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Trabalho, lazer e intencionalidade dos catadores de caranguejo de Nativo - São Mateus – ES

   
*Professor da Universidade Federal do Espírito Santo
Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo
Diretor do Centro de Educação Física da
Universidade Federal do Espírito Santo
Coordenador do Grupo de Estudos em Sociologia
das Práticas Corporais e Estudos Olímpicos
*Pólo Universitário de São Mateus
Membro do Grupo de Recreação e Lazer - GERAL
 
 
Prof. Dr. José Luiz dos Anjos*
jjluanjos@terra.com.br  
Carmen Binda Galhardo**
bindacarmen2@hotmail.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O estudo tem como objetivo identificar a relação trabalho e lazer dos "catadores de caranguejo" da comunidade de Nativo de Barra Nova, em São Mateus-ES. Utilizou-se de entrevista aberta com oito sujeitos/informantes, moradores da comunidade objetivando identificar nos discursos o modo de produção da "cata" do caranguejo e o lazer existente na comunidade. Utilizou-se da análise do discurso, conforme Fiorin (1999). Os discursos dos informantes foram reduzidos e interpretados e os conceitos e categorias foram analisados. Identificou-se um lazer suspensivo, pois os informantes executam um trabalho sem a determinação necessária e a proporção de energia exigida no trabalho profissional.
    Unitermos: Caranguejo. Barra Nova. Trabalho. Lazer.
 
Resumen
    El estudio tiene como objetivo identificar la relación trabajo y ocio de los "recolectores de cangrejos" de la comunidad de Nativo de Barra Nova, en São Mateus-ES. Se utilizó la entrevista abierta con ocho informantes, pobladores de la comunidad con el objetivo de identificar en los discursos el modo de producción de la caza del cangrejo y el tiempo libre existente en la comunidad. Se utilizaron inferencias verbales en investigación sociológica conforme Landowski (1999). Se analizó que en el modo de caza del cangrejo, en los últimos quince años, los pescadores utilizaron cuatro instrumentos, a saber: las manos, la azada, la pala angosta y el gancho. El quinto instrumento utilizado en la caza del cangrejo configura un modelo predatorio debido al uso de la "red pequeña". Conclusión: se identificó un ocio suspensivo, pues los informantes ejecutan un trabajo sin la determinación necesaria y la proporción de energía exigida en el trabajo profesional.
    Palabras clave: Recolectores de cangrejos. Barra Nova. Trabajo. Ocio.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007

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Introdução

    O estudo do lazer vem recebendo, atualmente, diferentes abordagens, assim como vem multiplicando a variedade de referenciais teóricos e de práticas metodológicas. Alvo de estudos pela História, Sociologia, Antropologia, estudos etnográficos e lingüísticos, entre outros, o lazer merece atenção pela intervenção que exerce em determinados grupos, sociedades ou comunidades, os quais, por meio dele, favorecem certas singularidades.

Catadores de caranguejo

    Devido a esse fator de intervenção que exerce sobre a sociedade e como ela o entende, o lazer, tem sido objeto de diversificadas análises, sendo, em muitas vezes vinculadas ao campo da política e das relações econômicas. Não pode faltar a relação com o trabalho, pois, segundo Parker (1978), nem todas as sociedades têm feito a mesma distinção entre o lazer e o trabalho.

    Há também a discussão que prioriza o debate acerca da problematização das festas e lazer que, embora não ocorra unicamente para atender aos objetivos econômicos, a teorização procura discutir esses espaços de produção e consumo, como discutir comportamentos, estilos de vida, modismos e as características dos grupos turísticos.

    Buscamos entender como o lazer é realizado numa comunidade de pescadores que tem a "cata" do caranguejo como sua maior lide de trabalho. Temos como objetivo identificar dois fatores que se entrecruzam no seio de uma comunidade, tendo o primeiro voltado para o modo de produção e trabalho e o segundo objeto principal deste estudo, se o lazer constitui um objeto livre da relação com o trabalho. Levantamos essa problemática, pois, numa comunidade que possui características singulares no seu modo de trabalho, que papel teria o lazer no tempo disponível? Se a "cata" do caranguejo apresenta transformações no modo de produzir, perguntamos: o lazer também se transforma e altera o meio social?

A comunidade de Barra Nova do Nativo

    A comunidade de Barra Nova do Nativo é um povoado que se constitui de pessoas sem nunca ter vivido na cidade. Segundo Nardoto (2005), foi o comendador Reginaldo Gomes dos Santos, primo do Barão de Aymorés, que, em 1866, abriu um canal para que o Rio Mariricu pudesse dar vazão com o mar em épocas de cheias. A essa nova abertura foi dado o nome de "Barra Nova", e as águas pantanosas foram se esgotando e os fazendeiros puderam ampliar suas fronteiras para dentro dessas áreas.

Catadores de caranguejo

    A comunidade possui energia elétrica, e a construção das casas não segue uma linha determinada. Percebem-se espaços entre as casas e cercas e muros quase não podem ser vistos entre uma propriedade e outra. As divisas entre as casas se encontram em alguns arames pregados em pequenos mourões ou amarrados num "pé" de manga, laranja ou limão plantado do nas divisas. Chegando ao local, num sábado, podiam-se ouvir sons acústicos cujo volume chegava a sons audíveis a muitos metros.

    Não há uma infra-estrutura social na comunidade. Identificamos uma pequena casa que serve de escritório do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), um posto de saúde, um centro comunitário e a Escola Municipal de Ensino Fundamental, que ostenta uma intervenção diacrônica na paisagem com uma construção oponente para o local.

A fala de nossos informantes: trabalho, lazer e suas transformações

    Para conhecer o trabalho que envolve a "cata" do caranguejo na comunidade Nativo de Barra Nova e o uso do tempo livre, realizamos entrevistas abertas. Foram nossos informantes oito sujeitos, sendo: três homens (dois pescadores e um trabalhador rural com idade de 49, 59 e 60 anos), quatro mulheres com idades de 24, 25, 49 e 78 anos e um menino de dez anos. As entrevistas foram diretas, realizadas nos terraços das casas dos próprios informantes. Estivemos ao local em três oportunidades. Na primeira, para conhecer e na segunda e terceira para realizarmos as entrevistas. Na primeira entrevista, os informantes foram escolhidos por uma professora da escola da comunidade e nas demais entramos em contato com os moradores do local.

    Procuramos, no início da pesquisa, saber quem era "catador de caranguejo" e que outras ocupações de trabalho possuíam. O primeiro informante, 67 anos, nascido em Barra Nova e "pescador durante toda vida" e de carteirinha como todo "catador" nos informa. Para ser "catador", tem que ter a carteirinha de pescador. É esse documento que diz se o catador é ou não "catador registrado". Percebe-se que "catador de caranguejo" é quem possui documentação, deixando transparecer uma rigidez e fiscalização no trabalho. A burocracia se faz presente, fazendo com que o seu produto, o caranguejo, possa ser aceito e comercializado, sendo uma das exigências para que haja produtor e consumidor.

    Perguntando aos nossos informantes quando se iniciou o povoamento da comunidade, ambos responderam "que faz muito tempo", mas, sem precisar data, época ou ano. Também perguntamos quando chegou a energia elétrica, a construção da Escola, o início do serviço de transporte urbano na comunidade. Para essas perguntas os informantes não responderam de forma precisa, atribuindo ao tempo ordens sazonais que têm influência na comunidade.

    O antropólogo Evans-Pritchard, quando descreve o modo de vida dos Nuers, no Sudão, inaugura uma teoria reflexiva acerca do sistema cronológico de grupos tribais. Os nuers possuem a cronologia pela ação climática, ou seja, pelo "domine par le rythime dês saisons" (PRITCHARD, 1968, p. IV). Assim, o tempo é datado e narrado pelos ritmos das cheias, da seca, da terra úmida e da produção. Percebemos que os aspectos físicos materiais se transformam em aspectos sociais.

    Quanto à população da comunidade a essa pergunta, o Sr. Rutenes, 60 anos, responde: "[...] é um lugar que tem muita gente...". Outras duas moradoras, nossas informantes de 24 e 25 anos, falam: "[...] não sei dizer quantas pessoas tem em Barra Nova... mas sei dizer que tem muita gente... têm muitas famílias". O conhecimento que tem está circunscrito ao local de convivência, como a igreja, o bar, o campo de futebol estruturando os grupos de crianças, jovens e adultos.

     Nas respostas, podemos identificar que a comunidade constitui o que chamamos na Antropologia de Evans-Pritchard, uma teoria de grupos ou uma teoria de grupos estrutural, pois não entende a comunidade formada por indivíduos, mas por grupos como Evans-Pritchard encontrou nos Nuers, revelando um fenômeno dos aspectos de filiação de grupo. Portanto, trata-se de uma reflexão em que as respostas apontam uma comunidade estruturada em grupos.

Catadores de caranguejo

    Desde 2005, uma doença ameaça os caranguejos do Norte do Espírito Santo, colocando em alerta as populações que vivem da cata desse crustáceo. Essa pesca é um meio de subsistência para 67 famílias de Barra Nova do Nativo, de acordo com nosso informante Zé Coco, embora haja informações da existência de 107 famílias registradas na Associação. Para nosso informante, antes se pescava cerca de três viagens de caranguejos por semana e "[...] hoje tem uma viajem por semana... umas 400 dúzias por viagem".

    A doença que ataca o caranguejo não é o único problema da comunidade de Barra Nova. Fatores climáticos fazem oposição à vida dos nativos dessa comunidade. Um dos problemas mais difíceis, segundo nosso informante vivido pela comunidade é que "[...] a terra é ingrata... não dá muito pra agricultura... quando chove mata tudo... tudo fica afogado", referindo-se às inundações que ocorrem na época de chuvas na região, "e quando seca, seca tudo". O tempo é sazonal, e a conotação ecológica determina o ritmo de vida e de trabalho de Barra Nova do Nativo: se é seca, a agricultura não "dá trabalho"; se é cheia, "mata tudo... tudo fica afogado"; e se é época da "andada... a gente vai pra roça".

    Ao perguntar sobre a forma de cata do caranguejo nosso informante vai explicando: "Antes a gente pescava na mão... depois tinha muita gente e a gente passou a pescar no enxadão... hoje ficou mais difícil é na redinha".

    Também fomos informados de um outro "jeito" de catar caranguejo: Quem nos informa é a senhora Julita de 49 anos e catadora de caranguejo de carteirinha nos diz: "Cato com gancho, porque na mão não consigo mais. Não uso redinha, o IBAMA não deixa... antes era no braço... com a mão". Perguntado por que o uso da redinha, Zé Coco explica: "Cada vez mais o caranguejo faz os buracos mais fundo e não tem jeito mais de você pegar".

    O fato da mudança, da transformação da pesca, pode ser explicado pela ação endógena de um fenômeno patológico. Aqui, não se trata de discutirmos a morte dos caranguejos causada pelo meio acometido por agentes endógenos ao habitat; trata-se de analisarmos a fala de nosso informante que não nos fornece explicações de como os caranguejos passaram a cavar mais fundo impossibilitando a sua pesca num modo tradicional, com as mãos, contada pelos contemporâneos.

    Para Zé Coco, "catar" caranguejo "[...] não é difícil... a pessoa tem que gostar... atolar no barro é gostar da natureza... enfiar a mão no barro... se suja e muito". Parker (1978) analisa o grau de identificação das pessoas com o trabalho e conclui que a relação entre sujeito e trabalho depende da gratificação que ele lhe traz. Há pessoas que priorizam o trabalho, muitas vezes encontram nele um grau de satisfação e prazer que outros só encontram no lazer. Essa relação do homem com a natureza e sua gratificação pode ser vista em diversas ações da comunidade como a pesca em alto mar.

    O modo de trabalho difere. O uso "do braço", tão somente uma extensão do corpo, cedeu lugar a alguns instrumentos: o enxadão, a redinha e o gancho. Não se trata aqui de instrumentos tecnológico, produtos da tecnologia moderna, mas de um meio acessível, construído pelos próprios trabalhadores diante de uma situação pela necessidade de trabalho. A causa da doença que ataca os caranguejos ainda não foi detectada pelos laboratórios que estudam/analisam essa causa, no entanto não constitui um fenômeno de transformação. A "cata" do caranguejo se transforma, devido um fator motivado pelo consumo que exige maior produção.

    Se a mudança de trabalho decorrer de um fator exógeno, que fatores poderão influenciar no lazer da comunidade de Barra Nova do Nativo? Ou que transformações poderão estar presentes que mantêm ou estão transformando o lazer dessa comunidade?

As subjacências no tempo livre

    Ao falarmos do lazer na comunidade, nossos informantes explicam que passear nas casas dos parentes, amigos e vizinhos tem sido o que fazem aos sábados, domingos e feriados históricos e religiosos. Um informante fala que, aos sábados, domingos e feriados, quando não vai à casa de parentes, vai "[...] consertar a rede, limpar o barco, entendeu? Perguntando se via isso como um lazer, um passatempo ou trabalho, nosso informante responde: "Como um passatempo... mas amanhã tem que tá tudo pronto... mas isso não é um trabalho... Fazendo isso você não cansa".

    Haag (1982), ao teorizar acerca do desporto e tempo livre, faz sua análise amparada em Habermas. O filósofo/sociólogo alemão observa três distinções na forma de comportamento do homem no seu tempo livre, estando relacionadas como trabalho: regenerativa, suspensiva e compensativa. No entanto, Habermas não credita que, na realidade, o tempo livre possa dar possibilidade compensatória, pois essa fase se mostra muito próxima do trabalho. Habermas nos faz refletir que o incremento de horas livres, a redução da semana de trabalho ou a extensão de férias ao trabalhador não são suficientes para proporcionar um verdadeiro tempo livre. Nas palavras do informante, pode-se dizer que o trabalho se relaciona e exerce influência sobre o seu tempo livre, no sentido de que este pode ser visto como uma continuação das experiências e atitudes do trabalho. Nesse caso, o lazer pode ser considerado como extensão do trabalho, quando há similaridades entre atividades do trabalho desenvolvidas no lazer.

    Percebe-se que há um tempo dedicado às questões do próprio trabalho. A fala do informante nos permite identificar o que chamamos de lazer suspensivo. Na zona urbana, o lazer compensatório se faz presente de forma dissimulada, pois as práticas corporais apresentam (denominada de atividades físicas) um discurso encoberto apresentando um estilo de vida, um estado saudável, necessário para o homem moderno. Enfim, para aqueles grupos limitados, as ocupações já são de desgaste físico, enquanto muitas profissões não requerem esforço físico algum. Fazendo o contraponto entre o lazer da zona urbana e rural, vemos que, os discursos não apontam os mesmos interlocutores, permitindo classificar o lazer como compensatório, enquanto na zona rural podemos denominá-lo de suspensivo, pois, pela ação dos sujeitos, eles se preparam para o trabalho, pois implica um estado funcionalista do tempo atribuído como lazer.

    Em ambos os casos há a dissimulação. No mundo urbano trata-se de um status a prática do lazer em detrimento da subjacência e da sua funcionalidade. Um status que promove o sujeito, discursando como necessário aderir a algum afazer, na busca da qualidade de vida, da promoção de determinadas práticas e estilos de vida. No entanto, o lazer implica mais do que uma necessidade, mais que um preenchimento material. Denota uma atitude de estandartização, que vai formular a imagem de uma classe/grupo social. Isso é orquestrado pela operosidade subjacente pelas disciplinas da saúde que a todo o momento, vendem, oferecem e criam assepsias sociais.

    Neste sentido, o obeso, o hipertenso, o diabético, enfim, o corpo urbano é chamado/convidado a se higienizar pelo lazer. Tal discurso vem na oposição da zona rural, conforme identificamos no depoimento do informante, quando perguntado - se deixasse de trabalhar nos finais de semana e feriado - o que faria no tempo livre? Sua resposta "É chato, se você não faz nada, a preguiça toma conta e daí não tem do que reclamar". As mulheres entrevistadas caminham nessa direção. Dª. Joselita fala: "Trabalhar mesmo é no sábado, no domingo, é no feriado. A gente vai pra roça, pro mangue na semana e deixa o serviço de casa pro sábado e domingo. Pense em ficar sem trabalhar no sábado e no domingo em casa?".

    Na medida em que a sociedade atinge um estágio de desenvolvimento tecnológico, conseqüentemente, o local de trabalho e de descanso toma situações indistintas. A casa, o lar que constitui o local do descanso, do aconchego, para a sociedade tecnologizada, passa a ser um local de continuidade do trabalho. As tecnologias, do fax, do computador, da calculadora, da internet, das câmaras de vídeo aproximam cada vez mais locais de trabalho e local de lazer e descanso. Portanto, como nas palavras de Dª. Joselita, que se dedica a trabalhar em casa, pois não foi possível realizar as tarefas domésticas no decorrer da semana, o homem urbano se assemelha, quando usa o seu tempo nessa mesma configuração: o trabalho escoa pelo tempo e invade outros espaços, outrora não dedicados a ele. As quatro mulheres que serviram como nossas informantes argumentaram não ter "[...] nenhuma coisa pra fazer de sábado, domingo e feriados". No entanto, apontam propostas do que poderiam fazer nos dias de "folga". Dª. Joselita, diz que "[...] eles poderiam dar um tempinho de lazer pra gente que é mulher... curso de pintura... curso de culinária... a gente já tem experiência... curso de fazer queijo. Tânia, 24 anos, também lança proposta: "[...] fazer alguma coisa pra gente fazer, pintar, bordar...". Na fala das informantes, revela-se um lazer produtivo. Onde cursos de pintura, de bordados, tricôs e culinárias implica numa proposta de lazer com objetivos de gerarem rendas. Mais uma vez, o lazer se transforma num tempo de produção. O lazer revela-se para as massas excluídas apresentando uma face unicamente como uma possibilidade e aspiração e não como uma realidade histórica de conquistas, sendo percebido na mesma proporção do trabalho.

    O tempo para o lazer se estabelece similar ao lazer na zona urbana. Enquanto que o homem urbano busca o lazer na possibilidade de melhorar suas performances no trabalho, consumindo o tempo nas ofertas das indústrias de entretenimento, a relação do homem rural, se estabelece na preparação e na disposição de seus equipamentos para o dia seguinte de trabalho, quer seja em casa, quer seja em seus locais de trabalho.

    O tempo de não trabalho pode acabar tornando-se um tempo de desconforto, uma vez, que por levar a um nada a fazer e a uma conseqüente falta de renda, retira do indivíduo o que ele acredita ser a determinante da sua condição humana. Não trabalhar nega aos sujeitos a possibilidade de exercerem a cidadania, colocando-os à margem do contexto social.

Analisando os discursos e uma possível conclusão

    Na aproximação entre o que a comunidade elege como referencial no lazer em face ao trabalho desempenhado vimos que a comunidade de Nativo de Barra Nova, nos últimos 20 anos passou por diversas transformações no modo de pesca do caranguejo. Com uma extração maior de caranguejo em relação a quantidade oferecida pelos ciclos da natureza é adotado novos instrumentos na pesca, onde o gancho e a redinha são adotadas como instrumentos de pesca devido a reorganização da própria natureza em face ao avanço do homem no meio ambiente/mangue.

    A relação e o tempo disponível para o lazer, na fala dos informantes, o tempo livre é preenchido com atividades que demandam uma exigência menor de desgaste físico, o que denominamos de lazer suspensivo, pois há certa relação direta com o trabalho, porém com menores exigências físicas, diferente do lazer compensatório que pode ser observado no mundo urbano.

    As propostas advindas dos informantes acerca do lazer desejado, na comunidade, encontram-se fortes identificações com o fator sócio-econômico. Os informantes revelam um lazer voltado para a produção de bens artesanais que podem a partir da produção destes beneficiarem com a renda da venda desses produtos. Observa-se que o preenchimento do lazer está estreitamente ligado ao fator de aumento da renda familiar/pessoal, o que leva a analisar que as duas situações observadas se estreitam na análise: o primeiro que o lazer suspensivo está ligado diretamente ao trabalho, pois no imaginário dos informantes de que o tempo livre deve ser preenchido por atividades que esteja voltado ao trabalho e no segundo momento que o preenchimento do tempo livre possa permitir uma fonte extra de renda, pode ser visto como uma continuação das experiências e atitudes do trabalho.

Referências

  • DOENÇA faz caranguejo sumir. A Tribuna, Vitória, 15 mar. 2006, p. 13.

  • EVANS-PRITCHARD. E. E. Les Nuer: description des modes de vie et des institutions politiques d´un peuple nilote. Paris: Gallimard, 1968.

  • GAWRYSZEWSKI, Bruno. A luta capitalista contra o ócio: a necessidade à um lazer consumista. Revista Digital EFDeportes.com: Buenos Ayres, n. 9, v. 66, 2003.

  • GUTIERREZ. Gustavo L. Lazer, exclusão social e militância política. BRUNHS. H. Turini (org.). Campinas: Autores Associados, 2004.

  • HAAG, H. Deport y tiempo libre. In: KOCH, I. Hacia uma ciência del deporte. B Ayres: Kapelusz, 1982.

  • MELO, Victor Andrade e WERNECK C. Os estudos sobre o lazer no Brasil. Revista Movimento, Porto Alegre, 2003.

  • NARDOTO, Eliezer Ortolani. São Mateus: história, turismo e cultura. São Mateus: Atlântica, 2005.

  • PARKER, Stanley. A sociologia do lazer. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

  • ROSA, Maria Cristina; PIMENTEL, Giuliano G. de Assis; QUEIRÓS, Ilse Lorena Von Borstel. Festa, lazer e cultura. Campinas: Papirus, 2002.

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revista digital · Año 11 · N° 106 | Buenos Aires, Marzo 2007  
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