Comparação da qualidade de vida de mulheres idosas praticantes e não praticantes de exercício físico |
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1 Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte - UFPR 2 Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG-PR 3 Grupo de Pesquisas em Qualidade de Vida e Atividade Física-METROCAMP-SP 4 Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP 5 Universidade Federal do Paraná - UFPR 6 Universidade Federal do Ceará - UFCE (Brasil) |
Alex Pinheiro Gordia1,3 Teresa Maria Bianchini de Quadros1,3 Guanis Barros Vilela Junior2,3,4 Evanice Avelino de Souza5 Claudeane Cabral6 Timótheo Batista de Morais6 Paulo Konorr de Quadros Junior1 Wagner de Campos1 alexgordia@gmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007 |
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Introducción Introdução
O envelhecimento populacional iniciou-se no final do século XIX em alguns países da Europa Ocidental, espalhou-se pelo resto do Primeiro Mundo, no século passado, e se estendeu, nas últimas décadas, por vários países do Terceiro Mundo, inclusive o Brasil (CARVALHO & GARCIA, 2003).
O envelhecimento da população é um fenômeno de amplitude mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que em 2025 existirão 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os muito idosos (com 80 anos ou mais) constituem o grupo etário de maior crescimento (OMS, 2001).
No Brasil há cerca de 10 milhões de pessoas com idade superior a 65 anos, e em 2025 estima-se que os idosos atingirão uma cifra aproximada de 30 milhões de pessoas, o equivalente a 15% de nossa população (IBGE, 2000). No entanto este aumento na longevidade da população mundial pode não garantir aos idosos uma qualidade de vida estruturada a partir do exercício da autonomia e da cidadania.
Com o passar dos anos muitos idosos tornam-se totalmente dependentes de familiares e amigos, são vítimas de internamentos freqüentes, sentem muitas dores, facilmente tornam-se depressivos e propiciam raros sentimentos de bem-estar.
Desta forma, acredita-se que é de extrema importância e urgência a análise da QV de indivíduos nesta fase da vida para que se possa conhecer quais os principais fatores debilitantes e interferentes nesta variável e procurar soluções que auxiliem na melhoria das condições de vida desta população.
Estudos recentes demonstram que a atividade física regular auxilia na melhoria da QV em todas as idades, sendo de suma importância para a independência e bem-estar de pessoas idosas (CHEIK et al., 2003; HERNANDES & BARROS, 2004).
Um dos instrumentos mais utilizados atualmente para a avaliação da qualidade de vida é o WHOQOL-Bref, um questionário contendo 26 questões circunscritas a 4 domínios: físico; psicológico; sociais; meio ambiente. Este instrumento está tendo alta aceitação e já foi testado e validado em diversos países, inclusive no Brasil. Através da criteriosa e rigorosa análise dos resultados obtidos no WHOQOL-Bref pode-se inferir sobre a QV de indivíduos e populações, além de identificar as principais demandas para a elaboração de políticas públicas relativas à promoção da saúde.
Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo analisar e comparar a Qualidade de Vida de idosas praticantes e não praticantes de exercício físico na cidade de Fortaleza-CE.
Metodologia
ParticipantesParticiparam deste estudo 60 mulheres com idades acima de 60 anos, sendo 30 praticantes de exercício físico do programa do SESC Fortaleza-CE por mais de um ano, e 30 não praticantes de nenhum programa de atividade física regular e orientada, moradoras de um asilo da cidade de Fortaleza-CE.
Esclarecimento e Termo de ConsentimentoHouve um prévio esclarecimento às participantes sobre o desenvolvimento e objetivos da pesquisa, e em seguida as mulheres que concordaram em participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento.
Coleta de dadosA coleta de dados foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2005, no SESC Fortaleza-CE e no asilo Lar Torres de Melo, Fortaleza-CE.
Instrumentos e procedimentosA prática de exercício físico das idosas moradoras do asilo foi verificada mediante auto-relato de cada indivíduo, sendo que nenhuma das 30 moradoras praticava algum tipo de exercício físico regularmente, sob orientação de um professor de Educação Física nos últimos 12 meses. Para as 30 idosas participantes do programa do SESC, a prática de exercício físico foi verificada mediante cadastro do programa do SESC, constatando que as 30 mulheres praticavam exercício físico por mais de um ano.
Para mensuração da QV das participantes do estudo foi utilizado o questionário WHOQOL-Bref, desenvolvido pelo grupo de estudos sobre Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde em 1995.
Este instrumento é composto por 26 questões e considera os últimos quinze dias vividos pelos respondentes. Duas questões referem-se à percepção individual a respeito da qualidade de vida e as demais 24 estão subdivididas em 4 domínios, e representam cada uma das 24 facetas que compõem o instrumento original (WHOQOL-100), tais como: Domínio I - Físico, com ênfase nas seguintes facetas: dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos e capacidade de trabalho; Domínio II - Psicológico, focalizando as seguintes facetas: sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, auto-estima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos, espiritualidade, religião e crenças pessoais; Domínio III - Relações sociais, abordando a facetas: relações pessoais, suporte (apoio) social, atividade sexual; Domínio IV - Meio ambiente, com as facetas: segurança física e proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidade de adquirir novas informações e habilidades, participação em, e oportunidades de recreação/lazer, ambiente físico: poluição, ruído, trânsito, clima e transporte (FLECK et al., 2000).
Análise estatísticaPara a análise do questionário sobre QV utilizaram-se os critérios propostos pela equipe australiana do WHOQOL pela clareza e praticidade com que são demonstradas todas as fases de análise e interpretação dos resultados obtidos. A consistência interna das respostas foi analisada através do coeficiente de fidedignidade de Cronbach, com a=0,94 para os dois grupos.
O teste não-paramétrico de Mann-Whitney foi utilizado para verificar diferenças entre os grupos para QV geral e domínios do WHOQOL-Bref. O software estatístico utilizado foi o SPSS versão 11.5 (SPSS Inc.).
ResultadosOs resultados descritivos do WHOQOL-Bref por domínios e QV geral podem ser observados na tabela 1. Pode-se observar que o grupo de idosas praticantes de exercício físico (G1) apresentou as melhores médias em todos os domínios e QV geral em relação ao grupo de idosas que não pratica exercício físico.
Os dois grupos estudados apresentaram seus melhores resultados no domínio relações sociais. Em contrapartida, o resultado menos satisfatório para o G1, foi no domínio fisco, e para o G2 no domínio ambiental.
Os resultados do teste U de Mann Whitney apontam para uma diferença na QV dos grupos com p=0,000, sendo que o grupo de idosas praticantes de exercício físico apresentou uma melhor QV quando comparadas com o grupo de idosas não praticantes de exercício físico.
Na análise realizada para os quatro domínios, o teste U de Mann Whitney apresentou diferenças significantes com p=0,000 para os domínios físico, psicológico e meio ambiente e p=0,002 para o domínio social indicando que o grupo praticante de exercício físico (G1) apresentou um melhor resultado em todos os domínios em relação ao G2.
Tabela 1. Resultados por domínios do WHOQOL e Qualidade de Vida Geral
com os valores expressos em média e intervalo de confiança.
DiscussãoA atividade física regular está associada com aumento da expectativa de vida e redução do risco de doenças cardíacas, derrame, diabetes, hipertensão e obesidade (ANDERSEN et al., 2000; BERLIN & COLDITZ, 1990). Entretanto, ainda há uma grande escassez na literatura da relação entre atividade física regular e a qualidade de vida mensurada por um instrumento validado e confiável.
Nesta perspectiva vários estudos têm sido realizados com o intuito de verificar a QV de diferentes populações em diferentes estágios de suas vidas (QUADROS et al., 2006; VILELA JÚNIOR et al., 2005). O interesse pela análise da QV de indivíduos em idades mais avançadas justifica-se pelo fato de que a estimativa de vida das pessoas tem aumentado de forma significativa, e que o envelhecimento possui múltiplas dimensões, as quais abrangem questões de ordem social, política, cultural e econômica. Desta forma, através da análise da qualidade de vida desses indivíduos poder-se-á desenvolver estratégias e políticas públicas na tentativa interferir no estilo de vida individual, transformando não apenas a qualidade de vida do avaliado como também interferindo em toda a população. Com base nos resultados do WHOQOL-Bref pode-se perceber sensações relacionadas com estresse e depressão, podendo ser, desta forma, um indicador de saúde mental (BERLIM et al., 2003).
As questões relacionadas ao bem estar físico são de fácil interpretação e seus resultados geralmente têm boa correlação com níveis de atividade física habitual (GORDIA et al., 2006).
Pode-se observar através dos resultados deste estudo, que o G2 teve um percentual significantemente inferior (p=0,000) para o domínio Físico em relação ao G1, demonstrando que a prática de exercícios físicos possivelmente influencia a QV destas mulheres.
Em relação aos domínios Psicológico, Social e Meio Ambiente, também se pode observar diferença significante entre os grupos, porém deve-se levar em conta o fato de que o grupo de idosas não praticantes de exercício físico são residentes de um asilo. Os idosos ao ingressarem nos asilos começam a apresentar limitações intelectuais e físicas que se tornam evidentes na realização das atividades da vida diária, sendo que o ócio, a falta de terapia ocupacional, a indisposição física e o desinteresse, colaboram ainda mais para estas limitações, levando muitas vezes à invalidez e ao profundo abatimento moral, surgindo assim as doenças crônico-degenerativas associadas a outras patologias, que podem ser responsáveis pela perda progressiva de autonomia e consequentemente da imagem e estima corporal (BORN, 1996).
Quando comparamos os resultados da QV das idosas participantes deste estudo com outros estudos (GORDIA et al., 2006; SAUPE et al., 2004; SIVIERO, 2003) que utilizaram outras faixas etárias, pode-se afirmar que a QV de uma forma geral foi satisfatória. No entanto os resultados inferiores foram observados nas moradoras do asilo, indicando a necessidade de investimentos e atenção a esta população.
Os asilos, geralmente, são casas inapropriadas e inadequadas às necessidades do idoso, com precária assistência social, cuidados básicos de higiene e alimentação. Ademais, esses locais também dificultam as relações interpessoais no contexto comunitário, indispensáveis à manutenção do idoso pela vida e pela construção de sua cidadania (VIEIRA, 1996 apud DAVIM et al., 2004). Constituem, também, a modalidade mais antiga e universal de atendimento ao idoso, fora do seu convívio familiar, tendo como, inconveniente, favorecer seu isolamento, sua inatividade física e mental, tendo, dessa forma, conseqüências negativas à sua QV (BRITO & RAMOS, 1996 apud DAVIM et al., 2004).
De acordo com estudo realizado em Brasília-DF, sobre a análise do nível de atividade física nas casas de repouso e instituições filantrópicas (asilos), pode-se observar que as casas e asilos que atendem a população idosa no Distrito Federal não possuem locais, profissionais e nem, tão pouco, planos orientados de atividade física. Os autores constataram a necessidade da formulação de um programa de atividades físicas, para que haja uma modificação na rotina destes indivíduos, mesmo não existindo um local específico para isto, utilizando as áreas abertas e salas que estas instituições possuem (MELO et al., 2003).
Com base nos resultados pode-se observar que o grupo praticante de exercício físico apresentou melhores resultados em todos os domínios, podendo sugerir que a prática do exercício físico pode estar influenciando também nesses domínios, seja direta ou indiretamente. Pois, sabe-se que a prática do exercício físico prepara o indivíduo para uma vida autônoma, independente e com amor próprio, que pessoas que praticam exercício físico são menos deprimidas e ansiosas, tem poucas dores e angústias, são mais enérgicas e satisfeitas. O exercício físico também parece ser protetor contra hábitos relacionados ao tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas, sendo que praticantes avaliam sua saúde mais positivamente (VILHJALMSSON & THORLINDSSON, 1998).
A análise da QV emerge da preocupação do indivíduo com sua saúde e com o meio onde está inserido, entretanto é necessário o conhecimento das variáveis que possam interferir direta ou indiretamente na QV. Desta forma, relatamos como limitações deste estudo a falta de conhecimento a respeito do perfil socioeconômico e nível de atividade física habitual, bem como mensurações antropométricas das participantes do estudo. A verificação do consumo de álcool, tabagismo e o conhecimento de possíveis patologias também poderiam influenciar os resultados e/ou elucidar alguns pontos relacionados à qualidade de vida destas mulheres. Outro aspecto que precisa ser mais pesquisado refere-se à percepção que os idosos possuem de sua QV, uma vez que podem existir diferenças significativas entre o que mostram os resultados obtidos através dos instrumentos aqui utilizados e o que cada idoso "sente" sobre sua QV (VELARDI, 2003).
Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que mulheres idosas praticantes de exercício físico apresentaram melhores resultados de QV do que o grupo não praticante em todos os domínios do WHOQOL-Bref.
No entanto, pesquisas longitudinais que controlem um maior número de variáveis pertinentes ao conhecimento do dia-dia de mulheres idosas aliadas à avaliação da QV e com uma amostra maior são necessárias para confirmar os resultados deste estudo e para que medidas efetivas possam ser tomadas.
Referências bibliográficas
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revista
digital · Año 11 · N° 106 | Buenos Aires,
Marzo 2007 |