A postura corporal estática e o perfil antropométrico do pé de crianças em idade escolar |
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*Instituto de Ciências da Saúde. **Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas. Feevele, Novo Hamburgo - RS. (Brasil) |
Magali Monteiro da Silva* Valéria Zawadzki* Patrícia Estivalet* ** Luiza Seligman* ** magalipms@feevale.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007 |
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Introdução
Desde que adotamos a postura ereta bípede, temos sido desafiados pela força da gravidade para manter o equilíbrio do corpo sobre a pequena área de suporte delimitada pelos pés. Conforme Duarte1, a tarefa do sistema de controle postural é manter a projeção horizontal do centro de gravidade do indivíduo dentro da base de suporte definida pela área da base dos pés durante a postura ereta estática.
O pé e o tornozelo constituem a base de sustentação ou o alicerce do corpo humano. Proporcionam a estabilidade necessária para que possamos assumir a nossa postura ereta e singular, funcionando também, como ponto focal para a transferência do peso total do corpo durante a deambulação. O pé está adaptado para fornecer a flexibilidade necessária em solos irregulares e para absorver o impacto2.
Para cada indivíduo, a melhor postura é aquela em que os segmentos corporais estão equilibrados na posição de menor esforço e de máxima sustentação.
Os pés representam a base para uma boa postura, suporte fundamental para a posição bípede humana e peça essencial para a marcha. Pés debilitados causam posturas defeituosas gerais; perturbam a ação adequada dos músculos3.
Quando um indivíduo está em pé parado, ou seja, na postura ereta, apoiado igualmente sobre os dois pés descalços, toda a carga do corpo recai sobre os pés4. Nessa situação, há duas regiões onde o peso corporal (PC) é distribuído: o retropé, no qual é aplicado 57% do PC, e o antepé, que recebe 43% do PC.
Todos os tipos de posturas caracterizam-se principalmente por um aspecto essencial: o alinhamento correto da coluna vertebral. A avaliação postural é um meio de obter informações a respeito do sistema músculo-esquelético, se existem normalidades e/ou disfunções, que podem refletir sobre todo o organismo do indivíduo.
A antropometria refere-se à medida do tamanho e da proporção do corpo humano. Peso corporal e estatura são medidas de tamanho do corpo humano5. A antropometria do pé é feita através de um paquímetro, que mede basicamente a altura, o comprimento e a largura do pé.
Este artigo descreve a postura corporal estática e o perfil antropométrico do pé, por meio da identificação da altura, do comprimento e da largura do pé, da avaliação da coluna lombar e dos membros inferiores.
Materiais e métodosOs colaboradores deste estudo foram estudantes de duas escolas municipais e uma escola estadual, localizadas em uma cidade da serra gaúcha, compondo uma amostra de 53 indivíduos, sendo 28 do sexo masculino e 25 do sexo feminino. Os critérios de inclusão foram: alunos matriculados no ano de 2004, faixa etária de 10 a 11 anos (nascidos entre 01/01/1993 e 30/07/1994). Os critérios de exclusão foram: crianças portadoras de deformidades congênitas, tanto as que comprometem o arranjo postural, bem como as estruturas dos pés.
Este artigo baseia-se no paradigma quantitativo, observacional descritivo, com amostra probabilística. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: ficha de avaliação postural, posturógrafo, câmera digital e ficha de avaliação da antropometria do pé.
A avaliação postural foi realizada por meio de observação dos participantes diante de um posturógrafo e do uso de câmera fotográfica digital para o registro de imagens, sendo visualizadas as vistas lateral esquerda, anterior, lateral direita e posterior, onde os colaboradores vestiram traje de banho.
Para os registros fotográficos e avaliação postural, os colaboradores ficaram a 3 m de distância do pesquisador. Também foram desenhados traços horizontais no chão para alinhar o posicionamento do hálux, e perpendicularmente ao traço horizontal foram colocados outros dois traços com distância de 10 cm entre si, onde eram posicionadas as extremidades distais dos primeiros metatarsos. Foram desenhados vários pontos na parede à frente da criança, para que durante a avaliação postural, a mesma observasse um ponto de acordo com a altura dos seus olhos, evitando flexão ou extensão cervical indesejada.
Também foi realizada a avaliação dos pés, descalços, sendo avaliados por meio de paquímetro de 16 cm, de régua de 30 cm e de fita métrica, permitindo avaliar comprimentos, alturas, perímetros e larguras dos pés, tanto o direito como o esquerdo.
Resultados e discussãoA estatística descritiva compreendeu o cálculo das médias (x), desvio padrão (dp) e freqüência percentual (%). Utilizou-se o teste T de Student para amostras independentes, para comparar os resultados da média do comprimento do pé e da média do ponto de Paris. Foram consideradas significativas as diferenças com p < 0,05. As tabelas foram interpretadas por cálculo de diferença entre médias de acordo com o teste estatístico ANOVA do programa SPSS para "Windows" versão 12.0, cujos resultados foram representados nos gráficos e tabelas a seguir.
A figura 1 mostra, quanto à pelve, que 72% da amostra feminina e 50% da amostra masculina apresentam anteroversão.
Na figura 2, observou-se que 50% dos meninos e 72% das meninas têm aumento da lordose lombar.
Na pesquisa de Campos6, foi encontrada uma hiperlordose lombar em quase todas as crianças ,associada à anteroversão de pelve. Esta afirmação foi confirmada neste estudo, pois as figuras acima demonstram que o maior percentual de meninos e meninas apresentam, anteroversão de pelve e aumento da lordose lombar. Observou, também, em seu estudo que tanto meninos como meninas em idade escolar apresentam anteroversão de pelve, confirmando os resultados do presente estudo.
Observa-se que 71,43% (20 meninos) apresentam joelhos valgos e 48% (12 meninas) apresentam joelhos varos.
A figura acima mostra que a maioria das crianças, ou seja 76% das meninas e 75% dos meninos, apresentam joelho normal na vista lateral. Os meninos (21,43%) e as meninas (16%) apresentaram genu recurvatum; 3,57% dos meninos e 8% das meninas apresentaram genu flexum.
Segundo Smith7, normalmente uma pessoa pode ficar de pé com os joelhos estendidos ou em leve hiperextensão. A quantidade de hiperextensão depende da frouxidão da cápsula e dos ligamentos que limitam este movimento. Genu recurvatum é uma hiperextensão excessiva que se desenvolve na sustentação de peso sobre joelhos instáveis.
A figura 6 apresenta os resultados encontrados na avaliação do pé na vista anterior, onde identificou-se que 76% das meninas e 60,71% dos meninos apresentam pés evertidos.
Os resultados obtidos na figura 6 mostram que 76 % das meninas e 60,71% dos meninos apresentam diminuição do arco plantar.
Campos6 observou em seu estudo que o arco plantar modifica a postura, sendo extremamente importante ser flexível para absorver impactos, evitar lesões e proporcionar estabilidade. A maior alteração nos pés das crianças de 6 a 8 anos é a diminuição do arco plantar8. Neste estudo, esta diminuição foi constatada em crianças com idade entre 10 e 11 anos.
Na avaliação do Tendão de Aquiles na vista posterior apresentada na figura 7, constatou-se que 92% da amostra feminina e 50% da amostra masculina possuem o tendão de Aquiles medializado.
Um desequilíbrio do pé pode levar a alterações na posição do tendão de Aquiles na altura do arco plantar e na posição do pé na vista anterior. Assim, exemplificando, um desequilíbrio no retropé faz aparecer um ângulo aberto para fora, com uma inclinação mais importante para dentro, determinando um pé evertido9.
A tabela 1 mostra a diferença entre as médias das variáveis antropométricas do pé e as variáveis da avaliação postural da coluna lombar e dos membros inferiores. Estas variáveis foram separadas por gênero.
Verificou-se que os resultados entre as médias do Tendão de Aquiles com a altura da entrada do pé na amostra do gênero feminino teve diferença significativa, representado na tabela 1.
ConclusãoObservamos que o maior percentual de meninas e meninos apresentaram anteroversão, aumento da lordose lombar, diminuição do arco plantar e pés evertidos.
Na avaliação do tendão de Aquiles constatamos uma tendência à medialização do mesmo tanto na amostra masculina como na feminina.
Com base nos resultados obtidos na avaliação postural e na avaliação antropométrica do pé verificamos, na amostra feminina, uma diferença significativa entre a altura da entrada do pé e o tendão de Aquiles.
Devemos considerar os futuros hábitos de vida da criança, cada vez mais sedentária e seus efeitos sobre o crescimento e o desenvolvimento músculo-esquelético. Além disso, as alterações do pé e os desalinhamentos posturais podem limitar os movimentos funcionais, levando a adoção de posturas ineficientes durante o repouso e a predisposição aos traumatismos.
Referências
DUARTE, M. Análise Estabilográfica da Postura Ereta Humana Quasi-Estática. São Paulo: USP, 2000. Dissertação (Docência na área de Biomecânica), Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, 2000.
REIDER, B. O Exame Físico em Ortopedia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001
MIRANDA, E. Bases de Anatomia e Cinesiologia. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.
BRINO, CS. Influência De Diferentes Calçados Sobre Os Percentuais Da Força Peso Aplicados Na Base De Sustentação E A Postura Corporal Em Pé. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003.
HEYWARD, VH., STOLARCZYK, LM. Avaliação da Composição Corporal Aplicada. 1ª ed. São Paulo: Manole, 2000.
CAMPOS, DEO. Avaliação da Postura Corporal em Crianças de 5 a 10 Anos de Idade. Revista FisioBrasil. São Paulo, mai/jun 2004.
SMITH, LK. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5ªed. São Paulo: Manole, 1997.
XISTO, D. Alterações Posturais em Escolares. Revista Unicastelo. 4 (6), São Paulo, 2001.
SANTOS, A. Diagnóstico Clínico Postural: um guia prático. São Paulo: Summus, 2001.
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digital · Año 12
· N° 108 | Buenos Aires,
Mayo 2007 |