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Fatores psicossociais que dificultam treinamento
e competição de atletas de bocha adaptada

   
Estudante de Educação Física.
Universidade Federal do Paraná (UFPR).
(Brasil)
 
 
Juliana Beatriz Ferst Strapasson
ju_edfisica_ju@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Para que fosse possível à participação de deficientes físicos em eventos competitivos, várias modalidades foram adaptadas ou criadas, podendo assim ser praticadas por pessoas com diferentes deficiências físicas.
     Dentre as modalidades criadas encontramos o bocha adaptado, que foi criado inicialmente para atender as pessoas com paralisia cerebral severa. Atualmente outras pessoas com deficiência também podem competir, desde que inseridas na mesma classe no grau da deficiência.
     As modalidades esportivas adaptadas são baseadas na classificação funcional dos atletas, que coloca as deficiências semelhantes em um grupo determinado. No bocha adaptado, os atletas estão divididos nas classes BC1, BC2, BC3 e BC4.
     O paradesporto, assim como as práticas recreativas para deficientes, vem conquistando um espaço cada vez maior no cenário nacional e mundial. Assim, tem-se evidenciado a necessidade de melhoria das condições de treinamento e também de um melhor suporte para o atleta dedicar-se às atividades esportivas.
     Sabendo que a falta de condições muitas vezes levam os atletas ao abandono do paradesporto, este estudo teve como objetivo obter informações sobre os deficientes físicos praticantes do bocha adaptado e descrever quais são as principais dificuldades encontradas por estes atletas para treinar e competir. Participaram da presente pesquisa, 7 atletas de bocha adaptado. Todos apresentam deficiência físico-motora e são usuários de cadeira de rodas; em relação ao sexo, a predominância é de atletas do sexo masculino.
     Os dados foram coletados através de entrevista com utilização de questionário, sendo realizada a coleta por telefone. Este questionário continha 15 itens e visou, principalmente, saber quais são as dificuldades encontradas pelos atletas para treino e competição.
     Os itens mais citados pelos atletas como sendo os fatores que dificultam muito a vida de atleta foram "patrocínio" (57,14%) e "Transporte para competição" (50%).
    Unitermos: Bocha adaptado. Deficiência física. Dificuldades para treino e competição.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 107 - Abril de 2007

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Introdução

    De acordo com Cidade e Freitas (2002), o desporto para deficientes físicos surgiu com a necessidade de a sociedade reabilitar seus indivíduos traumatizados vertebromedulares pela 1ª e 2ª Grande Guerra Mundial. A partir daí, a atividade física passou a ser reconhecida no auxilio a reabilitação e o desporto para deficientes tornou-se uma realidade.

    Para que fosse possível à participação de deficientes físicos em eventos competitivos, várias modalidades foram adaptadas ou criadas, podendo assim ser praticadas por deficientes físicos como lesados medulares, lesados cerebrais, portadores de poliomielite, amputados, dentre outros (LOPES e MELO, 2002).

    As primeiras modalidades tiveram origem na Inglaterra, por iniciativa do médico Ludwig Guttmann e seus colaboradores, onde indivíduos com lesão medular ou amputações de membros inferiores começaram a praticar jogos esportivos em um hospital em Stoke Mandeville como parte integrante da reabilitação médica e social (ADD, 20061; CASTRO, 2002).

    Dentre as modalidades posteriormente criadas, encontramos o bocha adaptado, que "está no programa paraolímpico desde 1992" (CIDADE e FREITAS, 2002, p 90) e foi criado inicialmente para atender as pessoas com paralisia cerebral (PC) severa. Atualmente outras pessoas com deficiência também podem competir, desde que inseridas na mesma classe no grau da deficiência, como por exemplo, pessoas com distrofia muscular progressiva, acidente vascular cerebral, entre outras (CAMPEÃO apud LIMA et ali).

    O jogo consiste em lançar bolas adaptadas o mais próximo possível da bola alvo. As bolas de bocha são constituídas nas cores azul, vermelha e branca e são fabricadas com materiais especiais, sendo mais leves e menores que as bolas comuns, desta forma adaptando-se as necessidades dos jogadores.

    Durante o jogo o atleta terá como objetivo lançar seis bolas (azuis ou vermelhas) com a intenção de aproximá-las o máximo possível da bola branca, que será a bola alvo. Pode-se jogar o bocha através de confrontos individuais, em pares ou por equipes (três pessoas), sendo que em todas as categorias são aceitas provas mistas de acordo com as classes.

    As modalidades esportivas adaptadas são baseadas na classificação funcional dos atletas, que "constitui-se em um fator de nivelamento entre os aspectos da capacidade física e competitiva, colocando as deficiências semelhantes em um grupo determinado" (CIDADE e FREITAS, 2002, p 106). No bocha adaptado, os atletas estão divididos nas classes BC1, BC2, BC3 e BC4.

    O paradesporto, assim como as práticas recreativas para deficientes, "vem conquistando um espaço cada vez maior no cenário nacional e no cenário mundial" (SAMULSKI, 2002, p. 99). Assim, de acordo com Samulski (2002) tem-se evidenciado a necessidade de melhoria das condições de treinamento e também de um melhor suporte para o atleta dedicar-se às atividades esportivas.

    A escolha de uma modalidade esportiva, assim como sua manutenção nela,

"pode depender em grande parte das oportunidades que são oferecidas aos portadores de deficiência física, da sua condição sócio-econômica, das suas limitações e potencialidades, das suas preferências esportivas, facilidade nos meios de locomoção e transporte, de materiais e locais adequados, do estímulo e respaldo familiar, de profissionais preparados para atende-los, dentre outros fatores." (LOPES e MELO, 2002).


    Sabendo de tais fatores, e sabendo que a falta de tais condições muitas vezes levam os atletas ao abandono do paradesporto, este estudo tem como objetivo obter informações sobre os deficientes físicos praticantes de bocha adaptada e descrever quais são as principais dificuldades encontradas por estes atletas, deficientes físicos, para treinar e competir.


Metodologia

População e amostra

    Participaram da presente pesquisa, 7 atletas de bocha adaptado, novatos e experientes, sendo 2 da classe BC1, 1 da classe BC2, 2 da classe BC3 e 2 da classe BC4 (Fig. 1), todos da Associação de Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), localizada em Curitiba.

    Todos os atletas apresentam deficiência físico-motora e são usuários de cadeira de rodas; em relação ao sexo, a predominância é de atletas do sexo masculino, sendo 5 no total (Fig. 2).


Instrumentos e procedimentos

    Os dados foram coletados através de entrevista com utilização de questionário, sendo realizada a coleta por telefone. Este questionário visou conhecer o perfil do grupo (tempo de prática da modalidade, deficiência físico-motora, entre outros) além de saber quais são as dificuldades encontradas pelos atletas para treino e competição. As perguntas eram padronizadas, porém de forma a adaptar a linguagem para melhor compreensão dos atletas.


Análise e estatística

    A análise dos dados é descritiva sendo realizado distribuição de freqüência para cada item. Pelo pequeno número de entrevistados, não foi realizado nenhum procedimento de comparação entre classes ou sexo. O programa Microsoft Office Excel 2003 foi utilizado para os procedimentos necessários


Resultados e discussão

Perfil do grupo

    Na presente pesquisa foram entrevistados 7 atletas, sendo 5 do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Todos são atletas da Associação de Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), e dentre os entrevistados temos uma atleta que prática a modalidade há aproximadamente 8 anos e tem grande experiência em campeonatos, e também uma novata, que ainda não teve a oportunidade de competir. Os demais atletas já participaram de competições e o tempo de prática varia entre, aproximadamente 1 ano e meio, e 7 anos.

    Em relação à deficiência, a predominância é de paralisados cerebrais (57,14 %). Os demais atletas apresentam tetraplegia (14,28 %), lesão medular (14,28 %) e distrofia muscular (14,28 %).


Fatores que dificultam a vida do atleta

    Para análise dos fatores que dificultam a vida do atleta, tanto para treino quanto para competição, foi utilizado um questionário adaptado de Samulski 2002, com 15 itens, sendo eles explicados a seguir:

  • Família: refere-se a qualquer tipo de apoio recebido pela família;

  • Amigos: qualquer tipo de apoio recebido por tais;

  • Técnico: preparação e qualidade do técnico, relacionamento deste com os atletas, entre outros;

  • Colégio: horários, provas e compromissos relacionados;

  • Patrocínio: falta de patrocínio ou pouca ajuda de patrocinador;

  • Condições de treino: qualidade dos materiais e do local de treinamento, assim como sua localização;

  • Excesso de treino: carga excessiva de treinamento;

  • Desmotivação: fatores que impeçam a possibilidade e/ou desejo para a realização da atividade com satisfação;

  • Lesão e doenças: dores ou doenças que os impeçam de treinar e/ou competir;

  • Transporte (treino): condições ou possibilidades de transporte para ir ao local de treinamento;

  • Transporte (competição): condições do veículo e facilidade / dificuldade para consegui-lo para ser possível a participação em competições;

  • Federação: refere-se ao apoio ou falta de apoio recebido pela ANDE (Associação Nacional de Desporto para Excepcionais);

  • Fatores físicos: grau / tipo da deficiência;

  • Características pessoais: características físicas ou psicológicas.

  • Necessidade de trabalhar: necessidade financeira e/ou compromissos relacionados.


    Em cada item, o atleta deveria responder se tal fator não dificulta, dificulta pouco, dificulta ou dificulta muito sua vida.

    Durante a entrevista os itens que os atletas tiveram mais dificuldade em responder foram: "federação" e "desmotivação". O motivo desta dificuldade foi à falta de compreensão sobre a que se referia "desmotivação" e a falta de contato com o órgão responsável, sendo o item "federação" não respondido por 2 atletas.

    De modo geral (tabela 1.0), podemos verificar que o item mais citado pelos atletas de bocha adaptada como sendo o fator que dificulta muito a vida de atleta foi "patrocínio" (57,14%). Esse resultado é conseqüência do pouco apoio financeiro destinado aos para atletas, problema este, enfrentado por muitos outros, famosos ou anônimos. "Transporte para competição" foi citado por 50% dos atletas, graças à dificuldade de conseguir o transporte para as viagens, além de, nem sempre, estarem nas condições idéias, pois independente da distância a ser percorrida, as viajes são feitas em ônibus, causando desconforto, cansaço excessivo nos atletas, além de favorecer o aparecimento de escaras.

    Devido a diversos fatores físicos, nenhum dos atletas trabalha, porém o item "necessidade de trabalhar" foi bastante citado, mostrando o quanto a falta de patrocínio, além de dificultar a vida dos atletas, também é um fator que os preocupa.

    Os itens que não dificultam a vida, unanimemente citados, foram "amigos" e "colégio" ambos com 100% das respostas. O item "excesso de treino" também mostrou-se um fator de pouca interferência negativa na vida dos atletas de bocha adaptada.


Considerações finais

    A participação de deficientes físicos em eventos competitivos no Brasil e no mundo aumenta a cada ano, porém ainda é necessário maior apoio de entidades publicas e privadas para que as modalidades possam se desenvolver.

    Este trabalho relatou algumas das dificuldades encontradas na vida dos atletas de bocha adaptada para poderem treinar e competir, porém é fato que existem outros problemas não relatados no presente estudo, e que as dificuldades encontradas pelos para atletas são muitas. Apesar da dedicação e esforço individual de cada atleta na busca do aprimoramento e manutenção do esporte, nós, estudantes e profissionais de educação física, e amantes do esporte adaptado, não podemos fechar os olhos para tais dificuldades e devemos, juntamente com os atletas, procurar maneiras de vencê-las. Estudos em tal área, e a divulgação do esporte adaptado (paraolímpico ou não) são fundamentais para o crescimento quantitativo e qualitativo das modalidades.


Nota

  1. ADD - Associação Desportiva para Deficientes. Disponível em http://www.add.org.br


Referências

  • CIDADE, Ruth Eugênia Amarante, FREITAS, Patrícia Silvestre de. Introdução à Educação Física e ao Desporto para Pessoas Portadoras de Deficiência. 2002. 122p. UFPR; Curitiba.

  • SAMULSKI, Dietmar; NOCE, Franco. Avaliação psicológica do esporte. In MELLO, Marco Túlio de. Paraolimpiadas, Sidney 2000: avaliação e prescrição do treinamento. 2002. (pp. 99 - 133). Atheneu, São Paulo.

  • CASTRO, José Alberto Moura e; Desporto para deficientes - problemas contemporâneos. In BARBANTI, Valdir J.; AMADIO, Alberto C.; BENTO, Jorge O.; MARQUES, António T. Esporte e Atividade Física. Interação Entre Rendimento e Saúde. 2002. (pp. 199 - 214). 1ª edição; Manole; Barueri - SP.

  • LÓPEZ, Ramón F. Alonso; MELO Ana Cláudia Raposo. O Esporte Adaptado. Educación Física y Deportes- Revista Digital - Buenos Aires - Ano 8 - N° 51 - Agosto de 2002.

  • LIMA, Sonia Maria Toyoshima; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de; NAKADA, Karenn Patrícia. Bocha Adaptado: fatores motivacionais na deficiência física. Educación Física y Deportes- Revista Digital - Buenos Aires - Ano 11 - N° 95 - Abril de 2006.

  • CP-ISRA - Cerebral Palsy - International Sports and Recreation Association (Associação Internacional de Desporto e Recreação para a Paralisia Cerebral). Regras Internacional de Bocha.

  • KEHDI, Paulo. Muito mais que um tubarão. Sentidos. Ano 6 - N° 31 - Dezembro 2005/ Janeiro 2006.

  • ADD - Associação Desportiva para Deficientes. A história do Esporte Adaptado no Mundo e no Brasil. Disponível em http://www.add.org.br. Acesso em maio de 2006.

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