Exercício físico como fator de prevenção e tratamento da hipertensão arterial |
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Mestrando em Educação Física: Avaliação nas Actividades Físicas e Desportivas UTAD - Portugal / FUNORTE (Brasil) |
Marcel Guimarães da Silveira Marcelo de Paula Nagem Ricardo Rodrigues Mendes marcel@viamoc.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007 |
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1. Introdução
A hipertensão arterial sistêmica - HAS (chamada também crônica) é caracterizada por níveis excessivamente altos de pressão arterial. Este tipo de manifestação orgânica mostra uma incidência crescente, em âmbito mundial nas últimas décadas, apresentando, um aumento acentuado em relação a outras enfermidades, de tal forma que já representa um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade1.
Considerada ao mesmo tempo, uma doença e um fator de risco, esta enfermidade atinge adultos acima de 35 anos de idade e é geralmente desconhecida pela metade dos portadores e entre aqueles que conhecem seu problema. Somente a metade deles recebe algum tipo de assistência médica para seu controle3. A HAS pode ser definida como o aumento da pressão arterial sistólica de 140 mm Hg ou mais e pressão arterial diastólica de 90 mm Hg ou mais2.
O aumento da pressão arterial com a idade não representa um comportamento biológico normal. Prevenir esse aumento é a maneira mais eficiente de combater a hipertensão arterial, evitando as dificuldades e o elevado custo social do tratamento e de suas complicações4. A prevenção primária da elevação da pressão arterial pode ser obtida através de mudanças no estilo de vida, que incluam o controle do peso, da ingestão excessiva de álcool e sal, do hábito de fumar e da prática de atividade física4,5,9.
Estudos recentes indicam que existem evidências, a médio e longo prazo, que os exercícios aeróbicos auxiliem na redução do peso e nos níveis de pressão sistólica e diastólica6,7,8,20. Parece então, razoável recomendar a promoção do exercício como estratégia de saúde pública para prevenção e terapia da hipertensão arterial8.
2. Efeitos do exercício físico no hipertensoA prevenção e o tratamento da hipertensão através de intervenções não medicamentosas vem conquistando vários adeptos, médicos e pacientes, estão utilizando esta estratégia terapêutica com mais freqüência, desfrutando dos seus benefícios a médio e longo prazo10,12.
O tratamento farmacológico poder reduzir os níveis pressóricos em indivíduos hipertensos, porém medicamentos anti-hipertensivos podem não ser indicados a todos, por terem alto custo, e trazer conseqüências indesejáveis para a saúde12,13,20. Por isto tratamento da hipertensão através da atividade física (não farmacológico) vem recebendo grande atenção. Embora a eficácia da atividade física no tratamento não-farmacológico da pressão arterial não deixe dúvidas, apenas 75% dos pacientes hipertensos são responsivos ao treinamento físico12.
Das diversas intervenções não medicamentosas, o exercício físico está associado a múltiplos benefícios. Bem planejado e orientado de forma correta, quanto a sua duração e intensidade, pode ter um efeito hipotensor importante. Uma única sessão de exercício físico prolongado de baixa ou moderada intensidade provoca queda prolongada na pressão arterial11.
Porém alguns fatores devem se ser considerados para alcançar os efeitos hipotensores do treinamento. É necessária uma padronização quanto à intensidade, freqüência e duração das sessões12.
Os efeitos fisiológicos do exercício físico podem ser classificados em agudos imediatos, agudos tardios e crônicos14,15. Os agudos (respostas), são relacionados com a sessão de exercício, ocorrem nos períodos pré-imediatos, per e pós-imediato rápido (até alguns minutos) ao exercício físico (aumento da FC, da pressão sistólica e pela sudorese associada ao esforço). Estes efeitos são aqueles observados durante as 24 ou 48 horas (às vezes até 72 horas) após uma sessão de exercício e podem ser identificados na discreta redução dos níveis tensionais (especialmente nos hipertensos), na expansão do volume plasmático, na melhora da função endotelial e no aumento da sensibilidade insulínica nas membranas das células musculares15. Os efeitos crônicos, também denominados adaptações, (bradicardia relativa de repouso11,15,16, hipertrofia ventricular esquerda fisiológica e aumento do consumo máximo de oxigênio), são resultados da freqüência e regularidade às sessões de exercício, e são características morfofuncionais que distinguem um indivíduo fisicamente treinado, de um sedentário15.
De acordo com estudo de Negrão11, em ratos hipertensos, após uma sessão de exercício prolongado, numa intensidade de 55% do Vo2máx o treinamento provoca redução importante na pressão arterial no período pós-exercício por um tempo de 90 minutos, este resultado foi também encontrado em ratos normotensos, mas de uma forma menos acentuada11,23. Em estudos posteriores ficou evidenciado que este efeito agudo tinha aplicação clínica no homem18,24.
Estudos comparando efeitos de diferentes intensidades de exercício (30, 50 e 80% do VO2máx) com duração semelhante (45 min), não foram observadas diferenças significativas na resposta hipotensora pós-exercício provocada pelas diversas intensidades17,21,23. Pinto8 relata em seus estudos que, indivíduos hipertensos submetidos a um programa de exercícios não formais com intensidade baixa e moderada (65 a 85% da FCmáx) reduziram a pressão arterial. De uma maneira geral vários estudos4,7,11,12,14,16, apontam que um programa de exercícios de intensidade moderada são os mais indicados para reduzir a pressão arterial.
Em relação à duração da sessão Forjaz17et al, sugere que na prescrição de exercícios físicos para hipertensos, o exercício prolongado tenha um efeito hipotensor pós-exercício maior que o de curta duração. Neste estudo os resultados encontrados demonstram que uma sessão de 45 minutos provoca uma queda pressórica mais acentuada e duradoura que o exercício com a duração de 25 minutos.
É consenso na literatura, a eficiência dos exercícios aeróbicos de intensidade moderada na prevenção e tratamento da hipertensão arterial, 2,4,7,16,23 o efeito hipertensor11,16,23,25 e os riscos relacionados a este tipo de exercício são pequenos22. Entretanto o interesse científico tem focado a análise dos efeitos cardiovasculares de um outro tipo de exercício físico, o exercício resistido e, sobretudo suas implicações sobre a pressão arterial22.
Forjaz classifica22 os exercícios resistidos de acordo com a intensidade que é executado. Quando realizado com intensidade leve (40 a 60% de 1-RM) e com varias repetições (20 a 30) é chamado de resistencia muscular localizada (RML). Realizado em intensidade alta (maior que 70% de 1-RM) e poucas repetições (8 a 10) é denominado hipertrofia.
Os Exercícios resistidos podem provocar um efeito hipotensor (a longo prazo), sendo esse maior após os exercícios de menor intensidade (RML) 22,24. Porém estes efeitos devem ser mais bem investigados para verificar a sua magnitude24. Por outro lado, exercícios resistidos de alta intensidade não têm mostrado nenhum efeito hipotensor em indivíduos hipertensos, e promovem picos pressóricos extremamente elevados durante a sua realiazação22.
3. ConclusãoA utilização de exercícios físicos para pacientes hipertensos como prevenção e tratamento da hipertensão arterial, apresentam implicações clínicas importantes, uma vez que os mesmos produzem efeitos que podem reduzir ou mesmo abolir a necessidade do uso de medicamentos anti-hipertensivos11,12,14,16,19. Embora estes efeitos não sejam tão intensos quanto ao tratamento medicamentoso25.
O exercício físico, regular, aeróbico de baixa e moderada intensidade deve ser incluído como uma conduta não-farmacológica no tratamento da hipertensão arterial2,11,17,19. A aplicabilidade de exercícios resistidos na população hipertensa é um campo de investigação recente e os resultados não são conclusivos22. Porém, exercícios resistidos de baixa intensidade (RML), podem ser incluídos como complemento ao exercício aeróbico 2,22.
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