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Peculiaridades tipológicas do sistema nervoso como
índices de predisposição ao desenvolvimento da depressão

   
Universidade do Contestado - SC.
(Brasil)
 
 
Iouri Kalinine  
Galina Kalinina  
Janete Kuhn Dos Santos Rigo  
Eduardo Kalinine
kalinin@uncnet.br
 

 

 

 

 
Resumo
     As peculiaridades tipológicas do sistema nervoso já há tempo são utilizadas na ciência do treinamento esportivo como índices de tolerância dos atletas contra estresse de competição. O estresse é uma das causas principais do desenvolvimento da depressão pelo ser humano. O objetivo desta pesquisa foi verificar se existe relação significativa entre depressão e peculiaridades tipológicas básicas do sistema nervoso do ser humano. A amostra foi composta por quinze sujeitos do sexo feminino do Município de Concórdia com diagnóstico de depressão moderada e grave. O instrumento metodológico utilizado para determinação das peculiaridades tipologias básicas do sistema nervoso, tais como: Força dos Processos de Excitação (FPE), Força dos Processos de Inibição (FPI), Mobilidade (M) e Equilíbrio (E) foi o "Questionário de Strelau". Para determinar o nível de depressão foram utilizadas as fichas médicas dos sujeitos da amostra que foram oferecidas pelo médico com quem eles fizeram o tratamento. Os resultados da pesquisa mostraram que o desenvolvimento de depressão no ser humano depende de suas peculiaridades tipológicas do sistema nervoso. De quinze sujeitos com nível de depressão moderado e grave, quatorze tiveram os níveis de FPE e FPI baixos e muito baixos. Conclusão: As peculiaridades tipológicas básicas do sistema nervoso podem ser utilizadas como índices de predisposição ao desenvolvimento da depressão no ser humano.
    Unitermos: Peculiaridades tipológicas. Sistema nervoso. Depressão.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007

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Introdução

    "A depressão é uma doença da mente e do corpo. Muitas pessoas têm ambos os sintomas, físicos e psicológicos, mas a natureza exata da doença varia de uma pessoa para outra". (MCKENZIE, 2001, p. 10). Os sintomas psicológicos da depressão são: baixo-astral, perda de interesse nas coisas que você costumava apreciar, ansiedade, embotamento emocional, problemas de concentração e de memória, delírios, alucinações, impulsos suicidas. Os sintomas físicos da depressão são: problemas com o sono, lentidão mental e física, aumento ou falta de apetite, aumento ou perda de peso, perda de interesse no sexo, cansaço, constipação, irregularidade na menstruação. (MCKENZIE, 2001).

    A depressão é uma doença séria, ela afeta o indivíduo como um todo, pois pode comprometer o pensamento, comportamento, humor, os sentimentos e, também a saúde física. (BALLONE, 2002). Segundo WHO (2001, p. 9), "A depressão grave é atualmente a principal causa de incapacitação em todo mundo e ocupa o quarto lugar entre as dez principais causas de patologia, a nível mundial".

    Apesar da depressão ter uma prevalência alta na população geral ela não é reconhecida por muitos como uma doença. Estima-se que 30% dos pacientes, vistos por um medico clínico geral, sofram de depressão, pois a depressão é mascarada e os pacientes apresentam apenas queixas somáticas. (WHO, 2000).

    Atualmente existem tratamentos adequados da depressão, sendo fundamental saber reconhecê-la o mais cedo possível. O WHO (2001, 2003) recomenda a realização do diagnóstico do desenvolvimento da depressão e a intervenção precoce para sua prevenção.

    Segundo Ballone, (2002, p.8) "Saber como, exatamente, a pessoa apresenta sua depressão é uma questão complicada. Como dissemos, as manifestações depressivas são muito variadas e extremamente dependentes da personalidade de cada um." Mas uma causa no desenvolvimento da depressão sempre está presente, isto é um estressor muito forte ou não tão forte mas prolongado. (MCKENZIE, 2001; BALLONE, 2002; MANDLHATE, 2002).

    Desta forma um bom índice de diagnóstico precoce no desenvolvimento da depressão pode ser o índice de tolerância contra estresse.

    Segundo Pavlov (1951), Gurevitch (1970), Viatkin (1978), Ilhin (2001), Kalinine (2002) a tolerância contra estresse depende de tais peculiaridades tipológicas básicas do sistema nervoso como Força dos Processos de Excitação (FPE) e Força dos Processos de Inibição (FPI). Quando são mais altos FPE e FPI do sistema nervoso do ser humano mais tolerante ele contra qualquer tipo de estresse.

    Objetivo da pesquisa foi verificar se existe relação significativa entre depressão e peculiaridades tipologias básicas do sistema nervoso central do ser humano.

    Se for verificada a existência da relação significativa entre a depressão e peculiaridades tipologias básicas do ser humano os especialistas receberão um instrumento para detectar precocemente as pessoas com tendências de desenvolver a depressão, dando ênfase para sua prevenção.


Metodologia

    A amostra da pesquisa foi composta por 15 sujeitos do sexo feminino com diagnóstico de depressão e em tratamento no Programa de Saúde Mental do Município de Concórdia, com idade entre 23 a 70 anos de idade.

    A pesquisa foi realizada em 3 fases:

    Na primeira fase foi detectado o nível de depressão dos sujeitos da amostra. Para isso foram utilizadas as fichas médicas dos sujeitos da amostra.

    Na segunda fase foram detectados os níveis de tais peculiaridades tipológicas básicas dos sujeitos da amostra como Força dos Processos de Excitação (FPE), Força dos Processos de Inibição (FPI), Mobilidade (M) e Equilíbrio (E).

    Para estes fins foi utilizado o Questionário de Strelau (versão brasileira). A tradução da versão russa foi realizada por João Carlos da Silveira Cavalcante da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÏ - Ijuí.

    A validação para o idioma brasileira do "Questionário de Strelau" realizou-se mediante a aplicação da versão russa e da versão portuguesa em 11 pessoas que dominavam ambos os idiomas. O coeficiente de correlação foi de r = 0,94; p < 0,01. (KALININE et. al., 1993).

    Na terceira fase foi realizado a análise comparativa dos dados adquiridos com dados de população feminina de Concórdia em geral.

    Para tratamento estatístico foram utilizados os métodos da estatística matemática paramétrica (média, desvio padrão, teste "t" de Student para amostras independentes).


Resultados e discussões


    Os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2 mostram que:

  1. De 15 sujeitos pesquisados 40 % estão com nível de depressão Moderado e 60% estão com nível de depressão Grave.

  2. Força dos Processos de Excitação (FPE) dos sujeitos da amostra, em média, tem nível muito baixo e em 26,0 % (p < 0,01) é inferior de que FPE das sujeitas sadias do sexo feminino da mesma cidade.

  3. Força dos Processos de Inibição (FPI) dos sujeitos da amostra, em média, tem nível baixo e em 18,4 % (p < 0,01) é inferior de que FPI das sujeitas sadias do sexo feminino da mesma cidade.

  4. Mobilidade (M) dos sujeitos de amostra, em média, tem mesmo nível de M das sujeitas sadias do sexo feminino da mesma cidade. A diferença de 3,9 % não tem confiança (p > 0,05).

  5. Equilíbrio (E) dos sujeitos de amostra, em média, em 10,2 % (p < 0,01) é inferior de que E das sujeitas sadias do sexo feminino da mesma cidade.

    Segundo classificação dos temperamentos de Pavlov (PAVLOV, 1951), de 15 sujeitos pesquisados 12 são melancólicos, um sangüíneo e dois intermediários.

    Esses achados estão de acordo com os dados de Mckenzie (2001) e Ballone (2002) que afirmam que as pessoas em depressão possuem fortes traços de melancolia. Segundo Ballon (2002, p. 24), "A pessoa portadora de traços melancólicos, sensibilidade excessiva terá maior probabilidade de desenvolver um quadro depressivo mais crônico e mais atrelado à personalidade, portanto, terá uma evolução mais desfavorável".

    Segundo Pavlov (1951), Gurevitch (1970), Viatkin (1978), Ilhin (2001), Kalinine (2002), os sujeitos possuidores de FPE e FPI do sistema nervoso com níveis baixo e muito baixo são melancólicos e têm baixo nível de tolerância contra estresse. Os sujeitos possuidores de FPE e FPI do sistema nervoso com nível intermediário têm nível médio de tolerância contra estresse. E os sujeitos possuidores de FPE e FPI do sistema nervoso com nível alto são sangüíneos e têm nível alto de tolerância contra estresse.

    Nessa pesquisa existe um sujeito (NN) possuidor de sistema nervoso com níveis altos de FPE e FPI e, segundo Pavlov (1951), Gurevitch (1970), Viatkin (1978), Ilhin (2001), Kalinine (2002), deveria ter alto nível de tolerância contra estresse, mas está em depressão moderada. Infere-se que isso aconteceu, provavelmente, devido ao estresse muito forte e prolongado em que ele foi submetido.

    Os dados achados mostram que as peculiaridades tipológicas básicas do sistema nervoso do ser humano podem ser utilizadas como índices de predisposição ao desenvolvimento da depressão, no tempo, quando ela ainda não se manifestou.

    Tais dados permitem diagnosticar a predisposição ao desenvolvimento da depressão do ser humano ainda na infância, pois existem instrumentos que permitem detectar as peculiaridades tipológicas básicas do sistema nervoso da criança a partir de oito anos de idade (Strelau, 1982; Nebylitsin 1991; Ilhin, 2001).

    Neste caso, a intervenção precoce de prevenção ao desenvolvimento da depressão deve ser baseada, principalmente, na educação os hábitos sólidos da prática sistemática das atividades físicas, ainda na infância, com finalidade de sentir essas necessidades em toda sua vida posterior, pois a atividade física, segundo Mckenzie (2001) e Wilkinson (2001), é um dos meios não medicamentosos que são mais efetivos no controle do estresse e da depressão.


Conclusão

    As peculiaridades tipológicas básicas do sistema nervoso podem ser utilizadas como índices de predisposição ao desenvolvimento da depressão no ser humano. Os sujeitos de sexo feminino possuidores de tipo de sistema nervoso central com níveis baixos e muito baixos da Força dos Processos de Excitação e da Força dos Processos de Inibição tem maior predisposição ao desenvolvimento de depressão de que aqueles que têm níveis intermediário, alto e muito alto.


Referências bibliográficas

  • BALLONE, G. J. Depressão. in PsiqWeb, Psiquiatria Geral, disponível na Internet em http://www.psiqweb.med.br/deptexto.html, atualizado em 2002, Acessado em 10/04/2004.

  • GUREVITCH, K. M. Aptidão profissional e as peculiaridades básicas do sistema nervoso. Moscou: Ciência, 1970. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • ILHIIN, E.P. Psicofisiologia diferencial. São Piterburgo: Piter, 2001. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • KALININE, I., MARTINS, M. & VIEIRA, R.M. Pesquisa das Peculiaridades Psicofisiológicas em estudantes e professores do Brasil e análise comparativa de semelhantes características dos estudantes e professores da Rússia. I SEMINÁRIO INTERNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA. Ijuí, RS. Relatório. Ijui: UNIJUÏ, 1993, p.83 -88.

  • KALININE, I. Nível de saúde psíquico dos atletas de handebol e seus desempenhos esportivos nos Jogos Olímpicos em Sidney. Coletânea de textos em estudos olímpicos / Editores Márcio Turini, Lamartine DaCosta. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002.

  • MANDLHATE, C. Novos conhecimentos novas esperanças. Brazzaville: Organização Mundial da Saúde. Escritório Regional Africano, 2002. Disponível em http://www.afro.who.int/mentalhealth/publications/respostas_web_novas_esperancas.pdf. Acesso em 11/04/2006.

  • MCKENZIE, K. Guia da Saúde Familiar. DEPRESSÃO. Tradução: May Brooking Negrão. São Paulo: Grupo de Comunicação Três S.A., 2001.

  • MERLIN, V.C. O esboço da Teoria de Temperamento. Permh Leningrado: Medicina, 1973. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • PAVLOV, I.P. Obras Completas. Moscou, Leningrado, Isd. da Academia das Ciências da URSS, 1951. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • NEBYLITSIN, V.D. Peculiaridades básicas do sistema nervoso. Moscou: Pedagogia, 1991. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • STRELAU, I. A. O Papel do Temperamento no Desenvolvimento Psíquico. Moscou: Progress, 1982. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • VIATKIN, B. A. O papel do temperamento na atividade esportiva. Moscou : Cultura Física e Esporte, 1978. (Título traduzido de idioma russo pelo autor de artigo, Iouri Kalinine).

  • WNO. Prevenção do suicídio: Um manual para médicos clínicos gerais. 2000, Disponível em http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/em/suicideprev_gp_port.pdf. Acesso em 03/03/2006.

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  • WHO. Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial/ Organização Mundial da Saúde: Brasília, 2003. Disponível em http://www.who.int/chronic_conditions/em/iccc_exec_summary_port.pdf. Acesso em 11/04/2006.

  • WILKINSON, G. Guia da Saúde Familiar. STRESS. Tradução: Cristina M. Morgan. São Paulo: Grupo de Comunicação Três S.A., 2001.

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