Estudo comparativo do número de arremesos e variações da freqüência cardíaca em lutadores de jiu-jitsu de diferentes graduações de faixa |
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Rodrigo Rodrigues da Conceição1,2 João Marcos Ferreira de Lima Silva1,3,4 rodriguescontato1@hotmail.com (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007 |
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Introdução
O jiu-jitsu é uma arte marcial de combate corpo a corpo (Fernandes, 2002) que pode resumir basicamente suas técnicas em golpes de projeção, imobilizações, chaves articulares e estrangulamentos (Hernandes Jr. 2000), ressaltando que nos primórdios de sua idealização, tinha o objetivo de defesa pessoal de importância vital para o guerreiro Samurai (Borges, 1999), sendo atualmente um esporte extremamente dinâmico e inteligente, podendo ser comparado a um xadrez jogado com o corpo, tendo suas regras bem formuladas para conservar a integridade física dos seus praticantes.
Segundo Froelicher e cols. (1998), a resposta da freqüência cardíaca ao exercício é influenciada por vários fatores, inclusive a idade, o tipo de atividade, a posição do corpo, o grau de condicionamento físico, a presença de cardiopatia, o uso de medicamentos, o volume sangüíneo e o ambiente. Batlouni (2000) relata que o treinamento físico intenso e prolongado induz adaptações cardiovasculares que permitem ao coração do atleta desempenho físico excepcional, e que a bradicardia em repouso e a menor elevação da freqüência cardíaca em qualquer nível de exercício é característica universalmente reconhecida de atletas bem treinados.
Apesar da importância da freqüência cardíaca em diversas práticas desportivas, pouco tem sido realizado em relação ao comportamento da mesma junto ao esporte Jiu-Jitsu. Tal conhecimento é extrema relevância para o auxilio técnico e preparação física dos praticantes, possibilitando-os uma maior segurança, alem de compreender melhor a demanda cardiovascular obtida na prática dessa luta. Visando estes fins, este estudo teve por objetivo comparar as quantidades de golpes e as variações da freqüência cardíaca em lutadores de Jiu-Jitsu de diferentes categorias de graduação, durante um minuto de treinamento de arremesso do oponente, já que este golpe é muito utilizado nos treinamentos.
Materiais e métodosAmostra
Foram avaliados 26 atletas do sexo masculino da categoria adulto (principal) entre 18 e 27 anos de idade (22 + 2 anos de idade), dos quais, 7 faixas brancas , 8 faixas azuis, 6 faixas roxas e 5 faixas marrom. Para participar do estudo os atletas deveriam estar em treinamento regular, dentro de um período mínimo de 3 meses de forma regular e pertencer à faixa por no mínimo 3 meses. Além disso, o voluntário deveria ter participado de pelo menos um campeonato oficial a nível regional. Os atletas também não poderiam treinar outra arte marcial e não estar três semanas próximas a um torneio. Antes de serem encaminhados à coleta de dados, todos os voluntários assinaram um termo de consentimento, no qual estavam contidas todas as condutas e riscos da participação no experimento.
InstrumentosPara medir as variáveis no presente estudo, foram utilizados os seguintes equipamentos: a) Balança Welly com precisão de 0,1 kg: utilizada para aferir a massa corporal total dos atletas; b) Cronômetro Cássio: utilizado para marcar o tempo de realização do teste; c) Freqüêncímetro Polar A1: usado para aferir a freqüência cardíaca dos atletas; d) Fita adesiva 3M amarela: utilizada para marcar os pontos de localização do teste; e) Kimonos trançados Atama e Krungans: roupa específica do esporte utilizada pelos atletas e f) Apito Fox 40: usado para dar início e término ao teste.
Coleta de dadosOs testes foram realizados entre os dias 12/03 e 05/04, entre as 19:00 e 21:00. Como os testes dependiam da presença de mais dois atletas, inicialmente foi aferida a massa corporal total dos voluntários, com intuito de verificar em qual categoria de peso o atleta se encontrava, compatibilizando o peso dos atletas assistentes com o atleta que estava sendo avaliado naquele momento.
Descrição do testePara realizar os testes de cada atleta foram utilizados mais dois atletas da mesma categoria de peso. O atleta avaliado posicionava-se no ponto médio da linha que ficavam os dois outros que assistiriam ao teste. A distância entre os assistentes e o avaliado eram de 4 metros.
Após um comando sonoro, o atleta avaliado corria em direção ao atleta que estava posicionado numa das extremidades e aplicava-lhe o golpe baiana de frente (MOROTE GARI), apresentado na FIGURA 2, e em seguida, executava uma nova corrida para aplicar o mesmo golpe no atleta que se encontrava na extremidade oposta, repetindo este procedimento durante 1 minuto.
A freqüência cardíaca e o numero total de quedas desferidas foi aferida imediatamente ao fim do teste, tendo previamente a Freqüência cardíaca inicial sido registrada.
Tratamento estatísticoO tratamento dos resultados visou comparar as diferentes variáveis entre as categorias de faixa. Portanto, valeu-se de uma Analise de Variância (ANOVA) com entrada, seguida de verificação Post - Hoc de Turkey.( p<0,05).
ResultadosOs resultados estatísticos são apresentados no gráfico1 onde são mostrados as variáveis relacionada da Freqüência cardíaca pré-teste, pós-teste e número de arremessos.
A freqüência cardíaca pré - teste não diferia entre nenhuma das categorias, entretanto na freqüência cardíaca pós - teste, a única graduação avaliada que obteve uma diferença significativa foi a faixa marrom, onde os valores eram inferiores que 0,05. No número de golpes de arremessos foi a faixa branca que diferenciou das demais graduações, devendo-se ressaltar que vários fatores podem influenciar os resultados tais como composição corporal, tempo de treinamento, período do treinamento dentre outros.
DiscussãoObservou-se uma grande carência de pesquisas ligadas ao Jiu-Jitsu, sendo este o primeiro estudo comparando a freqüência cardíaca (FC) e situação de treinamento em lutadores de jiu - jitsu de diferentes graduações que se teve conhecimento.
O resultado do presente estudo pode nos evidenciar uma relação da reposta da FC com o tempo de prática e habilidade técnica no jiu-jitsu. Sabemos que a FC é uma variável muito utilizada em diversas práticas desportiva, para a prescrição e monitorizarão do treinamento, porém a literatura, tanto nos aspectos técnicos como fisiológicos envolvendo o esporte jiu-jitsu ainda é muito restrita. Valores referentes a variação da freqüência cardíaca no jiu-jitsu foi mostrada por Franchini et al. (2005), num estudo que teve como objetivo verificar as repostas da FC e da força de pressão manual durante situação real de luta, onde a variação da FC foi significativo no terceiro, quarto e quinto minuto de luta. Os valores da variação da FC no estudo de Franchini et al. (2003) foram bem diferentes do presente estudo, provavelmente porque este estudo analisou uma forma de treinamento diferente, tendo o tempo de treinamento de 5 minutos, enquanto o presente era concluído em 1 minuto, pois aparentemente trabalharam em sistema energético predominantemente aeróbico, já este o anaeróbio.
Na FC pós-teste, quando comparado os resultados da amostra a um estudo publicado por Alonso et al. (1998) que submeteram jovens saudáveis a exercícios aeróbios progressivos e aferiu a variabilidade da FC em relação ao impacto metabólico (repouso, limiar anaeróbio, ponto de compensação ventilatória e pico de exercício), os avaliados pelo presente estudo mantiveram a FC bem próximos ao ponto de compensação ventilatória e o pico de exercício, mostrando que durante o teste a amostra conseguiu atingir um ponto máximo ou quase máximo de esforço, ressaltando que o resultados da FC pós-teste da categoria de faixa Branca, Azul e Roxa foram bem parecidos com os resultados encontrados por Almeida et al. (2002) e Santos et al. (2002) onde foram avaliados judocas sergipanos e brasilienses respectivamente com um teste específicos para verificar a potência anaeróbica.
Um estudo que merece destaque e o de IAMAMURA e cols (1999) nos qual eles submeteram 7 karatekas a diferentes tipos de treinamento especifico do Karatê, e concluíram que o treinamento de Karatê, eleva a FC cardíaca consideravelmente, contribuindo para ganhos no desempenho cardiovascular. Outra evidência bem interessante é a de Toskvic el al. (2002), que compararam lutadores de Tae Kwon Do ( sexo feminino e masculino, iniciantes e experiente) em um exercício dinâmico, e verificaram que este exercícios aumentaram a FC da amostra, dentro de uma zona estipulada pelo ACSM para a melhora e a manutenção da performance cardiovascular. Já Franchini et al. (1998), analisou através de testes laboratoriais e situação de luta treze judocas, sendo cinco da classe juvenil, cinco da classe junior e três da classe sênior, e verificaram uma série de variáveis fisiológicas inclusive a FC de pico após testes de cicloergometro para membros superiores
Como podemos ver, nas quatro categorias de faixa encontramos uma freqüência cardíaca pré-teste relativamente alta, isto pode ser pela resposta antecipatória pré- teste, que acarreta um aumento do fluxo anterógrado simpático e inibição recíproca da atividade parassimpática que tem como resposta a aceleração da freqüência cardíaca, maior cotrabilidade miocárdica, vaso dilatação nos músculos esqueléticos e cardíacos, dentre outros (Wilmore e Cortill, 2001) . Podemos verificar também que na categoria de faixa marrom encontramos valores mais altos na freqüência cardíaca e nos números de arremessos, que apesar de não ter ocorrido uma diferença significativa, foram maior que os demais, pois estes são os atletas mais treinados, nos mostrando a correlação entre o esforço físico e o aumento da freqüência cardíaca para uma maior demanda metabólica na musculatura ativa (Alonso et al. 1998; Harms 1999). Com relação a faixa branca onde encontramos um menor números de arremesso, podem afirmar que isto é devido esta categoria ter o menor tempo de treinamento. Com relação aos faixas azuis e roxas não encontramos nenhuma diferença significativa nas variáveis, isto deve ser devido a estas graduações serem de níveis intermediários no jiu-jitsu.
Considerações finaisCom bases nos resultados obtidos nas variáveis da freqüência cardíaca pré-teste, pós-teste e números de arremessos nas diferentes categorias de faixas podemos extrair algumas conclusões.
Que os atletas de faixas brancas por terem um menor tempo de treinamento com relação as outras graduações, apresentaram um menor número de arremesso durante 1 minuto de teste, já os faixas azuis e roxas não apresentaram diferenças em nenhumas das variáveis e que os faixas marrons apresentam uma freqüência cardíaca pós- teste, maior que as demais graduações, isto por eles terem conseguido um maior número de arremessos durante 1 minuto.
Outra justificativa pode esta ser pelo conhecimento técnico da execução do movimento pelos mais graduados, assim como uma maior economia de movimento, podendo ainda esta relacionada a freqüência cardíaca mais alta por uma possível maior motivação, já que praticam a modalidade por mais tempo.
Referências
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