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Perfil de desenvolvimento e hábitos de vida de crianças de 10 a 12 anos da rede municipal de ensino de Joinville - SC

   
*Professor Mestre do Instituto Superior e Centro
Educacional Luterano Bom Jesus - IELUSC.
**Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciências do
Movimento Humano do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos UESC.
***Professor Mestre da Universidade do Contestado - UNC.
(Brasil)
 
 
Kelvin Nunes Soares*  
Marcia Silveira Kroeff**  
Simone Adriana Oelke***
kelvin@ielusc.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Determina o estado nutricional, crescimento físico, aptidão física e hábitos de vida de 3.752 escolares de 10 a 12 anos - Joinville/SC. Instrumentos: adequação do P/A e do A/I; estatura e peso (Guedes e Guedes, 1997); questionário EVIA adaptado por Torres (1996). O estado nutricional demonstrou prevalência a desnutrição. Na estatura, os meninos alcançaram o padrão de referência do NCHS. Para resistência aeróbia, força de membros inferiores e força e resistência abdominal o índice de boa saúde não foi alcançado pela maioria. Os hábitos de vida das crianças demonstram diferenciação sociocultural para os gêneros em todo o tipo de atividade.
    Unitermos: Hábitos de vida. Crescimento físico. Estado nutricional. Aptidão física.
 
Abstract
     It determined the nutritional profile, physical aptitude and life habits conditions of 3.752 school children ranging from 10 to 12 years old, from Joinville/SC. Instruments: P/A and A/I adaptation; height and weight (Guedes and Guedes, 1997); EVIA questionnaire adapted by Torres (1996). Children's nutritional profile demonstrated prevalence of malnutrition condition. Boys reached the height's reference pattern of NCHS. Concerning about aerobic resistance, inferior members strength and abdominal resistance, the minimum index of a good health was not reached by the majority of children. Children's life habits demonstrated great cultural and social differentiation between genders in every kind of activity.
    Keywords: Life habits. Physical growth. Nutritional condition. Physical aptitude.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 107 - Abril de 2007

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Introdução

    Diversos estudiosos tem tentado descrever como as crianças de um determinado contexto se desenvolvem, influenciadas pelas variáveis hereditárias e/ou características culturais e hábitos sociais. Nas ciências que estudam o movimento humano, alguns estudos se voltam a pesquisar padrões do desenvolvimento infantil que sejam utilizados para avaliar o desenvolvimento e o crescimento de populações específicas de crianças, determinando assim sua adequação aos padrões internacionais. Gallahue e Ozmun (2001) consideram o índice de crescimento físico de crianças como indicador de saúde, segundo eles, a determinação deste pode trazer benefícios uma vez que poderão ser detectadas crianças que não estejam dentro dos níveis propostos para cada idade.

    Aspectos nutricionais também rendem preocupações junto aos pesquisadores. As desordens alimentares, dentre elas a obesidade, podem provocar alterações constantes no desenvolvimento e no crescimento infantil. A obesidade é considerada doença nutricional predominante na América do Norte (GALLAHUE; OZMUN, 2001) e é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento futuro da arteriosclerose e de doenças cardíacas crônicas que contribuem para inúmeros resultados negativos da área da saúde. Pesquisas que analisam o perfil nutricional dos indivíduos, dentre outras coisas, estudam qual o acesso que as crianças tem a uma alimentação adequada. Os efeitos de um estado nutricional deficiente são muito graves e podem refletir-se no crescimento somático e no desenvolvimento das capacidades motoras das crianças.

    Outro tópico a ser considerado é a aptidão física relacionada à saúde. A aptidão física é vista por Nieman (1999) como uma capacidade de realizar as atividades diárias com vigor e está relacionado a um menor risco de doenças crônicas e que dentre os componentes desta aptidão pode-se relacionar a resistência cardiorrespiratória, força muscular, resistência muscular, flexibilidade e a composição corporal.

    Atualmente, deve-se levar em consideração às condições impostas pela sociedade moderna que vêm alterando hábitos e relações pessoais e sociais da criança e do adolescente onde em muitos casos, são levados a maus hábitos de vida, repercutindo em uma mudança de rotina que pode levar a má nutrição, obesidade, ociosidade e ao sedentarismo. Cabe então provocar a discussão e incentivar pesquisas que revelem fatores de influência no desenvolvimento infantil, criação de estratégias pedagógicas e na forma de oportunizar diversificação de atividades físicas.

    Face ao exposto e na intenção de delinear o perfil da população infantil de Joinville/SC e de subsidiar o planejamento das suas atividades físicas, visando um melhor desenvolvimento das crianças, pretende-se saber: "Qual o perfil de desenvolvimento e hábitos de vida de crianças na faixa etária de 10 a 12 anos de idade, no município de Joinville/SC, através das variáveis estado nutricional, crescimento físico, aptidão física e hábitos de vida?"

    Para tanto, tem-se como objetivo geral:

  • Determinar o perfil de desenvolvimento e hábitos de vida, segundo as variáveis estado nutricional, crescimento físico, aptidão física e hábitos de vida de crianças, na faixa etária de 10 a 12 anos de idade, da Rede Municipal de Ensino de Joinville/SC.

    E como objetivos específicos:

  • Verificar o estado nutricional de crianças;

  • Delinear o perfil de crescimento físico (peso, estatura e Índice de Massa Corporal);

  • Investigar os componentes da aptidão física, relacionados à flexibilidade articular, resistência muscular abdominal, força de membros superiores e inferiores e capacidade aeróbia;

  • Verificar os hábitos de vida relacionados a indicadores sócio-econômicos, organização do cotidiano, participação sócio-cultural, aspectos nutricional e prática esportiva.


Materiais e métodos

    A população deste estudo foi constituída pela totalidade das crianças regularmente matriculadas no ensino fundamental na Rede Municipal de Ensino de Joinville, na faixa etária de 10 a 12 anos de idade. Para definição da amostra, utilizou-se primeiramente a técnica de estratificação, onde a cidade de Joinville foi dividida em cinco regiões. Em seguida utilizou-se a técnica de conglomerado, onde sorteou-se uma escola por região, totalizando cinco escolas. A partir daí, todas as crianças das 4as, 5as e 6as séries foram selecionadas, obedecendo ao critério de idade proposto por Haeffner (1995). O estudo avaliou 3.752 estudantes.

    Os instrumentos de coleta dos dados foram os seguintes:

  • Estado nutricional : critérios de Waterlow (1976), pelo Software PED, que é um Sistema de Avaliação do Estado Nutricional em Pediatria, desenvolvido pelo Centro de Informática em Saúde da Escola Paulista de Medicina, com suporte da disciplina de Nefrologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina.

  • Avaliação nutricional foi feita considerando o referencial National Center for Health and Statistics (NCHS), recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica o grau de desnutrição do indivíduo conforme a adequação peso/altura (P/A) e altura/idade (A/I) e a classificação de Job e Pierson (1980).

  • Comportamento do crescimento físico foi verificado por meio do peso, estatura e IMC, sendo considerados a idade e o gênero, e foram discutidos levando-se em conta a população de referência (NCHS) e dados nacionais e internacionais.

  • Aptidão física foi utilizado como instrumento a bateria de testes sugerida por Guedes e Guedes (1997).

  • Padrão de saúde, deu-se por meio dos critérios mínimos de saúde estabelecidos pelo Physical Best americano.

  • Aspectos sócio-econômicos e sócio-culturais e mais especificamente ao cotidiano dos alunos, utilizou-se o Inventário EVIA - Estilo de Vida em Crianças e Adolescentes elaborado por Sobral (1992) modificado e adaptado à realidade brasileira por Torres (1998).


Resultados e discussões

    A. Estado nutricional

    A maioria das crianças, de ambos os gêneros, apresentou um estado de normalidade (eutrofismo) (39,03%). Quando se referencia a divisão por gênero, o índice dos meninos (38,4%) é pouco inferior ao demonstrado pelas meninas (39,7%), entretanto esses valores não são estatisticamente diferentes entre si, para o índice de significância adotado (0,05). Os resultados mais relevantes são os que apresentam um elevado índice de escolares com algum tipo de déficit nutricional, em ambos os gêneros, porém a obesidade também se faz presente e com valores expressivos.

    Os dados com relação à obesidade parecem requerer cuidados mais específicos, pois segundo Dietz (apud GALLAHUE; OZMUN, 2001) cerca de 80% das crianças obesas correm risco de se tornar adultos obesos. Por outro lado deve-se considerar que as crianças pesquisadas são de escolas públicas com peculiaridades de terceiro mundo e que a obesidade, não tem sido vista como um problema endêmico de classes menos favorecidas.

    Na comparação do estado nutricional entre os gêneros, os índices se mostram bastante semelhantes. Sendo que na categoria eutróficos as meninas demonstram pequena superioridade com relação aos meninos essa semelhança é referida por Malina e Bouchard (2002) que revelam que a massa corporal não apresenta diferença superior a 4% entre os gêneros. E na estatura a 2%. Essa semelhança também é confirmada pelos resultados encontrados nas variáveis de crescimento (peso e estatura).


    B. Crescimento físico

    Na comparação da estatura entre os gêneros, observa-se que os escores em ambos os gêneros são crescentes demonstrando assim, um crescimento linear dos sujeitos, e que as meninas mantiveram valores superiores aos dos meninos em todas as idades analisadas. Mas os resultados não assumem diferença estatisticamente significativa. Estudos apontam que a aceleração no crescimento ao final da infância, quando as crianças crescem cerca de 2,5 a 7,5 cm ano (PAPALIA; OLDS, 2000), seja a responsável pelas curvas obtidas.

     A superioridade das meninas é citada por Malina e Bouchard (1991) que acreditam que o aparecimento dos sinais do surto de crescimento entre as meninas aparece antes dessa fase, aos 9 anos, e nos meninos somente aos 11 anos. É provável que a aproximação das curvas com o passar das idades, até os 12 anos esteja indicando uma recuperação dos meninos, fruto de um pico de velocidade na altura (PVA) atrasado em relação as meninas. Isto significa que a maior altura das meninas entre 10 e 12 anos seja um fenômeno que possa ser atribuída a sua maturação sexual mais precoce em relação aos meninos.

    Quando comparados com o padrão de referência do NCHS, nota-se que os valores mostram inferioridade nas idades de 11 e 12 anos em ambos os gêneros, estabelecendo uma curva abaixo do critério de referência adotado. Torna-se claro que, embora exista uma elevação das curvas de crescimento das crianças deste estudo, as crianças com idades de 11 e 12 anos, não atingem o padrão de referência do NCHS. A partir do momento em que estes escolares não alcançam índices estabelecidos para crescimento, deve-se estar atento aos demais fatores do seu desenvolvimento. A fim de caso necessário, tomar medidas preventivas que auxiliem as crianças neste processo. Entende-se que os resultados possam expressar a existência de fatores que estejam inibindo o processo normal de crescimento e desenvolvimento das crianças. Deve-se estar atento a distúrbios que possam representar riscos potenciais a saúde das crianças, pois estas são mais suscetíveis a restrições do seu meio e que potencialmente poderão acarretar problemas em idades posteriores.

    Na comparação da massa corporal das crianças observa-se um aumento linear para as meninas enquanto os meninos demonstram uma curva com elevação acentuada somente a partir dos 11 anos. A recuperação dos meninos é percebida a partir dos 11 anos, e chegam a alcançar as meninas aos 12 anos, pode ser atribuída ao inicio da fase puberal para os meninos.

    Segundo Gallahue e Ozmun (2001) nesse período as meninas tendem a ter a largura do quadril maior e coxas mais volumosas, sendo que essa hipótese é respaldada por Papalia e Olds (2000) que afirmam que as meninas neste estágio ganham em média até 4,5Kg por ano, conservando um pouco mais tecido gorduroso do que os meninos, tornando-as, por isso, um pouco mais pesadas. Em nenhuma das idades na comparação de gêneros, foi encontrada diferença estatisticamente significativa.

    Quando se comparam os escores obtidos pelas meninas de Joinville com outros estudos realizados na região Sul do Brasil, percebe-se que mais uma vez estes se assemelham aos valores produzidos em Londrina (PR), mas inferiores aos demais estudos da comparação em todas as idades. Os baixos índices alcançados pelas crianças de Joinville quando comparadas a outras populações podem estar refletindo um nível nutricional preocupante encontrado no tópico anterior. Segundo Conceição (1994) quando uma criança é submetida à falta de alimentos ou qualquer outra deficiência alimentar, particularmente proteínas e carboidratos, é acometida de uma perda progressiva de peso, que gera um peso baixo em relação à estatura. Considerando os resultados obtidos no crescimento físico e no estado nutricional conclui-se que as crianças de Joinville não estão encontrando suporte energético-protêico adequado para o seu desenvolvimento integral.

    Os dados contidos na tabela 2 mostram que as crianças deste estudo mantiveram índices bastante semelhantes com o passar das idades, demonstrando, possivelmente, pouca variação na sua composição corporal.

    Comparando-se o IMC dos meninos de Joinville com o IMC dos meninos do estudo de Florianópolis (WALTRICK; DUARTE, 2000), percebe-se que esses mantiveram índice superior em todas as idades. Já os demais estudos desenharam curvas bastante semelhantes. As meninas de Joinville, por sua vez, apresentaram o menor ganho nos índices de massa corporal, pois chegam aos 12 anos demonstrando escores inferiores aos seus 10 anos e aos demais estudos.

    Percebe-se que as crianças de Joinville, de ambos os gêneros, mantiveram-se dentro da zona recomendável de boa saúde, observando-se o critério estabelecido pela AAHPERD (1988). No entanto cabe ressaltar que a massa corporal pode variar em cada indivíduo, pois ela não está necessariamente ligada ao ganho de tecido adiposo, mas também ao aumento da massa muscular e do tecido ósseo, como salienta Guedes e Guedes (1997).

    Com relação ao critério de sucesso/insucesso nota-se, que em ambos os gêneros o número de crianças que atingiu o índice de sucesso foi elevado, sendo 83% para meninas e 81,76% para os meninos. Como já fora demonstrado no estado nutricional, o índice elevado de desnutrição atual das meninas, (e na variável crescimento mostrando-se com índices abaixo do padrão criterial) tornando-se relevante o decréscimo obtido pelas mesmas no IMC. Essa queda relativa no índice pode estar indicando não só perda de tecido adiposo, mas também de massa muscular, o que poderá acarretar em fator adverso ao seu crescimento sadio.


    C. Aptidão física relacionada à saúde

    Vencidas as análises relacionadas ao crescimento físico, aborda-se nesse momento a aptidão física relacionada à saúde. Dessa forma os resultados dos componentes de boa forma física relativos à saúde serão apresentados a seguir. A resistência aeróbia, segundo a tabela 3, mostra os valores obtidos no teste de correr/andar 9/12', utilizado para investigar a capacidade aeróbia das crianças.

    No teste de resistência aeróbia, percebe-se que os meninos obtiveram escores superiores em todas as idades, sendo estas diferenças significativas na comparação. As diferenças entre os gêneros neste teste de desempenho motor podem estar desvelando a proximidade da idade puberal onde os possíveis efeitos já estejam se fazendo presentes. É fato que o maior acúmulo de tecido adiposo subcutâneo nas meninas, representado na maior massa corporal encontrada (verificado na variável crescimento físico), possam interferir negativamente nos seus resultados. Já os meninos parecem sentir menos esses efeitos, pois seus resultados foram superiores ao das meninas, talvez em função do aumento da secreção dos hormônios andrógenos peculiares ao seu período pré-puberal, e que pode estar agindo na melhora dos seus resultados.

    Os resultados reafirmam a hipótese de que a melhoria da resistência aeróbia se dê com o passar dos anos (BAR-OR, 1984) e que, diferente das meninas, os meninos continuam a melhor até a idade adulta. Os resultados chegam perto de configurar a idéia de que as meninas atingem seu platô de melhora da resistência cardiovascular por volta dos 12 anos. A estreita faixa etária analisada não nos permite prever o que poderia acontecer posteriormente. Mesmo que em ambos os casos percebam a melhora da resistência cardiovascular das crianças os índices ainda não foram satisfatórios, permanecendo sempre inferiores aos critérios de boa saúde estabelecidos para este estudo.

    Alerta-se para o fato de que os índices acima podem não estar representando apenas a falta de melhorias nos processos adaptativos, mas como também a ausência de reforçadores motivacionais para o teste realizado. Katch (apud GALLAHUE; OZMUN, 2001) levantou a hipótese de que o efeito motivador possa estar ausente antes da puberdade, em função da insuficiência de hormônios andrógenos na circulação. De fato percebe-se que os dados demonstram que as crianças, muito raramente, experimentam atividades físicas de intensidade suficiente para promover sua saúde cardiovascular.

    Ainda considerando a aptidão física, mais especificamente a força e a resistência de membros superiores, os resultados mostraram que os meninos obtiveram valores superiores em relação às meninas, apontando diferenças significativas entre os gêneros, em todas as idades (Tabela 4).

    A superioridade dos meninos não evidencia surpresa, pois segundo Gallahue e Ozmunn (2001) do início do estágio pré-puberal sugere que os hormônios andrógenos estejam produzindo maior massa muscular nos meninos. Outros estudos apontam que as diferenças possam também, estar relacionadas a maior nível de atividade física desenvolvida pelos meninos (PRISTA, 1994), ou que os resultados obtidos no teste de flexão e extensão de braços estão sendo relativizados em função do peso corporal das meninas.

    Para a comparação no teste de barra fixa modificada pode-se perceber que os escores dos escolares de Joinville mantiveram-se sempre inferiores aos das crianças de Londrina em ambos os sexos. Quanto ao critério de sucesso/insucesso no teste da barra fixa, a maioria dos meninos (85,8%) também as meninas (76,74%) apresentaram altos índices da aprovação no teste. Estes índices não são significativamente diferentes entre si (0,056) .

    Em relação à força de membros inferiores, os índices são ascendentes em ambos os gêneros e também se percebe mais uma vez que os resultados apresentados pelos meninos foram superiores aos das meninas. Apesar desta constatação a diferença na comparação dos resultados só se mostra significativos aos 12 anos de idade, em favor dos meninos (tabela 5).

    Guedes e Guedes (1997) constataram uma progressão linear até perto da idade de 12 anos para ambos os gêneros da mesma forma que a superioridade masculina, evidenciando assim que os meninos têm nesta fase melhora substancial de suas capacidades motoras, enquanto as moças com menores níveis de circulação de andrógenos (principalmente a testosterona), tendem a apresentar ganhos inferiores. Neste teste percebe-se que o gênero é uma variável de definição já que os resultados mostram diferenças em todas as idades.

    Na impulsão horizontal os níveis de sucesso se equivalem em ambos os gêneros, embora estes resultados não signifiquem que as crianças obtiveram alto índice de sucesso. Os meninos atingiram 45% de sucesso no teste de força de membros inferiores, e as meninas 44,2%.

    Para verificação da flexibilidade optou-se pelo teste de sentar e alcançar que evidenciou, diferentemente dos demais, que as meninas apresentaram escores superiores aos dos meninos em todas as idades (ver tabela 6). Estes escores não revelam nenhuma surpresa, pois conforme Gallahue e Ozmun, (2001) e Bar-Or (1984), o nível de flexibilidade das meninas é superior ao dos meninos a partir dos 7 anos. Entretanto, nos testes estatísticos realizados, os resultados indicam que não há diferenças estatisticamente significativas entre eles em nenhuma das idades comparadas.

    Os resultados comprovam a hipótese levantada da diferença entre os gêneros. O fato das meninas demonstrarem valores similares, entre si, já fora constatado por Poletto (2001) em escolares de Porto Alegre. Apesar do seu desenvolvimento ocorrer de forma distinta entre os dois gêneros. Alguns autores acreditam que a não melhoria dos níveis de flexibilidade nesta faixa etária se deve ao grande crescimento longitudinal e a reação da resistência mecânica do aparelho motor passivo recorrente das alterações hormonais e que o crescimento ósseo preceda o crescimento dos tendões e músculos (GALLAHUE; OZMUN, 2001; BAR-OR, 1984). Os escores apresentados pelas crianças de Joinville são superiores em todas as idades e em ambos os sexos aos demais estudos da comparação. Percebe-se uma certa semelhança nos índices alcançados pelas crianças de Joinville e Londrina. Já as crianças de Porto Alegre (2001) mostraram índices bem inferiores. Os meninos (59,8%) e meninas (70,4%), na sua maioria, atingiram o critério de sucesso no teste.

    Para o componente força e resistência muscular abdominal foi utilizado o teste de realização de abdominais durante 1 minuto (sit-up's), onde há o envolvimento da capacidade de força e resistência dos grupos musculares da parte inferior do tronco. Na tabela 7 estão representados os valores da média e desvio padrão, obtidos em ambos os gêneros, no teste de abdominais.

    Novamente os valores apresentados pelos meninos, são superiores aos das meninas em todas as idades. Na comparação por gênero no teste estatístico realizado (teste t), estes índices assumem diferenças estatisticamente significativas aos 11 e 12 anos em favor dos meninos.

    A superioridade dos meninos sugere que o acúmulo de tecido adiposo nos quadris das meninas de 11 e 12 anos tenham dificultado a realização dos movimentos (DUARTE, 1993; GUEDES; GUEDES, 1997; PRISTA, 1994; QUADROS; KREBS, 1998); GALLAHUE; OZMUN, 2001. No entanto, o nível tão baixo dos resultados apresentados pelas meninas podem estar indicando a falta de estímulos mínimos ao desenvolvimento da força e resistência abdominal evidenciando o nível de atividade física das meninas (PRISTA, 1994). E que possivelmente estas crianças venham apresentar complicações em relação ao seu equilíbrio e postura corporal em função da deficiência evidenciada nesta capacidade.

    No teste de força e resistência abdominal (sit-up's), com relação ao critério de sucesso/insucesso nota-se a maioria dos meninos (57,9%) e meninas (56%) não atingiram o critério mínimo de saúde adotado. Os índices de insucesso foram elevados, demonstrando fragilidade desta população frente a este componente de aptidão física. Pode-se considerar que a força e a resistência abdominal auxiliam a flexibilidade na prevenção e recuperação de lesões lombares e desvios posturais, pode-se inferir que estas crianças poderão ter maior incidência de problemas relacionados à saúde.


    D. Hábitos de vida

    Faz-se necessário agora abordar os resultados relativos aos hábitos de vida das crianças de Joinville.

    Quanto ao tipo de moradia, constata-se ser expressivo e significativo o número de alunos que citaram residir em casa (94,66%), seguido de apartamento (4,09%) e sobrado (1,25%). Sendo que 58,91% destas casas são de alvenaria e 15,29% de madeira. Joinville possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado no quesito habitação (0,91), no entanto percebe-se que, abastecimento de água no Brasil em cidades com aproximadamente 500 mil habitantes é de 93,7% enquanto que em Joinville chega a 87,6%. Já na questão sobre saneamento básico, enquanto em média no Brasil é de 56,0%, em cidades com aproximadamente 500 mil habitantes a média chega a 70%, Joinville tem apenas 8,57% dos domicílios atendidos com saneamento adequado. O fato mais relevante deve-se ao reduzido número de domicílios com esgoto sanitário adequado, pois se sabe que condições insalubres geram potencialmente doenças infecciosas nas crianças, afetando por vezes o nível de crescimento das mesmas.

    No indicador das condições de moradia referente ao número de cômodos de suas residências as crianças revelaram que em suas moradias existem em média 6,79 cômodos para seus habitantes. O número de cômodos apresenta os maiores percentuais distribuídos de 5 a 8 cômodos. As freqüências percentuais obtidas revelam este fato, sendo que para 5 cômodos (20,34%), 6 (25,40%), 7 (19,92%) e 8 (14,35%). Seguido das residências com 9 cômodos (8,78%), 10 (4,14%), 11 e 4 (3,21%) e 3 (0,68%). Desta forma, os resultados expressam superioridade aos apresentados para Gaya e Torres (1996), Gaya et al. (2002) demonstrando possivelmente maior privacidade em suas atividades dentro de casa, como dormir, ver TV, estudar ou escutar música.

    Quanto à densidade populacional média por residência, percebe-se que a grande maioria, distribui-se entre 3 a 5 moradores (79,54%). Esta tendência revela que as crianças convivem em agregados familiares não muito numerosos que quando relacionados ao número de cômodos de suas casas, parecem ter alguma privacidade e melhor possibilidade de circulação. Esta relação de moradia revela, portanto, uma qualidade de vida bem superior ao estudo realizado por Gaya et al. (2002) em Porto Alegre.

    A maioria destes alunos mora perto da escola, onde 95,2% residem até 1 km. As crianças revelaram, em sua maioria, irem a pé (57,1%) para a escola seguido do uso da bicicleta (38,6%). Tal fato revela que as crianças têm a possibilidade de ir a escola bem perto de sua casa, provavelmente pelo grande número de escolas municipais distribuídas regionalmente pelo setor de planejamento da Secretária de Educação. A forma de deslocamento demonstra em parte uma determinação cultural, onde os descendentes de alemães têm por hábito a grande utilização da bicicleta como meio de transporte para o trabalho e escola. Joinville é conhecida como cidade das bicicletas e seu relevo urbano é propício ao uso da bicicleta já que a cidade tem característica plana.

    Com relação ao hábito de sono das crianças nota-se, que grande parte dos alunos tem o hábito de acordar antes das 7 horas, provavelmente porque vão a escola pela manhã, já que o município oferece ensino de 5a e 6a série do ensino fundamental neste turno, demonstrando assim uma adequação sócio cultural aos mecanismos vigentes na política educacional da cidade. Após o horário das 7 horas, limite para a escola pela manhã, percebe-se que os meninos acordam significativamente mais cedo que as meninas, contrário ao que manifestou o estudo de Gaya et al. (2002) onde as meninas acordavam mais cedo para atender as necessidades domésticas, (cuidar de irmãos menores, cozinhar, limpar a casa).

    Os dados confirmam que a grande maioria das crianças, principalmente as meninas, demonstrou o hábito de dormirem mais cedo, entre 21 e 22 h (M=22,44%; F=41,38%). O que reflete um hábito saudável quando nos referimos ao descanso dos indivíduos, pois repouso adequado possibilita as crianças recuperação física e psicológica. Entre os meninos constata-se também o fato significante de que 21,66% destes, dormirem após as 23 h (21,66%), podendo demonstrar hábitos noturnos (TV). Quanto ao número de horas que as crianças costumam dormir constatou-se que elevado número de crianças dorme mais de 8 horas por noite sendo que para 8 horas meninos (28,78%) mostraram índice pouco elevado e as meninas (26,66%). Quanto às 9 horas ou mais, as posições se invertem apontando diferenças significativas onde as meninas (51,69%) demonstraram ter um maior número de horas de sono que os meninos (45,82%). Não obstante a isso, o fato de algumas crianças dormirem em sala de aula pode estar prejudicando-as na sua aprendizagem escolar. Portanto, um número adequado de horas de sono parece influenciar no desempenho das atividades diárias das crianças, como sugere Poletto (2001).

    Com relação às atividades realizadas no interior da residência percebe-se, que ver TV configura-se na atividade mais comum na apreciação de ambos os gêneros (M=62,34%; F=61,22%). Para Poletto (2001,) infelizmente nossas emissoras de TV normalmente apresentam programas de baixíssimo nível educacional, nos quais estão presentes a violência, a sensualidade banalizada, o desrespeito aos cidadãos, notadamente aos mais humildes. Conversar / brincar com amigos (M= 64,61%; F=66,97%) e estudar vem a seguir, sendo que o hábito de estudar é prevalente e significativo nas meninas (69,93%), já que os meninos (49,51%) mostraram menor interesse por esta atividade. Dentre as atividades realizadas em casa, com menor envolvimento de atividade física, as meninas (60,89%) revelaram que ouvir música também era uma de suas atividades preferidas, enquanto no mesmo item os meninos mostraram interesse um pouco menor com (47,73%). Jogar vídeo game por sua vez, configura-se numa atividade significativamente masculina (M=29,71%; F=7,2%), já que as meninas responderam, que 53,6% delas nunca joga. O acesso ao computador parece ter se tornado uma questão sócio-ecônomica, já que elevado índice de crianças (M= 51,3%; F=55,54%) revelou nunca usarem o aparelho. Mas demonstra diferença significativa a favor das meninas com relação às atividades domésticas e ajudar a cuidar de irmãos mais novos, onde essas tarefas são significativamente designadas as meninas, demonstrando claramente a percepção de uma adequação cultural, já que este papel parece ser imposto às meninas.

    Novamente, a normatização social parece influenciar os hábitos destas crianças já que para os meninos as atividades significativamente mais desenvolvidas quando saem de casa são jogar bola (65,27%), andar de bicicleta (64,47%) e conversar brincar com amigos (67,36%), enquanto que as meninas demonstram interesse em conversar / brincar com amigos (67,63%), passear de carro (50,18%) e andar de bicicleta (45,29%). Freqüentar danceteria não parece ser característica da idade, pois os escores são reduzidos (M=3,38%; F=1,99%). Quanto a sua participação social as meninas revelam atividades menos ativas que os rapazes, fato já considerado por Prista (2002), Gallahue e Ozmun (2001).

    Em relação aos materiais esportivos que as crianças possuem, a bicicleta é o implemento esportivo que a maioria das crianças referiu ter (M= 99,22%; F= 89,76%). Leia-se atentamente, que a bicicleta não está disponível apenas para a prática do lazer e atividade física, mas seu uso serve como meio de transporte da família para escola e trabalho. O uso desta como meio de transporte para a escola já foi referenciado em questão anterior e aborda o aspecto cultural fortemente enraizado na cidade de Joinville.

    O esporte que prevalece dentre as meninas é o voleibol, modalidade que a princípio não gera contato físico (59,96% referiram ter bola para este esporte). Também mostram outros materiais esportivos que possuem, como patins (43,14%), patinetes (29,98%) e bola de plástico (41,50%). Os meninos, por sua vez, revelam que a bola de futebol (72,38%) é o material esportivo característico deles, bem como skate (34,60%) e chuteiras (46,83%). Tal fato revela mais uma vez que, na aquisição dos materiais esportivos está evidenciada uma determinação cultural, apontando diferenças estatísticas significativas entre os gêneros, ora a favor dos meninos ora em favor das meninas. Um fato pouco peculiar foi apresentado pelos alunos de Joinville é o de referenciarem com elevados índices de incidência (M=37,30%; F=29,25%), possuírem raquetes de tênis e assim, os dados revelam uma séria diversidade na presença de materiais esportivos, pois os escores mostraram-se relativamente altos para todos os materiais sugeridos.

    Quanto aos dados sobre o local mais utilizado para práticas esportivas e de lazer, constata-se que as crianças utilizam o pátio de casa em 52,99% das oportunidades (M=43,65%; F=62,34%) e usufruem a rua onde moram 40,58% (M=40,95%; F=20,66%), identificando sempre a proximidade de casa como local preferido para práticas esportivas e de lazer das crianças deste estudo. O uso do pátio de casa revela diferença significativa a favor das meninas. Os terrenos baldios (desocupados) são preferência significativa entre os meninos (36,98%), praças e parques e a quadra da escola no turno oposto apresentam escores bastante similares entre os gêneros, mas não chegam a se configurar, segundo as crianças, em locais de sua preferência. Os primeiros, provavelmente por evidenciarem questões de estrutura física e/ou segurança pública. E o espaço da escola talvez não possa ser utilizado em função de já estar sendo desenvolvidas outras atividades como educação física curricular ou programas de iniciação esportiva que, como será demonstrado em questão posterior, é onde as crianças estão tendo oportunidades de práticas esportivas regulares. O clube esportivo parece se configurar num local mais utilizado pelos meninos (24,76%) do que pelas meninas (12,61%).

    Na questão da participação sócio-cultural os meninos voltam a indicar o clube (25,56%) como local e oportunidade de participarem de atividades sociais, já que as meninas são as que mais participam de grupos de dança (19,38%) ambas atitudes apresentam diferenças significativas em favor do gênero demonstrado. Atividades religiosas envolvem grande parte dos alunos sendo os índices muito similares entre os gêneros (M=44,60%; F=51,19%), possivelmente em função da 1ª comunhão. Percebe-se nesta faixa etária uma grande diversidade quanto à participação sócio-cultural. Com relação às modalidades de prática sistematizada cabe ressaltar que perto de um terço das crianças tenham esta oportunidade, sendo que, um número de 36,03% dos meninos e 23,03% das meninas usufrui desta possibilidade de desenvolvimento de suas capacidades motoras.

    Também percebeu-se que as atividades citadas pelas crianças possuem uma conotação bastante carregada da diferenciação do gênero onde os parâmetros culturais estão bastante presentes. Os meninos referiam esportes como karatê, xadrez e capoeira, esportes mais agressivos e de maior contato físico. Por parte das meninas, apenas a atividade de ginástica rítmica desportiva aparecia somente para elas. Por outro lado ainda que o futebol de forma significativa, (48,9%) e o voleibol (20,15%) sejam os preferidos, dos meninos, estes fizeram referência, ainda que mínima, a atividades pouco peculiares ao gênero como dança (0,88%) e balett (0,44%). O voleibol (48,41%) e a dança (21,43%) foram as modalidades preferidas significativamente entre as meninas, possivelmente, por apresentar características mais susceptíveis a elas. As meninas fizeram referencia ao futebol, ajudando a aumentar em ambos os casos o número de modalidades esportivas para prática de atividade física. Gaya et al. (2002) sugerem que, incrementar práticas esportivas para as meninas e diversificar o oferecimento de modalidades esportivas em prol de uma formação motora ampla e qualificada para os dois gêneros, torna o esporte, no âmbito de sua prática na escola, uma atividade normativa de valores, atitudes e habilidades são opções que necessitam com urgência de tratamento pedagógico adequado.

    Quanto aos motivos que levaram as crianças ao esporte percebe-se que gostar de determinada modalidade esportiva parece ser o melhor motivo apontado pelas crianças de Joinville para a prática do esporte. Os índices apresentados são bastante elevados com relação a este item, sendo 79,30% para os meninos e 98,41% para as meninas. Os números da permanência no esporte reduzem-se com o passar dos anos em ambos os gêneros e mais drasticamente entre as meninas, revelando provavelmente menor persistência para a prática esportiva sistematizada. Já os rapazes parecem persistir mais tempo na realização destas atividades, definindo assim um perfil mais ativo que seus pares. Apesar do elevado índice de desistência da prática esportiva, aproximadamente um quinto (22,70%) das meninas investigadas ainda praticam atividades sistematizadas. Os meninos com escore de 36,80% por sua vez, apontam valores mais elevados e significativos quando se referem a persistir no esporte.

    Como se pode perceber, os índices elevados de participação em atividades físicas sistematizadas, principalmente com relação aos meninos, faz crer que essas crianças tem tido algumas oportunidades em seu meio social (escolas, clubes, sociedades) de praticar algum tipo de atividade. A escola parece ser o melhor local para a prática regular do esporte para crianças, pois ali se encontram as melhores condições de participação, sendo os meninos com 53,14% e as meninas 69,84%, seguida pela participação em clubes dos meninos (37,44%) e das meninas (21,43%). Isto pode significar que a escola está oportunizando espaço físico e temporal para realização de atividades organizadas.

    O quesito da freqüência semanal mostra quantas vezes por semana as crianças realizam atividade esportiva sistematizada. A grande maioria, nos dois gêneros, aponta que duas vezes por semana (M=59,03%; F=61,9%), seguido daqueles que realizam três vezes por semana praticavam alguma atividade (M=18,84%; F=15,08%). Na faixa etária analisada, é provável que este acumulo de dias/horas seja suficiente para provocar alterações necessárias ao desenvolvimento geral dos indivíduos, mas devemos ter em conta que ainda é baixo o número de escolares que usufruem desta opção. Quanto ao número de horas diárias de prática esportiva a grande maioria das crianças relatou participar das atividades por um período de uma a duas horas diárias, sendo que, envolvidas em atividades de uma hora de duração estão os meninos em 48,02% das vezes e as meninas em 40,48% das oportunidades, já em atividades de duas horas diárias estão envolvidos 38,33% dos meninos e 37,30% das meninas.

    Os meninos citam que os esportes que já haviam praticado eram o futebol (52,79%), o judô (9,14%), seguido da capoeira (9,14%). As meninas já haviam praticado dança (46,20%), voleibol (15,20%) e natação (12,28%). As crianças citaram ainda, que haviam parado de praticar na grande maioria já há um ano (M=37,06%; F=46,20%) ou menos (M=33,50%; F=24,56%), sendo que uma parcela considerável (M=16,75; F=20,47%) já haviam parado a dois anos. Os resultados refletem, possivelmente, uma falta de oportunidades para a continuidade da prática esportiva.

    A maioria dessas crianças realizava suas atividades na escola (M=46,19%; F=49,12%) e no clube (M=49,75; F=30,99). Percebe-se que o índice obtido pelas meninas quanto a realização das atividades no clube declinam quando relacionada aos meninos. Por outro lado, a academia de ginástica aparece configurando-se em nova oportunidade de local para realização das tarefas. A maioria praticava suas atividades pelo menos, duas vezes por semana, sendo os percentuais das meninas (66,08%) e dos meninos (63,45%) bastante semelhantes. As jornadas diárias de atividade apresentaram escore mais elevado (50,76%) para uma hora. Na prática esportiva de duas horas diárias os papéis invertem-se mostrando as meninas (40,94%), superiores aos meninos (29,95%). Os índices mostram que as atividades pareciam satisfatórias no seu tempo de realização, pois a grande maioria das crianças (M=80,71%; F=87,72%) relatou atividades de uma a duas horas de duração.

    As crianças revelam que praticaram suas atividades durante pelo menos um ano, em 38,07% das vezes para os meninos e 32,16% para as meninas, por um ano 46,19% das vezes para os meninos e 39,77% para as meninas e por dois anos os meninos (11,68%) obtiveram escores inferiores aos das meninas (21,64%). Percebe-se que não houve grande persistência temporal, pois apenas 2,54% para os meninos e 2,34% para as meninas praticaram atividades por três anos. Com quatro anos de persistência apenas 0,51% dos meninos e 1,17% das meninas. Os resultados deste estudo revelam pouca persistência das crianças na atividade e que os meninos foram àqueles menos resistentes as características e condições da prática.


Conclusões

    Na análise do estado nutricional conclui-se que as crianças de estudo demonstraram uma prevalência do estado de eutrofia em relação á desnutrição. Os dados mais preocupantes são com relação à desnutrição pregressa nos meninos, onde a baixa estatura já compromete o seu crescimento, e a desnutrição atual das meninas anunciando o baixo peso para estatura. Fica evidente o desequilíbrio energético-proteíco demonstrando, e de forma geral que os fatores determinantes do estado nutricional não estão contribuindo para um melhor desenvolvimento destas crianças. Quando ao crescimento conclui-se que, quanto a estatura, nenhum dos gêneros pesquisados, alcançou o padrão de referência do NCHS. Quanto a massa corporal as meninas mostraram-se inferiores ao padrão de referência aos 11 e 12 anos, já os meninos de forma geral alcançaram o critério estabelecido para a pesquisa. Os resultados do Índice de Massa Corporal (IMC) aparecem correspondendo aos critérios de boa saúde. Conclui-se que os resultados apresentados expressem a existência de fatores que inibem o processo normal de crescimento e desenvolvimento das crianças, principalmente das meninas. Os resultados obtidos na análise da aptidão física revelam que a capacidade de desempenho motor seja variável de definição nesta faixa etária, já que os resultados confirmam a hipótese de diferenciação dos gêneros sexuais. A exceção da flexibilidade que apontou-se favorável as meninas, os demais testes, capacidade aeróbia, força e resistência abdominal, força e resistência de membros superiores e força de membros inferiores apontaram diferenças significativas a favor dos meninos. Neste sentido conclui-se que estas diferenças se devam em função do início da fase puberal para os meninos onde o aumento da secreção dos hormônios andrógenos, principalmente a testosterona, age no aumento da massa muscular e conseqüente melhora dos seus resultados.

    Contestando a hipótese levantada com relação ao critério adotado de sucesso/insucesso utilizado para referenciar o alcance do nível de boa saúde das crianças conclui-se que nos testes de resistência aeróbia, força de membros inferiores e força e resistência abdominal o índice mínimo de boa saúde não foi alcançado pela maioria das crianças.

    A partir do exposto conclui-se que o nível de atividade física das crianças não seja satisfatório no sentido de provocar alterações biológicas que possam melhorar seu estado de saúde. Principalmente na aptidão cardiorrespiratória, estreitamente relacionada com doenças cardiovasculares em adultos. Os resultados encontrados podem estar ligados ao baixo nível de atividade física decorrente de um estilo de vida sedentário, de uma educação física escolar desenvolvida sem os ajustes didáticos pedagógicos necessários a sua prática.

    As condições de moradia oferecem um maior espaço para atividades realizadas em casa, desfrutando também da privacidade necessária. As residências são próprias e na maioria de alvenaria dispondo de banheiro agregado à residência. Dispõe de água encanada 87,6% da população urbana, mas apenas 8,57% de esgoto sanitário. De fato, a questão do esgoto sanitário preocupa, pois pode ser precursor de doenças infecciosas. As crianças residem em sua grande maioria perto da escola e preferem ir a pé ou de bicicleta.

    Com relação a hábitos de sono, os meninos referiram significativamente dormir mais tarde e acordar mais cedo do que as meninas. Também é significante o número de horas que as meninas dormem por noite (nove ou mais horas).

    Estudar, conversar ou brincar com amigos, ver TV e escutar música, são, em ordem, as atividades mais realizadas pelas meninas dentro de suas residências. Os meninos preferem conversar ou brincar com amigos e ver TV. Algumas atividades como escutar música, estudar e leituras de lazer para as meninas e jogar vídeo game e computador para os meninos revela diferenças entre os gêneros. Analisando as atividades realizadas fora de casa, novamente encontramos m divisor cultural para os gêneros. Os meninos preferem jogar bola e andar de skate enquanto as meninas preferem passear de carro e andar de patins/roller. Algumas atividades parecem comuns a ambos como andar de bicicleta e conversar ou brincar com amigos. Quanto às atividades realizadas fora de casa conclui-se que as meninas participam daquelas menos ativas, tornando-se, portanto menos ativas que os rapazes.

    Dentre os materiais da cultura esportiva e de lazer mais citados está a bicicleta (superando a bola de futebol).

    Quanto aos locais, conclui-se que as meninas são aquelas que estão mais perto de casa, pois utilizam o pátio de casa e a rua onde moram na maioria das oportunidades. Os meninos, por sua vez, demonstram maior mobilidade já que ocupam também os campos e terrenos baldios e o clube esportivo com maior freqüência. Embora as crianças tenham feito referência a participações socioculturais na escola e em maior freqüência a atividades religiosas, percebem-se adaptações culturais quanto a essas participações já que os meninos vão com mais freqüência ao clube esportivo e as meninas ao grupo de dança. De fato, mesmo que as atividades sejam pouco diversificadas e o acesso restrito, fica evidente que o espaço escolar e os centros comunitários estão oportunizando, de forma gradual, um acesso mais efetivo aos bens culturais e esportivos. Bastante impregnada da diferenciação sexual, a prática esportiva sistematizada consubstancia-se num fato real para as crianças desta população, pois quase um terço delas tem ou teve a oportunidade de participação.

    De forma geral, as conclusões sobre os hábitos de vida das crianças demonstram uma grande diferenciação sociocultural para todo o tipo de atividade, sendo poucas as práticas comuns nesta faixa etária (o uso de bicicleta e a participação religiosa). Portanto, incentivar as crianças a buscar oportunidades que possam influenciar seu processo de formação, bem como as organizações sociais (escola, família, centros sociais) a partir de suas estruturas, instrumentalizar os escolares para uma vida de participações socioculturais e esportivas mais efetiva.


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