Utilização do índice de massa corporal como indicador de sobrepeso e obesidade de escolares de 6 a 16 anos da zona urbana e rural do município de Estrela/RS/Brasil nos anos 2000 e 2004 |
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Professora Mestre pela UFSC. Especialista em Personal Training pela UNISC. Graduada em Educação Física pela UNISC. |
Catiana Leila Possamai clpossamai2004@yahoo.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007 |
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Introdução
Hoje em dia, o padrão de vida está cada vez mais sedentário reflexo das mudanças decorrentes do processo de industrialização, urbanização e do desenvolvimento econômico, sendo que o aumento destas taxas ocorre de forma mais rápida nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos. As pessoas comem cada vez mais alimentos com grande valor energético e alto teor de açúcar e gorduras saturadas e movimentam-se cada vez menos. No Brasil, principalmente nas classes menos favorecidas, a população está passando de um quadro de desnutrição para outro de excesso de peso e obesidade (Repetto, et al, 2003).
A atividade física regular é fundamental para prevenir doenças crônicas, também chamadas de agravos não-transmissíveis e incluem doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer e doenças respiratórias que figuram como principal causa de mortalidade e incapacidade no mundo, responsável por 59% dos 56,5 milhões de óbitos anuais (OPAS, 2003).
Pelo menos 60% da população não obedecem à recomendação mínima de 30 minutos diários de atividade física de intensidade moderada e por isso, aumentar os níveis de atividade física é um problema social, não apenas individual, e exige enfoques baseados na população, multisetoriais, multidisciplinares e culturalmente relevantes (OPAS, 2003).
O relatório do Surgeon General foi lançado em Julho de 1996 pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos e buscou avaliar o papel da atividade física na prevenção de doenças crônicas. As principais conclusões foram de que a atividade física regular reduz o risco de desenvolvimento ou morte por doença do coração, diabete não insulino-dependente, hipertensão e câncer de cólon, além de reduzir os sintomas de ansiedade e depressão e contribuir para o desenvolvimento e manutenção de ossos, músculos e articulações saudáveis e ajudar no controle do peso corporal (MMWR, 1996).
Portanto a redução das taxas de doenças crônicas pode ser alcançada através de uma mudança nos hábitos alimentares e através da prática de atividade física. Dentre as sugestões da OPAS (2003), a mudança nos hábitos alimentares pode trazer vários benefícios à saúde se algumas dicas forem observadas, dentre elas: consumir mais frutas e verduras, assim como nozes e grãos integrais; trocar gorduras saturadas de origem animal por gorduras insaturadas de óleo vegetal; diminuir a quantidade de alimentos gordurosos, salgados e doces. As mudanças na atividade física incluem: a criação de políticas públicas que promova oportunidades para a atividade física; o engajamento em atividades físicas moderadas por pelo menos 30 minutos diários e a promoção de comportamentos saudáveis para incentivar e motivar as pessoas a perder peso por meio da atividade física e manter o peso corporal dentro da faixa normal do Índice de Massa corporal (IMC), para adultos entre 18,5 a 24,9 kg/m2 e evitar o fumo.
O índice de massa corporal (IMC) é um indicador antropométrico que indica a relação entre o peso em quilogramas dividido pela estatura em metros ao quadrado que pode ser utilizado para estimar a prevalência de obesidade dentro de uma população e os riscos associados com esta, porém, não responde pela larga variação na natureza de obesidade entre os indivíduos diferentes e populações (WHO, 1997).
Acrescenta Soleto, Colugnati, Taddei, 2004, que para poder comparar estudos que investigam a obesidade, é necessário que opte-se pela adoção de um critério único.
Conceitualmente, a obesidade pode ser considerada como um acúmulo de tecido gorduroso, regionalizado ou em todo o corpo, causado por doenças genéticas ou endócrino-metabólicas ou por alterações nutricionais (Fisberg, 2004). Os três períodos mais vulneráveis para o desenvolvimento do ganho de peso são o período pré-natal, principalmente no terceiro trimestre da gravidez onde ocorre hiperplasia adipocítica; o período em torno do quinto ano de vida, onde ocorre a renovação da adiposidade e o período da adolescência, onde tem-se um importante preditor da obesidade na fase adulta (Fisberg, 2004; Dietz, 1997).
A obesidade é um problema de saúde que atinge cerca de 15% de crianças e adolescentes. Estudos recentes demonstram que este valor vem demonstrando tendência de aumento. Para tanto é necessário que os resultados de pesquisas recentes sejam divulgados de modo que se possa propor uma estratégia junto ao governo, à sociedade, aos pais e professores e aos próprios escolares de forma a combater esta epidemia.
Na infância e na adolescência ocorrem variações da composição corporal influenciadas pelo processo de crescimento e desenvolvimento, que podem ser considerados aliados no tratamento da obesidade. O crescimento e a maturação podem ser influenciados pela área de residência (contexto urbanos e rurais), portanto, variações na atividade física relacionada à saúde e crescimento físico entre diferentes amostras de uma mesma região podem ser influenciadas por estes fatores, além dos fatores genéticos (Glaner, 2002).
Glaner (2002) sugere que sejam investigados aspectos relacionados à atividade física relacionada à saúde de amostras rurais em relação à população urbana para que tendências possam contribuir na ampliação de novos conhecimentos, tornando-se uma opção de suporte para futuros estudos sobre o assunto em questão.
Portanto, é objetivo do presente estudo verificar a prevalência do sobrepeso e da obesidade em escolares de 6 a 16 anos, de ambos os gêneros entre a zonas urbana e rural e entre os anos de 2000 e 2004.
Procedimentos metodológicosEste estudo é do tipo descritivo comparativo e tem o delineamento transversal. Os dados utilizados neste estudo fazem referência à variável índice de massa corporal dos escolares de 6 a 16 anos da zona urbana e rural da Rede Municipal de Estrela/RS nos anos de 2000 e 2004.
A cidade de Estrela possui 28.902 habitantes e está localizada na região centro-nordeste do estado do Rio Grande do Sul/Brasil dispondo de uma área territorial de 184 km2, conforme os dados do IBGE9.
No ano 2000, a RME era composta por um total de 9 escolas (3 na zona urbana e 6 na zona rural) já no ano 2004 a RME totalizou 11 escolas (5 na zona urbana e 6 na zona rural). A amostra deste estudo totalizou 3112 escolares (1824 na zona urbana e 1288 na zona rural). A amostra dos escolares por gênero, ano e zona pode ser observada de forma mais detalhada na tabela 1.
A massa corporal foi mensurada utilizando-se uma balança Filizola, Personal Line 150, com precisão de 100g, aprovada pelo Inmetro, e a estatura, mensurada por estadiômetro com precisão em 0,5 centímetros, incluído na mesma balança. Como padronização para a medição, foi sugerido aos escolares, que permanecessem na posição ereta, mantendo os braços ao longo do corpo e olhando para frente, na linha do Plano de Frankfurt. A medida da massa corporal foi feita com o mínimo de roupa possível, no período da manhã e da tarde, dependendo do turno que a escola oferecia as aulas.
Para a classificação em sobrepeso e obesidade foi utilizado o critério de Cole (2000), a partir dos pontos de corte para o IMC. Optou-se nesta análise a sub-divisão das idades de 6 a 16 anos em três grupos de idade para melhor visualização dos dados, sendo elas: de 6 a 8 anos, de 9 a 13 anos e de 14 a 16 anos.
Para a análise dos dados, utilizou-se o programa estatístico SPSS 12.0 for Windows. A estatística descritiva foi utilizada para identificação dos casos de sobrepeso e obesidade dos escolares para ambos os gêneros, por ano e por zona. A análise inferencial, através do teste de qui-quadrado, foi utilizada para verificar possíveis associações entre as variáveis dependentes de classificação do IMC e zonas (urbana e rural). O nível de significância adotado foi de 5%.
Análise e discussão dos dadosAtravés da classificação do índice de massa corporal em sobrepeso e obesidade, foi possível representar graficamente em valores percentuais, a comparação entre os anos e as zonas (urbana e rural). Os gráficos 1 e 2 representam os valores percentuais de sobrepeso e obesidade masculinos e femininos, respectivamente.
Através do gráfico 1, observou-se que para o gênero masculino, no ano de 2004 houve prevalência de sobrepeso e de obesidade em relação ao ano 2000 tanto na zona urbana quanto na zona rural da RME. Situação inversa foi observada para o gênero feminino (gráfico 2) onde a prevalência de sobrepeso e obesidade ocorreu no ano de 2000 em relação ao ano de 2004 para as meninas da zona urbana e também da zona rural.
Também, pode-se observar que para o gênero masculino (gráfico 1), houve prevalência de sobrepeso e obesidade na zona rural no ano de 2000 e que esta situação inverteu-se no ano de 2004, prevalecendo percentuais maiores na zona urbana. Já para o gênero feminino (gráfico 2), a prevalência de sobrepeso e obesidade foi na zona urbana, nos dois anos estudados. Em ambas comparações, não foram encontradas associações para os valores entre as zonas nem entre os anos.
Estes dados corroboram com as informações de Malina e Bouchard (1991) que verificaram que nos Estados Unidos da América do Norte e Europa Ocidental onde crianças residentes nas áreas rurais geralmente eram mais altas e mais pesadas que as da área urbana, no século passado, e que, no entanto, no princípio do século XX e com o implemento das condições urbanas, esta posição se inverteu.
Através da classificação do IMC foi possível identificar o número de casos e sua representação percentual para as categorias "normal", "sobrepeso" e "obesidade" por gênero, ano e grupos de idade. Sendo assim, a tabela 2 representa o gênero masculino e a tabela 3, o gênero feminino.
Através da tabela 2, representando o gênero masculino, pode-se observar que para a zona urbana, no ano de 2000, maiores valores percentuais de casos de sobrepeso, concentraram-se no grupo de idade de 14 a 16 anos, enquanto que maiores valores percentuais de casos de obesidade, concentraram-se no grupo de idade de 6 a 8 anos. No ano de 2004, tanto os valores percentuais de casos de sobrepeso quanto os de obesidade concentraram-se no grupo de idade de 6 a 8 anos.
Ainda através da tabela 2, pode-se observar que para a zona rural no ano de 2000, maiores valores percentuais de casos de sobrepeso, concentraram-se no grupo de idade de 6 a 8 anos, enquanto que maiores valores percentuais de casos de obesidade, concentraram-se no grupo de idade de 14 a 16 anos. Esta situação é inversa a encontrada para a zona urbana do mesmo ano. No ano de 2004, os valores percentuais de casos de sobrepeso e de obesidade concentraram-se igualmente no grupo de idade de 9 a 13 anos.
Por meio destas constatações, considera-se como prioridade o acompanhamento do IMC, principalmente nas idades iniciais (de 6 a 8 anos), visto que os maiores valores percentuais de obesidade, concentraram-se neste grupo para a zona urbana nos dois anos estudados. Sugere-se também que programas de prevenção à obesidade infantil voltem esforços desde cedo à esta população, de forma a diminuir a prevalência da obesidade, visto que este é um dos períodos considerados vulneráveis ao desenvolvimento do ganho de peso (Fisberg, 2004, Dietz, 1997).
Através da tabela 3, representando o gênero feminino, pode-se observar que para a zona urbana, no ano de 2000, maiores valores percentuais de casos de sobrepeso e de obesidade, concentraram-se no grupo de idade de 6 a 8 anos. No ano de 2004, os valores percentuais de casos de sobrepeso passaram a concentrar-se no grupo de idade de 14 a 16 anos, enquanto que os valores percentuais de casos de obesidade permaneceram concentrados no grupo de idade de 6 a 8 anos.
Ainda através da tabela 3, pode-se observar que para a zona rural no ano de 2000, maiores valores percentuais de casos de sobrepeso, concentraram-se no grupo de idade de 9 a 13 anos, enquanto que maiores valores percentuais de casos de obesidade, concentraram-se no grupo de idade de 6 a 8 anos. No ano de 2004, os valores percentuais de casos de sobrepeso também concentraram-se no grupo de idade de 9 a 13 anos, enquanto que os valores percentuais de casos de obesidade também concentraram-se no grupo de idade de 6 a 8 anos. Houve, portanto, igual tendência nos dois anos estudados para a zona rural.
Não foram encontradas associações entre os grupos de idade por ano e zona, tanto para o gênero masculino, quanto para o feminino.
ConclusõesAtravés da análise dos resultados e com base na literatura pesquisada, foi possível concluir que a tendência de prevalência de sobrepeso e obesidade na zona urbana foi confirmada. Os fatores que influenciaram esta prevalência não foram estudados, no entanto, sugere-se que sejam realizadas novas investigações comparando estas duas realidades (zona urbana e rural) para que se possa inferir se aspectos como qualidade de vida em relação à nutrição, saúde, serviços sanitários e organização da sociedade influem nesta condição.
Destaca-se também, especial atenção ao gênero masculino, pois os dados referentes à prevalência de sobrepeso e obesidade no ano de 2004, prevaleceram superiores em relação ao ano de 2000. No entanto, os maiores valores percentuais foram verificados para o gênero feminino, exceto para a zona rural feminina no ano de 2004.
Sugere-se que novas avaliações antropométricas sejam realizadas na mesma população, incluindo-se variáveis de dobras cutâneas e circunferência de cintura, para que novas relações sejam estabelecidas entre a prevalência de sobrepeso e obesidade em relação a aspectos da saúde dos escolares.
Através de estudos deste tipo, pode-se conhecer a realidade da população para que propostas de estudo como um programa de prevenção à obesidade e de orientação nutricional possam ser implementados. Acredita-se que os profissionais da área da saúde, principalmente os profissionais de Educação Física que atuam nas instituições de ensino municipal possam dar continuidade a este projeto que iniciou-se no ano de 2000, visto que a cada ano, é realizada a avaliação biométrica dos alunos. Sugere-se que a Prefeitura Municipal de Estrela disponibilize equipamentos básicos (balança, estadiômetro, fita métrica, compasso de dobras cutâneas) para que cada escola tenha autonomia para a realização destes exames. Sugere-se também que sejam realizados testes de aptidão física, para que se possa correlacionar estes indicadores com a avaliação da composição corporal dos escolares.
Referências bibliográficas
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Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde. Brasília; 2003.
MMWR. Notice to readers publication of Surgeon General's Report on Physical Activity and Health. 1996; 45(27);591-2.
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Soleto, YOM, Colugnati, FAB, Taddei, JAAC. Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares. Cad. Saúde Pública: Rio de Janeiro; 2004; 20(1): 233-240.
Fisberg M. Primeiras palavras: uma introdução ao problema do peso excessivo. In: Fisberg M. Atualização em obesidade na infância e adolescência. São Paulo: Atheneu; 2004.
Dietz WH. Periods of risk in childhood for the development of adult obesity - what do we need to learn? American Society for Nutritional Sciences, Supplement, 1997.
Glaner MF. Crescimento físico e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes rurais e urbanos. [Tese de doutorado - Programa de Pós-Graduação em Ciência do Movimento Humano]. Santa Maria (RS): Universidade Federal de Santa Maria; 2002.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades@ [site on-line]. 2003; Disponível em http://www.ibge.gov.br [2004 dez 10].
Cole TJ, Bellizzi MC, Flegal KM, Dietz WH. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. Br Med J. 2000; 320:1-6.
Malina RM., Bouchard C. Growth, maturation, and physical activity. Champaign, IL: Human Kinetics Books; 1991.
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· N° 108 | Buenos Aires,
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