Jogos e brincadeiras: a sistematização do trabalho pedagógico na disciplina de Didática e Prática de Ensino I, na Escola Municipal Lenival Correia Ferreira no 2º semestre, 2005 | |||
*Acadêmica do curso de Educação Física - UNIRG, Gurupi/TO. **Prof. Orientador do Curso de Educação Física - UNIRG, Gurupi/TO. (Brasil) |
Helena Maria de Miranda Camargo* Ricardo Lira Rezende Neves** lirino@ibest.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007 |
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Introdução
Entende-se que o sentido da vida de uma criança é a brincadeira. Ao brincar ela reproduz situações concretas pondo-se no papel dos adultos, isso reflete na atitude de imitação, pois tenta entender o seu comportamento.
Para a criança a brincadeira não é apenas um passatempo. Seus jogos estão relacionados com um aprendizado fundamental; seu conhecimento de mundo através das suas próprias emoções. Por meio de jogos, cada criança cria uma série de indagações a respeito da vida. As mesmas que mais tarde, na fase adulta, ela voltará a descobrir e ordenar através do raciocínio.
O jogo é uma atividade mediante a qual a criança constrói a realidade. Através da atividade lúdica a criança flui liberdade e expressa sentimentos (MARIOTTE, 1996).
No jogo o desafio sempre existe. Há sempre um caráter novo e a novidade é fundamental para despertar o interesse e a curiosidade infantil. Por isso, o jogo é por excelência integrador. À medida que joga, a criança compreende a realidade e se adapta espontaneamente a ela. Enfim, a criança, através do jogo, constrói interiormente o seu mundo. (REVISTA CRIANÇA, 2002).
Kishimoto (1998) cita dois interessantes trabalhos que detalham a história dos jogos educativos mostrando seu aparecimento e o significado atribuído ao termo. Rabecq-Maillard (1969) mostra o gradual aparecimento dos jogos educativos na história ocidental, a partir do século XVI. Embora este autor aponte o século XVI como o contexto em que surge o jogo educativo, os primeiros estudos em torno do mesmo situam-se na Roma e Grécia antigas. Platão, em Les Lois (1948), comenta a importância do "aprender brincando", em oposição à utilização da violência e da repressão.
Chateau (1987) entende que o jogo tem fins naturais quando a ação livre permite a expressão do eu. Visto como meio ou, como diz, tendo "fins artificiais", na verdade, o jogo é um instrumento do adulto para formar a criança. A formação social inclui os "fins artificiais", os valores expressos, intencionalmente, por cada sistema educativo, para educar seus membros. Valoriza o jogo por seu potencial para o aprendizado moral, integração da criança no grupo social e como meio para aquisição de regras.
Desde a década de sessenta educadores e investigadores têm-se dedicado mais aos fatores que influenciam o desenvolvimento da criança por meio do trabalho com jogo. Em datas recentes observa-se o aprofundamento em relação aos estudos referentes as particularidades do material pedagógico como o jogo e a sua influência sobre o comportamento lúdico das crianças de diferentes idades (NETO, 1999).
O jogo é considerado como uma importante atividade na educação de criança, uma vez que pode permitir o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, moral e a aprendizagem de conceitos, pois jogando a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere as suas habilidades. O jogo estimula a curiosidade, a iniciativa e a autoconfiança proporcionando aprendizagem no desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração da atenção sendo indispensável para a saúde física, emocional e intelectual da criança (SEED, 1999).
A criança, ao manipular o brinquedo, de acordo com a sua faixa etária e o seu desenvolvimento psicomotor vai descobrindo novas aprendizagens. Através do brinquedo a criança descobre, experimenta, reinventa, analisa, compara, cria imaginação, desenvolve suas habilidades e estimula a linguagem e o aumento de vocabulário.
Pensar a importância do brincar nos remete às mais diversas abordagens existentes, tais como a cultural, que analisa o jogo como expressão da cultura, especificamente a infantil; a educacional que analisa a contribuição do jogo para a educação, desenvolvimento e/ou aprendizagem da criança e a psicológica que vê o jogo como uma forma de compreender melhor o funcionamento da psique, enfim, das emoções, da personalidade dos indivíduos (REVISTA CRIANÇA, 2002).
Sabe-se que em cada um desses enfoques há várias formas de classificar e analisar as atividades lúdicas. E afinal, por que é tão importante brincar?
Ao ponderar, extensivamente, sobre o tipo de jogo que querem utilizar, as condições do ambiente para que aconteça, bem como as regras que devem ser aplicadas, as crianças desenvolvem sua capacidade de raciocinar, de julgar (aquilo que é ou não é apropriado ao momento), de argumentar, de como chegar a um consenso, reconhecendo o quanto isto é importante para dar início à atividade em si. É o que CUNHA (1999) mostra em seu raciocínio, ao afirmar que "tudo isso tudo é infinitamente mais relevante para o desenvolvimento da criança como ser humano do que qualquer capacidade que possa desenvolver no jogo em si". Assim, fica-nos evidente a importância do jogos e do brincar no âmbito escolar.
Com base nesse entendimento, essa pesquisa teve como questões de estudo: As experiências, quando prioriza o jogo como conteúdo no ensino fundamental, considera as metodologias e teorias do jogo e o processo do desenvolvimento e aprendizagem da criança? Quais as metodologias e as principais teorias do jogo foram privilegiadas na experiência realizada por três duplas de estagiários da disciplina didática e prática de ensino I no 2º semestre de 2005?
Nesta linha de raciocínio, o objetivo desse estudo foi: analisar os artigos finais de três duplas de estagiários que desenvolveram projetos de metodologias dos jogos na Escola Muicipal Lenival Correia Ferreira em Gurupi-TO.
Materiais e métodosSujeito da pesquisa
Este estudo parte do trabalho (artigo final) de três duplas de estagiários, que desenvolveram projetos de metodologias do jogo na Escola Municipal Lenival Correia Ferreira do 2º semestre de 2005, no curso de graduação em Ed. Física da Facudade UNIRG - TO.
Coletas de informaçãoNeste caso, utilizou-se um procedimento de coleta nos artigos dos projetos de estágio de três duplas de estagiários da disciplina Didática e prática de ensino I do curso supracitado.
Análise das informaçõesAnálise de conteúdo - compreende o trabalho que o pesquisador irá realizar com os dados colhidos durante a pesquisa - o relato das observações, as transcrições das entrevistas e todas as informações disponíveis. O pesquisador parte para trabalhar o material colhido: classificar, organizar e interpretar as informações. (ALVES, 2003).
Resultados e discussõesAnálise dos resultados dos projetos
A partir do que foi trabalhado no projeto "Jogo, Cognição e Ficção" observa-se que o critério essencial foi aprendizagem relacionada à disciplina Matemática. Os autores constataram que o jogo e brincadeira proporcionaram o jogar, o brincar, a vivencia do momento, o espírito lúdico comandado pelos estagiários. A partir do momento que houve auto-organização constatou-se a participação mais ativa dos alunos; coletividade, cooperação e a realização com sucesso. Possibilitou a ação corporal na apresentação de cada um, além da integração social, cultural e ética.
No trabalho "Abordagem Plural, Antropológica, Cultura e Técnica" apesar da criança já conhecer a brincadeira "queimada", a princípio, os estagiários, ao proporcionarem essa vivencia todos queriam brincar. Porém, numa variação da queimada, aumentou as dificuldades de entendimento de todos - a bola estaria vindo de uma outra direção. A presença dos professores (acadêmicos) foi de fundamental importância na organização desse novo jogo. A segunda dificuldade, no início das atividades, foi o trabalho em equipe, sempre existia a exclusão de um colega pelo o outro.
O ponto relevante para os estagiários foi em relação à superação diante da competição. Houve muito diálogo na brincadeira, o que permitiu ao aluno interação e cooperação. Para os estagiários, a cooperação obriga uma organização sistematizada em equipe, na qual o desejo de todos é desenvolver um espírito de grupo; um precisa do auxílio do outro, superando os pontos negativos. Aquela exclusão em relação ao outro praticamente ficou extinta, preponderou a idéia de equipe.
Por fim, no projeto "Práticas Corporais, Criatividade, Autonomia", os estagiários apontam para uma nova perspectiva da Educação Física Humanista. Priorizaram o desenvolvimento da criatividade e autonomia da criança. Defenderam uma Educação Física voltada para o desenvolvimento da possibilidade do indivíduo interagir e intervir no meio social de forma substancial, objetiva, motora e dos diversos princípios que norteiam a prática pedagógica humanista. Por outro lado, visaram uma prática educativa na singularidade e na interdisciplinaridade, ao atender a multiplicidade dimensional no indivíduo enquanto jogava e brincava. Possibilitaram a desconstrução e a reconstrução das práticas corporais, considerando que nessa fase da vida os estímulos geram um formato cerebelar mais rico, com um número maior de conexões que perduram por toda a vida.
Ao comparar os artigos das três duplas de estagiários constata-se que cada dupla centra foco em diferentes autores e teorias do jogo. Focaram a criatividade, a ficção e a cognição; o jogo e a teoria Plural/Antropológica (Daólio 1995); e a criatividade, autonomia a partir do método síncrese-análise-síntese. Todos os projetos apresentaram dificuldades em relação às tarefas planejadas, mesmo assim conseguem propor e desenvolver experiências significativas com essa temática. Como os acadêmicos ainda estão em um processo de formação é preciso considerar que o estágio consiste em um momento de realizar experiências que contribuam para o seu desenvolvimento e para a melhoria no trato pedagógico da disciplina Educação Física no ambiente escolar.
Considerações finaisAtravés deste trabalho pretendeu-se mostrar que jogo e brincadeira são fundamentais no desenvolvimento da criança. Estes estão inseridos na vida do indivíduo desde o seu nascimento, no contexto social, como também, no seu comportamento. A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelecem desde cedo com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, o jogo e a brincadeira são atividades humanas nas quais as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos. Talvez por isso os estagiários escolheram essa temática para desenvolver seus projetos de estágio.
Nesta perspectiva, foi possível notar que a brincadeira estabelece um vínculo entre aluno-professor e aluno-escola. Intercâmbios que na própria escola vão surgindo, a partir das diferentes histórias de vida das crianças, dos pais e dos professores.
Foi possível constatar, na análise dos artigos, que nos aspectos cognitivo, social, afetivo, lingüistico e motor as atividades lúdicas são importantes. Neste sentido, tomar consciência desse processo requer, na verdade, mudanças em cada um de nós. Essas mudanças estão nas vivências pessoais para resgatar e incorporar o espírito lúdico em nossas vidas.
Por meio da Educação Física, com um projeto bem estruturado, pode-se educar para o convívio, trabalhar a formação de valores e nas brincadeiras trabalhar as relações interpessoais.
Os projetos analisados neste estudo mostram que o jogo acontece na vida da criança e do jovem como fonte de conhecimento extremamente prazeroso. Neste sentido é importante que as atividades de Educação Física priorizem a atitude lúdica e cultural/local dos alunos.
Por fim, ao analisar os artigos finais do estágio realizado na Escola Municipal Lenival Correia Ferreira na cidade de Gurupi-TO, na disciplina didática e prática de ensino I, no segundo semestre de 2005, considera-se que os projetos conseguiram aprofundar na temática jogos e brincadeiras e consideraram autores e teorias importantes no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
Este estudo possui limitações de ordem metodológica na medida em que buscou elucidar um processo qualitativo de análise de conteúdo dos projetos desenvolvidos no estágio do curso de graduação em Educação Física. É preciso considerar que as experiências nesta disciplina ainda são novas e passam por momentos de reorganização.
Recomendamos que novos estudos referentes ao estágio desse e de outros cursos sejam realizados para contribuir no processo de planejamento e de avaliação do mesmo.
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· N° 108 | Buenos Aires,
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