Comparação das análises bioquímicas em mulheres obesas submetidas a um programa de treinamento físico aeróbico
Comparación de los análisis bioquimicos en mujeres obesas sometidas a un programa de entrenamiento fisico aeróbico Comparation to the biochemical analysis in obese women submitted to a physical aerobic training program |
|||
*Mestranda em Atividade Física Adaptação e Saúde. Faculdade de Educação Física -UNICAMP. **Especialista em Fisiologia do Exercício. Faculdade de Educação Física de Lins. ***Especialista em Exercício Físico e Reabilitação. Faculdade de Educação Física de Lins. |
Márcia Cristina Carriel Giacomini* Ana Lúcia Peixoto dos Santos** Odair Giacomini*** mgiacomini@omega.fef.unicamp.br (Brasil) |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007 |
1 / 1
Introdução
A saúde deve ser entendida não somente como ausência de doenças ou enfermidades, mas como um estado de completo bem-estar físico, social e psicológico. (Bouchard et al, 1990). Dentro dessa concepção de saúde, não basta apenas não estar doente, mas é preciso apresentar evidências e atitudes que afastem os fatores de risco que possam provocar doenças.
Pesquisas recentes indicam que a quantidade excessiva de gordura corporal deverá contribuir de forma decisiva para o aparecimento de inúmeras complicações orgânicas. Com freqüência, as repercussões negativas da obesidade não ocorrem de forma individualizada, distinta e suscetível de disfunções isoladas, mas sim mediante um conjunto de doenças metabólicas e crônico-degenerativas.
O excesso de gordura e de peso corporal não deve ser encarado simplesmente como um problema estético. Pelo contrário, é um grave distúrbio de saúde que reduz a expectativa de vida e ameaça sua qualidade. Existe grande número de evidências que permitem afirmar que o maior acúmulo de gordura assume importante papel na variação das funções orgânicas e metabólicas.
A obesidade refere-se à condição em que o indivíduo apresenta uma quantidade excessiva de gordura corporal relacionada á sua estatura. Padrões exatos das porcentagens de gorduras permissíveis não foram estabelecidos, todavia os homens com mais de 25% de gordura corporal e as mulheres com mais de 35% devem ser considerados obesos (Nahas, 1999; Wimore e Costil, 2001).
O excesso de peso corporal é explicado pela disposição de energia no organismo para além do que é gasta. Essa energia a mais se armazena na forma de gordura no tecido adiposo ocasionando peso corporal mais elevado (Bouchard, 2003).
A etiologia da obesidade não é simples, ela pode ser causada por um ou por uma combinação de vários fatores como: distúrbios emocionais, desequilíbrios homeostáticos, influência cultural, desequilíbrios hormonais, herança genética, dietas impróprias e inatividade física.
Um estudo na Universidade de Laval, no Quebec, forneceu possivelmente a evidência mais forte de um componente genético na etiologia da obesidade, através de um estudo com gêmeos monozigotos ( Wilmore e Costil, 2001). Entretanto, é possível ser obeso basicamente em virtude do estilo de vida, na ausência de uma história familiar (Guedes e Guedes, 1998; McArdle , Katch e Katch , 1998).
O National Health and Nutrition Examination Survey - NHANES - supervisionado pelo National Center for Health Statistics - NCHS - tem-se mostrado uma das principais iniciativas de análise da prevalência da obesidade e do sobrepeso. Dados obtidos através de pesquisas mostram que a proporção de sobrepeso na população aumenta com a idade, com os mais altos índices tendo ocorrido aos 60-69 anos entre os homens, e aos 50-59 anos entre as mulheres (Guedes e Guedes, 1998; Bouchard, 2003).
A aparente heterogeneidade da obesidade humana tem resultado na identificação de vários subgrupos de indivíduos obesos. A identificação dos subgrupos é realizada mediante cinco critérios: (a) causas etiológicas; (b) quantidade de gordura em excesso; (c) características anatômicas do tecido adiposo; (d) distribuição regional da gordura corporal; e (e) época de seu início. (Guedes e Guedes, 1998).
A principal medida do crescimento somático com base na massa corporal é o peso corporal, no entanto algumas precauções devem ser tomadas quanto a interpretação de seus valores, pois as dimensões do peso corporal são resultantes da participação do crescimento de diferentes tipos de tecidos; portanto os valores devem vir acompanhados de outras medidas que ajudam a identificar as diferentes proporções; a mais comum usada para esta análise é a estatura ( Guedes & Guedes, 1997).
Várias técnicas podem ser empregadas no estudo da composição corporal, porém segundo o IOTF (Internacional Obesity Task Force) o índice de massa corporal (IMC) é um dos métodos mais utilizados para estimar os valores relacionados a composição corporal , relacionando o índice do peso corporal com a altura do indivíduo (Bouchard 2003) , outra técnicas bastante utilizadas são a da espessura do tecido subcutâneo e relação cintura/quadril.
Os órgãos de prevenção e tratamento do sobrepeso advogam para ambos os sexos, valores de IMC desejados de 19-25 kg/ m2 para indivíduos entre 19 e 34 anos de idade, e 21-27 kg/m2 para aqueles com mais de 35 anos. IMC acima de 30 Kg/ m2 está associado a obesidade. (Guedes e Guedes, 1998; Wilmore e Costil, 2001; Bouchard, 2003). Resultando em valores de referência de dobras cutâneas para homens de 12% a 15% do peso corporal como gordura e 22% a 25% para mulheres.
Riscos da obesidadeNumerosos riscos para a saúde são associados a baixos níveis de excesso de gordura corporal, dentre os quais o aumento do risco de hipertensão, doença arterial coronariana, diabetes, doenças renais, várias formas de câncer, aterosclerose, entre outros (McArdle, Katch e Katch , 1998 ; Adams,1985).
A projeção alarmante do aumento da obesidade em nossa sociedade tem caracterizado uma epidemia, segundo os especialistas da área de saúde. Essa doença está sendo considerada um dos principais problemas de saúde pública na atualidade, e um problema de proporção mundial pela Organização Mundial da Saúde. O excesso de gordura e de peso corporal é acompanhado por maior suscetibilidade de uma variedade de disfunções crônico-degenerativas que elevam extraordinariamente os índices de morbidade e mortalidade. Dessa forma, o aumento excessivo da quantidade de gordura e do peso corporal deverá repercutir de maneira negativa tanto na qualidade como na expectativa de vida dos indivíduos. (Lessa, 1998; Bouchard, 2003).
Estatisticamente, num mesmo grupo etário, a mortalidade é maior entre indivíduos obesos; inúmeras pesquisas indicam que muitas doenças da era moderna estão associadas ao excesso de gordura corporal. (Nahas, 1999; Bouchard, 2003)
Uma das principais complicações em indivíduos obesos é o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, que infelizmente vem contribuindo no índice de mortalidade. Dentre os vários fatores que aumentam as chances de doenças cardiovasculares, está o aumento da glicemia, e o seu não controle favorece o aparecimento da dislipidemia, hipertensão arterial, obesidade, estresse entre outros.
A dislipidemia eleva somente o risco de doenças cardiovasculares, sendo que em indivíduos obesos podem apresentar aumento do colesterol total, do triglicérides, do LDL- colesterol e a diminuição do HDL-colesterol. Outro fator importante é o controle dos níveis de glicemia; um diabético bem controlado tem níveis mais baixos de colesterol e triglicérides; da mesma forma indivíduos obesos devem fazer um controle da glicemia e do seu perfil lipídico, diminuindo desta forma, os fatores de riscos.
O papel da atividade física no controle do peso corporalApesar de sabermos que uma parte da população brasileira ainda padece pela desnutrição, nos centros urbanos, vê-se disseminar um surto de pessoas com sobrepeso e obesas, em decorrência de dois fatores interatuantes: o sedentarismo e a alimentação inadequada.
Estudos têm comprovado que indivíduos obesos são mais freqüentemente hipoativos que hiperconsumidores de alimentos, o que destaca a inatividade física como o fator mais importante na explicação do excessivo aumento e na manutenção de peso corporal em níveis elevados (Guedes e Guedes, 1998; Nahas, 1999; Wilmore e Costil , 2001). Além do mais, resultados de estudos prospectivos sugerem que níveis de prática de atividade física e de aptidão física estão associados a menores índices de mortalidade em indivíduos obesos ativos quando comparados com seus pares sedentários. Desta forma, embora a prática de atividade física não consiga tornar todos os indivíduos magros, ser ativo pode apresentar importantes benefícios à saúde, ainda que permaneçam obesos.
Considerando que a atividade física é definida como qualquer atividade realizada pelo organismo que produza um gasto energético além dos níveis de repouso, as pessoas obesas podem se beneficiar da atividade física para diminuir o seu percentual de gordura corporal, desde que essa atividade seja programada, controlada e sistematizada respeitando a individualidade de cada um ajustando o tipo de exercício, intensidade, duração e regularidade. Para Fox; Bowers, Foss, (1991), a falta de exercícios físicos constitui a causa primária de obesidade em todos os grupos etários.
Segundo Fox, Bowers, Foss (1991) e Guedes, Guedes (1998) equilíbrio energético é fator determinante tanto na redução do peso corporal como na sua manutenção. O equilíbrio energético consiste na relação existente entre o consumo "ingestão de alimentos " e demanda energética "trabalho biológico ".
Os exercícios físicos mais indicados para a redução e manutenção do peso corporal são os aeróbios, por serem contínuos e envolverem grandes grupamentos musculares (McArdle, Katch, Katch, 1998) , e de RML para manutenção de massa magra.
Os principais efeitos do exercício físico no organismo é a redução do peso e da gordura corporal, aumento da taxa metabólica de repouso, controle do apetite, manutenção de melhor estado psicológico, diminuição da freqüência cardíaca de repouso, melhor condição física e estado de saúde.
Estudos mostram que a manutenção de uma dieta pobre em calorias a longo prazo é extremamente difícil; em um acompanhamento de 121 indivíduos obesos, apenas 7 continuaram com seu peso reduzido e metade dessas pessoas recuperam o seu peso dentro de 2 a 3 anos ( McArdle; Katch, Katch, 1998).
Diferentemente do que ocorre com as dietas hipocalóricas, que possuem resultados efetivos à curto prazo, os exercícios físicos demonstram serem mais eficientes à médio e a longo prazo no processo de redução do peso corporal. A atividade física regular, combinada com uma alimentação adequada, representa a forma mais eficiente e saudável para manter ou reduzir o peso corporal, além de diminuir os valores de glicose, colesterol e triglicérides; o exercício físico aeróbico é uma opção capaz de alterar o equilíbrio induzindo modificações favoráveis na composição corporal e no controle metabólico.
Obesidade uma questão de saúde coletivaO panorama das doenças crônico-degenerativas que atingem a população se expressa de modo importante, estudos epidemiológicos observam que o predomínio das doenças infecto-parasitárias cedeu lugar as doenças crônicos degenerativas, responsáveis anteriormente por 15% dos óbitos e que passaram a ser atualmente responsáveis por 40% no Brasil (Gonçalves, 1995).
As afecções cardíacas, o câncer e a diabete foram responsáveis por mais de 261 mil óbitos em 1980, com crescimento previsto devidos essa tais tendências. Se fossem aplicadas medidas preventivas esses números poderiam ter sido diminuídos, o que representaria redução de óbitos precoces e evitáveis. A obesidade não é relatada como causa de morte, porque ninguém morre de obesidade, mas morre das doenças favorecidas pela obesidade onde na maioria das vezes está associada a valores altos de glicose, colesterol e triglicérides, que acabam se somando aos números alarmantes de mortes por doenças crônico-degenerativas.
A motivação principal de alguns indivíduos para se envolverem em programas de controle do peso corporal pode estar associada à melhora da aparência física, em razão dos valores estéticos da época. Contudo, no contexto de promoção da saúde, os programas de controle do peso corporal deverão ser encarados na perspectiva de auxiliar os indivíduos a diminuírem a exposição aos riscos predisponentes ao desenvolvimento de disfunções orgânicas que acompanham a obesidade.
Com o intento de controlar o peso corporal, a falta de informações tem levado muitos indivíduos a se deixarem enganar por produtos e métodos inovadores que prometem redução do peso corporal com rapidez, acompanhada por facilidades convidativas e, por vezes, assegurando vantagens à saúde sem equivalente respaldo do conhecimento científico. Na realidade as informações passadas só refletem a rede de interesses de um sistema econômico que visa lucro de alguns ao preço da alienação de outros.
Casos mais crônicos de obesidade levam comumente a hospitalizações e/ou absenteísmo ao trabalho, ocasionando aposentadoria precoce e pensões por invalidez acabam onerando significativamente a Previdência Social, apesar da extrema importância, estimativas numéricas sobre o assunto praticamente inexistem no Brasil. Estes custos indiretos, combinadas aos custos diretos como assistência médica, hospitalar, medicação entre outros refletem altos custos.
A ação cidadã é exatamente é transformar os direitos em realidades da vida cotidiana. Isto vale dizer que o esporte não deve ser entendido como prática compensatória, mas como meio para conquista de qualidade de vida.
O esporte desenvolvido em sua dimensão informal pode oferecer significativa contribuição para que se ampliem os níveis de inclusão social da população, de modo especial daqueles segmentos sociais ameaçados e castigados pelo fenômeno da exclusão.
A prática esportiva deve ser ensejada em valores cidadãos, desse modo, vê-se no esporte um traço de cultura e identidade de um povo, um elemento de expressão e integração social e estratégia de melhoria da saúde e qualidade de vida.
A ação exercida pela atividade física sobre a saúde das pessoas e das populações tem sido estudada nos últimos tempos, sobretudo com base em dois objetivos básicos: por um lado, expressar sua influência sobre os padrões de morbi-mortalidade para a seguir, formular programas que recomendando sua adoção sistemática, visem melhorar o bem-estar e a qualidade de vida.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi comparar os valores das análises bioquímicas do analítos de glicemia, colesterol e triglicérides, antes e após aplicação de um programa de treinamento físico para mulheres obesas.
MetodologiaForam feitas em um Laboratório de Análises Clínicas duas coletas de sangue em 25 mulheres de faixa etária de 45 a 63 anos com valores de percentual de gordura acima de 30% classificadas como obesas (Domingues Fº,2000), foi realizada uma coleta inicial (A) e outra após o período de 3 meses de treinamento físico aeróbio, coleta final (B), a freqüência de treinamento foi de 3 vezes por semana com duração de uma hora, onde foram realizadas atividades como caminhada em esteira ergométrica e pista, hidroginástica e bicicleta ergométrica, os valores da freqüência cardíaca em exercícios foram em torno de 60%a 85% da freqüência cardíaca máxima individual. Para os exames de glicemia, colesterol e triglicérides as amostras foram colhidas respeitando um jejum de 8 horas e o método empregado para a dosagem desses analitos foi o enzimático-colorimétrico. Para estas análises utilizou-se kits da CELM; na obtenção dos resultados estatísticos foi utilizado o teste "t" de Studant e ANOVA one-way e análise de variância.
ResultadosOs valores para glicemia e colesterol apresentaram diferenças significativas; já os valores de triglicérides apresentaram uma pequena variação (Tabela 1).
ConclusâoApós o período de três meses de treinamento, pode-se concluir que aplicação de um treinamento físico aeróbio regular em mulheres obesas, alterou significativamente os valores dos analitos de glicemia e colesterol; e pouco alterou os de triglicérides. Portanto entende-se que as diferenças encontradas são resultados dos efeitos benéficos do exercício físico na tolerância à glicose e no controle metabólico.
Referências
ARAUJO, E. C. et al. Comparação da treinabilidade aeróbia de mulheres sedentárias com peso normal e sobrepeso. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. Rio Claro: Unesp, V.2, N º 3, 1997, pg. 30-35.
BARBANTI, V. J. Aptidão Física um convite a saúde. São Paulo: Manole, 1990.
BOUCHARD, C. Atividade Física e Obesidade. Barueri: Manole, 2003.
CORREIA, M. I. T. D. Nutrição, esporte e saúde. Belo Horizonte: Health, 1996.
CURI, F. et al. Entendendo a Gordura: os ácidos graxos. Barueri: Manole, 2002.
DOMINGUES FILHO, L.A. Obesidade & Atividade Física. Jundiaí: Fontoura, 2000.
FOX, E.; BOWERS, R. W.; FOSS, M. L. Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. 4 ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
GUYTON, A.C. Fisiologia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
GUEDES, D. P. Composição Corporal: princípios, técnicas e aplicações. 2ªed. Londrina: APEF, 1994.
GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Controle de peso corporal: composição corporal, atividade física e nutrição. Londrina: Midiograf, 1998.
GONÇALVES, A. et al. Saúde coletiva e urgência em educação física e esportes. Campina: Papirus, 1997.
LESSA, I. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade: epidemiologia das doenças crônicas não transmissíveis. São Paulo: Hucitec/ Abrasco, 1998.
LEDOUX, M. Obesidade e atividade física. In: NADEAU, M.et al. Fisiologia aplicada na atividade física. São Paulo: Manole, 1985.
McARDLE, W; KATCH, F.; Nutrição, exercício e saúde. 4ªed Rio de Janeiro: Medsi, 1996.
McARDLE, W.D.; KATCK, F. I.: KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho. 4ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
NAHAS, M.V. Obesidade, controle de peso e atividade física. Londrina: Midiograf, 1999.
POLLOCK, M. H.; WILMORE, J. H. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. Rio de Janeiro: Medsi, 1993.
SEGAL, A. Obesidade não tem cura, mas tem tratamento. São Paulo: Lemos Editorial, 1998.
WILMORE, J.H.; COSTIL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole, 2001.
revista
digital · Año 12
· N° 109 | Buenos Aires,
Junio 2007 |