Efeito da ginástica laboral no estresse | |||
*Mestranda em Ciência da Motricidade. Universidade Estadual Paulista - RC. **Doutora da Universidade Estadual Paulista - RC. ***Mestre da Universidade Federal do Mato Grosso. (Brasil) |
Kátia Tanaka* Silvia Deutsch** Priscila Carneiro Valim*** katinhalua@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007 |
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Introdução
Com o processo de modernização e o desenvolvimento tecnológico, o mercado de trabalho tornou-se extremamente competitivo. O aumento do número de máquinas trouxe uma significativa redução do número de funcionários e uma conseqüente sobreposição de funções e conhecimentos exigidos a cada um, por parte da empresa. Vive-se hoje num período de transição, no qual antigos e novos paradigmas convivem provocando grandes crises onde a competência tem sido sinônimo de sobrevivência. Com isso, o trabalhador ficou exposto a diversos agentes estressores, que poderiam desencadear em quadro de estresse - considerado como um conjunto de respostas ou sintomas do organismo, a toda e qualquer mudança, a qual o indivíduo precise se adaptar (Davis, Eshelman & Mckay, 1996).
Ao contrário do que muitos pensam, o estresse não tem apenas uma conotação negativa; trata-se de uma reação de defesa natural do organismo, uma resposta não específica a um estímulo externo de grande importância para a vida.
Quando o homem se sente em perigo, ameaçado não apenas por predadores, mas também pela violência urbana, o trânsito, excesso de trabalho, falta de tempo e dinheiro, as informações deste perigo chegam ao cérebro fazendo com que ele se "defenda". O mecanismo de defesa acontece ao nível do Sistema Nervoso Central, mais especificamente no Sistema Nervoso Simpático, onde o fator liberador de corticotrofina estimula a hipófise anterior a liberar o hormônio ACTH (hormônio Adrenocorticotrópico) na corrente sangüínea, que irá estimular as glândulas supra-renais a secretarem substâncias como os corticóides e as catecolaminas. Essas substâncias preparam o organismo para agir, fazendo vaso-constrição, dilatando os alvéolos pulmonares e acelerando a respiração e a freqüência cardíaca. Além disso, o hormônio ACTH faz com que o fígado transforme o glicogênio armazenado em glicose para os músculos e o cérebro; a adrenalina inibe as regiões do sistema nervoso responsáveis pelo sono; as pupilas se dilatam e o estômago passa a produzir suco gástrico bloqueando a sensação de fome. O problema existe quando esta reação ocorre constantemente. A situação se agrava devido a descarga hormonal constante sobre as glândulas supra-renais, sobrecarregando-a. Isso faz com que ela deixe de trabalhar equilibradamente, deixando as defesas do corpo vulneráveis a doenças. Para isto, a glândula hipófise libera substâncias que atrofiam o timo, sendo este responsável pela identificação de microorganismos estranhos. Já os hormônios corticóides acarretam em um mau funcionamento dos linfócitos B, estes que atacam os invasores. Ao enfraquecer as defesas do organismo, também facilita o aparecimento de doenças de predisposição como o Câncer (Oshima, Silva, Semedo & Thomas, 2001; Ballone, 2002).
Os agentes estressores podem ser decorrentes de fontes situacionais - pela importância que se dá a um certo evento e pelas incertezas que circundam o resultado deste evento - e de fontes pessoais, ou seja, as pessoas percebem diferentemente a importância e incertezas de uma mesma situação (Weinberg & Gould, 1995).
A grande quantidade de funções acumuladas com o conseqüente aumento de responsabilidades, não são os únicos agentes estressores. Os trabalhadores sofrem influências do meio ambiente, como o excesso de pessoas em um mesmo ambiente, barulho, temperatura, exigências interpessoais, além de influências fisiológicas, como falta de exercícios, menopausa para as mulheres, envelhecimento, doenças, acidentes, nutrição deficiente, e também fatores psicológicos, como a maneira de interpretar, perceber e rotular as próprias experiências atuais e futuras. A combinação desses fatores pode trazer uma visível queda de rendimento e, a longo prazo, acarretar patologias, como problemas cardiovasculares e respiratórios, debilitando a pessoa ainda mais. Todos esses fatores levam o trabalhador a apresentar altos índices de estresse. (Davis, Eshelman & Mckay, 1996).
Um dos recursos que pode proporcionar resultados satisfatórios na redução dos índices de estresse apresentados pelo trabalhador é a Ginástica Laboral, também conhecida como ginástica do trabalho. Ela é destinada ao bem estar físico, psicológico e social do trabalhador (Cañete, 1996). A Ginástica Laboral é definida como uma seqüência de exercícios diários que melhora as capacidades e funções corporais para a realização do trabalho, prevenindo assim, distúrbios osteomusculares como o Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT), compensando os vícios posturais, mantendo o condicionamento físico e a integridade física do trabalhador, além dos benefícios psicológicos e sociais alcançados (Polito & Bergamaschi, 2002).
Nos últimos anos, a Ginástica Laboral tem sido alvo de grandes pesquisas buscando melhorar a qualidade de vida do trabalhador em seu ambiente de trabalho, interferindo no cotidiano repetitivo, monótono, cercado de agentes estressores. Mas, para que as aulas não se tornem em mais um ambiente monótono e repetitivo, os profissionais têm buscado constante inovação e aperfeiçoamento em relação as suas técnicas, visando atender as expectativas dos participantes.
Assim, este estudo busca verificar a influência da prática de um programa de Ginástica Laboral na redução dos possíveis índices de estresse do trabalhador, visto que o mesmo está inserido em um ambiente de agentes estressores, onde a saúde e a qualidade de vida acabam sendo deixadas em segundo plano.
MétodoO estudo foi realizado em uma empresa química e farmacêutica de pequeno porte, localizada na cidade de São Paulo (capital). A amostra foi composta por 34 participantes, sendo 11 do sexo feminino e 23 do sexo masculino. A média de idade era de 30,27 e 29,04 anos respectivamente. Todos os participantes eram do setor de produção, onde a rotina diária apresentava tarefas como embalar produtos químicos.
Foi utilizado o Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) (Lipp, 2000) para avaliação do estresse. Este é composto por 3 partes. Na primeira parte são apresentados sintomas, mas que serão apontados pelos participantes apenas aqueles percebidos nas últimas 24 horas. Na segunda parte, os participantes apontaram sintomas percebidos na última semana. Já na terceira parte, serão apontados sintomas apresentados no último mês.
Os participantes foram divididos, aleatoriamente, em dois grupos: um Grupo Treinado (GT) composto for 18 funcionários, e um Grupo Controle (GC) composto por 16 funcionários. Ambos os grupos receberam o inventário (ISSL), uma caneta e as instruções verbais no início do experimento. Juntamente com o inventário, foram solicitados alguns dados pessoais como: nome, idade e sexo.
Após um período de observação durante a jornada de trabalho, com o intuito de verificar os grupos musculares que estavam sendo mais solicitados, foi elaborado o programa de Ginástica Laboral.
Em geral, ao iniciar um processo de implantação de um programa de Ginástica Laboral, a expectativa das empresas esta, principalmente, relacionada a redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, e um conseqüente aumento da produtividade (Briazgounov, 1988). A partir do momento em que se inicia a realização das aulas de Ginástica Laboral, ocupando 10 minutos do horário de trabalho, os empresários alegam que, em função disso, haveria queda da produtividade. Portanto, a saúde e qualidade de vida do trabalhador acabam ficando em segundo plano.
Para que houvesse aceitação por parte da empresa, foi apresentado um projeto e uma palestra a todos os colaboradores da mesma, salientando os possíveis benefícios que esta atividade pode proporcionar como: redução de acidentes; redução do absenteísmo; aumento da motivação; prevenção contra lesões; etc., apesar da pausa durante o expediente. O objetivo foi a conscientização sobre a importância do programa de Ginástica Laboral e a partir disso, empresário e funcionários em conjunto, decidiram que a realização das aulas seriam no início do expediente, com duração de 10 minutos. Não houve resistência por parte de nenhum participante do programa.
Sendo assim, o GT foi submetido a uma sessão diária de 10 minutos de Ginástica Laboral, realizada 5 dias da semana, no início do expediente, durante um mês. As aulas foram realizadas no próprio local de trabalho. Já o GC continuou com suas atividades laborais normalmente.
Após um mês de experimento, ambos os grupos (GT e GC), responderam novamente ao ISSL.
Os dados foram analisados com base na estatística não-paramétrica, através do Teste de Wilcoxon, para verificar as possíveis diferenças nos números de sintomas de estresse após cada situação experimental (Siegel, 1975).
Resultados e discussãoDe acordo com as instruções deste instrumento, o diagnóstico de estresse é realizado a partir de um conjunto de sintomas apresentados pelo indivíduo em determinado espaço de tempo. Abaixo segue-se a tabela (A) referente ao número de sintomas de estresse contidos no ISSL que inclui o indivíduo em determinada fase de estresse.
Portanto, sintomas isolados não representam um diagnóstico de estresse.
Todos os participantes foram considerados para a análise, para que também fossem avaliadas às possíveis alterações que pudessem ocorrer nos indivíduos não estressados, em função do experimento e por fazerem parte do mesmo ambiente de trabalho dos demais.
Em relação ao GT (n=18), antes da situação experimental, 61,11% (n=11) apresentou sintomas de estresse e 38,89% (n=7) não apresentou estresse. Os participantes do GC (n=16), apresentou 56,25% (n=9) com sintomas de estresse e 43,75% (n=7) não apresentou sintomas de estresse.
Ao término da situação experimental, o GT apresentou 11,11% (n=2) sintomas de estresse, e 88,89% (n=10) não apresentou estresse. Veja tabela B abaixo:
Quanto as fases de estresse, ambos os grupos, tanto antes quanto após a situação experimental, apresentaram-se nas seguintes fases (Tabela C):
A partir disso, nota-se que a maioria dos participantes estressados estavam na fase de Resistência. Nesta fase, segundo Lipp (2000), o organismo está procurando uma adaptação com o esforço do organismo para restabelecer a homeostase interna. A pessoa que se encontra nesta fase experimenta, dentre outros sintomas, a sensação de desgaste e cansaço, tanto físico quanto psicológico.
Estes resultados retratam as respostas as condições do ambiente de trabalho da maioria das empresas nos dias de hoje, como: ritmo de trabalho penoso, desacordo com patrão e colegas de trabalho, ameaça de perda de emprego e má adaptação aos horários de entrada e saída.
Através do ISSL, obteve-se os resultados totais de sintomas de estresse apresentados pelos trabalhadores no início e término de cada situação estudada.
O GC total (n=16) apresentou em média 6,75 sintomas de estresse antes e 6,81 sintomas após a situação experimental. O GC estressado (n=9), apresentou em média de 9,77 sintomas antes e 8,44 sintomas após a situação experimental.
A partir do Teste de Wilcoxon, pode-se constatar que não houve diferenças significativas entre o início e o término da situação experimental no GC estressado (z=-1,47 e p>0,05). Nota-se que houve um aumento dos sintomas de estresse com relação ao GC total. Isto se deve ao fato do aumento de sintomas das participantes que, a princípio, não estavam estressados e, posteriormente, ficaram estressados.
O GT total (n=18), antes da participação do programa de Ginástica Laboral, apresentou, em média, 9,16 sintomas e após passou a apresentar 6,81 sintomas de estresse. O GT estressado (n=11), apresentou, em média, 13,72 sintomas antes da situação experimental e após apresentou uma média de 7,36 sintomas de estresse.
Através dos resultados do Teste de Wilcoxon, pode-se verificar diferenças significativas entre o início e o término da situação experimental (z=-2,93 e p<0,01).
Os resultados até aqui apresentados podem ser verificados na Tabela D:
Observa-se, a partir dos resultados acima, uma significativa redução dos sintomas de estresse dos trabalhadores que participaram do Programa de Ginástica Laboral e verifica-se, assim, a importância da prática de atividade física durante a jornada de trabalho.
Segundo Deutsch (1991), a atitude do trabalhador em praticar atividade física, apresenta uma relação positiva em relação ao seu comportamento. Esta prática deve ser livre e voluntária, contribuindo também, nos aspectos sociais, como as relações entre funcionários.
Neste estudo, todos os participantes tiveram livre escolha de sua participação no programa de Ginástica Laboral, sendo que uma vez iniciado, não houve interrupções durante este período (referente a um mês de experimento).
Atividades de alongamento (uma das atividades do programa proposto) apresentou feedback positivo por parte dos funcionários, principalmente em relação ao interesse desta atividade. Para Anderson (1998), o alongamento mantém os músculos tonificados e as articulações flexíveis, fazendo com que diminua os riscos de lesões, facilite o trabalho, desenvolvendo assim, a consciência corporal.
Outro exercício, adotado neste programa e de grande valia no controle do estresse, foi a respiração. Aprender respirar corretamente, ou seja, lenta e profunda, segundo Krucoff (2001), auxilia no ritmo cardíaco, controlando a pressão arterial, relaxando os músculos, cessando a ansiedade e acalmando a mente. Em exposições a agentes estressores, a respiração tende a ser ofegante e superficial. O controle da respiração, nestas situações, poderia ser uma das explicações para a redução de alguns sintomas de estresse.
Existem outras atividades que também podem auxiliar no controle do estresse, como yoga, a meditação, a massagem, até a prática de esportes. Mais importante que isto, é aprender a lidar com os agentes estressores.
ConclusãoPôde-se perceber que o Programa de Ginástica Laboral, através da atividade física, foi de grande valia em relação aos sintomas de estresse apresentados pelo trabalhador.
Nesta pesquisa, os fatores avaliados mostraram bons resultados após a implantação da Ginástica Laboral. Uma sugestão para novos estudos seria em relação a duração do experimento. Um período mais longo que um mês poderia trazer resultados mais significantes e profundos, devido as possíveis adaptações ao trabalho e as mudanças dos hábitos dos funcionários.
Observou-se também, que nos sintomas apresentados pelos participantes deste estudo, havia relação direta com o trabalho desenvolvido. Apesar disto, através da Ginástica Laboral, estes sintomas foram reduzidos significativamente.
Conclui-se, a partir deste estudo, que a Ginástica Laboral foi eficaz na redução dos sintomas físicos e psicológicos, até mesmo nos níveis de estresse da população alvo, verificando que esta também pode ser utilizada como uma técnica preventiva contra os agentes estressores.
Referências bibliográficas
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Ballone GJ. Estresse: caderno especial. 2002. [acesso em 2006 jul 18]; [21 telas]. Disponível em: www.psiqweb.med.br/cursos/fisio.html.
Briazgounov IP. The role of physical activity in the prevention and treatment of noncommunicable diseases. World Health Statistics Quarterly. 1988; 41 (3-4): 242-50.
Cañete I. Humanização: desafio da empresa moderna - a Ginástica Laboral como um novo caminho. Porto Alegre: Foco; 1996.
Davis M, Eshelman ER, Mckay M. Manual de relaxamento e redução de stress. São Paulo: Summus; 1996.
Deutsch S. Atitude dos trabalhadores de indústrias têxteis quanto à prática da atividade física no tempo livre. [Dissertação]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1991.
Krucoff C. O melhor remédio para o estresse pode estar debaixo do seu nariz. Seleções 2001; 115-19.
Lipp MEM. Manual do Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) . São Paulo: Caso do psicólogo; 2000.
Oshima DM, Silva IC, Semedo P, Thomas VJC. Estresse. 2001 [acesso em 2006 jul 18]; [9 telas]. Disponível em: www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2001/grupo2/oquee.htm.
Polito E; Bergamaschi EC. Ginástica Laboral. Teoria e prática. Rio de Janeiro: Sprint; 2002.
Siegel S. Estatística não-paramétrica para Ciências do Comportamento. São Paulo: Makron; 1975.
Weinberg RS, Gould D. Foundation of sport and exercise psychology. 10ª ed. Illinois: Human Kinetics; 1995.
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· N° 108 | Buenos Aires,
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