão de capacidades físicas associadas à saúde e que são necessárias para a realização de actividades diárias (Shephard, 1994), bem como para o confronto com desafios esperados ou inesperados (para refs. ver Abrantes, 2001) e com o risco reduzido de desenvolver doenças relacionadas com a inactividade física (ACSM, 2000; para refs. ver Abrantes, 2001). Este conceito é determinado pela expressão de quatro componentes: aptidão cardio-respiratória, força e resistência muscular, flexibilidade e composição corporal (Shephard, 1994; Bouchard et al., 1994; USDHHS, 1996; McArdle et al., 1998; Wilmore e Costill, 2001). Embora todas as componentes sejam importantes para a manutenção e desenvolvimento da aptidão física, a componente cardio-respiratória assume uma posição mais determinante (comparativamente com as outras componentes), porque apresenta uma forte relação entre um elevado nível desta componente e a diminuição do risco de contrair doenças cardio-respiratórias (Bouchard et al., 1994; Wilmore e Costill, 2001).
2.2. Aptidão cardio-respiratória e prescrição de exercícioPara uma boa orientação da actividade física e do exercício físico, existe uma necessidade de prescrever exercício de uma forma consciente. A prática de actividade física adequada e bem conduzida traz vantagens que ultrapassam largamente os seus eventuais inconvenientes. Esta prescrição apresenta alguma complexidade, acrescida pelo facto da heterogeneidade das características apresentadas pelos indivíduos (e.g. especificidade da amostra) (Abrantes et al., 1999).
Ao considerarmos a componente cardio-respiratória, para a prescrição de exercício, é necessário abordar quatro factores: o modo de exercício, a frequência de participação, a duração da sessão e a intensidade (McArdle et al., 1998; Wilmore e Costill, 2001). A prescrição de exercício assenta principalmente nestas componentes da carga e são as suas variações que promovem as diferentes adaptações cardio-respiratórias, bem como o tipo de metabolismo energético predominante no modo de exercício realizado.
Para desenvolver esta componente, várias instituições e autores especificam um tipo de exercício físico com 20 a 60 minutos de duração, 3 a 5 vezes por semana, a uma intensidade de 60 a 90% da FC máx., com uma variedade de modos de exercício, tais como, caminhar, andar de bicicleta e nadar (ACSM, 1990; ACSM, 1998; Bezner, 1999) (ver quadro 1).
De uma forma geral, a prescrição do exercício com a finalidade de melhorar ou manter a aptidão cardio-respiratória deve basear-se nestas recomendações. Deste modo, torna-se importante considerar a quantidade da actividade física, como também a qualidade, para atingirmos níveis óptimos de aptidão física (ACSM, 1998). No entanto, a prescrição deve também assumir características específicas, indo de encontro às preferências e gostos particulares de cada indivíduo, tais como: as suas necessidades, objectivos e estado de saúde (ACSM, 1998).
Particularmente no domínio cardio-respiratório, a consecução de objectivos implica que a intensidade do esforço seja cuidadosamente controlada e avaliada pelo conjunto da adaptações a ela inerentes (Abrantes et al., 1999).
2.2.1. Intensidade e modo de exercício
A intensidade do exercício pode quantificar-se pela percentagem da frequência cardíaca máxima (FC máx.), VO2 máx., e ainda pela quantidade de CE.
Dependendo da variável independente controlada, vamos encontrar diferentes respostas cardio-respiratórias e metabólicas ao exercício, particularmente quando esta é controlada pela CE.
O processo de avaliação e prescrição do exercício está igualmente sujeito à influência do modo de exercício. Por exemplo, as diferentes adaptações agudas ao exercício podem variar em função do ergómetro que for utilizado (Powers e Howley, 2000).
Actualmente existe um conjunto de modos de exercício cardio-respiratório bastante alargado à disposição de quem pretende realizar exercício físico (Abrantes, 2001). Uma grande variedade de modos estão orientados para testes de exercício e para a realização de programas com o objectivo de manter e aumentar os níveis de aptidão física (Thomas et al., 1989). O grupo de actividades aconselhadas com o objectivo de provocar estímulos capazes de aumentar e/ou manter a aptidão cardio-respiratória centram-se nos seguintes: andar, correr, nadar, pedalar, remar, cross country skiing, ski, subir degraus, skate (ACSM, 1990; DeVries e Housh, 1994; ACSM, 2000).
A actual proliferação de health clubs surge como resposta ao elevado número de actividades físicas na tentativa de colmatar algumas condicionantes da vida quotidiana que limitam a sua prática regular (e.g., condições climatéricas, escassa disponibilidade de horários de algumas actividades laborais, lesão e pós-operatório) (Abrantes, 2001). Uma das componentes mais representativas do exercício praticado nestes centros é a do exercício cardio-respiratório, com o recurso a diferentes ergómetros (Abrantes, 2001). O uso destes aparelhos (e.g., tapete, bicicleta ergométrica, remo, simulador de ski, stepper, rider) permite levar a cabo grande parte das actividades físicas realizadas habitualmente. De facto, a variedade de ergómetros que estão disponíveis tem aumentado gradualmente, o que aumenta igualmente o conjunto de alternativas possíveis (Abrantes, 2001). Uma das suas maiores vantagens centra-se na facilidade dos seus utentes disporem de uma grande variedade de actividades a praticar com o auxilio de profissionais especializados na prescrição e controlo do exercício físico (ACSM, 2000).
Este panorama abrangente, apesar de ter a vantagem de atender ao gosto individual e de promover a adesão ao exercício físico dificulta, de forma substancial, o controlo e prescrição do exercício (para refs. ver Abrantes, 2001).
No que diz respeito às respostas agudas cardio-respiratórias e metabólicas ao exercício físico, verifica-se que os diferentes ergómetros apresentam e provocam padrões individuais de respostas e adaptações periféricas distintas, em função do tipo de esforço máximo ou submáximo; das características específicas dos ergómetros utilizados, tais como, a quantidade de massa muscular solicitada no movimento, o suporte do peso corporal e a posição corporal adoptada (ACSM, 2000; Abrantes, 2001); e da variável controlada: VO2, FC, CE, e LA. Ou seja, os autores pretendem estudar as respostas agudas cardio-respiratórias e metabólicas ao exercício, controlando uma destas variáveis (e.g., exercício realizado à mesma CE).
2.3. Respostas do organismo ao esforço submáximoAs respostas do organismo ao exercício submáximo com solicitação dos MS diferem das respostas ao exercício de MI devido, fundamentalmente, às diferenças na quantidade de massa muscular solicitada (Brooks et al., 1996; Robergs e Roberts, 1997; McArdle et al., 1998; ACSM, 2000). Este facto contribui para que os valores da tensão arterial sistólica (TAS), FC, LA (ACSM, 2000), tensão arterial média e resistências periféricas totais (Brooks et al., 1996) se apresentem superiores no exercício de MS. Por outro lado, o volume sistólico (VS) é inferior (Brooks et al., 1996; Foss e Keteyan, 1998), pois o mesmo exercício de MS na posição vertical dificulta o retorno venoso, resultante da acumulação de sangue nos MI, facto que induz uma diminuição no VS e, para compensar, um aumento da FC (ACSM, 2000).
O VS sofre adaptações durante o exercício para permitir que o coração realize um trabalho mais eficaz. O VS é uma determinante muito importante na aptidão cardio-respiratória e está dependente de vários factores: do volume de sangue venoso que chega ao coração (resultante da acumulação de sangue nos MI inactivos) (Foss e Keteyan, 1998; ACSM, 2000), da capacidade de contractilidade cardíaca e da tensão arterial aórtica ou pulmonar (pressão que os ventrículos têm de vencer) (Wilmore e Costill, 2001). Estes factores controlam directamente as alterações no VS na resposta a um aumento da intensidade do exercício.
Relativamente ao débito cardíaco (DC), este não difere significativamente quando a percentagem de trabalho e a massa muscular envolvida são idênticas (Foss e Keteyan, 1998) (ver quadro 2).
Para manter o fluxo sanguíneo necessário para executar a mesma tarefa, a menor massa muscular implicada no exercício requer uma tensão muscular superior, facto que leva a um aumento nas resistências vasculares periféricas (Foss e Keteyan, 1998; ACSM, 2000), ou seja, o aumento da tensão arterial.
Quando adicionamos exercício de MS ao exercício de MI, verifica-se um aumento na resposta do sistema nervoso simpático que provoca um aumento de catecolaminas circulantes e eleva a redistribuição da corrente sanguínea, facto que provoca um aumento da FC (para refs. ver Abrantes, 2001).
Quando o esforço submáximo é controlado pela CE, os valores do VO2 são superiores para o exercício realizado com os MS, comparativamente com o exercício de MI (Moldover e Downer, 1983; Brooks et al., 1996; McArdle et al., 1998). Da mesma forma, os valores identificados em exercício de MI e MS são também mais elevados relativamente aos valores observados em exercício realizado apenas com MI (Hoffman et al., 1996). Com o aumento da intensidade, a exigência de oxigénio pelo miocárdio é também superior no exercício com solicitação de MS comparativamente com os MI (Moldover e Downer, 1983). Algumas das possíveis explicações para um maior trabalho cardio-respiratório, quando se envolvem pequenas massas musculares (zona superior do corpo), passam por uma diminuição do retorno venoso para o coração, maior estimulação neural, e o incremento de uma componente estática imposta pelo exercício com a zona superior do corpo (para refs. ver Mayo et al., 2001).
As diferenças encontradas nos valores da FC em exercício efectuado à mesma CE parecem ser devidas à solicitação muscular, da carga e ao modo de exercício. O exercício de MS provoca uma resposta 10% mais elevada do que o exercício de MI (Bouchard et al., 1994; Brooks et al., 1996), porque a mesma CE no exercício de MS representa maior percentagem da sua capacidade funcional máxima (para refs. ver Abrantes, 2001).
Hoffman et al. (1996) compararam as respostas metabólicas e cardio-respiratórias ao exercício de MI (bicicleta) e MI combinados com MS (utilizaram a mesma bicicleta com MS acoplados). Quando sujeitos à mesma CE, os valores do VO2 foram superiores no exercício combinado (MS e MI). Através dos resultados deste estudo, os autores concluíram que o exercício de MS combinado com o exercício de MI provoca um ligeiro aumento do VO2. Os resultados permitiram aos autores concluir que para vencer uma mesma CE, o aumento da massa muscular solicitada durante a realização de exercício (com a associação dos MS) provoca um aumento do VO2.
Borg et al. (1987) compararam a resposta psicofisiológica ao exercício com solicitação de MS e MI em 2 bicicletas em que uma delas estava adaptada ao trabalho de MS. A amostra testada, constituída por 8 indivíduos do sexo masculino, foi sujeita a um protocolo de 4 minutos de exercício que aumentava com as seguintes intensidades: MS (20,35,50,70,100 watts), MI (40,70,100,150 e 200 watts). Os autores concluíram que as diferenças mais ténues foram identificadas nos valores da FC comparativamente com a maior magnitude dos valores de LA, à medida que a intensidade do exercício aumentava.
Christensen e Ruhling (1983) pretenderam determinar se as respostas metabólicas para a mesma CE eram diferentes em dois ergómetros (tapete e bicicleta). Sete indivíduos do sexo feminino realizaram exercício a equivalentes CE no tapete e bicicleta. Os autores concluíram que os valores elevados de CE em ambos os ergómetros traduzem números mais elevados nas respostas metabólicas.
Beneke et al. (1997) identificaram diferenças estatisticamente significativas nas LA de 16 atletas, no final de 30 minutos de exercício na bicicleta e no remo, a intensidades similares (70% da CE máxima) (ver quadro 3).
Na bicicleta, as LA atingiram as 5,7mmol/l e no remo 3,6mmol/l. Os autores concluíram que, para intensidades idênticas, a massa muscular solicitada durante o esforço nos diferentes modos de exercício, influencia as LA. Este estudo, para além de reforçar a ideia de que o exercício realizado a uma intensidade moderada eleva as LA (Angelis et al., 1998), sugere que na presença de uma CE idêntica, em ergómetros que solicitem uma maior quantidade de massa muscular, os valores de LA são menores. Podemos constatar que este facto se deve à distribuição da percentagem de trabalho pelos diferentes grupos musculares.
Num estudo realizado por Mayo et al. (1999), os autores pretenderam determinar as diferenças entre o exercício com solicitação dos MI e MS, bem como identificar os efeitos fisiológicos do exercício com diferentes contribuições dos MS e dos MI. Os indivíduos testados realizaram uma prova de esforço máximo numa bicicleta ergométrica. Posteriormente realizaram um exercício submáximo a 60% da sua potência mecânica máxima, em que a produção total de trabalho (TT) foi distribuída pelos MS e pelos MI.
Os valores de VO2 foram significativamente inferiores durante a prova com a presença de 8% de MS comparativamente com as provas de 33% e 42%. A resposta ventilatória (VE) foi mais elevada quando os MS contribuíram com 42% do TT. A FC foi significativamente superior quando os MS contribuíram com 33% e 42% do TT. Os autores concluíram igualmente que o VO2 no exercício combinado de MS e MI apenas aumenta significativamente quando os MS contribuem com cerca de 33% para o trabalho total realizado.
Ainda Mayo et al. (2001), ao determinar a distribuição da percentagem de trabalho favorável entre os MS e as MI durante o exercício combinado de MS e MI, concluíram que a variação da distribuição do trabalho de MS e MI, durante um exercício corporal total, afecta as respostas cardio-respiratórias e metabólicas. Para a elaboração do presente estudo foram realizadas diferentes avaliações de exercícios combinados de MS e MI a uma percentagem relativa constante (60% ou 134 watts) da CE máxima (ver quadro 4).
Durante o teste submáximo, os sujeitos foram submetidos a seis momentos de exercício submáximo: um único momento sem a acção dos MS e cinco combinações diferentes de exercício de MS e MI a 60% da CE máxima. As combinações dos exercícios incluíam um trabalho de MS a 8, 17, 25, 33 e 42%, percentagem esta que representa uma proporção da CE total completada através do trabalho dos MS. Todos os exercícios combinados eram sincronizados a 50 rotações por minuto (rpm), com uma força apropriada (Kg) ajustada à CE máxima de cada sujeito. Todos os exercícios submáximos tiveram uma duração de 7 minutos.
As respostas da FC e da VE foram significativamente mais elevadas em todos os momentos de exercício em que os MS eram responsáveis pela maior percentagem de trabalho. As respostas fisiológicas foram melhores durante um exercício de MS comparativamente à bicicleta de MI. No entanto, os momentos submáximais a 17% e 25% da CE total parecem ser mais seguros para indivíduos que apresentem variações insignificantes ao esforço cardiovascular. Comparado com a bicicleta de MI, estes momentos de exercício produziram respostas cardíacas similares, um VO2 um pouco mais elevado e uma diminuição das LA. Os valores mais elevados da FC ocorrem quando o trabalho de MS é dominante. Verificou-se que a FC aumentava 11 batimentos por minuto (bpm) ao longo dos seis momentos de exercício. Tendo em conta esta informação, foi sugerido que as respostas significativas da FC a elevadas cargas de MS (33% e 42%) ocorrem devido a uma dilatação da pequena vascularização muscular, aumentando as resistências vasculares periféricas, uma maior contratibilidade do coração e uma diminuição do retorno venoso.
Independentemente do mecanismo que faz aumentar o DC durante o exercício, o coração só consegue bombear o sangue que recebe.
Resumindo, o DC depende do sangue que volta para o coração, processo este denominado retorno venoso (Fox et al., 1991).
A FC no trabalho isolado de MI foi significativamente mais baixo do que o trabalho realizado com MS a 8%. Os sujeitos neste estudo referiram que o trabalho de MS a 8% era o mais desafiador relativamente à manutenção da cadência sincronizada, devido à desproporcionalidade da pequena quantidade do trabalho de MS. Este facto pode explicar a elevada FC durante o trabalho de 8% dos MS. Os resultados indicaram que os valores de FC mais baixos, durante o exercício combinado de MS e MI, ocorriam quando os MS contribuíam 17 e 25% da CE total. Os sujeitos referiram que nestes momentos de exercício o trabalho realizado era mais confortável pelo facto da resistência ser distribuída de uma forma similar entre a parte superior e inferior do corpo.
Os valores de VO2 durante o trabalho de MS a 0% eram significativamente mais baixos do que no trabalho de MS de 33% e 42%. Este facto pode ser facilmente explicável pelo aumento da quantidade de massa muscular envolvida.
Os valores mais elevados da VE foram verificados quando os MS contribuem com uma maior quantidade de trabalho. Num trabalho de 42% de MS, os valores são superiores do que 0%, 8%, 17%, 25%.
No geral, este aumento é directamente proporcional ao aumento da quantidade de oxigénio consumido de dióxido de carbono produzido pelos músculos activos (Fox et al., 1991). Os resultados deste estudo demonstraram ainda que a percentagem de trabalho de MS afecta as respostas fisiológicas e metabólicas durante o exercício combinado de MS e MI. Os valores das respostas do VO2, FC e VE são mais elevados quando os MS contribuem com a maior percentagem total de trabalho. As LA apresentaram-se significativamente mais baixas quando os MS contribuíram com um trabalho de 17 e 25% da CE total. Estes valores podem ser o resultado de uma distribuição idêntica da percentagem de trabalho pelos MS e MI (Beneke et al., 1997).
As análises do VO2 no exercício submáximo demonstraram que os sujeitos consumiam mais oxigénio quando os MS contribuíam com uma maior percentagem de TT. Tal como na FC, o trabalho de MS influencia as respostas do VO2 a percentagens de trabalho idênticas ou superiores a 33% da percentagem total de trabalho. Quando se avaliou o aumento das respostas do VO2 no exercício combinado da MS e MI, foi sugerido que a resposta fisiológica está relacionada com dois factores: tamanho de massa muscular activa e características mecânicas do ergómetro. Os autores concluíram ainda que as respostas cardiovasculares ao exercício são determinadas pela quantidade de massa muscular activa e pelos valores de VO2 absoluto (para refs. ver Mayo et al., 2001). Os estudos sugerem que a quantidade de massa muscular envolvida para completar o trabalho desenvolvido produz um aumento do VO2 comparado com a bicicleta onde se utiliza só os MI.
Relativamente às LA no trabalho de 0% dos MS resultaram em concentrações similares nos 8%, 33% e 42%, no entanto, é significativamente mais elevado do que no trabalho combinado de MS realizado a 17% e 25%. Os resultados demonstraram uma menor acumulação de lactato sanguíneo nos exercícios combinados de MS e MI a 17% e 25% comparado com a bicicleta de MI. Alguns autores sugerem que o uso de grandes massas musculares promovem um melhor treino cardio-respiratório, devido a uma maior distribuição da carga.
Turley e Wilmore (1997) ao avaliarem o esforço submáximo controlado a uma determinada CE em dois modos de exercício, (tapete e bicicleta) verificaram existirem diferenças nos valores encontrados entre os dois ergómetros (ver quadro 5).
Os valores de VO2 apresentam-se mais elevados no tapete do que na bicicleta em ambos os sexos. Este facto pode ser explicado pelo suporte do peso corporal, que no caso da bicicleta, está diminuído relativamente ao tapete. Esta alteração provoca um aumento do trabalho muscular realizado no tapete, devido à manutenção da posição erecta e consequente recrutamento de um maior número de grupos musculares (Brahler e Blank, 1994). Um maior número de grupos musculares em actividade provoca um aumento do VO2 a nível muscular. A quantidade de massa muscular envolvida no exercício e a capacidade de utilização de oxigénio a nível muscular são factores determinantes do ponto de vista das adaptações ao exercício (McArdle et al., 1998; Wilmore e Costill, 2001). Podemos ainda referir que, para o sexo feminino, os valores de VO2 relativo ao peso corporal são mais elevados no trabalho realizado na bicicleta. Deste modo, é possível constatar que, para vencer uma mesma resistência ou carga, o sexo feminino, pelo facto de apresentar menores massas musculares (Wilmore e Costill, 2001), necessita de realizar um trabalho muscular superior ao sexo oposto, daí os seu valores se apresentarem mais elevados.
Ao considerarmos DC, este aumenta em proporção directa com o aumento da intensidade do exercício. O seu valor absoluto varia com o tamanho do corpo e com a resistência aplicada. A relação linear entre o DC e o ritmo de esforço não nos deve surpreender, uma vez que a principal causa do aumento do DC é satisfazer o aumento da necessidade de utilização do oxigénio pelos músculos (Wilmore e Costill, 2001). Tendo em conta estas características das adaptações cardiovasculares, facilmente podemos traduzir os resultados anteriores, em que são verificados valores superiores de DC no tapete relativamente à bicicleta.
Os valores da TAS apresentam-se mais elevados quando o exercício é realizado no tapete comparativamente à bicicleta, bem como nos homens relativamente às mulheres, quando este é controlado pela CE. Ao examinarmos os valores de TA durante o exercício, devemos distinguir a TAS e a tensão arterial diastólica (TAD), uma vez que apresentam adaptações distintas (Fox et al., 1991; Brooks et al., 1996; Wilmore e Costill, 2001). A TA normalmente alcança um ponto em que se estabiliza durante a realização de exercícios de resistência com uma intensidade submáxima constante. Se o exercício de intensidade constante se mantém estável, a TAS pode começar a reduzir gradualmente, mas a TAD permanece constante (Wilmore e Costill, 2001) devido à progressiva vasodilatação dos territórios em esforço (Barata, 1997). Em exercícios com o mesmo ritmo absoluto de gasto energético, o uso dos músculos da zona superior do corpo, ao contrário da zona inferior do corpo, produz um aumento da TA. É provável que este facto esteja relacionado com a menor massa muscular e menor número de vasos da zona superior do corpo em comparação com a zona inferior do mesmo. (Fox et al., 1991; Brooks et al., 1996; Wilmore e Costill, 2001). Esta diferença de tamanho produz uma maior resistência ao fluxo sanguíneo e um consequente aumento da TA. No entanto, quando a intensidade do exercício é controlada pela percentagem de 60% do VO2 máx., os valores de TAS apresentam-se superiores na bicicleta relativamente ao tapete. Este facto poderá estar associado a uma maior quantidade de trabalho realizado na bicicleta para atingir a mesma percentagem do VO2, daí o aumento dos valores da TAS.
Kang et al. (1999), determinaram as respostas metabólicas e cardio-respiratórias para a parte superior do corpo num ergómetro de MS e num ergómetro modificado de MI. A frequência do movimento dos MS era constante (50 rpm) nos modos de exercício. As CE seleccionadas foram de 50 watts e 75 watts para os homens e 25 watts e 50 watts para as mulheres. Para alcançar estas cargas externas, foram adicionadas resistências de travagem de 1, 2 e 3 Kg à CE de 25, 50 e 75 watts, respectivamente, para o ergómetro de MS e 0,5 Kg, 1 Kg e 1,5 Kg às CE de 25, 50, 75 watts, respectivamente, para o ergómetro modificado de MI. Foram medidos o VO2, a FC e a VE durante os últimos 2 minutos em cada modo de exercício (ver quadro 6).
Nos homens os valores do VO2, FC e VE são mais elevados durante o exercício de MS no ergómetro de MS do que no ergómetro modificado de MI a CE de 50 e 70 watts. Nas mulheres, também foram encontradas diferenças similares em ambos os ergómetros quando o exercício era realizado a uma CE de 50 watts. No entanto, os valores de VO2 e VE não diferiram quando o exercício era realizado a uma CE de 25 watts. Os autores concluíram que os exercícios realizados com a parte superior do corpo levam a melhores respostas cardio-respiratórias e metabólicas num ergómetro de MS do que no modificado de MI à mesma CE. As respostas cardio-respiratórias e metabólicas mais elevadas foram superiores durante o exercício no ergómetro de MS. As melhores respostas cardio-respiratórias e metabólicas durante o exercício de MS nos ergómetros de MS e MI à mesma CE podem ser atribuídos a diferenças mecânicas entre ambos os ergómetros. O raio do ergómetro de MS é mais pequeno (0,14 metros) do que o de MI (0,17 metros). Este facto pode resultar num maior esforço muscular para manter o movimento de rotação necessário, o que pode levar a melhores respostas cardio-respiratórias e metabólicas durante o exercício de MS no ergómetro de MS do que no de MI.
O diâmetro da roda pedaleira também se apresentava mais pequena no ergómetro de MS (0,28 metros) do que no de MI (0,56 metros). Através desta informação podemos esperar que na presença de uma roda pedaleira mais pequena esta rode mais rápido provocando uma maior fricção. No entanto, a roda pedaleira mais pequena pode estar associada a movimentos mais lentos. Os dados indicaram que para os mesmos movimentos rotativos, a roda pedaleira mais pequena do ergómetro de MS roda 2,4 vezes, enquanto que a roda mais larga do ergómetro de MI que roda 3,6 vezes. Por outro lado, uma roda pedaleira mais larga causa um momento de inércia mais elevado. É possível que um maior momento de inércia da roda pedaleira possa reduzir o trabalho muscular do indivíduo, com consecutivas respostas cardio-respiratórias e metabólicas mais baixas durante o exercício de MI no ergómetro modificado de MI quando comparado com o de MS.
2.3.1. Especificidade da amostraQuando se introduz o processo de especificidade na amostra utilizada, existem estudos que contariam a relação entre a quantidade de massa muscular envolvida no exercício e o VO2 máx.. Alguns estudos apresentam desenhos metodológicos em que os indivíduos realizam exercício em ergómetros nos quais a mobilização dos grupos musculares é similar.
Carvalho Jr. et al. (2000), pretenderam comparar os níveis de aptidão cardio-respiratória de triatletas, avaliados por testes em bicicleta ergométrica e ciclossimulador (cicloergómetro mais específico, por aproximar os movimentos da modalidade praticada pelos atletas), tendo em conta os seguintes factores materiais: altura do banco, tamanho da roda pedaleira, posição anatómica e o uso de material especifico da modalidade. Os atletas foram submetidos a dois testes de esforço máximo em dois cicloergómetros diferentes, um realizado no ciclossimulador e outro na bicicleta ergométrica, com medida directa do VO2 máx., em circuito aberto. Durante o teste no ciclossimulador, fixaram-se as cadências das marchas (53x19), tendo sido este inclinado com três minutos de aquecimento, a uma carga de esforço de 1% de inclinação para homens e 0% para mulheres seguidos de aumentos crescentes de 1% da carga, a cada minuto, até atingir a exaustão.
Para a avaliação na bicicleta ergométrica, foi utilizado um protocolo de três minutos de aquecimento a uma carga de 100 watts, para homens e 50 watts, para mulheres, sendo seguidos por aumentos crescentes de 50 watts, a cada minuto, até à exaustão. Foram determinados o VO2 máx., o limiar anaeróbio ventilatório, a FC máx. e a frequência cardíaca do limiar anaeróbio ventilatório.
De facto, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas relativamente aos valores de VO2 máx., do limiar anaeróbio ventilatório, FC máx. e na frequência cardíaca do limiar ventilatório.
Deste modo, os resultados da potência aeróbia não foram diferentes, nas avaliações realizadas no ciclossimulador, em relação à bicicleta ergométrica, provavelmente devido à massa muscular envolvida durante as avaliações ser a mesma nos dois cicloergómetros. Os autores concluíram que a bicicleta ergométrica pode ser utilizada para a avaliação de triatletas com a mesma precisão de avaliação realizada na bicicleta individual desse atleta, adaptada num ciclossimulador. Concluíram ainda que os gestos técnicos envolvidos no modo de exercício realizado parecem ser um factor influenciador dos níveis de VO2 max. (Brahler e Blank, 1994).
Brisswalter et al. (1999) pretenderam examinar a relação entre a cadência e o VO2 ao longo da realização de exercício em bicicleta. Foram utilizados 10 triatletas treinados. O primeiro teste consistia em encontrar o VO2 max. e as outras sessões de exercício eram compostas por seis testes submáximo a 80% da CE máxima coincidente com o valor de VO2 max.. O teste tinha uma duração de 30 minutos. Cada teste era representado pelas seguintes rotações de pedalada: 50, 65, 80, 95, 110 rpm e uma à escolha. O VO2, parâmetros respiratórios e FC foram medidos continuamente e analisados nos períodos entre o terceiro e o sexto minuto e o vigésimo quinto e o vigésimo oitavo minuto, apresentando os seguintes valores (ver quadro 7).
A análise dos resultados demonstrou a existência de uma frequência de pedalada energeticamente óptima para uma CE constante, perto da cadência competitiva dos triatletas treinados independentemente da duração do exercício. É de referir, que a descoberta mais importante desta investigação é a existência de uma significância estatística relativamente à cadência energética óptima durante o exercício, esta se encontrar muito perto da cadência escolhida pelos atletas durante a realização do teste.
Em suma, apesar de todos os modos de exercício concorrerem para os mesmos objectivos gerais, as diferenças das respostas agudas no domínio cardio-respiratório e metabólico aos diferentes modos de exercício são evidentes. A CE por ser uma forma de fácil controlo, apresenta grande aplicabilidade nos health clubs. No entanto, a prescrição da intensidade do esforço baseada na CE pode diferir de um modo de exercício para outro tendo em conta os valores das diferentes adaptações cardio-respiratórias e metabólicas.
Se a sociedade sedentária mudar os seus hábitos sociais para um estilo de vida fisicamente mais activo, todas as instituições relacionadas com a promoção e prescrição de exercício físico necessitam de informar os indivíduos acerca dos tipos de actividade física relacionados com a prevenção de doenças e promoção da saúde (Pate et al., 1995).
3. Considerações finais e propostas de investigação3.1. Carga externa
Através da análise da literatura disponível, podemos encontrar múltiplas respostas fisiológicas e metabólicas ao exercício. Quando estamos perante diferentes modos de exercício e variáveis de controlo da intensidade do mesmo, encontramos várias adaptações ao exercício. Neste caso particular, quando a CE é a variável escolhida para o controlo da intensidade do esforço, o trabalho efectuado nos diferentes ergómetros, manifesta-se de várias formas.
Relativamente às respostas agudas cardio-respiratórias e metabólicas ao exercício físico para a mesma CE, verifica-se que os diferentes ergómetros apresentam ou provocam padrões individuais de respostas e adaptações periféricas distintas.
3.1.1. Adaptações cardio-respiratórias3.1.1.1. Frequência cardíaca (FC)
As respostas do organismo ao esforço submáximo com solicitação dos MS diferem das respostas ao exercício de MI devido, fundamentalmente, às diferenças na quantidade de massa muscular solicitada (Brooks et al., 1996; Robergs e Roberts, 1997; McArdle et al., 1998; ACSM, 2000). Este facto contribui para que os valores FC se apresentem superiores no exercício de MS. Por outro lado, o VS é inferior (Brooks et al., 1996; Foss e Keteyan, 1998), pois o mesmo exercício de MS na posição vertical dificulta o retorno venoso, resultante da acumulação de sangue nos MI, facto que induz uma diminuição no VS e, para compensar, um aumento da FC (ACSM, 2000). No geral, permite-nos referir que a FC aumenta com a intensidade do exercício e com uma maior solicitação dos MS. As diferenças encontradas nos valores da FC em exercício efectuado à mesma CE parecem ser devidas à solicitação muscular, à carga e ao modo de exercício.
O exercício de MS provoca uma resposta 10% mais elevada do que o exercício de MI (Bouchard et al., 1994; Brooks et al., 1996), porque a mesma CE no exercício de MS representa maior percentagem da sua capacidade funcional máxima (para refs. ver Abrantes, 2001).
Os valores mais elevados da FC ocorrem quando o trabalho de MS é dominante (Mayo et al., 2001). Os autores verificaram que a FC aumentava 11 bpm à medida que os MS eram responsáveis pela maior percentagem de trabalho realizado. Estas adaptações ocorrem devido a uma dilatação da pequena vascularização muscular, aumentando as resistências vasculares periféricas, uma maior contractilidade do coração e uma diminuição do retorno venoso resultante de um baixo VS.
Estes factos permitem-nos referir que perante um indivíduo com perturbações cardíacas, devemos evitar prescrever exercício em ergómetros que solicitem predominantemente MS e exijam uma posição erecta, pois este tipo de trabalho aumenta os valores de FC, dando preferência a ergómetros que solicitem ambos os membros (MS e MI), mas cuja percentagem de trabalho total seja inferior nos MS.
No entanto, em indivíduos saudáveis, podemos indicar ergómetros que impliquem preferencialmente uma solicitação combinada de MS e MI para um bom desenvolvimento da aptidão cardio-respiratória, sendo a percentagem de trabalho total dos MS mais elevada, relativamente aos MI (Mayo et al., 2001). Para uma mesma CE quando solicitamos MS e MI ao mesmo tempo, é possível obter melhores resultados.
3.1.1.2. Consumo de oxigénio (VO2)Quando estamos perante a realização de exercício à mesma CE, os valores do VO2 revelam-se superiores no exercício combinado MS e MI (Hoffman et al.,1996). Os autores concluíram que o exercício de MS, combinado com o exercício de MI, provoca um ligeiro aumento do VO2. Os resultados demonstraram que um aumento da massa muscular durante a realização de exercício com a associação dos MS, provoca um aumento do VO2 para vencer uma mesma CE.
Os valores das respostas do VO2 são mais elevados quando os MS contribuem com a maior percentagem de trabalho (Mayo et al., 2001).
Os estudos sugerem que a quantidade de massa muscular envolvida, através da solicitação dos MS, para completar um determinado esforço de MI, produz um aumento do VO2, comparado com um ergómetro onde se utilizam só os MI.
Outro factor determinante do aumento dos valores de VO2, é a posição anatómica adoptada durante a realização do exercício. Quando estamos perante um ergómetro em que temos de assumir uma posição erecta (e.g., tapete vs. Bicicleta), existe o recrutamento de um maior número de grupos musculares (Brahler e Blank, 1994) e um consequente aumento dos valores de VO2. No entanto, os ergómetros podem assumir características mecânicas que possuem a capacidade de alterar esta condição (Kang et al., 1999; Abrantes, 2001).
Através destes resultados podemos concluir que para um desenvolvimento de um trabalho cardio-respiratório mais efectivo, devemos privilegiar os ergómetros combinados de MS e MI, preferencialmente naqueles em que a percentagem de trabalho dos MS é dominante relativamente aos MI e ainda com uma posição anatómica erecta.
3.1.1.3. Ventilação (VE)As respostas ventilatórias são significativamente mais elevadas em todos os momentos de exercício em que os MS eram responsáveis pela maior percentagem de trabalho (Mayo et al., 2001). No geral, este aumento é directamente proporcional ao aumento da quantidade de oxigénio consumido de dióxido de carbono produzido pelos músculos activos (Fox et al., 1991). No entanto, tal como os valores de VO2 alguns ergómetros assumem características mecânicas que possuem a capacidade de alterar os valores esperados (Kang et al., 1999).
Deste modo, podemos dizer que os ergómetros combinados de MS e MI, para além de realizarem um trabalho cardio-respiratório mais elevado para os valores de VO2, também se tornam mais efectivos nas adaptações ventilatórias, e um consequente aumento da aptidão cardio-respiratória.
3.1.1.4. Tensão arterial (TA)Os valores da TAS apresentam-se mais elevados quando o exercício é realizado no tapete em relação à bicicleta, bem como nos homens relativamente às mulheres, quando este é controlado pela CE. A TA está inversamente relacionada com a quantidade de massa muscular utilizada. No entanto, se o exercício de intensidade constante se mantém estável, a TAS pode começar a reduzir gradualmente, mas a TAD permanece constante (Wilmore e Costill, 2001), devido à progressiva vasodilatação dos territórios em esforço (Barata, 1997).
O uso dos músculos da zona superior do corpo, ao contrário dos da zona inferior, produz um aumento da TA (Turley e Wilmore, 1997). É provável que este facto esteja relacionado com a menor massa muscular e menor vasodilatação da zona superior do corpo em comparação com a zona inferior do mesmo. (Fox et al., 1991; Brooks et al., 1996; Wilmore e Costill, 2001). Ao analisarmos estas diferenças de tamanho muscular, existe uma maior resistência ao fluxo sanguíneo e um consequente aumento da TA.
Assim, para vencer a mesma resistência, o exercício efectuado com os MS induz um aumento da TA. Perante esta situação torna-se contra-indicada a prescrição de exercício a hipertensos, em ergómetros cuja percentagem de trabalho total dos MS predomina relativamente aos MI. Quando o exercício realizado resulta da solicitação combinada dos MS e MI, para vencer a mesma CE, os valores da TA encontram-se reduzidos, pois existe um aumento da área de superfície capilar irrigada e uma consequente diminuição das resistências vasculares periféricas (Brooks et al., 1996).
3.1.2. Adaptações metabólicas3.1.2.1. Concentrações de lactato sanguíneo (LA)
Para intensidades idênticas, a massa muscular solicitada durante o esforço nos diferentes modos de exercício, influencia as LA. Na presença de uma CE idêntica, em ergómetros que solicitem uma maior quantidade de massa muscular, os valores de LA são menores (Beneke et al., 1997; Mayo et al., 2001), estes podem estar associados à distribuição da percentagem de trabalho pelos diferentes grupos musculares.
O uso de grandes massas musculares promove um melhor treino cardio-respiratório quando as LA são utilizadas para estabilizar a intensidade do exercício (para refs. ver Mayo et al., 2001). Ao termos conhecimentos destas adaptações, os ergómetros que solicitem os MS e MI ao mesmo tempo, estão mais indicados para a realização de programas de exercício que promovam o aumento da aptidão cardio-respiratória, uma vez que a distribuição da massa muscular é maior.
A intensidade de uma actividade é designada de moderada quando produz um estímulo de treino para os sistemas cardio-respiratório, mas existe uma percentagem de intensidade máxima individual que exige uma presença de LA e excesso de stress cardio-respiratório (Angelis et al., 1998).
Os valores de LA podem assumir 2 patamares distintos: limiar aeróbio e limiar anaeróbio. O limiar aeróbio caracteriza a percentagem de trabalho em que as LA começam a aumentar acima dos valores de repouso durante exercício de intensidade crescente (Hills et al., 1998; Wilmore e Costill, 2001). Este patamar é muito utilizado para determinar intensidades mínimas de exercício apropriadas. Durante a realização de exercício a uma intensidade moderada, as LA apresentam-se um pouco acima dos valores de repouso. Na realização de esforços mais intensos, o lactato acumula-se mais rapidamente (aumenta exponencialmente), ponto esse designado limiar anaeróbio, a partir do qual existe uma subida exponencial dos valores de LA, que ocorre normalmente por volta das 4 mmol/l (Hills et al., 1998; Wilmore e Costill, 2001). Podemos referir que o limiar anaeróbio é um bom indicador da capacidade aeróbia. Para que exista um estímulo de trabalho efectivo do ponto de vista cardio-respiratório, os valores de LA devem apresentar-se acima dos valores do limiar aeróbio e preferencialmente próximo do limiar anaeróbio.
Em suma, é importante ter presente todas estas adaptações do organismo quando se prescreve exercício físico a doentes cardíacos e hipertensos. Para eles, a prescrição de exercício deve privilegiar os ergómetros que combinem o trabalho de MS e MI, sendo a percentagem de trabalho total realizado pelos MS inferior. Este tipo de trabalho cardio-respiratório origina menores exigências cardíacas e menor subida da tensão arterial para cargas idênticas de exercício. Em indivíduos dependentes dos MS (ou por deficiência dos MI, ou ainda, devido ao tipo de actividades diárias dominantes), devemos insistir num tipo de treino dos MS. No entanto, parece consensual que os ergómetros de exercício combinado de MS e MI, em que a percentagem de trabalho total dos MS é mais elevada, estão directamente associadas a melhores respostas cardio-respiratórias e um consequente aumento da aptidão física.
Apesar dos ergómetros promoverem a adesão ao exercício físico, os cuidados no ajuste da prescrição do exercício aos objectivos e características do indivíduo são imperativos (Abrantes, 2001).
Como futuras propostas de investigação, seria interessante conhecer as respostas cardio-respiratórias e metabólicas, através do controlo da intensidade pela CE, em ergómetros mais diversificados e de fácil acesso. Nos estudos actuais, verifica-se que as sessões de exercício são realizadas em ergómetros modificados, inexistentes nos health clubs. Outra das sugestões de investigação, reside no facto de existirem poucos estudos consultados para a realização deste documento, em que as adaptações da TA estão ainda pouco estudadas.
Durante a elaboração deste documento achamos importante saber se é possível controlar a intensidade do exercício tendo como variável critério a TA, uma vez que esta aparece como variável dependente de outros indicadores fisiológicos.
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revista
digital · Año 12
· N° 109 | Buenos Aires,
Junio 2007 |