A prática de atividades físicas e a autonomia funcional de um grupo adultos velhos e idosos Practical of physical activities and the functional autonomy of an elderly and old adult group |
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Felipe José Aidar1,3,4 André Luiz Carneiro1,2 Tailce Moura Leite6 Maria Amália Daniel Freitas5 Maria Aparecida de Souza Braga5 Anísia Sudário Daniel5 fjaidar@gmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007 |
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Introdução
O progresso e o avanço tecnológico tem trazido uma perspectiva no que se refere a descobertas de novos medicamentos que tem permitido maior controle e tratamento mais eficaz das doenças infectocontagiosas e crônico-degenerativas, aliados aos avançados métodos diagnósticos e ao desenvolvimento de técnicas cirúrgicas cada vez mais sofisticadas e eficientes, isto tem provocado um aumento significativo da expectativa de vida do homem moderno. A conseqüência natural disso foi o aumento da vida média do homem, que hoje se situa em torno de 66 anos (20 anos a mais do que em 1950) (Nóbrega et al. 1999).
Atualmente, estima-se, que a cada 10 indivíduos no mundo, um tenha mais de 60 anos, idade acima da qual é considerado idoso em nosso meio, segundo a Organização Mundial da Saúde. (OMS, 2004). No Brasil, o envelhecimento populacional é um fenômeno que segue a tendência mundial. Segundo dados do IBGE, estimam que no ano de 2030 o Brasil terá a sexta maior população mundial em número absoluto de idosos (IBGE, 2004).
O processo de envelhecimento é definido como um processo contínuo durante o qual ocorre declínio progressivo de todos os processos fisiológicos, onde a manutenção de um estilo de vida ativo e saudável, podem retardar as alterações morfofuncionais que ocorrem com a idade.
As doenças ligadas ao processo do envelhecimento levam a dramático aumento dos custos assistenciais de saúde, além de importante repercussão social, com grande impacto na economia dos países. A maioria das evidências mostra que o melhor modo de otimizar e promover a saúde no idoso é prevenir seus problemas médicos mais freqüentes.
Muitos estudos têm relatado que a Taxa Metabólica Basal (TMB) diminui com a idade (Poehlman et al. 1990, Rothenberg et al. 2000 e Van Pelt et al. 2000), fato atribuído a fatores tais como a quantidade diminuída de massa magra e ao concomitante aumento da massa gorda (Fukagawa et al. 1990), conteúdos alterados de fluidos corporais (McArdle et al. 1996, Shock et al. 1963), alterações na temperatura corporal (McArdle et al. 1996, Rising et al. 1992), alterações do humor e estresse (Schmidt et al. 1996), alterações hormonais (Poehlman et al. 1990), área corporal (McArdle et al. 1996), inatividade física (Poehlman et al. 1990, Van Pelt et al. 2001), genética individual (Rising et al. 1992) e o processo de envelhecimento propriamente dito (Poehlman, 1998).
Neste sentido, o presente estudo tem por objetivo avaliar a relação entre a prática de atividades físicas e a autonomia funcional de um grupo adultos velhos e idosos.
Materiais e métodosAmostra
A amostra foi composta por 21 indivíduos, com idade variando dos 60 aos 78 anos, média de 68,48 anos 5,15, sendo 14 do sexo feminino e sete do sexo masculino, que faziam atividades física no programa "Novos Horizontes", programa desenvolvido por militares do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais em Belo Horizonte, que visa atender a grupos especiais (portadores de necessidades especiais e terceira idade) gratuitamente em atividades físicas. O critério de elegebilidade foi participar do programa a pelo menos quatro semanas e ter idade acima de 60 anos.
Os voluntários foram esclarecidos sobre o estudo, sendo que todos assinaram termo de autorização de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos, em concordância com a declaração de Helsinke 1975, e adendo de 2000.
InstrumentoO instrumento utilizado para a verificação dos dados foi o Protocolo para Avaliação de Autonomia Funcional proposto pelo Grupo de Desenvolvimento Latino Americano para Maturidade - GLDAM (Vale, 2005).
O Protocolo é composto por cinco testes, sendo 1) caminhar 10 metros (C10m), 2) Levantar da posição sentada (LPS), 3) Levantar d posição de decúbito ventral (LPDV), d) Levantar da cadeira e locomover pela casa (LCLC), 5) Vestir e tirar uma camisa (VTC).
O índice de GDLAM (IG) é obtido através da seguinte fórmula:
Sendo que o padrão de avaliação da autonomia funcional tem os escores conforme constante na tabela 1.
ProcedimentoO indivíduos forma submetidos a 12 semanas de atividades física, sendo que o programa contemplou a prática de caminhada, atividades aquáticas e jogos lúdicos. As aulas foram desenvolvidas em períodos de 60 minutos cada com um frequência de três vezes semanais.
A coleta de dados se deu em três dias com intervalo de 48 horas entre cada coleta, sendo o primeiro dia destinado a explicação das atividades, segundo dia destinado ao treinamento das provas e o terceiro dia foi o da coleta de dados. A coleta foi feita com cronômetros da marca Cassio, modelo HS 50 W, com os tempos coletados por três pessoas e depois feita a média entre os três. Os equipamentos utilizados na avaliação foram padronizados para todos em termos de modelos. Foi feito um pré-teste antes do início do programa e um pós-teste após 12 semanas.
Cada participante pode fazer três tentativas para cada prova, não sendo contudo obrigatória a repetição caso não fosse solicitado.
EstatísticaO tratamento estatístico foi feito com relação ao pré e pós-teste, sendo utilizado o teste t para amostra emparelhadas. Foi feita a verificação da homogeneidade da amostra através do teste de Shapiro Wilk tendo em vista o tamanho da amostra. Foi considerado um p < 0,05, sendo a análise feita no programa SPSS for Windows versão 12.0.
ResultadosAs características gerais dos sujeitos estão descritas na tabela 2. Os homens apresentaram maior massa corporal (~13,4kg) e estatura (~7,8cm) do que as mulheres investigadas.
A tabela 3 apresenta os resultados no pré e no pós teste, de 1) caminhar 10 metros (C10m), 2) Levantar da posição sentada (LPS), 3) Levantar d posição de decúbito ventral (LPDV), d) Levantar da cadeira e locomover pela casa (LCLC), 5) Vestir e tirar uma camisa (VTC). De acordo com os resultados houve um aumento significativo em todos os quesitos do teste de autonomia funcional (P < 0,05), saindo de um escore situado na faixa de classificação regurar para uma faixa de classificação muito boa.
Discussão e conclusãoO envelhecimento, conduz a uma perda progressiva das aptidões funcionais do organismo, aumentando o risco do sedentarismo (Kallinen e Markku, 1995). Essas alterações, nos domínios biopsicossociais, tendem a colocar em risco a qualidade de vida do idoso, por limitar a sua capacidade para realizar, com vigor, as suas atividades do cotidiano e colocar em maior vulnerabilidade a sua saúde (Spirduso, 1995).
O sedentarismo, que tende a acompanhar o envelhecimento e que sofre importante pressão do avanço tecnológico ocorrido nas últimas décadas, é um importante fator de risco para as doenças crônico-degenerativas, especialmente com relação as afecções cardiovasculares, principal causa de morte nos idosos (Kalache e Coombes, 1995, Pate et al. 1995).
A habilidade de um idoso, ao buscar reter a destreza e a mobilidade cotidianas, - como caminhar, levantar-se e alcançar algum objeto acima da cabeça -, evidencia importantes aspectos de um estilo de vida com qualidade, (Alexander et al. 2000).
Outro fator que se encontra alterado com o envelhecimento seria a função cardíaca, onde a modulação da função cardíaca pelo sistema nervoso autônomo (adrenérgico e vagal) tende a diminuir, ocorrendo declínio na resposta à estimulação adrenérgica do coração senescente. Em conseqüência, durante o exercício ocorreria diminuição da freqüência cardíaca máxima (FCmáx) e do volume sistólico máximo (responsável por 50% da redução do VO2 máx relacionadas com a idade) (Nobrega et al. 1999).
Um outro ponto que deve ser considerado é o de que a faixa etária em estudo geralmente tem habilidade diminuída para se adaptar a estímulos fisiológicos (Elward e Larson, 1992, Daley e Spinks, 2000, Mazzeo e Tanaka, 2001). Outros estudos, entretanto, demonstraram a habilidade de adultos nesta faixa etária em se adaptar ao treinamento (Kohrt et al. 1992, Coggan et al. 1992).
Neste sentido, a prática da atividade física seria recomendada para manter e/ou melhorar a densidade mineral óssea e prevenir a perda de massa óssea. Alem disso a atividade física melhoraria a força, a massa muscular e a flexibilidade articular, principalmente, em indivíduos acima de 50 anos. A treinabilidade do idoso (a capacidade de adaptação fisiológica ao exercício) não se diferenciariam da de indivíduos mais jovens. Nesta mesma linha de pensamento a atividade física regular diminuiria a incidência de quedas, o risco de fraturas (Kohrt et al. 1992, Coggan et al. 1992).
Segundo Buckwater (1997), a atividade regular consegue freqüentemente retardar ou reverter o decréscimo de mobilidade, decréscimo este, que contribui para doenças e incapacidades em anciãos.
Vários outros estudos, apontam para os benefícios dos programas de exercícios físicos para idosos, como medida profilática importante no sentido de preservar e retardar ao máximo os efeitos do envelhecimento sobre a aptidão física (Matsudo e Matsudo, 2000, Zenker, 1996).
Além da melhoria na aptidão física, a atividade física também contribui para a redução das taxas de morbimortalidade nos idosos (Bravo et al. 1996, Schwartz, 1995).
Igualmente, a atividade física voltada para populações idosas tem se demonstrado de grande importância, não somente para prevenção de patologia, na prevenção de quedas e de outros problemas relacionados a idade, mas também para manutenção da sociabilidade do indivíduo, bem como proporcionando uma maior independência em tarefas comuns da vida cotidiana, sendo uma importante forma de se promover a qualidade de vida neste população.
Referências
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