Precisão e focos de atenção no tênis | |||
*Núcleo de Estudos em Tênis de Campo. **Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercíco. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. (Brasil) |
Laurent Olivier Abes* Emílio Takase** laurentabes@hotmail.com |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007 |
1 / 1
Introdução
O tênis atual incorpora um componente intenso de agressividade, apoiando um grande percentual de sua eficácia na potência e eficiência do saque, onde este golpe evidencia-se como sendo um dos mais importantes do jogo (García, Damas & Fuentes, 1999). Além disso, o tênis tem a característica de que a perda de um ponto no momento errado pode causar a derrota, pois, o controle da atenção pode ser considerado como uma habilidade de grande importância nesta modalidade.
Para Cervelló (1999) a concentração é uma das habilidades psicológicas mais importantes, ela está ligada à atenção e apresenta dois componentes: um quantitativo e um qualitativo. O aspecto qualitativo significa prestar atenção nos estímulos importantes da atividade e o aspecto quantitativo está ligado à manutenção desta atenção. Esse aspecto qualitativo da atenção pode ser chamado de atenção seletiva que é a habilidade de selecionar o estímulo correto enquanto ignoramos as informações irrelevantes (Martens, 1987; Coren et al., 1994; Guallar & Pons, 1994; Cervelló, 1999; Gould & Damarjian, 2000; Weinberg & Gould, 2001; Murray, 2002).
Para a correta seleção dos estímulos relevantes do ambiente é importante atuar no foco adequado de concentração. Segundo Cervelló (1999) há quatro tipos de focos (quadro 1): amplo interno, amplo externo, estreito interno e estreito externo.
Quando um indivíduo mantém o primeiro tipo de foco ele é capaz de organizar e integrar um grande número de pensamentos e percepções, é o estilo adequado para analisar e planejar ações.
O segundo estilo permite ao sujeito explorar, perceber e organizar um grande número de estímulos externos, é o foco adequado frente à situações complexas e com um grande nível de informação.
O terceiro tipo auxilia a pessoa a focalizar a atenção para uma determinada linha de pensamento, e é adequada para solucionar problemas concretos ou para meditar.
O último estilo atencional ajuda o indivíduo a focalizar a atenção para uma atividade mais ou menos complexa evitando as distrações, com o objetivo de realizar uma determinada ação, e é adequado para um grande número de esportes. A amplitude do foco faz referência à quantidade de estímulos aos quais o atleta deve prestar atenção a cada instante. Já a direção do foco, faz referência a dirigir a atenção para aspectos externos ou internos do indivíduo.
Um estudo feito por Radlo, Steinberg, Singer, Barna & Melnikov (2002) com indivíduos que deviam lançar dardos tentando acertar num alvo na parede, os sujeitos eram monitorados (freqüência cardíaca e eletroencelafograma) e eram divididos em dois grupos, um com foco interno e outro com foco externo. Os resultados mostraram que os participantes que cometeram menos erros foram aqueles que receberam a orientação entre cada arremesso para manter um foco externo.
Shea & Wulf (1999) avaliram a influência sobre a aprendizagem da atenção num foco externo ou interno (grupos 1 e 2) e do feedback de foco externo ou interno (grupos 3 e 4). A tarefa realizada pelos sujeitos era de se manter equilibrados sobre um equipamento para equilíbrio. O grupo 1 prestava atenção nos seus pés (foco interno) e o grupo 2 numa marca fixada no aparelho (foco externo). O grupo 3 recebia um feedback sobre o desvio de seus pés (feedback de foco interno) e o grupo 4 recebia informações sobre o desvio em relação a marca (feedback de foco externo). Os resultados indicaram uma melhor aprendizagem para os grupo de foco externo.
Outros autores, Wulf, McConnel, Gärtner & Schwarz (2002) realizaram um estudo com dois experimentos realizados no campo, um com voleibol e outro com futebol. No primeiro, haviam dois grupos de sujeitos de níveis técnicos diferentes, iniciantes e avançados, e estes eram subdivididos em grupo que recebiam um feedback de foco interno e outro de foco externo. Neste experimento os jogadores de vôlei deviam realizar saque tipo tênis, na direção de uma área marcada no solo e recebiam um feedback de acordo com o grupo ao que pertenciam. Os resultados indicaram que dar um feedback de foco externo influenciava mais positivamente do que um feedback de foco interno, na aquisição e melhora da tarefa motora tanto em precisão como na mecânica do gesto. O outro experimento foi realizado com dois grupos foco interno e foco externo subdivididos de acordo com a freqüência que recebiam o feedback (33% e 100%). A atividade era executar passes de futebol de campo para um alvo. Os resultados mostraram que os sujeitos pertencentes aos grupos com feedback de foco externo obtiveram melhores resultados sendo que a freqüência de feedback não apresentou diferenças significativas, no entanto para os grupos foco externo, os sujeitos que recebiam menos feedack (33%) desempenharam melhor.
Outra pesquisa enfatizando o tipo de foco foi realizada por Liao & Masters (2002) com jogadores de hóquei universitários (primeiro estudo) e de basquete iniciantes (segundo estudo). No primeiro experimento, duas equipes de hóquei, uma masculina e a outra feminina, participaram do estudo. Através de testes de autoconsciência (Private Self-Consciousness) 3 sessões: dois dias antes do jogo de semifinal, uma hora antes do jogo e dois dias depois e também de teste de ansiedade competitiva (CSAI-2). Os resultados mostraram que o estresse levaria os atletas a voltar-se para si mesmos. Além disso, as duas equipes perderam seus confrontos.
O outro experimento foi realizado com jogadores iniciantes de basquete, em duas fases, sendo que foram divididos em grupo controle e experimental. A tarefa era de realizar lances livres. A pontuação variava de acordo com o tipo de cesta realizada seguindo uma escala variando de 0 a 5 elaborada por Hardy & Parfitt (1991). Nas duas etapas do estudo foi administrado um teste de ansiedade competitiva CSAI-2 Competitive State Anxiety Inventory-2. Na primeira fase (10 séries de 10 arremessos) os sujeitos executaram a tarefa sendo que o grupo experimental tinha que manter um foco interno, numa segunda fase os participantes executaram a atividade em condição de estresse em uma série de 10 arremessos. Na situação de estresse um espelho era colocado abaixo da cesta e o grupo experimental era solicitado para estar atento ao que fazia e prestar muita atenção à mecânica dos movimentos. Já para o grupo controle não havia espelho e os sujeitos foram solicitados a fazer o melhor possível. Os resultados indicaram que em situação de estresse os sujeitos num foco interno de atenção, mostraram uma queda no seu desempenho.
O principal objetivo deste estudo foi de comparar o desempenho no saque de dois grupos de tenistas amadores em termos de precisão e foco de atenção.
MétodoA pesquisa foi realizada nas quadras de tênis de uma associação esportiva de Florianópolis.
A população escolhida para o estudo foi: os tenistas amadores da cidade de Florianópolis e amostra foi composta por 12 sujeitos selecionados para compor dois grupos homogêneos, com jogadores iniciantes, intermediários e avançados pertencentes à associação.
Os tenistas realizaram, em três sessões, 20 saques tentando acertar alvo pré-determinados (áreas demarcadas nas zonas de saque da quadra) e com uma respetiva pontuação (0 a 3). Ao grupo foco externo foi instruido que executasse os saques focalizando sua atenção apenas no alvo, enquanto que ao grupo de foco interno foi pedido que ficasse atento à execução técnica dos golpes.
ResultadosOs resultados mostraram que o grupo atuando com um foco externo de atenção (FE) obteve uma maior pontuação média (26,33) do que o grupo foco interno (FI) (22), e também alcançou um índice de acerto de saque superior (FE 50,83% contra FI 45,82%) (Fig.1). Além disso, o FE também acertou mais saques no alvo de maior pontuação (31,12% contra 19,72%).
Quando considerados apenas os saques acertados os resultados são ainda mais claros (Fig. 2): com o FE executando 61,22% dos saques acertados no alvo principal (3 pontos), já o FI acertou 43,06% dos saques neste alvo. Nota-se que a maioria (53,93%) dos saques acertados pelo FI atingiram a área intermediária (2 pontos) que se situava no meio da zona do saque e tinha uma área maior.
DiscussãoFoi observado que o FE obteve uma maior média de pontos (26,33) do que o grupo foco interno (22) e com um desvio padrão (7.03) um pouco superior ao do FI (5.71). Apesar de um SD maior dos sujeitos com foco externo em relação aos de foco interno, este dado condiz com os resultados da literatura. Além disso, notou-se que a precisão dos saques foi maior para o FE do que o FI. Um estudo com atletas de hockey e de basquete, mostrou que em situação de estresse aqueles jogadores em foco interno tinham um pior desempenho (Liao & Masters, 2002).
Numa outra pesquisa, realizada por Radlo et al. (2002), os sujeitos divididos em dois grupos, foco externo e foco interno, realizaram 10 séries de quatro arremessos de dardos, tentando acertar num alvo e obter a maior pontuação possível. Os resultados mostraram um desempenho superior para o grupo de foco externo.
Wulf et al. (2002) estudaram em dois experimentos com duas modalidades esportivas diferentes (vôlei e futebol) as diferenças nos escores obtidos por sujeitos atuando em foco interno e em foco externo. Os resultados indicaram que o grupo que atuou com um foco externo de atenção obteve um desempenho melhor.
Estes dados levam a crer que em atividades fechadas (Lindor & Singer, 2003), tais como lance livre no basquete, saque no tênis ou no vôlei, cobrança de um pênalti no futebol, entre outras, a melhor maneira de se preparar seria mantendo um foco externo antes de executar a tarefa.
ConclusãoEste estudo apresentou algumas diferenças metodológicas em relação aos demais que podem ser encontrados na literatura, sendo realizado com praticantes de tênis amadores com uma faixa etária diferente entre os grupos. A coleta foi feita de forma individual, na quadra de tênis, ao final das aulas, ou seja, em condições mais próximas das reais.
O estudo mostrou uma relação entre o tipo de foco de atenção e o desempenho no saque, caracterizando o foco externo como mais eficiente para efetuar um saque, pois o grupo que atuou no foco externo de atenção obteve maior média de pontos e, além disso, também executou saques mais precisos.
Finalizando, este estudo buscou entender melhor o fenômeno da atenção, ficando clara a necessidade de realizar mais pesquisas relacionando o foco de atenção com o desempenho. Este tema poderia ser estudado em diferentes situações: em laboratório, em campo (treinos e competições), para poder compreender melhor as necessidades dos atletas amadores de diversas modalidades e proporcionar uma maior qualidade nos treinamentos, bem como acelerar o processo de aprendizagem e, por fim, possibilitar que mais esportistas alcancem seus objetivos.
Referências
Cervelló, E. M. G. (1999). Introducción al entrenamiento psicológico. Em J. P. F. García (Org.). Enseñanza y entrenamiento del tenis. (pp.145-182). Cáceres, Espanha: Universidad de Extremadura. Servicio de puclicaciones.
Coren, S., Ward, L. M. & Enns, J. T. (1994). Sensation and Perception. Orlando, Estados Unidos da America: Harcourt Brace & Company. (4ª ed.).
García, J. A. H.; Damas, J. S. A.; Fuentes, J. P. G. (1999). Entrenamiento en balonmano, voleibol y tenis. Badajoz, Espanha: Universitas Editorial.
Gould, D. & Damarjian, N. (2000). Treinamento Mental no Esporte. Em B. Elliott & J. Mester (Org.), Treinamento no Esporte - Aplicando Ciências no Esporte. (pp.99-152). São Paulo, SP: Phorte Editora. (Vários tradutores).
Liao, C., Masters, R. S. W., (2002). Self-Focused Attention and Performance Failure Under Psychological Stress. Journal of Sport & Exercise Psychology, 24, 289-305.
Lindor, R., Singer, R. N. (2003). Preperformance Routines in Self-Paced Tasks: Developmental and Educational Considerations. Em R. Lindor & K. P. Henschen (Org.), The Psychology of Team Sports. (pp. 68-98). Morgantown, Estados Unidos da America: Fitness Information Technology, Inc.
Martens, R. (1987). Coaches guide to sport psychology. Champaign, Estados Unidos: Human Kinectics Publishers.
Murray, J. F. (2002). Tenis inteligente: Como jugar y ganar el partido mental. Barcelona, Espanha: Editorial Paidotribo.
Radlo, S. J., Steinberg, G. M., Singer, R. N., Barba, D. A., Melnikov, A. (2002). The influence of an attentional focus strategy on alpha brain wave activity, heart rate, and dart-throwing performance. International journal of sport psychology, 33 (2), 205-217.
Shea, C. H. & Wulf, G. (1999). Enhancing motor learning through external-focus instructions and feedback. Human movement Science. 18, 553-571.
Weinberg, R. S. (1988). The mental advantage: Developing your psychological skills in tennis. Champaign, Estados Unidos: Leisure Press.
Wulf, G., McConnel, N., Gärtner, M. & Schwarz, A. (2002). Enhancing the learning Sport Skills through External-Focus Feedbac. Journal of Motor Behavior, 34(2), 171-182.
revista
digital · Año 12
· N° 109 | Buenos Aires,
Junio 2007 |